A memória magoada da Guerra - Graciosa Online
Por Victor Rui Dores
terça-feira, 8 de maio de 2012
A memória magoada da Guerra - Graciosa Online
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sábado, 14 de maio de 2011
Catarse ou a escrita mano a mano de Cristóvão e de Francisco de Aguiar, por Victor Rui Dores
Victor Rui Dores
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domingo, 13 de junho de 2010
Um Livro por Semana LXXVIII. Relação de bordo, de Cristóvão de Aguiar. Faial Online, por Victor Rui Dores.
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quinta-feira, 18 de junho de 2009
Marilha ou as marés da inquietação. Crítica literária de Victor Rui Dores, in Faial Online. 17- 06-2009.
17 de Junho de 2009
Marilha
ou as marés da inquietação
Falar de Cristóvão de Aguiar é falar da força telúrica de uma escrita que, ainda e sempre, parte ao encontro das raízes e fica entre a ilha e a viagem. Uma escrita que, mergulhando fundo no húmus da oralidade e da linguagem popular das ilhas açorianas (essencialmente a de S. Miguel) dignifica sobremaneira a literatura portuguesa.
Falar deste autor é também falar da exigência estética, pois que estamos perante alguém que possui uma arte literária e cultiva um estilo próprio, sendo de salientar a regionalização de uma linguística (consagradíssima em Raiz Comovida, sua obra emblemática), a exploração da sonoridade, a manipulação a nível lexical, a ordenação rítmica, a ousadia sintáctica, a par de outros recursos e virtualidades: imaginação verbal, capacidade narrativa e mestria discursiva..
Cristóvão de Aguiar é, efectivamente, um persistente e incansável trabalhador da palavra pois que, com notável afinco, escreve e reescreve os seus livros, assumindo nesta matéria uma posição que julgo ser única no âmbito da actual literatura portuguesa.
Vem isto a propósito da publicação do seu romance Marilha (Dom Quixote, 2005) que resulta precisamente da reescrita de dois livros deste autor – Grito em Chamas (edições Salamandra, 1995) e Ciclone de Setembro (editorial Caminho, 1985) – que agora se constituem numa só obra dividida em duas partes, mas com um fio condutor que as interliga.
Atentemos no título: Marilha, “a sílaba primordial de mar quase aberto e as restantes palatizadas no lh de ilha” (pág. 281) é Marília: mar e ilha. O mar, aprisionamento e evasão, é símbolo eterno de um regresso às águas amnióticas do ventre materno. A ilha, sendo a beleza e o fascínio, simboliza a mulher genesíaca e fecunda, a mulher-ilha – Marília – princípio e fim de todas as coisas, portadora da vida e da morte, anunciadora dos sinais e dos mistérios.
Recorrendo à memória e à invenção, e através de um processo de cruzamento entre a experiência real e a reelaboração desse mesmo real, Cristóvão de Aguiar lança, neste livro, profundas interrogações sobre a condição humana.
Está aqui o tema maior deste autor: os sonhos perdidos da infância insular enquanto paraíso irremediavelmente perdido e enquanto aprendizagem feita, na família e fora dela, através de muitas interrogações, aquisições e angústias… Que o diga Severianinha que, por ser canhota, é castigada pela solteiríssima professora D. Jacintha da Luz, a “Caracola” que, na sua escola, não admite coisas diabólicas. “Cruzes, canhoto”…
Marilha é um tumulto de memórias e recordações. Aqui se fala de um povo obediente e temeroso em busca de uma redenção e de uma salvação nos “incertos caminhos da emigração” (pág.275). Aqui se fala de um sentido da vida, de uma ancestralidade virada para a dimensão humana: a vida e a morte, os sonhos desfeitos, as vozes resignadas, as inquietações e alegrias, o mar e a distância, a ausência e a saudade, as partidas e os regressos, o fluir do tempo, os encontros, os reencontros, os desencontros…
As personagens são muito humanas, mas não menos frenéticas e tumultuosas… São personagens do infortúnio e do sobressalto que vivem num universo abrasado e perturbador e se movimentam num contexto rústico e telúrico da ilha de S. Miguel, a freguesia da Tronqueira (porventura um outro modo de dizer Pico da Pedra, terra natal do autor), onde a tensão se sobrepõe à acção e a intensidade ao conflito.
Ressalta, desde logo, tia Severiana de Jesus, cujo grito estridente acontecido numa manhã de Agosto põe em alvoroço a vizinhança. Motivo: por engano, Severiana acabava de ver as suas economias consumidas pelo fogo. Uma consumição, tanto mais que a poupança (treze contos de reis, uma fortuna para quem era pobre) estava destinada a um negócio apalavrado de Ti Aristides, seu marido. Tudo começou quando ela esvaziou na boca do forno a gaveta atafulhada de velhos recibos e outra tralha inútil. Só que com a tralha lá se foram os treze contos de réis, “queimados para todo o sempre”…
O grito (agónico) de Tia Severiana é o drama de um povo triste em tempo de subdesenvolvimento, pobreza, intolerância e opressão.
A acção situa-se no primeiro quartel do século XX , desenrolando-se até aos nossos dias. Há ecos da Primeira Guerra Mundial. Aqui se recorda a gripe pneumónica trazida pelos tripulantes de um navio japonês e que causou 2000 vítimas na ilha de S. Miguel. Como se não bastassem as “convulsões telúricas”, os poderes instituídos exerciam então funções de vigilância repressiva: o regedor, a professora Caracola, o padre Crisóstomo. Os ricos eram ricos (o doutor Virgínio de Medeiros, Dona Taveira Moniz e o industrial Jovino de Faria) e os pobres cada vez mais pobres (José dos Reis, cantador, o Guilherme, maluco e vagabundo, Chico Moleiro… E há o Angelino Bem-Falante, o Almeida Progressista, Presidente da Casa do Povo, o Couvinha, dono do Café Pérola Tronqueira, Jacinto Correia, o arqueólogo e Dona Clarinda, sua esposa. Há festanças e há a filarmónica Música Nova e há beatas que engrolam o terço e há muita e desvairada gente que alimenta mexericos… Neste, como em todos os livros de Cristóvão de Aguiar, ouve-se um malho a bater na bigorna…
Num discurso (em monólogo interior) balançado entre o passado e o presente, o narrador capta, com notável poder de observação e extraordinária pormenorização, o “espírito do lugar” desse microcosmos da Tronqueira. Cortará o “cordão umbilical” que o liga(va) a esta freguesia e rumará para o espaço mais vasto de Coimbra, “cidade sem mar” (pág. 224). Na memória levará a recordação do Pai, da Mãe, de Vavó Luzia, do Largo do Coreto e do povo que é seu: pedreiros, sapateiros, moleiros, cantoneiros, lavradores, campónios, corcundas, aleijados e tantos outros “servos da gleba”… Na sua memória há-de ecoar as badaladas do relógio da Torre da Matriz, o convívio com Marília no Café Milhafre e a visão apetecível da baía de ver passar navios… Não se concretiza o desejo de assistirem ao nascer do sol na Serra da Lagoa do Fogo, na Ponta da Madrugada ou na Ponta do Silêncio porque, entretanto, ocorrerá um eclipse total do sol…
De resto o narrador continuará a sentir a acidez do limão galego que vai espremendo nas agruras da sua vida… Ri-se da prosápia de alguns e da bazófia de muitos… Revisitará Tronqueira e aí encontrará uma nova geração de lavradores e “exércitos de funcionários públicos”… Longe vão os tempos em que um velhote não queria aceitar a instalação de luz eléctrica na freguesia… Agora é tempo de uma nova ordem social. O regime autonómico vigora nas ilhas e fala-se dos “custos da insularidade ou da insalubridade” (pág. 247).
Estamos perante uma escrita que é também ela lugar de confronto, porque Cristóvão de Aguiar denuncia as verdades ilusórias, renuncia às máscaras de um quotidiano alienante, questiona os mitos do nosso passado e as mitologias do nosso presente incerto.
Considero que uma das facetas mais aliciantes da arte verbal deste escritor reside na perspicácia da sua ironia. Refira-se, a propósito, as referências que, a pretexto da defesa da dignidade canina, nos são dadas aos cães das Faculdades de Letras, Direito, Medicina e Ciências e Tecnologia…
De salientar o processo de intromissão de uma voz narrativa que surge (grafada em itálico) enquanto veículo de uma visão da realidade ficcionada e que poderá muito bem ser o autor enquanto responsável pelo texto narrativo. Este mesmo processo havia já sido experimentado em Trasfega, seu livro anterior.
Rico de espessura evocativa e bem carpinteirado, Marilha aí fica a merecer a nossa melhor atenção. Porque este é, decididamente, um livro que se lê com infinito prazer.
Victor Rui Dores, in Faial Online Publicação Periódica Online
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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008
Cães Letrados, ou a fusão dos afectos, recensão crítica de Victor Rui Dores.
(pág. 138)
Em permanente desassossego criativo, Cristóvão de Aguiar andou, mais uma vez, pelo sótão da memória a mexer em penumbras empoeiradas…
Isto significa que, com mais um livro publicado, este autor continua a arrumar, nas páginas que escreve, os sonhos da infância.
Falar de Cristóvão de Aguiar é falar de uma reinvenção constante e de uma contínua e continuada necessidade de expressão literária. Ao (re)escrever os seus livros, ele carrega consigo a ilha perdida e mitificada, num diálogo que, partindo dos Açores, atravessa a história de Portugal da segunda metade do século XX até aos nossos dias, e busca espaços do universal.
Este açoriano escreve com mestria narrativa e imaginação verbal, num discurso literário que mergulha fundo no húmus da oralidade. De resto toda a sua obra é uma revisitação a lugares, pessoas, memórias, coisas e animais que povoam o seu imaginário.
Em Cães Letrados (2008, Calendário, geral@calendario.pt), Cristóvão de Aguiar lança olhares sobre cães e cadelas que foram “os inseparáveis e afectuosos companheiros da minha infância e juventude” (pág. 10). Os textos que compõem a obra foram extraídos, com ligeiras alterações, de vários livros seus onde as histórias sobre os referidos canídeos se encontram.
Com expressivos desenhos da autoria de André Caetano, Cães Letrados desperta em nós uma imediata adesão afectiva. E isto porque o autor humaniza os cães, emprestando-lhes sentimentos, emoções e estados de alma, dotando-os de grande lucidez e fascínio. Nesta matéria, aprendeu, e bem, a lição de Miguel Torga na referência incontornável que é esse clássico da literatura portuguesa que dá pelo título de Bichos (1940).
Mais do que cães e cadelas, mais do que companheiros fiéis, amigos e protectores, a Girafa, o Alex, a Monalisa, o Adónis, o Isquininho, a Tina, o Ligeiro, a Regina, o Schwarz, a Ísis, o Valente, a Pantera a Petruska, o Polícia, a Andorinha, entre outros, são personagens que sentem e agem como se de humanos se tratassem. Inevitavelmente o leitor tornar-se-á cúmplice deles e das suas aventuras e desventuras. Neste último caso, o atropelamento na via pública é um perigo que, a cada momento, espreita esses animais.
Os homens (pela voz e experiência do narrador) compartilham com os cães o grande valor da amizade – e a amizade é, aqui, a lição essencial da vida –, estando uns e outros irmanados na luta pela sobrevivência e a contas com as perplexidades, as inquietações, as vicissitudes e os dramas do dia a dia. A natureza instintiva de uns é a natureza instintiva de outros. E, para todos, o mistério da vida reside como a questão maior.
(Há também a considerar o papel simbólico do cão e, a propósito, convirá lembrar que uma das primeiras citações sobre cães na literatura nos remete para a Odisseia, de Homero, quando Ulisses, após longo exílio e diversas aventuras, regressa à ilha de Ítaca disfarçado de mendigo e é reconhecido apenas por Argos, o seu cão já velho e sem forças para qualquer acção além de abanar o rabo ao reencontrar o dono. Ulisses então chora…).
Tal como no mundo dos humanos, também na canidade há hierarquias e estratificações sociais. Os cães também são vítimas de injustiças, sejam eles dobermann, setter, pastor alemão, husky, ou um simples rafeiro. Há cães de “vocação aristocrática” (pág. 93) e que têm “casa, cama, mesa e pêlo esfregado” (pág. 61) e há “a cachorrada vadia e plebeia” (pág. 85); há os que são rafeiros e os que vivem “abarrotando de pedigree” (pág. 113); há os que recebem “a costumada ração de meiguice e afagos” (pág. 136) e os que fogem à rede da brigada camarária, ou pura e simplesmente são abatidos no canil municipal… Há o cão vadio da rua e há “o cãozinho pekinois de luxo de fidedigna linhagem” (pág. 160). Uns são órfãos, outros mimados…
Mas, em Cristóvão de Aguiar, os caninos nunca deixam de ter grandeza e verticalidade, possuem até comportamentos de gente… Como esquecer, por exemplo, a descrição (ia escrever cena) comovente e comovida em que o Alex, na véspera de morrer atropelado, se deita ao lado do dono, no sofá da sala, e o beija sofregamente como que a adivinhar a sua morte prematura?... E como não recordar, para sempre, a Andorinha a parir seis cachorros, em pleno palco de Guerra Colonial?
Por conseguinte, a força de Cães Letrados está precisamente nessa afeição canídea, isto é, na humanidade e na fraternidade partilhadas.
Mas há uma excepção que o autor, não inocentemente, reserva aos “Cães universitários”, numa das mais bem conseguidas narrativas do livro. Com efeito, os cães das Faculdades de Letras, Direito, Medicina e Ciências e Tecnologia não são amoráveis nem íntegros… A carga semântica de “canzoada” diz tudo. (“Cão que ladra não morde”. Enquanto ladra…).
Esta é uma das facetas mais aliciantes da arte verbal de Cristóvão de Aguiar: a perspicácia da ironia. Neste autor a ironia não é um dom – é um dado.
Numa prosa de afectos, rica de espessura evocativa e profundamente humana, e num registo que varia entre a narrativa, o conto e a crónica memorialista, Cães Letrados é um livro simples, honesto e sentido. Escrito com os olhos da memória.
Horta, 17 de Dezembro de 2008
Victor Rui Dores
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domingo, 24 de fevereiro de 2008
sábado, 16 de fevereiro de 2008
BRAÇO TATUADO: "É UM MURRO NO ESTÔMAGO", CRÍTICA DE VICTOR RUI DORES. Açoriano Oriental.14-02-2008
Retalhos da Guerra Colonial
2008-02-14 12:13
A Guerra Colonial (1961-1974) constituiu uma das mais trágicas encruzilhadas da História portuguesa e é ferida que ainda não cicatrizou na memória dos que a viveram. Não foi só o caudal de feridos, estropiados, desaparecidos, desertores e mortos que essa guerra provocou. Foi também a memória de um tempo em que o medo, a angústia, a crueldade e a intolerância foram postos ao serviço dos mecanismos repressivos do Estado Novo.
A “Síndrome do Stress Pós-Traumático da Guerra” não é mera figura de retórica – é uma enfermidade que atinge hoje milhares de ex-combatentes (há estudos que apontam para cerca de 140.000), com reflexos directos nas suas famílias, havendo mesmo psiquiatras que afirmam tratar-se de um problema de saúde pública.
Os que ontem eram jovens na flor da idade, vivem hoje o trauma e o recalcamento dessa guerra escusada e inglória. Na guerra aprenderam a amar melhor a paz. Vendo a morte a rondar por perto, aprenderam o valor excepcional de viver. E, porque calaram durante longos anos a indignação, têm vindo a dar testemunho dos horrores vividos e sentidos. Nesta matéria, e no âmbito da produção literária, há autores incontornáveis que, através da escrita, fizeram (e continuam a fazer) catarse e exorcismo da memória: Álamo Oliveira, António Lobo Antunes, Cristóvão de Aguiar, Fernando Dacosta, Fernando Assis Pacheco, João de Melo, José Martins Garcia, Manuel Alegre, Mário de Carvalho, entre outros.
Por outro lado, o cinema português tem vindo também a dar importantes contributos na revisitação desse conflito armado, havendo a destacar filmes como O Mal Amado (1974), de Fernando Matos Silva; Um Adeus Português (1985), de João Botelho; Inferno (1999), de Joaquim Leitão; Preto e Branco (2002), de José Carlos de Oliveira; Os Imortais (2003), de António Pedro de Vasconcelos, entre outros.
Mais recentemente, dois excelentes comentários televisivos vieram avivar a memória dessa guerra e lançar novas formas de compreensão da mesma: As Duas faces da Guerra, de Diana Adringa, e A Guerra, de Joaquim Furtado.
É neste contexto que surge o livro Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial (Dom Quixote, 2008), de Cristóvão de Aguiar, agora reeditado em nova versão. Este romance começou por constituir uma das partes de Ciclone de Setembro (1985), tendo sido mais tarde autonomizado com o título O Braço Tatuado (1990). E esta é uma atitude de coerência de Cristóvão de Aguiar, na medida em que estamos perante um escritor que, contínua e continuadamente, reescreve os seus livros.
O autor, cumprindo serviço militar obrigatório, viveu uma experiência traumática de dois anos no pior palco da guerra colonial: Guiné. E, por isso mesmo, faz uma “digressão retrospectiva” (pág. 28) a vivências, perplexidades e amarguras dos dias incertos dessa guerra – feita de ataques, flagelos, emboscadas, contra-emboscadas e outras atrocidades…
Os soldados da companhia 666 vivem o jogo da vida e da morte num quotidiano povoado de angústias e medos. As ciladas e as armadilhas espreitam a cada momento. E, nas páginas deste livro, ecoam rajadas de G-3, explosões de granadas, minas, morteiros, rockets, canhões, armas ligeiras e semi-automáticas. Há ordens insensatas, missões absurdas e relatórios hipócritas. Há picadas de incerteza, montes baga-baga e “rios secos de angústia” (pág. 134). E há a ração de combate, a leitura expectante de cartas e aerogramas. E há a loucura do capim, o desespero do cacimbo, a miséria dos autóctones, os efeitos do paludismo, as densas matas, as extensas bolanhas, a violação de mulheres indefesas, as sevícias sobre os prisioneiros… É, enfim, o horror de matar e ver morrer e uma contundente chamada de atenção para o desrespeito pela vida humana.
Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial denuncia a hierarquia “castrense e castradora” e o regime político que sustenta uma guerra sem fim à vista. O livro desenrola as teias do delírio e da loucura. Neste aspecto, é bastante significativo e sintomático o suicídio de Niza – tatuado com os dizeres AMOR DE LENA, a sua amada que o trocaria por outro…
Anti-heróis inadaptados numa guerra onde o que conta é manter-se vivo, as personagens (humaníssimas) deste livro entregam-se com sinceridade a contar o tempo que lhes falta para o definitivo adeus às armas, aguardando, com impaciência, que o navio Uíge (“em sua colonial majestade” – pág. 131) os transporte de regresso a Portugal. Como aspecto positivo da guerra, ficarão apenas as amizades que se construíram, as cumplicidades que se aprofundaram, as experiências de grupo que se viveram.
De salientar que Cristóvão de Aguiar percepciona a guerra não só sob o ponto de vista de ex-combatente, mas também na perspectiva do próprio povo africano, afinal tão vítima como nós dessa guerra escusada e inglória. Os portugueses lutavam pela sua sobrevivência, tal como os guerrilheiros do PAIGC lutavam pela sua libertação. Há aqui um olhar humano e uma consciência crítica sobre o logro da guerra colonial.
Escrito com desenvoltura narrativa, Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial é um murro no estômago. Urge lê-lo, sabido que é curta a memória dos homens.
Victor Rui Dores
BAFATÁ; NOVA LAMEGO; DUNANE; PICHE; KANQUELIFÁ; BURUTUMA; FAJONQUITO; RIO GEBA; JABICUNDA; CONTUBOEL; MAFRA; COIMBRA; ILHA; SONACO; SENEGAL; GUINÉ-CONACRI; CARESSE; MECA; NHACRA; AMURA; BURUTUMA; ALGARVE; PIRADA; MANSOA; ANGOLA; BAMBADINCA; CAMBAJU; MADINA DE BUÉ; PIGIGUITI; ARGEL; LISBOA; BISSAU; SARE BACAR; UÍGE.
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segunda-feira, 29 de outubro de 2007
A Valsa do Silêncio, de Victor Rui Dores, 2005, 341 Páginas.

Nascido da pena de Victor Rui Dores, A Valsa do Silêncio é uma fábula sobre uma personagem masculina de origem açoriana, Augusto, professor de piano, cuja profissão exerce numa grande cidade. Esta personagem solitária encontra-se com outra personagem também solitária chamada Raquel, prostituta no início da acção. Dos encontros sexuais que mantêm, vai nascendo uma relação cada vez mais profunda, embora com altos e baixos. A acção vai-se tornando cada vez mais complexa, à medida que se descobre que Augusto é casado, que a mulher o deixa, que ele conhece muitas outras mulheres sem nunca as amar, embora uma delas venha a ter uma filha dele, descobrindo por fim que ama Raquel. Raquel por sua vez segue um caminho de sucesso, pois sai da prostituição, passa a porteira de condomínio fechado, terminando por estudar Direito e ser uma distinta advogada. De professor de piano, Augusto chega a um considerado intérprete de música clássica, percorrendo várias cidades da Europa e Japão, fazendo concertos. Em relação ao amor, será que é tão bem sucedido? E quando terminará um romance há muito iniciado? Esse seu primeiro romance “haveria de ser a sua forma de reinventar a vida. Escrevê-lo-ia?” (p. 208). A aprendizagem do amor é bem mais difícil de conseguir. Sempre com a música como principal objectivo, a arte, portanto, em que o esforço merece compensação, é na solidão dos dois momentos mais cruciais do romance que Augusto aprende mais sobre ele próprio: quando se isola para preparar uma gravação em CD “como um monge medieval” (p. 164), e quando, só no Japão, permanece algum tempo, aprendendo com os sábios do Oriente todo um conhecimento milenar que escapou aos ocidentais e que para Augusto, que buscava “a perfeição das coisas artísticas” (p. 133), vai servir para reconhecer o amor que tem por Raquel, a mulher que evolui sempre, lendo muito de literatura universal e confessando ao seu diário, “a escrita é o meu lado silencioso” (p. 301), ou, “eu sou cada vez mais eu” (p. 235). Raquel vem a descobrir que também ama Augusto, apesar da sua escolha ter recaído num colega com quem vive mas que morre inesperadamente.
Augusto mantém-se uma personagem sonhadora, “um criativo impetuoso e impaciente – em eterna busca da perfeição literária e da fecundidade musical” quando terminou o romance a que chamou A Valsa do Silêncio (p. 282) que gostaria que fosse entendido por todos e “tivesse a qualidade dos clássicos, sem deixar de ser moderno”. Augusto é um homem saudoso da sua ilha, nitidamente identificada embora não nominada com a ilha Graciosa, um homem que lembra a infância duma forma muito profunda e bela, e as pessoas dessa ilha, incluindo os familiares como a tia Cleófita moradora numa casa solarenga em decadência vivendo com uma criada, Maria de Jesus, e cinco gatos siameses, e onde se bebe um licor de canela único; ou o tio Juventino, traumatizado pela guerra colonial; ou ainda o tio John, o tio da América, embarcado no Lima (p. 331). À sua ilha vai com frequência onde encontra gente bondosa e fraterna.
Raquel por outro lado parece aprender mais com os livros que lê e com as reflexões que faz no diário. Interroga-se sobre variadas questões a respeito da mulher como a mutilação genital em África, e sobre a aldeia global que hoje impera no mundo. O silêncio tem grande importância neste romance: era o que Augusto mais apreciava na música e o que era mais apreciado pelos músicos após um dia de trabalho; Raquel aprendera a amar o silêncio de que necessita até para trabalhar, e as pessoas da sua ilha tinham “a sabedoria do silêncio” (p. 336). Este romance é uma busca do AMOR: na relação homem/mulher ambos de corpo e alma inteiros e na fusão dos seres com o Universo. Essa busca é muito insistente da parte da personagem Augusto que, através da música e da literatura, ambiciona fama como superação da morte. Se a sua obra artística for suficientemente valiosa, Augusto tornar-se-á imortal.
(Maria Eduarda Rosa)
Boletim Cultural da Horta.
28 de Abril de 2005
Victor Rui Dores é Escritor, Professor, e Crítico Literário.
Como não sou crítico literário, apenas posso dizer que gostei muito.
O Podium Scriptae recomenda: "A Valsa do Silêncio", de Victor Rui Dores.
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sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Victor Rui Dores, sobre Trasfega, de Cristóvão de Aguiar

Cristóvão de Aguiar
Trasfega, Publicações Dom Quixote, 2003
Com olhar atento e mão certeira, continua Cristóvão de Aguiar a carregar a ilha perdida e mitificada e a escrever a sua (e nossa) memória insular. E fá-lo com mestria narrativa, imaginação verbal e ousadia sintáctica, num discurso literário que mergulha fundo na raiz (comovida) e no húmus da oralidade açoriana. É disso exemplo este livro, que recebeu o Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra.
A obra, que inclui treze contos, inscreve-se e escreve-se no âmbito da literatura de significação açoriana. Ainda e sempre, há um imaginário ilhéu, há uma memória telúrica e há uma capacidade evocativa que escreve Cristóvão de Aguiar. Essa memória é o atlas do escritor que, nos seus livros, continua a dar conta da sua identificação com a ilha e consigo próprio. Porque a ilha deixa uma memória indelével e retroactiva: nela está o paraíso irremediavelmente perdido da infância e da adolescência. Daí a revisitação que o narrador empreende a toda a geografia sentimental, afectiva e humana à terra que lhe deu berço: a ilha de S. Miguel. Falar deste autor é falar da regionalização de uma escrita vernácula e de uma efabulação literária autêntica. Cristóvão de Aguiar escreve o homem açoriano, descreve a paisagem açoriana, exorciza a memória e capta o «espírito do lugar» porque aprendeu – e bem – a lição de Miguel Torga: «o universal é o local sem paredes». Ou seja, quanto mais regional, mais universal.
Trasfega continua a saga da trilogia romanesca Raiz Comovida (o livro mais emblemático de Cristóvão de Aguiar, agora em nova versão revista e remodelada, numa belíssima edição da Dom Quixote, saída em 2003) e vem acrescentar, à galeria imensa de personagens populares deste autor, um José Maiato (que recebeu uma Língua de Fogo que o pôs a falar inglês, sem ele saber como), um Mestre Libório (dado a estranhíssimas flatulências...), uma Tia Escolástica das Dores (soberba beata), um Ti Burrica (velhote castiço de grande recorte humano), entre outras.
Mas este livro não dá só conta de gente rural, de inocências rústicas e de acontecimentos pícaros. Há aqui dois registos, dois investimentos semânticos: o popular e o literário. Vejamos estes exemplos: «[...]a Ti Mariana das Quintas, mulher de gadanho rijo e de pêlo na venta [...]» (p. 50);
«Caminhava ligeiro galopando em seu dorso nu. Das calhas do silêncio, alucinado de sirenes, escorria um bafor de incêndio [...]» (p. 96)
O narrador age e reage: comenta, analisa, denuncia, renuncia, questiona o real, empreende viagens interiores. Narrativas há em que ele se confronta com as suas próprias memórias e vivências, havendo a salientar o conto «Trasfega» em que uma voz narrativa se intromete para fazer uma espécie de inquérito ao subconsciente. Esta mesma situação verifica-se no conto «Domingo», o que empresta a esta obra marcas de diferença e de originalidade.
A religiosidade açoriana é, por outro lado, muitíssimo bem agarrada (e ironizada) nos contos «Judas Iscariotes» e «O Sonho». Neste último, há um soberbo retrato de padrice e beatice e há a história de um seminarista (nunca a iniciação sexual foi tão longe na literatura açoriana) de ressonâncias queirozianas, que bem mereciam um filme. Custódio (na pele de um outro padre Amaro) e Tia Escolástica (no papel de uma outra Santa Joaneira) passarão, a partir de agora, a emparceirar com as grandes personagens da melhor literatura portuguesa de sempre. E a merecer, por isso mesmo, a melhor atenção do realizador José Medeiros, que, à referida trilogia romanesca, foi colher abundante campo de referências para as celebradas séries televisivas «Xailes Negros» e «O Barco e o Sonho [...]».
Há um outro tema que é recorrente na larga folha de serviços literários de Cristóvão de Aguiar: a Guerra Colonial, ferida que ainda não cicatrizou na sua memória, pois que, durante dois anos, conheceu uma experiência traumatizante na Guiné. Há ecos e memórias que ressoam no belíssimo conto «A Noite e a Sombra», que, de forma onírica e fantástica, dá conta do absurdo desse estúpido e inútil conflito armado. Recorde-se que este romancista é autor de uma das melhores ficções sobre a referida guerra: O Braço Tatuado (Signo, 1990).
Trasfega remete-nos para um tempo fascizante e salazarento em que os poderes absolutos (o governativo, o clerical e o militar) corrompiam absolutamente. O cerco apertava-se e, mesmo no microcosmo pacato da ilha, as personagens defrontam-se e confrontam-se com os poderes instituídos e com os mecanismos aleatórios e repressivos do Estado Novo. O regedor, o padre e o professor primário simbolizavam (e exerciam) o poder e policiavam os bons costumes...
Apreciei ainda, neste livro, o enfocamento visual na maneira de contar. Atente-se neste exemplo:
«Sentada no vão da janela, Maria do Carmo fixa os olhos num ponto imaginário, deixa os lábios esboçarem um sorriso de incerteza e pergunta para dentro de si mesma se Custódio era de facto sincero. Duas lágrimas quentes e teimosas deslizam como dois ribeirinhos pelas faces abaixo e vão alojar-se-lhe na boca encarnada. São salgadas. Como o sal que o padre António lhe colocara na boca no dia do seu baptizado, havia mais de vinte e cinco anos...».
Estão aqui as técnicas cinematográficas do raccord e do flash back: as lágrimas salgadas de Maria do Carmo (presente, a cores) e o sal que lhe foi colocado na boca no dia do seu baptizado (passado, em sépia). É de uma grande eficácia o traçado substantivo da escrita e é deveras excelente a visualidade dos diálogos (cf. «O Sonho»).
Trasfega será porventura a obra mais cinematográfica de Cristóvão de Aguiar, mesmo sendo um livro de passagem. Se bem que, para mim, Um Grito em Chamas (Salamandra, 1995) continue a ser o seu melhor livro, aceite o sábio princípio que diz que o melhor livro de um escritor é sempre aquele que ainda não foi escrito...
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Secção: críticas literárias, Trasfega, Victor Rui Dores
sexta-feira, 3 de agosto de 2007
A Tabuada do Tempo, crítica de Victor Rui Dores
“Três são os meus lugares de escrita: Coimbra, a Ilha, a América.”pág. 286
Iniciei a leitura deste último livro de Cristóvão de Aguiar temendo estar perante mais do mesmo em relação à sua produção no campo da diarística: Relação de Bordo (1964-1988), Campo das Letras, 1999; Relação de Bordo II (1989-1992), Campo das Letras, 2000; e Nova Relação de Bordo, Publicações Dom Quixote, 2004. Agora que fecho o livro, tenho esta certeza: depois de ter escrito muito bem, Cristóvão de Aguiar voltou a escrever melhor.
A Tabuada do Tempo, com o subtítulo de “a lenta narrativa dos dias” (Almedina, Coimbra, 2007) e que foi merecedor, no ano transacto, do Prémio Literário Miguel Torga, passará a constituir referência importante na já vasta produção literária deste autor que continua a “escreviver”.
Cristóvão de Aguiar, 42 anos de vida literária, é escritor de compulsivas memórias. É conhecido o seu intenso e obstinado trabalho oficinal: memórias e experiências acumuladas e vertidas, com paixão e arte, na escrita. Trabalhador operoso e incansável das letras portuguesas, ele é autor do apuro formal, da exigência estética, da preocupação estilística e da descoberta lexical e sintáctica.
Com uma capa de concepção gráfica particularmente feliz, A Tabuada do Tempo, diário factual, passa em revista o ano de 1996 (numa viagem que começa em Janeiro e termina em Dezembro) e constitui mais um acto de auto-revelação de um escritor autêntico que se quer renovar e que procura dizer as coisas de uma maneira sua.
Cristóvão de Aguiar não se confessa – revela-se e, por essa via, revela-se-nos através das suas interrogações e incertezas, perplexidades e deslumbramentos, angústias e estados de alma. E, lançando olhares a alguns dos principais factos e acontecimentos ocorridos no referido ano, o narrador – fino observador da vida que se lhe oferece em palco – questiona e reflecte esse tempo, lança doses de humor e (amarga) ironia ao quotidiano, viaja em peregrinação interior, sendo simultaneamente protagonista, participante, observador e mediador. E nunca descura a sua relação com a escrita:
“Acordei de imaginação entupida”. (pág. 19)
Por exemplo: Cristóvão de Aguiar dá-nos pistas muito interessantes sobre a escrita da Relação de Bordo e a (re)escrita de Raiz Comovida, sua opus magnum. E lamenta a incerteza da publicação, denuncia os silêncios dos editores, ou os atrasos de resposta das editoras…. E fala-nos abertamente dos autores e das escritas que mais o influenciaram.
Escrevendo para iludir o tempo, e procurando na escrita “uma perfeição que nunca se deixa apanhar”, Cristóvão de Aguiar mantém-se fiel e coerente no mais profundo de si próprio. Voz inquieta e inquietante, continua ele a fazer da escrita uma catarse e um ajuste de contas com o passado e as novas mitologias do presente. E a partilhar connosco as preocupações mais íntimas do ser humano, de tudo fazendo assunto literário: a sua relação com os familiares (emotivas e emocionantes são as memórias do Pai e da Mãe) e amigos (Carlos André, Viriato Madeira, Mário Mesquita, José Augusto, Oliva, Victor Torres, etc.); a evocação da Ilha (a mítica e a real) e de Ela (a amada, referente constante na sua diarística); o seu modo de (d)escrever as suas viagens de comboio, as actividades lectivas, as memórias magoadas da guerra, as maleitas que o apoquentam, a viagem à América, ou a sua relação com os cães Isquininho, Alex, Regina, Adónis, Monalisa, Tina, Eurice, Pitão…
Efectivamente nunca o autor perde de vista a qualidade do seu discurso literário, quer fale de Virginia Woolf, Ernest Hemingway, May Sarton, ou de futebol…
Cristóvão de Aguiar escreve com amor e humor. E são muitos os olhares que lança à literatura, aos seus escritores e cultores: Almeida Garrett, Camilo Castelo-Branco, Júlio Dinis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, José Régio, Vitorino Nemésio, Vergílio Ferreira, Miguel Torga, Paulo Quintela, José Rodrigues Miguéis, José Cardoso Pires, António Vilhena, Augusto Abelaira, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva, Almeida Pavão, Manuel Alegre, Eduardo Lourenço, Óscar Lopes, João de Melo, António Lobo Antunes, Vasco Pereira da Costa, Carlos Reis, entre outros.
E está aqui a grande linha de força de A Tabuada do Tempo: a dimensão literária e humana. Basta ler o espantoso testemunho que nos é dado de Isabel, seropositiva, para percebermos isso mesmo.
Há “flashbacks” de episódios (digo, cenas) inesquecíveis e que nos remetem para a infância e adolescência do autor: a representação da comédia Inês de Castro (sendo que o narrador, enquanto menino, se apaixona pela actriz que desempenha o papel de Inês); as memórias do Liceu e as peripécias de dona Cesaltina; a educação sexual do narrador com uma “catequista e mestra da luxúria”; as incontornáveis e fascinantes personagens de dona Prudência e do Ti Zé Peidão… Mas atenção: não há aqui a gratuita aposta na descrição da peripécia – o que há é o aprofundamento do psicológico e do humano, que são no fundo os grandes valores da literatura.
Este é, por conseguinte, um livro sobre a usura e o devir do tempo. Um livro sedutor, evocativo, íntimo, intimista e musical (atravessado por música clássica) que constrói vidas inteiras.
Leiam, por favor, Cristóvão de Aguiar, porque ele ajuda a engrandecer a língua portuguesa.
Horta, 15 de Julho de 2007
Victor Rui Dores
Escritor/Professor
P.S. – Agora que temos um novo director a liderar os destinos da RTP/AÇORES, não seria de apostar numa nova série televisiva que incluísse a adaptação de obra(s) de Cristóvão de Aguiar? Recordo que o realizador José Medeiros colheu, na Raiz Comovida, abundante campo de referências para as celebradas séries televisivas “Xailes Negros” e “O Barco e o Sonho”, com os resultados de excelência que se conhecem.
Aqui fica (mais uma vez) o repto.
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Secção: A Tabuada do Tempo, críticas literárias, Victor Rui Dores
TANTO MAR
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006














