quinta-feira, 30 de agosto de 2007

CRISTÓVÃO DE AGUIAR ULTIMA CONCLUSÃO DO LIVRO "CHARLAS SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA"

Cristóvão de Aguiar, ultima a concepção do livro "Charlas Sobre a Língua Portuguesa".
As "Charlas" são lições e apontamentos sobre os erros mais comuns praticados pelos falantes da Língua Portuguesa. Foram publicadas, individualmente, em diversos jornais, a saber: Diário de Coimbra, Diário Insular, Comarca de Arganil, Nova Guarda, Correio dos Açores e Ilha Maior. Tiveram grande aceitação dos leitores e os mais rasgados elogios.
No livro, o autor dá exemplos práticos dos erros mais facilmente cometidos pelos falantes em geral e formula a sua correcção em textos de leitura agradável e didáctica.
Cristóvão de Aguiar, com a publicação deste livro, consolida e reforça a faceta de pedagogo na sua obra literária, sendo este mais um contributo muito válido para a Língua Portuguesa, por parte deste Autor.

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

PASSAGEIRO EM TRÂNSITO - CRÍTICA DE ELOÍSA ALVAREZ

Eloísa Alvarez
18 de Março 2001

Ayer, sábado, acabé de leer tu Passageiro em Trânsito y, como es mi costumbre y respondiendo también a lo que me pedías, quiero decirte que, con el subtítulo que le diste, preveías ya la sensación de extrañeza del eventual lector ante un libro de estructura provisional y, sobre todo, tan inestable como la superficie de ese océano que invade los laberintos de tu alma y de tus huesos. Sensación que procede también de la dificultad de identificar un género literario en que se armonizan memorialismo, biografismo y ficción, en torno de ese tu "yo", que es el punto de convergencia y de irradiación de las sucesivas oleadas de hechos, y, mayoritariamente, de palabras. Y el lector no está acostumbrado a semejantes innovaciones literarias.
No sé si me interesó especialmente la sobreposición erótica Isla – Mujer, ni si el desgarrar las fotografías puede representar un comienzo y un final narrativos. Tampoco importa mucho.
Lo que sí te digo es que en tu Passageiro... se integran relatos deslumbrantes, hechos humor y ternura (Joe Perry y su viuda; el Ecce Homo; Antília) que parecen querer desgajarse del marco en que el autor los encerró y alcanzar la vida autónoma que merecen. Estas historias me hicieron pensar en un realismo mágico, pero no en el latino-americano, sino en otro, más levemente diluído pero tan profundamente perturbador como aquél, y que tal vez pueda entroncar con un "sentir la realidad", más cercano a las brumas atlánticas de vuestra literatura azoreana y que, en caso de existir, tal vez goce de un canon estético que la identifique. Pero tú sabes mucho más de ésta que yo.
Y también sentí de nuevo Ia seducción de tu lengua, magma en ebullición que roba nuestra mirada y la fija en las pequenas y múltiples incandescencias azoreanas (qué bonita palabra: emarouviado), en los expresivos neologismos que creas a partir del sentimiento (estrenoitados), o del hibridismo lingüístico (tan refrescante y deliciosa que debe saber aquella biínha, bebida entre afectos azor-americanos).
Con lo que, también te digo, no envidiaría al traductor que alguna vez se atreva a dar una versión de tu Passageiro ... en otra lengua que no sea la de Cristóvão de Aguiar. Tendría que reiventar una lengua a partir de la que tú has ido creando.

A TABUADA DO TEMPO - FUNDAMENTAÇÃO DO JURI PARA A ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO LITERÁRIO MIGUEL TORGA - 2006

A TABUADA DO TEMPO. A lenta narrativa dos dias.

Cristóvão de Aguiar

Prémio de Narrativa Miguel Torga - Cidade de Coimbra, 2006.



A aparente insignificância de cada instante do dia ou da noite é transcendida por Cristóvão de Aguiar com a paixão de quem vive esses momentos como se fossem os últimos, os definitivos da sua vida: ungindo-os, - como se de um feito religioso se tratasse - com o amor, numa sacralização invasora que inclui quer o erotismo ( Ela), quer o humanismo ( o Outro, feito bicho – o Isquininho, o Adonis - ou feito Homem).
E a memória, desencadeada pela sensualidade do aroma de uma flor, ou do toque aveludado de uma pele ou de um objecto, das cores da terra, do ar, da água, ou do inquietante tilintar de uma bigorna, lança as pontes dos emotivos encontros e desencontros que vivificam a sua infância, o longe, o sentimento de momentâneas ausências que o tempo foi transformando em definitivas.
São, no entanto, as páginas dedicadas à própria escrita as que consubstanciam a oração mais intensa que percorre esta Tabuada do Tempo. Oração diversificada em metáforas referidas à palavra (“o seu coração de magma batendo na chaga esquerda do peito”) ou ao escritor (“barco á deriva, com estragos na quilha”). Poucas vezes nos é dado assistir a uma luta tão agónica para atingir a perfeição da palavra como esta a que o escritor aqui se entrega. É na sua inatingível procura que se debate, convicto de que a sua salvação como ser humano encarna-se nela e convicto também de que a sua sina vai ser a de nunca atingir nem uma nem outra.
O humor franco e aberto que perpassa estas páginas e que consegue os seus mais originais registos na escatologia manifestada em frases (“ventosidades silentes ou sonorosas”) ou vertida em histórias (a referente a dona Prudência e o Ti Zé Peidão), estabelece um contraponto na expressão, refreando o ímpeto desse sentimento de incompletude que percorre o livro e que parte da solidão para desaguar na solidão, após a penosa travessia feita no deserto por uma afectividade, por uma criatividade e por uma autenticidade absolutamente invulgares numa época como a nossa, em que impera a forma mais banal e inócua das narrativas light.
Cada frase desta Tabuada do tempo transforma-se numa revelação estilística, com descobertas lexicais e sintácticas que, iludindo a divagação, partem da procura no cerne da língua portuguesa, identificando o estilo de um autor que mostra nesta obra o ponto mais alto da sua maturidade literária.
Eloísa Alvarez

Universidade de Coimbra, 18.06.06.

TRASFEGA - Fundamentação da atribuição do Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra, 2002.

Estamos convictos, após a leitura destes doze contos, de que Francisco Carreiro [pseudónimo com que Cristóvão de Aguiar concorreu ao Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra] faz parte daquela cada vez mais rara estirpe dos genuínos contadores de histórias. De que, vista a sua extraordinária capacidade de efabulação, estas histórias podiam ser apenas o início de muitos outros volumes arquitectados pela mesma imaginação prodigiosa e, ainda, de que cada um dos personagens que as povoam leva em si o germe de muitos outros possíveis relatos que podem um dia vir a ser escritas por ele.
No livro fica gravada uma reflexão pessoal sobre o que é ser homem no Portugal contemporâneo, dentro de uma filosofia humanista em que o autor, o narrador, as personagens, e a ambiência formam um núcleo indissociável da problemática da condição humana, com a crítica ao belicismo, à exploração do homem pelo homem, à sua emigração, à falsidade dos códigos morais imperantes. O seu posicionamento leva-o a constituir-se em testemunha desconfortavelmente invulgar da História contemporânea portuguesa. E é nesta reflexão que se instaura a temática, a começar por “Trasfega”, a história inicial, em que o autor, em permanente diálogo com o espírito da terra açoriana, com essa Ilha que faz parte dele, desce, numa viagem vertiginosa, às funduras da sua condição de homem-escritor sem renunciar a ser ele próprio, mesmo quando se descobre como um nó-cego de contradições. Aspecto igualmente a destacar é a denúncia da alienação do povo na época do Estado Novo, inserida no dramatismo arrepiante da história de “Liberto”, que encerra o volume, e na condenação da guerra colonial nas imagens delirantes, fortemente impressivas, que envolvem o surrealismo do pesadelo do ex-combatente na guerra da Guiné, em “A noite e a sombra”. O estilo, que transmite a fluência do discurso oral, percorre todos os registos conotativos da linguagem: a malícia mordaz em que assenta o diálogo amoroso e que envolve a sua crítica ao tradicional estatuto do sacerdócio; a ironia de raiz popular impressa no desfecho de “A Prenda”, contrapartida irreverente do milagre das bodas de Cana; a intensidade lírica que envolve a ligação do narrador à terra, aos homens, ao sentimento. Foi a valorização dos elementos referidos que nos levaram a dar o nosso voto a Trasfega.

Eloísa Alvarez - in "homenagem a Cristóvão de Aguiar 40 anos de vida literária.

terça-feira, 28 de agosto de 2007

TRASFEGA (CASOS E CONTOS) Prémio Literário Miguel Torga 2002

Um prémio a condizer com a obra premiada


Sottomayor
In A Capital
23 de Julho de 2003








(…)O paralelo pode parecer despropositado e, no entanto, Torga paira por sobre a obra do escritor açoriano. Claro que sabemos que os abalos telúricos não são fenómenos habituais em Trás-os-Montes nem os vulcões foram exactamente o substrato do Marão. Mas o apego à terra, a lonjura (ditada num lado pela insularidade e noutro pela interioridade), a cultura própria, as figuras que perpassam, uma espécie de honradez colectiva, a crueldade de uma troça em que o mesmo povo bom é também mestre, são os mesmos.

As narrativas de Trasfega são, pois, antes de mais um testemunho de portugalidade. São vividas em São Miguel ou na Terceira como o seriam, sem esforço aparente, em Trás-os-Montes ou nalguns pontos do Alentejo. O espírito profundo de um povo, nos seus arroubos de gigante corajoso e nas suas cobardias de medroso mesquinho, captado magistralmente pelo Torga dos Contos da Montanha ou mesmo, servindo-se da fábula, dos Bichos, permanece vivo neste volumezinho de casos de contos, passado quase todo em terras do meio do mar, como que a mostrar à evidência a raiz comum. Em vez da Maria Lionça, do Lopo ou do Leproso das Fragas do Marão, temos aqui, noutras longitudes, retratos como o de José Maiato, o “Língua de Fogo”, ou de Mestre Libório e da sua ciência espertalhona que consistia em dizer à mulher o contrário do que pretendia, para assim obter o desejado.

Claro que “espírito” é uma coisa e “estilo” é bem outra. Cristóvão de Aguiar tem o seu, bem próprio e usa um português de lei, que, se o termo não deu azo a interpretações malévolas e despropositadas – diríamos “à antiga”, quando os sujeitos, os predicados e os complementos viviam em estranha harmonia e formavam frases com sentido, sonoridade e até musicalidade quando fosse necessária...

Mais qualidades não serão necessárias, de momento, para demonstrar a afinidade entre o poeta que serviu de “padrinho” ao prémio e o “afilhado” que lhe fez jus. Ficou aberto o apetite para ler melhor a obra publicada por Cristóvão de Aguiar e esperar com interesse pelos novos trabalhos.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

CRISTÓVÃO DE AGUIAR: VOTO DE CONGRATULAÇÃO, proposto em 27-06-2006 pelo PS na Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores.








VOTO
Legislatura VIII
Nº Entrada 2026
Data entrada 27-06-2006
Titulo Voto de Congratulação
Autores • PS
Assunto Atribuição do Prémio Miguel Torga ao escritor açoriano Cristovão de Aguiar.
Data apre. em plenário 27-06-2006
Resultado Aprovado por unanimidade

Voto de Congratulação: "Prémio Literário Miguel Torga"

Na passada semana recebemos a notícia, Cristóvão de Aguiar ganhou o Prémio Literário Miguel Torga – Cidade de Coimbra 2006 com o livro “A Tabuada do Tempo”. Esta é a segunda vez que o escritor da ilha de São Miguel, cidadão açoriano, é galardoado com este prémio bienal, isto porque já em 2002, o havia ganho com a obra “Transfega”. Cristóvão de Aguiar é licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. O seu primeiro livro foi lançado em 1965, pouco tempo antes de prestar serviço militar na Guerra Colonial na Guiné. Ao longo da sua carreira escreveu várias obras de poesia e prosa, tendo recebido os prémios Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa e o Grande Prémio da Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores. Em 2001, foi agraciado pelo então presidente da República Jorge Sampaio com a Ordem do Infante D. Henrique; em 2005 foi homenageado pela Faculdade de Letras em conjunto com a Reitoria da Universidade de Coimbra, que publicaram o livro: “Homenagem a Cristóvão de Aguiar- 40 anos de vida literária”. Há pouco tempo e, nesta Assembleia, onde todos os dias, também, celebramos a nossa língua portuguesa, o autor Cristóvão de Aguiar foi referido; tendo-se esta mesma Assembleia congratulado pela passagem de 40 anos da sua vida literária. Na altura, relembro aqui, dissemo-lo: “Passageiro em Trânsito de Raiz Comovida”. Hoje, repetimo-lo, não sem antes, reafirmar também, que a sua “Relação de Bordo” com as palavras, os lugares e as pessoas, porque próxima e mais que chegada ao coração, é a prova de que Cristóvão de Aguiar respeita e usa como ninguém a Língua Portuguesa, dignificando-a. Assim soubéssemos todos: picar a pedra das palavras, de modo a torná-las grandes como as ribeiras. Cristóvão de Aguiar é condutor de uma “epopeia sem reis”, tal como escreveu “Aos Poetas”, Miguel Torga, rogando-lhes que fossem:
“ (…) homens de tamanho natural!/ Homens de toda a terra sem fronteiras!/ De todos os feitios e maneiras,/ Da cor que o sol lhes deu à flor da pele!/Crias de Adão e Eva verdadeiras!/ Homens da torre de Babel!/ Homens do dia a dia/ Que levantem paredes de ilusão!/ Homens de pés no chão,/ Que se calcem de sonho e de poesia/ Pela graça infantil da vossa mão!”
Ao abrigo das disposições legais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em Sessão Plenária, no dia 27 de Junho, emita um voto de congratulação ao escritor Açoriano pela atribuição do Prémio Miguel Torga, Cidade de Coimbra 2006. Horta, Sala das Sessões, 27 de Junho de 2006

Mariana Matos
JS no Parlamento Quarta-feira, Junho 28, 2006

Cristóvão de Aguiar: VOTO DE SAUDAÇÃO, proposto em 21-02-2006, pelo Grupo Parlamentar do Partido Socialista da Região Autónoma dos Açores.












VOTO
Legislatura VIII
Nº Entrada 551
Data entrada 21-02-2006
Titulo Voto de Saudação
Autores • PS
Assunto 40 anos de vida literária de Cristóvão de Aguiar.
Data apre. em plenário 21-02-2006
Resultado Aprovado por unanimidade

Voto de Saudação: "40 anos de Vida literária de Cristóvão de Aguiar"
A obra literária de Cristóvão de Aguiar destaca-se, no panorama da Literatura Portuguesa, por manter uma Relação de Bordo com as palavras, os lugares e as pessoas e por um enorme respeito pelo uso da Língua Portuguesa. Cristóvão de Aguiar é um Passageiro em Trânsito de Raiz Comovida. Nasceu em 1940, na freguesia do Pico da Pedra, ilha de São Miguel. Completou o curso complementar dos liceus em São Miguel, em 1960 e matriculou-se em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Em 1964, interrompeu os estudos para cumprir serviço militar como oficial miliciano. Depois de dois anos na guerra na Guiné, regressou a Coimbra, onde concluiu o curso e ficou como professor de Inglês, na mesma Universidade. De entre a sua vasta obra destacam-se os títulos “Raiz Comovida I – A Semente e a Seiva“ (1978), que venceu o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, “Relação de Bordo I – Diário ou nem tanto ou talvez muito mais” (1964-1988), vencedor do Grande Prémio da Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores, “Raiz Comovida: Trilogia Romanesca (2003), Trasfega – Casos e Contos” (2003), vencedor do Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra e “Nova Relação de Bordo – Diário ou nem tanto ou talvez muito mais”. Além destas obras, é autor de muitos outros títulos, de entre os quais, destacamos: “Braço Tatuado”; “Ciclone de Setembro”, “Grito em Chamas”, “Passageiro em Trânsito”, “Marilha”, “Com Paulo Quintela à mesa da Tertúlia” e “A descoberta da Cidade”. Foi, ainda, o tradutor da obra de Adam Smith: “A Riqueza das Nações”. Em Setembro de 2001 o autor foi agraciado pelo Presidente da República com o grau de Comendador da Ordem do Infante Dom Henrique. Cristóvão de Aguiar trouxe para as páginas da Literatura Portuguesa a irreverência dos sentimentos num cruzamento de linhas escritas por lugares e tempos diferentes; assentados num modo de escrever exigente, não só em termos de aperfeiçoamento de estilo, mas também, do ponto de vista linguístico, dotando as suas obras de um rigoroso trabalho das palavras, enquanto pertença primeira da Língua Portuguesa. O Livro “Homenagem a Cristóvão de Aguiar 40 anos de vida literária”, editado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, dirigido e coordenado por Ana Paula Arnaut, foi recentemente apresentado em Ponta Delgada. Dele podemos dizer que é um escrevivente. Escrevendo e vivendo ligado a Marilha. Palavra que, além de título de um dos seus livros, poderá ser também, para lá dos seus significados próprios, sinónimo de Pico da Pedra, São Miguel, Açores e Açorianos. Ao abrigo das disposições legais aplicáveis, o Grupo Parlamentar do Partido Socialista propõe que a Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores, reunida em Sessão Plenária, no dia 21 de Fevereiro de 2006, emita um voto de congrutalção à passagem dos 40 anos de vida literária de Cristóvão de Aguiar, recentemente assinalados na sua ilha de São Miguel, aquando da apresentação na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada, do livro, intitulado: “Homenagem a Cristóvão de Aguiar 40 anos de vida literária”.
Horta, Sala das Sessões, 21 de Fevereiro de 2006

JS no Parlamento Sábado, Fevereiro 25, 2006

domingo, 26 de agosto de 2007

CRISTÓVÃO DE AGUIAR: "EU, ILHÉU, ME CONFESSO" - "I, ISLANDER, CONFESS" PUBLICAÇÃO NA AZOREAN SPIRIT, SATA MAGAZINE, N.º 18 Verão - Summer 2006



Esta revista é bilingue (português / inglês) e foi oferecida aos passageiros da Sata Internacional no Verão de 2006.

Capa - Isabel Figueira, no seu melhor, por terras (ilhas) Açorianas...






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Raiz Comovida (a semente e a seiva), Cristóvão de Aguiar - 1980

sábado, 25 de agosto de 2007

RAIZ COMOVIDA (A SEMENTE E A SEIVA), de Cristóvão de Aguiar - 1978



Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa

sexta-feira, 24 de agosto de 2007

MÃOS VAZIAS, Cristóvão de Aguiar - 1965












Primeiro livro de Cristóvão de Aguiar, publicado em 1965, quando ainda era estudante, antes de ser mobilizado para a Guerra Colonial na Guiné onde foi Alferes Meliciano.

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Relação de Bordo (1964-1988), crítica de Vasco Pereira da Costa, DIÁRIO DE NOTÍCIAS, 27 de ABRIL 1999, "O diário da geração da guerra colonial"

Comecemos por uma data e por uma cidade. Não poderia ser mais inicial a data: precisamente o primeiro dia do ano de 1964. E a cidade é Coimbra, terra a que sempre regressa aquele que elabora esta Relação de Bordo.
Cristóvão de Aguiar tem o cuidado de avisar quem se apreste a, com ele, viajar pelas páginas deste livro que se trata de um diário ou nem tanto ou talvez muito mais, deste modo alertando o desprevenido navegante para o facto de as rotas não estarem bem definidas na geografia difusa desta aventura literária, pelo contrário, serão determinadas pelos ventos das emoções, pelas calmarias da razão, pelas tempestades dos sentimentos, pelas correntes da vida.
Quando, depois de percorrer o planeta mágico das palavras – depois de ter riscado uma cartografia sinuosa de um passageiro em trânsito; depois de ter arriscado as atribulações de um ciclone de Setembro; depois de ter conhecido os calores insuportáveis de um grito de chamas; depois de ter um braço tatuado como todos os nautas impenitentes; depois de reconhecer fantasias das ilhas dos amores e desamores; depois dos torrões mais íntimos e sofridos ter arrancado as raízes mais comovidas – quando depois de tudo isto estiver de novo em Coimbra, 25 anos passados e completos, o viageiro apenas poderá registar na Relação de Bordo o indefinível definitivo.
Assinale-se que a viagem física não abarca os cinco continentes, paisagens mais diversas, itinerários longos e frequentes... A viagem mais vivida é a interior, aquela que percorre os escaninhos da memória, que aporta a calhetas de refúgio, que alarga para os oceanos da imaginação, que enfrenta as vagas verdes (olá, Nemésio!) dos sentidos, que estiola ao sol baço das desilusões, que se anima ao pressentir os incontidos entusiasmos do corso breve, que se apresta para as arremetidas de piratarias traiçoeiras...
De facto, na relação portulana, figuram Coimbra, Mafra, Tomar, Pico da Pedra, Lisboa, Guiné (e os sugestivos topónimos da guerra) e Bristol como espaços de permanência mais alongada. Como espaços de estada fugaz surgem Leça da Palmeira, Gerês, Vieira de Leiria, Sítio da Nazaré, Figueira da Foz, Ponta Delgada, Providence, Boston, Praia de Mira...
Não é porem, a diversidade de lugares que importa relevar nesta viagem. Tratando-se, apesar de tudo, de um diário (se bem que o seu autor não esclareça com decisão a tipologia da obra), o que, meu ver interessa destacar são os movimentos viageiros da escrita, movimentos provocados por ventos contrários, que na elaboração do discurso íntimo se chocam no espaço autobiográfico. Neste sentido, escreve Clara Rocha, no seu ensaio A Poética dos Géneros Autobiográficos: «Os dois movimentos de sentido contrário que se combinam na escrita intimista são, por um lado, a concentração ou procura de um centro e a dispersão ou desregramento da coerência do eu (je est un autre). Por outras palavras, chocam-se neste tipo de escrita uma força centrípeta e uma força centrífuga.»
Nos diários, este movimento de forças contrárias é particularmente visível. Na realidade, a actividade diarística é uma concentração (nos dois sentidos da palavra: procura introspectiva dum centro e atenção concentrada): mas a escrita produzida revela-nos um eu disperso, variável ao sabor dos dias ao mesmo das horas.
Ora, de facto, nesta Relação de Bordo, Cristóvão de Aguiar constrói a sua personalidade literária autenticando uma imagem através das confidências e do desvendamento da intimidade. Mas essa personalidade é indesligável de outra faceta, já anteriormente entrevista no conjunto da sua obra poética e, sobretudo, ficcional. Em boa verdade, o leitor assíduo de Cristóvão de Aguiar verificará que muitas pessoas que constam desta relação são personagens dos seus romances. O que é interessante, nesta operação reveladora, é o reconhecimento das suas personalidades reais e referenciais.
Naturalmente, o acto de leitura leva a que, involuntariamente, sejam estabelecidas comparações com modelos anteriormente estabelecidos. Neste caso, há aproximações evidentes aos diários torguianos, posto que, de forma aberta e fecunda, as formas e os conteúdos são diversos. Claro que fica registado o percurso de vinte e cinco anos de vida e que o experienciado é o mais significativo, não só porque representa quantitativamente o essencial da viagem mas também porque relata, dá testemunho e recria factos de suma importância para o conhecimento do autor, sem dúvida, e, mais importante do que isso, para a compreensão do mundo em que vivemos.
Assim, logo no primeiro dia, anuncia... «No próximo dia 27 do corrente, numa segunda-feira, logo de manhã, vou iniciar em Mafra o curso de oficiais milicianos, com destino a guerra colonial.» Chegará, porém, a 26 de Janeiro de 1964, à noite: «O casarão do convento é tão frio e tão feio, que tenho o coração a doer e vontade de chorar.» E até Agosto o soldado cadete n.º 1114/64 dará conta das suas revoltas de consciência e dos seus arrepios perante, por exemplo, as condecorações póstumas ao assistir na televisão a uma parada militar no dia 10 de Junho.
Serão depois as peripécias da guerra que marcam duas gerações e que vão consumindo todas as razões até ao tição da loucura. Numa época em que tentam fazer crer na morte das ideologias e na inexistência do fascismo em Portugal, é pertinente a evocação do estado da alma e do corpo de um involuntário combatente. Para além do conhecimento das etapas da vida do escritor Cristóvão de Aguiar (e nesta Relação fica mais inteiro e reconstituído o possível homem total), a observação do quotidiano pode incidir sobre o conhecimento de uma realidade risível, delineando-se, a espaços, a caricatura, que chega a ser pungente. Apenas um atento observador das nossas tristuras mesquinhas as pode traçar de um modo tão certeiro quanto impiedoso.
Assinaláveis por aquilo que representam no plano individual e por aquilo que significam para o entendimento da vida cultural e social do nosso país são as evocações datadas e emotivas e emocionadas de personalidades que vincaram indelevelmente os tempos referenciados: Nemésio, Paulo Quintela, Joaquim Namorado...
Retomando a aproximação entre a Relação de Bordo e os diários de Torga, há que referir a inclusão de poemas que referem o local onde foram redigidas e ainda a obsidiante procura de um centro. Se, em Torga, é São Martinho de Anta, o espaço português, a pátria, em Cristóvão de Aguiar é a ilha. Como escreve Carlos Ascenso André na Carta-Prefácio: «Mesmo o “tu” que construíste, paulatinamente, a compasso dos dias que nestas páginas vais rastreando, mesmo esse “tu” poderá não ser quem tu planeaste que fosse. Queiras ou não, esse “tu” – que desejarias fosse a “ilha” onde aportaste – é também inelutavelmente a ilha de onde partiste. Melhor dizendo: Esse “tu” é a “ilha”. Simplesmente. Mágica, como todas as ilhas. Obsessiva. Fascinante. Pólo aglutinador de todas as vagas e areal por onde as mesmas águas se espraiam. Espaço de encontro e espaço de solidão. A “ilha” feita pessoa e a pessoa volvida “ilha”, como te impõe essa condição que os acasos da fortuna ditaram que fosse tua.»
Outro encanto deste livro reside no escorreito, limpo e direito uso da língua portuguesa – uso que provém da mestria e do pressuposto saudável de que aquele que escreve quer ser entendido.
Finalmente, o carácter sedutor de um diário provém daquelas virtudes assinaladas por Marcelo Duarte Mathias em No Devagar Depressa dos Tempos: «Um diário é isso mesmo, e não pode, em boa verdade, ser outra senão o reflexo particular de uma história que é de todos e a todos pertence. (...) Cada olhar reflecte uma imagem e é essa imagem diferente que procuro nos outros. Se o que a todos nos define é o nosso indefinível, o respeito pelos outros, a valorização da vida alheia só a entendo através do que os aproxima daquilo que em mim é irredutível aos demais, e faz de mim – do nascer ao morrer – o meu limite e a minha última referência.»
Pois, partir desta leitura, fico mais consciente do meu limite e mais sensibilizado para as minhas referências.
E, para além dos assinaláveis pontos de interesse diversos deste livro, que se abre à leitura onde tocam os dedos na cisão das páginas, oferecendo a crónica, o poema, o comentário, a memória, a narrativa a que se não furta o ficcionista que Cristóvão de Aguiar essencialmente é – a Relação de Bordo aí está, sobretudo, como o espaço por onde erra a geração que padeceu a guerra colonial, que fez e assistiu ao 25 de Abril, que tem inquietações e anseios de fim de século, que pode rever-se no eu autobiográfico de um sujeito dramático que ora vem dialogar connosco no mais íntimo e insulado tempo da leitura.

Vasco Pereira Costa
Diário de Notícias
27 de Abril de 1999

quarta-feira, 22 de agosto de 2007

Professor Aníbal Pinto de Castro: Apreciação genérica da obra e razões do seu apreço por Cristóvão de Aguiar - 2000

(…)Hoje, porém, aqui estou. Não para lhe escrever o estudo crítico que, como escritor, Você de há muito merece. Não lhe escondo até que, se o tempo a isso me der talho, muito gostarei de fazer um dia. Desta feita quero apenas, de uma forma afectuosamente simples, dizer-lhe um pouco das razões do meu apreço por si e pela sua obra, tal como tenho vindo a conhecer um e outra, através dos três volumes da Raiz Comovida, e das páginas do Ciclone de Setembro, do Passageiro em Trânsito ou da Relação de Bordo, entre outros.
O que mais profundamente me impressiona na sua escrita é a riquíssima carga de humanidade que simultaneamente lhe serve de “raiz”, lhe vivifica a alma e lhe marca o estilo. Por isso a sua ficção está tão visceralmente ligada aos lugares onde nasceu, cresceu e viveu, e às pessoas que, sendo parte essencial desses lugares, deles conservam marcas tão fundas mesmo quando, no seu discurso, se volvem personagens. E daí decorrem, afinal, as características que melhor o definem como escritor.
Em primeiro lugar, a sua autenticidade, que é, acima de tudo, fidelidade às suas raízes, teimosa e indelevelmente arreigadas na lava da sua Ilha. Não é por acaso que este conceito e a palavra que o traduz lhe saltam com tanta frequência à mente no acto de escrita e lhe servem de título a uma assaz longa série de volumes! No seu mundo afectivo (do qual decorrem, afinal, as suas opções essenciais como escritor) a Ilha transforma-se, tanto pelo poder encantatório da saudade como por um sentido artifício metafórico e metonímico, numa envolvência generosa e plena, que é ao mesmo tempo mãe placentária, mulher de serena beleza, amante fogosa e sempre dolorosa nostalgia, mesmo quando nela reentra por períodos mais ou menos demorados de reencontro ou de evocação. É assim que, quando, num passo da Relação de Bordo escrito em Mafra a 3 de Fevereiro de 1964, escreve “Viajo por dentro de mim e chego sempre à Ilha”, não está apenas a referir-se ao encontro imaginário com um amor ausente no tempo que por lá deixou perdido. Está sobretudo a procurar dentro de si (e a encontrar!) essa Ilha feita de lava, de mistério e de saudade, sem se dar talvez conta de que, estando dentro de si, ela o envolve e o enleia, não para o sufocar, mas para o fazer vibrar de emoções sempre novas e lhe revelar, dentro e fora de si, dentro e fora dela, o melhor do sentir poético que, por uma força quase invencível que dela lhe vem, Você exprime na sua prosa, bem melhor (permita-me a franqueza) do que nos seus versos.
É por essa mesma razão que, sendo um errante passageiro em trânsito, Você consegue o milagre de conciliar esse apego profundo a essa sua Ilha ancestral com a entrega, sempre apaixonada, às novas ilhas de um seu arquipélago imaginário, em cujo mapa se vieram alinhando outros lugares, marcados pelo bom e mau que a Vida sempre traz consigo, sejam os eldorados da emigração açoriana em terras americanas, sejam (mirabile dictu!) as dores físicas e morais da lancinante experiência da guerra da Guiné, antecedidas pelo inferno tantas vezes desumano de Mafra, seja sobretudo o encantamento irresistível desta Coimbra, que tanto o soube cativar desde o tempo das suas ilusões de menino e moço! Compreende-se deste modo como, em si, a espontânea generosidade com que adere às causas que, em certos momentos da vida lhe parecem justas, se concilia com uma nobre capacidade de tolerância, só de raro em raro perturbada, e com um sentido quase bravio de independência de espírito e de opinião que o fazem respeitar os outros ou reconhecer, com exemplar humildade, que o seu caminho não era exactamente por onde, em determinadas circunstâncias, julgou que necessariamente poderia ou teria de passar.
Depois, gostaria de sublinhar a intrínseca simbiose que estabelece entre o memorialismo e a ficção. Como em todos quantos se abalançam à arte difícil da escrita diarística, o meu Amigo vê a realidade vivida por si com as lentes de uma agudíssima sensibilidade poética de dimensão universal. Não admira, pois, que, quando narra o seu dia-a-dia, nos dê dele um ou mais quadros que, sem faltar à verdade, adquirem uma dimensão ficcional tão própria e acentuada que os projecta numa polifonia já de pendor flagrantemente lírico; e que, por outro lado, a sua ficção se mantenha tão presa ao seu quotidiano referencial, conferindo-lhe tons de verdade que mantêm os problemas humanos sofridos pelas personagens ao alcance imediato dos seus leitores e da vida real que estes também defrontaram ou defrontam. Lembra-me Camilo, em cuja ficção personagens, criador e os virtuais leitores tão facilmente conviviam que pareciam comparsas de um mesmo drama em cuja representação se acotovelassem sobre as tábuas do imenso palco do grande teatro do Mundo!
E é ainda a essa simbiose de ancestralidade, de experiência de vida e de cultura literária que Você vai buscar o melhor do seu estilo. O linguajar da fala micaelense, bebido no leite de sua Mãe e no rigor honrado de seu Pai, e do qual Você (Deus louvado!) conserva o feliz sotaque, dá-lhe belíssimas expressões que conferem ao seu discurso, em cuja correcção se sente ainda a excelência dos Professores de Português que teve e a lição das muitas e boas leituras que ao longo da vida fez, aquela mesma autenticidade feita de saber, de sentir e de exprimir que eu acima sublinhava. Respigo, quase ao acaso, alguns exemplos das páginas da Relação de Bordo. Veja como ficou “néscio e sucinto”, quando a Contuboel chegou o telegrama anunciando o nascimento do seu primeiro filho (p. 67); ou aquele “lirismo de confeitaria [que] atinge o negativo no termómetro social” que tanto o irritou na véspera de um Natal passado em Coimbra (p. 104); ou aquele “desistir de ter futuro” com que noticia a morte de Ary dos Santos (p. 310); ou aquela sensação de que “era a cabeça do mundo que doía em si”, no fim de uma tarde passada numa esquadra de polícia (p. 331); ou o desejo que sentiu um dia em Bristol, de que o levassem imediatamente a casa de seus Pais a fim de reunir, um por um, os cacos em que se fragmentara (p. 384) – cá temos um sinal bem claro daquela sua fragmentação de ilhéu ancorado por vários cantos do mundo! –; ou o adro azul da sua infância, de que fala na p. 408...
Não deixa de ser prova bem evidente dessa sua capacidade de metaforizar a vida e a linguagem que a traduz, mesmo nos seus momentos mais difíceis, este passo, datado de Coimbra, a 3 de Maio de 1984, em que, para exprimir a dificuldade de retomar a escrita, evoca o salto para o galho que, como todos os que por lá passámos, tinha sido obrigado a dar quase 20 anos antes, na Tapada de Mafra: “O galho da escrita está um pouco mais afastado da plataforma onde se encontram as intenções. Nele entram em jogo outros músculos e outras mãos” (p. 344).
Recordarei sempre, como momentos de magnífico recorte poético e estilístico a página datada de Leiria, a 16 de Dezembro de 1970, em que, perante um menino pobre que brincava na rua, se aproximou de Jesus, porque a Ele o compara o menino, mas também porque, descido de novo à realidade, não encontrou nenhum José de Arimateia que se aproximasse da sua cruz... Ou aquela outra a ressumar um doloroso sentimento de abandono, mas de tão feliz riqueza metafórica, quando em Coimbra, a 24 de Agosto de 1988 (p. 412), o telefone emudeceu, o carteiro não tocou e, sobretudo, a esperança não esperneou!
Meu caro Cristóvão, tenho de parar, sob pena de transformar a expectativa da carta que lhe prometi, num enfadonho arrazoado de análise de textos que corre sério risco de lhe causar pesadelos. É que eu, como Professor, pergunto muitas vezes a mim próprio o que diriam os autores cujos textos ensinamos, se pudessem ver os coelhos críticos que lhes iramos das cartolas que escreveram... Graças a Deus que o meu Amigo está vivo e são para me poder desmentir e pôr na ordem, se vir que desatremei ou que me atrevi a vender a suculenta lebre dos seus livros pelo esfolado e mal cozinhado gato vadio da minha prosa arvorada em... crítica! Creia, no entanto, que, justo ou injusto, certo ou errado, quanto aqui lhe escrevo é sincero, porque nasce do cordial apreço que lhe dedica o seu colega, amigo e fiel leitor muito agradecido.

In prefácio do Relação de Bordo II e Homenagem a Cristóvão de Aguiar

Nobre Arquitectura, de António Arnaut. Versão inglesa de Cristóvão de Aguiar


















Livro de poemas.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

MARILHA, crítica de Vasco Pereira da Costa

Só agora, numa nesga de manso Agosto, pude ler, com atenção a Marilha- se quiseres, a maravilha da aventura da escrita que, em ti, nunca é conclusa.
De facto, voltar ao Grito em Chamas e ao Ciclone de Setembro e fazer ecoar o grito e agitar o ciclone só demonstra a tua contumaz perseguição à escrita perfeita e à unidade ontológica do eterno tema do criador - a criatura.

Mas daquilo que mais gostei (acho que ainda é possível gostar quando se lê...) foi da limpeza e do bom trato que dás à Língua Portuguesa.

Bem hajas.

Vasco Pereira of Costa

Miguel Torga, por Lapa


TRIBUTO


Leia-se em verso ou bela prosa,
Trás-os-Montes e seu memorial
Das suas "pétalas": perfume rosa
Tudo narrado de forma magistral.

Coimbra, cidade buliçosa
Dela ódio, amor colossal.
Exigente, bela e formosa
Também a cantaste sem igual

Lavrador de versos e prosas,
Foste, porém, poeta visceral.
E as colheitas tão dolorosas…

Teu arado esventrou Portugal!
Muito obrigado, Miguel Torga,
por tudo, teu fruto é imortal!

domingo, 19 de agosto de 2007

Raiz Comovida, o mais portentoso título da actual literatura portuguesa



"Cristovão de Aguiar,autor do mais portentoso título da actual literatura portuguesa-RAIZ COMOVIDA"

Medeiros Ferreira

sábado, 18 de agosto de 2007

A Tabuada do Tempo, recomendada pelo Instituto Camões em Agosto de 2007



A Tabuada do Tempo
Cristóvão de Aguiar
Almedina
2007, 330 pp.
ISBN: 978-972-40-3179-8
www.almedina.net


A Tabuada do Tempo percorre o quotidiano do escritor, que nos apresenta um diário de bordo. Nele inclui as suas memórias, as alegrias e angústias, os amores e desamores e, sobretudo, o local onde nasceu, Pico da Pedra, concelho de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, Açores.

O narrador questiona e reflecte o tempo, ao partilhar connosco as preocupações mais íntimas do ser humano.

«Sinto-me e sento-me à borda do pânico. Por seu turno, gera outro maior e sempre por aí acima, em espiral, até ao inferno interior da culpa total por tudo quanto acontece dentro e fora de mim. Quem te manda a ti pensar que a escrita é o pão do teu supreio e a serenidade do teu espírito? E, depois, o universo e tudo quanto nele habita vai moendo e doendo no tutano do íntimo. Caprichosa, a escrita».

Cristóvão de Aguiar nasceu em 1940 e é licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Lançou o seu primeiro livro em 1965, pouco tempo antes de prestar serviço militar na guerra colonial, na Guiné.
Ao longo da sua carreira escreveu várias obras em poesia e prosa, tendo recebido os prémios Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa, Grande Prémio da Literatura Biográfica APE e, em 2006, o Prémio Literário Miguel Torga – Cidade de Coimbra, com o livro A Tabuada do Tempo.

Livros do mês.

sexta-feira, 17 de agosto de 2007

J. F. Jorge, perplexidade revelada pela leitura da Triologia Romanesca Raiz Comovida

Talvez nenhum prosador e poeta português contemporâneo tenha sido tão injustamente tratado e ingloriamente esquecido, com um silêncio tão frio e desmerecido, como Cristóvão de Aguiar. Não o dizemos por uma comiseração rasteira para com um coitado que mereceria um bocadinho mais, mas sim com a convicção que nos ficou da surpresa, “tarde e a más horas”, sofrida pela leitura de um dos mais surpreendentes monumentos da nossa literatura moderna.

J. F. Jorge
Jornal Semanário

Livro de homenagem "Miguel Torga o Lavrador das Letras", de Cristóvão de Aguiar

Anuncio, em primeira mão, a publicação do livro "Miguel Torga o Lavrador das Letras" de Cristóvão de Aguiar.Trata-se de uma compilação adaptada de textos sobre Miguel Torga, extraídos da, duplamente premiada, obra diarística de Cristóvão de Aguiar e que pretende homenagear esse escritor ímpar no centenário do seu nascimento. O livro revela-nos belas histórias da vida e obra de Miguel Torga, com a magia da escrita de Cristóvão de Aguiar.
O livro terá a chancela da Editora Almedina e a data do seu lançamento/apresentação será, em breve, divulgada neste blogue.

Professor Albano Martins, Fundamentação da atribuição do Grande Prémio APE/CMP a Relação de Bordo I

O Júri, que aqui represento e de que, por deferência, fui designado porta-voz, decidiu, por unanimidade, atribuir o Grande Prémio de Literatura Biográfica, para o biénio de 1998/1999, ao volume Relação de Bordo, de Cristóvão de Aguiar, por duas razões fundamentais. Em primeiro lugar, pela qualidade humana da referida obra, que se apresenta simultaneamente como um vasto e rico repositório de experiências, assinaladas por um vinco de inegável autenticidade, e como documento de irrecusável alcance, se olhado na perspectiva da ética das relações, dos gestos, das atitudes, e do sentido da própria vida. Como documento, dizemos, no sentido rigoroso do termo, isto é, o do que se oferece como ensinamento ou lição e, também, como testemunho e memória emblemática. Em segundo lugar, pela qualidade literária de uma escrita onde poesia e prosa se aliam, se cruzam, se entrelaçam, se harmonizam, urdindo um tecido de irradiantes tonalidades e, não raro, de efeitos de surpreendente beleza.
Julgo, por isso, que a obra – esta obra – de Cristóvão de Aguiar exigiria – diria mesmo: reclama – uma análise de que eu, reduzido, por natural inclinação, à condição de leitor atento e obrigado, não disponho, e da qual beneficiariam não apenas a obra em questão, mas o seu autor.
Relação de Bordo, diz o título. E, se a palavra “bordo” logo inequivocamente indicia a ideia de viagem, o substantivo “relação”, esse, inscreve-se numa área de complexa variabilidade semântica. É que a “relação” tanto pode ser o relato (derivado regressivo do verbo relatar), isto é, a narração de algo, de acontecimentos vividos ou, tão-só, observados, como a lista ou rol dos objectos, instrumentos e pertences, próprios ou alheios, necessários a determinada actividade ou simplesmente oferecidos à curiosidade, à observação e à análise. E pode, ainda, ser a ligação – o relacionamento, o trato, o comércio – com os outros, com as coisas, com o mundo. De todos os referidos conteúdos participa, a meu ver, esta “Relação” de Cristóvão de Aguiar, já que o autor se não apresenta como simples narrador dos acontecimentos que se inscrevem na órbita do seu dia-a-dia existencial, mas porque eles, acontecimentos, lhe fornecem ocasião e pretexto para pôr em evidência, mas também em confronto, comportamentos, práticas, sensibilidades, mentalidades, diferentes modos de olhar a realidade, o tempo, o mundo, os homens. De se olhar a si próprio como peça duma engrenagem em constante mutação, de se auscultar e explicar, sem tibiezas, aos olhos dos outros. De se conhecer e compreender nos próprios movimentos ondulatórios da sua personalidade e nas interacções que os motivam e determinam. Se há aqui efabulação, é no sentido etimológico do termo, isto é, de fala ou discurso a partir de algo. Daquilo que, no caso, se institui ou elege como motivo de registo, de ponderação e reflexão. De auto-reflexão também.
Porque, é preciso dizê-lo, o autor não se constitui mero narrador de acontecimentos de que é, umas vezes, protagonista, outras, participante, observador, outras, ainda, mediador. E é por isso, também, que não é fortuita ou insignificante a selecção dos episódios trazidos à colação. Dela (porque nem tudo o que acontece tem igual significado e importância) releva uma personalidade que tanto se anuncia e afirma na “arqueologia dos afectos” (“Arqueologia de um afecto” é o título de um dos poemas incluídos no livro), como nas pulsões oriundas dum quotidiano itinerante onde cabem e, por vezes, coabitam a ternura e os amores, os traumas, os temores e os tremores, as raivas, as aversões e as repulsas.
Da obra e do autor (porque o autor é aqui a sua obra, ou vice-versa) acentuarei, pois, e ainda, se me permitem: a coragem de se encarar ou enfrentar ao espelho; de se retratar em carne viva; de trazer à superfície, expondo-os na praça pública, o lodo, a enxúndia, a náusea e o nojo acumulados nos interstícios do tempo e da memória. Acentuarei o diálogo de si com o outro, que é o próprio, não lhe ocultando – e não lhe perdoando, às vezes – as pequenas perversidades, as fraquezas, as fragilidades e misérias a que humanamente está sujeito e a que não logra furtar-se. Direi, enfim, que se trata de um documento de rara grandeza e duma nobreza e pungência raras a que não pode ficar-se indiferente, a menos que se tenha entorpecida a mente e embotada a sensibilidade.Testemunho de um tempo – nosso tempo – e dos agentes da história – a pequena e a grande história –, esta Relação de Bordo é, em síntese, um compromisso (mas também, às vezes, um ajuste de contas) do autor consigo mesmo, com o mundo, com a mesma história. Um compromisso com a vida, no que ela tem de verdadeiramente substantivo, estimulante e significante. De nobre, sim, mas também de obsceno, algumas vezes. Demasiadas vezes, porventura.
“Diário ou nem tanto ou talvez muito mais”, assim vem subtitulada esta Relação de Bordo, que tem como âmbito cronológico o período compreendido entre os anos de 1964 e 1988.
Diário, isto é, nas palavras do autor, “a tineta de assentar tudo o que vai acontecendo” ou, por outras palavras, também suas, “esta empreitada de ir assentando e assuntando (...) as coisas mais importantes da minha vida e dos que me estão mais próximos”. Está assim, julgo eu, explicado aquele “nem tanto” do subtítulo, já que o termo “diário” aponta para o registo, dia-a-dia, de tudo o que vai acontecendo, e não apenas “o mais importante”. Mas o livro é também, e não “talvez”, muito mais do que isso. É também autobiografia, livro de memórias, de confissões, ensaio, crónica, reportagem, sátira, poema. Um complexo mosaico onde lirismo, e drama, e tragédia, e comédia (a tragédia e a comédia existenciais) alternam, umas vezes, outras se enlaçam, se enredam, construindo uma teia em cujas cerradas malhas o leitor se vê, também ele, envolvido, enredado, comprometido, sem remissão e sem apelo.
Dito isto, afigura-se-me irrelevante, além de inoportuno, falar de modelos. Cristóvão de Aguiar não esconde a sua admiração por Miguel Torga, que diz ser o seu “escritor preferido”, achando mesmo “natural” que a sua “escrita tenha sido grandemente influenciada” pela dele, que considera, diz, “inimitável”. O mais cómodo – o mais fácil – seria trazer de imediato à colação, do referido autor, A Criação do Mundo e o Diário, obras, sem dúvida, de referência obrigatória (incontornáveis, como agora se diz), quando se questiona a existência, entre nós, duma verdadeira literatura autobiográfica. Mas poderiam citar-se, além de Torga, Raul Brandão e as suas Memórias; O Mundo à Minha Procura e as Páginas, de Ruben A.; a Conta Corrente, de Vergílio Ferreira; os Cadernos de Lanzarote, do Nobel português José Saramago; Na Água do Tempo, de Luísa Dacosta; e, mais recentemente, Tudo o que não escrevi, de Eduardo Prado Coelho. É irrelevante, insistimos, porque di-lo algures Eduardo Lourenço, “ninguém nasce de si mesmo”. E porque, como lembra José Régio, “só o que de algum modo nos pertence pode influenciar-nos profundamente”.
Terminarei com uma nota pessoal: numa época em que tantos aprendizes de feiticeiro da escrita, guindados ao pódio, se vêem promovidos ou auto-promovem a candidatos a nobéis de ocasião; numa época em que a língua se vê diariamente maltratada em tantos – em todos os – lugares onde devia ser respeitada e protegida, é reconfortante (é-o, realmente, para mim) encontrar alguém para quem o exercício da escrita é simultaneamente um acto de cultura, de liberdade, de coragem, de inteligência, de lucidez, de higiene (de purificação ou catarse, se preferirem), de aprendizagem e de conhecimento. De conhecimento dos outros, sim, mas também, ou sobretudo, de si próprio. O que torna, desde logo, o referido exercício um acto necessário e, por isso, imperativo. E, por isso, indispensável. E, por isso, inadiável. Alguém com soberana mestria e soberana dignidade, se entrega à dura “lavoura das palavras” para, com elas, limpar o “muito lixo” acumulado no “armazém da memória”. Cristóvão de Aguiar sabe, com efeito, que “a palavra gerada, amadurecida e parida na maternidade do verbo” traz coladas pústulas de sangue e outras aderências que, a bem da higiene, da verdade e da estética, é necessário remover a todo o custo. Sabia-o já, muitos séculos antes de nós, o velho Sá de Miranda, ao confessar ao seu amigo Pêro de Andrade Caminha, num conhecido soneto, que nunca se cansava de “lamber” os seus versos “como ursa os filhos mal proporcionados”.
Obrigado, Cristóvão de Aguiar. Estou certo de que a “memória curta dos dias” – isto é, dos homens – não irá “atirar para um cesto cheio de esquecimento” a sua obra. A garantia é ela própria, a sua obra, que a fornece. E os premiados somos nós.

quinta-feira, 16 de agosto de 2007

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

Raiz Comovida, Vindima de Fogo. 1979

(...)Não tenho dúvidas em reafirmar que raríssimos são os que hoje, no nosso País, possuem esta soberba escrita: plástica, rica, rija, doseando um classicismo sabiamente assumido com a modernidade merecedora de que lhe chamem assim. O poder evocativo, a recriação (por vezes impressionante) de lugares, atmosferas, figuras são, do mesmo modo, magistrais. Uma lição, as bruscas mudanças no embalo da frase.
O episódio da Girafa é uma obra-prima. Ele bastaria para “fazer” um livro e afirmar um autor.

Fernando Namora

terça-feira, 14 de agosto de 2007

"A Descoberta da Cidade" Crítica de Urbano Tavares Rodrigues


É um livro encantador, com a magia da escrita de Cristóvão de Aguiar, impregnado da leitura da Bíblia e da fala camponesa dos Açores. Textos como «A Girafa» e «A Leitura da Bíblia» nunca mais se esquecem, devido à sensibilidade e à carga afectiva que o autor nelas derrama. Mas, como se trata de excertos do romance Ciclone de Setembro e da trilogia Raiz Comovida, todos eles obviamente de Cristóvão de Aguiar, nem sempre têm o efeito de surpresa que caracteriza e valoriza os verdadeiros contos. Tal não obsta, de qualquer modo, a que cumpram a sua missão de divertir os leitores e enriquecê-los com uma representação do mundo realista e original. A infância açoriana de Cristóvão de Aguiar, hoje professor na Universidade de Coimbra, está todo lá e é-nos comunicado com ironia e doçura e também com as revoltas dos jovens de então contra os constrangimentos e a violência da ditadura e do clero conservador que o apoiava.
Urbano Tavares Rodrigues

"A TABUADA DO TEMPO" Fotografia da badana, por Luís Monte


Esta obra premiada está à venda, pasme-se, na secção de filosofia da FNAC.
Nem olham para os livros...

domingo, 12 de agosto de 2007

Cristóvão de Aguiar na ilha do Pico

zarpando do Pico para o Faial,

nadando na piscina natural de São Roque do Pico,

avistando a ilha de São Jorge do seu jardim,

em frente da sua casa de basalto.


Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006