Mostrar mensagens com a etiqueta Cultura. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Cultura. Mostrar todas as mensagens

domingo, 14 de abril de 2013

Coimbra, 14 de Abril de 1976 
Estreia da peça A Arraia Miúda, no Teatro de Gil Vicente. Casa cheia. E muitos convidados de honra, entre os quais o próprio autor da peça, Jaime Gralheiro. Paulo Quintela lá estava, na primeira fila do balcão, seu lugar predilecto, porque dali vê o palco de cima, o que lhe dá outra perspectiva crítica da encenação, com os aleijões sobres-saindo-se mais. Muitas vezes lhe ouvi que, antes de entrar em cena, obrigava os seus pupilos do TEUC a tomar um bom cálice de vinho do Porto, que tem o condão de excitar e acalmar ao mesmo tempo, isto é, desinibe os tímidos e aquieta os exaltados. Segui-lhe o exemplo e não estou nada arrependido. Levei comigo um frasco cheio do bom e genuíno vinho fino, metade do qual bebi antes de entrar no palco e a outra metade no intervalo da mudança de acto. Quando entrei, logo após as três pancadas de Molière, parecia que caminhava num sobrado de algodão em rama, leve como uma penugem, e as palavras depois iam-me fluindo tão naturalmente, que até ia ficando nervoso de não ter ficado nervoso. A folhas tantas, estilhaçando o silêncio que caíra sobre o teatro, uma voz de criança: "Mamã, mamã, aquele ali é o papá." Era a voz do meu filho Artur, que se não conteve quando me reconheceu no meu traje impecável de Bispo de Lisboa, com mitra, bastão e saial branco com alamares e outros adornos dourados. Fomos muito aplaudidos. Depois do espectáculo, Joaquim Namorado vira-se para minha Mulher e pergunta-lhe: "Não te sentes em pecado mortal por dormires com um bispo?." Estou contente comigo. Meu Pai afinal não tinha razão, mas o pior é que o medo ficou fazendo parte de mim, nunca mais poderei expulsá-lo para sempre de minha casa.

quarta-feira, 26 de setembro de 2012

SPORTING: OS CINCO VIOLINOS, IN CICLONE DE SETEMBRO de CRISTÓVÃO DE AGUIAR, página 102. 1985. Editorial Caminho.

[…] “És do Sporting ou do Benfica?
                Fiquei meio embatucado, mas, ao verificar que ele esperava com sofreguidão a minha resposta, tornei-me adepto dos leões mais para lhe agradar que por convicção. Mais radiante não poderia ter ficado. A minha adesão, que com o tempo se tornou em lagartite aguda, vinha acrescentar  a família leonina da pensão, já de si a mais numerosa e aguerrida, mas sem fanatismos…
                Assim investido do meu novo estatuto de sportinguista, escutei a segunda parte do relato do Freitas com outro propósito e outra fé. Nunca os cinco violinos tocaram tão maravilhosamente a partitura da sinfonia que se desenvolvia na dianteira como naquela tarde de domingo, decerto em homenagem ao novel apoiante… Até o Azevedo, o melhor Keeper português de todos os tempos, no dizer acalorado do Estanislau, defendeu um penalty, indecentemente marcado pelo liner  e confirmado pelo árbitro do desafio. Garantiu depois o Estanislau que o Rogério havia chutado a bola para o lado contrário do guarda-redes. Ao aperceber-se do facto, em pleno voo, o Azevedo virou-se no ar e ainda conseguiu agarrar o esférico quase a entrar, a meia altura, rente ao poste esquerdo da baliza.
O último golo do Sporting – um golão, como exemplificou o Estanislau, no quarto, por entre as camas—surgiu pouco antes do apito final: A bola vem por alto, é cabeceada em direcção a Albano, finta dois adversários, dá um toque para Vasques, Vasques avança, tenta desmarcar-se, passa a Jesus Correia, lateraliza para Travassos, tenta rematar, a bola embate num back benfiquista, ressalta, vem parar a Peyroteo, há perigo, Peyroteo avança, entra na grande área, vai rematar, remata fortíssimo e… go… gooooolo do Spor…ting, golo sem defesa de Peyroteo; Sporting três, Benfica um; bola no centro do terreno, Espírito Santo reinicia a partida, atrasa para Francisco Ferreira… e neste momento dá o árbitro por findo o desafio entre os dois maiores do futebol português…” […]

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Cristóvão e Francisco de Aguiar em Francês "Catarse"

 L’incipit de Catarse

L’ordinateur est déjà installé dans mon nouvel appartement. L’adresse électronique ne change pas. Le technicien à peine parti, j’ai entrepris tout de suite de voir mon courrier. Il y en avait. Comme l’on pouvait prévoir, le  premier message que j’ouvris était de toi… J’aime habiter dans mon nouvel appartement. À vrai dire j’ai tout en ordre, il me faut juste installer la chaîne stéréo. Je me sens fatigué, mais de bonne humeur. Je vais maintenant à la fête des finalistes de mon Lycée.

La lettre que je viens de lire m’a été agréable, car tu t’adaptes bien à ton nouveau petit coin, the corner of your own1. En même temps, cette lettre m’a donné l’occasion de me rappeler une foule de souvenirs, à moitié oubliés, mais latents, liés aux maisons et aux déménagements respectifs et à leurs complications […]. Ton changement de maison et de ville a dû être la meilleure et la plus sage décision que tu aies prise ces dernières années. Il devenait insupportable et déprimant d’habiter, durant quatre décennies environ, dans la même petite ville où tu as tant souffert, physiquement et psychologiquement ! […] La maison est notre miroir, ou, comme le dit un proverbe anglais : An Englishman’s home is his castle2 … Et ta nouvelle maison, située loin des souvenirs massacrants, non souillée par des amertumes ou des esprits, deviendra ton refuge… N’accroche pas aux murs les portraits des fantômes qui te tourmentent. Range tes affaires lentement, cette tâche est un calmant, mets tes livres à portée de la main et de l’esprit. Ils te tiendront une agréable compagnie, silencieusement (mieux encore), qui sait s’ils ne t’offriront pas une intimité affectueuse, précisément parce qu’ils sont naturellement aveugles, sourds et muets. Dans un resserrement plus aigu de solitude, tu sais qu’ils sont là à ta disposition et tu pourras, à tout moment, leur poser les questions les plus absurdes, ils ne se fâcheront pas ni ne bouderont si tes visites sont espacées.  Ils n’arrosent pas la fleur de la jalousie et écoutent encore moins les mauvaises langues. Grâce à leur nature et à leur rôle, ils sont tolérants et ne se plaignent jamais. Si quelque souvenir des plus vifs vient subitement frapper à ta porte, mets-le dehors et sors : marche, va à la piscine, évoque un souvenir agréable et demande-lui d’expulser le mauvais… Je suis sûr que ce changement de maison et de ville sera le commencement d’une nouvelle phase dans ta vie. Savoure-la en toute plénitude. Lorsque tu ouvriras la porte, n’oublie pas de nettoyer tes pieds, pour qu’aucune poussière obstinée de ta mémoire perturbée ne puisse y entrer. Difficile? Sans aucun doute! Mais l’impossible n’est pas, ni n’a jamais été, domicilié dans le royaume de la volonté. Tu dois te souvenir que tu m’as téléphoné la veille de ton déménagement. Tu t’en souviens sans doute.  Touchée par l’ombre ta voix ne m’a pas trompée. Cela m’a perturbé : j’ai pressenti une rechute de dernière heure… Je me suis contenu juste à temps, je ne pouvais pas te le révéler dans l’intonation de ma voix, qu’une inquiétude soudaine m’avait envahie […]. Chaque fois qu’ils déménageaient, certains membres de notre famille la plus proche étaient enclins à souffrir de graves troubles psychologiques. Tu te souviens de Maria Manuela, surnommée Mané, la fille de tante Maria da Ascensão ? Avant de partir en Amérique, elle a déménagé sept fois! Pour paraphraser le poète Manuel Alegre, on dirait qu’elle était à la recherche de la maison qui n’existe pas

J’ai eu de la chance de ne pas être entré dans un tel tourment héréditaire : seul le fantôme de la villa de l’Alto da Granja m’a poursuivi pendant quelque temps, surtout dans mes rêves et dans mes cauchemars. Au final, avec une demi-douzaine de sorties en haut, tôt le matin, pour faire du jogging, j’ai affronté le spectre qui me rongeait les viscères les plus nobles et, peu à peu, le spectre de la mémoire affective s’est éteint. Je fus exorcisé de l’apparition impertinente.

Avant cela, et alors que j’étais encore étudiant, j’ai changé de chambre et de rue au moins trois fois et cela ne m’a pas surpris. Ma maison sur l’île, qui donnait sur la mer et qui se trouvait en face d’une autre sœur jumelle, me servit d’ « ersatz », ou si tu préfères, de placébo. »

 (Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar, Catharsis. Dialogue épistolaire en forme de roman, Lápis de Memórias, avril 2011, pp.11-12-13-14).

Fonte:



Em colaboração com os Colóquios da Lusofonia EM 2012 os estudantes de Mestrado, coordenados pela incansável Rosário Girão (Universidade do Minho, Departamento de Estudos Românicos no seu Mestrado de Tradução e Comunicação Multilingue) estão a trabalhar traduções em Francês de vários excertos de autores açorianos contemporâneos (ou o princípio ou o fim de cada obra selecionada) pelo que aqui publicaremos essas traduções depois de enviadas para os autores apreciarem. Chrys Chrystello AICL
Étudiante : Virginia Henry Martins
28.3.12

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Insígnias Autonómicas de Reconhecimento para Cristóvão de Aguiar, dia 28 de Maio de 2012

A cerimónia oficial do Dia dos Açores, que decorre na próxima segunda-feira, dia 28 , Segunda-Feira do Espírito Santo, terá lugar, este ano, na Vila da Povoação, ilha de S. Miguel.

Nestas cerimónias, organizadas conjuntamente pela Assembleia Legislativa da Região Autónoma dos Açores e pelo Governo Regional, com o apoio da Câmara Municipal da Povoação, serão agraciadas com insígnias regionais de mérito diversas personalidades e instituições da Região, em cerimónia que contará com as intervenções dos presidentes do parlamento açoriano e do Governo Regional.

O Dia dos Açores, que se destina a comemorar a açorianidade e a Autonomia, foi instituído pelo parlamento açoriano em 1980 (Decreto Regional nº 13/80/A, de 21 de Agosto).

Serão homenageadas várias personalidades a título póstumo, e também figuras como Renato Moura, das Flores, o realizador da RTP Açores, Zeca Medeiros, ou o escritor Cristóvão de Aguiar, Ricardo Serrão Santos, que dirigiu o Departamento de Oceanografia e Pescas, na Horta, por mais de 14 anos, Luíz António de Assis Brasil (Porto Alegre), empresários como José da Costa Franco (estabelecimento comercial Riviera, em Ponta Delgada) e instituições como a Kairós ou a Federação de Bombeiros dos Açores.

(Fonte: Assembleia Legislativa Regional dos Açores)


Insígnia Autonómica de Reconhecimento
Destina-se a distinguir os actos ou conduta de excepcional relevância de cidadãos portugueses ou estrangeiros que:
É constituída por três peças (pescoço, peito e roseta).

quarta-feira, 23 de maio de 2012

INCRÍVEL AINDA IMPUNEMENTE ABERTO AO PÚBLICO: DESPACHO de 22-07-2011 / URBANISMO DA CÂMARA MUNICIPAL DE COIMBRA

1- Análise
1.1. Relativamente ao solicitado em 8-07-2011, pela chefe da DLDF, Engª Lilibeh Salinas, foi efectuada deslocação ao local a 18-07-2011, informando-se:
1.1.1. Até esta data, não foi dado cumprimento ao teor do despacho datado de 26-07-2010, conforme se pode verificar nas fotos abaixo.


2. PROPOSTA
2.1 Por não se verificar cumprida a ordem de demolição determinada por despacho de 26-07-2010 propoe-se que se determine:
2.1.1.A DEMOLIÇÃO COERCIVA DA OBRA por conta dos munícipes, nos termos do estipulado no n.º4 do artigo 106.º do DL n.º 555/99 com a redacção dada pelo DL n.º26/2010 de 03/03 e alteração dada pela Lei n.º 28/2010 de 02/09 (RJUE)
2.1.2. A POSSE ADMINISTRATIVA DO IMÓVEL, como determina o n.º1 do artigo 107.º do RJUE.
2.1.3 Remeter cópias do processo ao GJC para iniciar procedimento de CRIME DE DESOBEDIENCIA, nos termos do art.º 348.º do Código Penal, de acordo com o n.º1 do art.º 100.º do RJUE.
 2.2 Mais se propõe:
2.2.1 A notificação prevista no n.º 2 do artigo 107:º, aos Sr.ºs Asdrúbal Antunes Mendes dos Santos e Joaquim Manuel Dias Costa, (notificação ao dono da obra e demais titulares de direitos reais do acto administrativo que tiver determinado a posse administrativa.

2.2.2 Esclarecer os proprietários que ser-lhe-ão cobradas as quantias relativas às despesas realizadas, incluindo quaisquer indemnizações ou sanções pecuniárias que a CM tenha de suportar para execução da demolição. e que se não forem pagas voluntariamente, no prazo de 20 dias a contar da notificação para o efeito, são cobradas judicialmente em processo de execução fiscal, servindode título executivo certidão, passada pelos serviços competentes, comprovativa das despesas efectuadas, de acordo com o estipulado no art.º 108.º do RJUE.

quarta-feira, 16 de maio de 2012

Sabugal: Eugénio Macedo marca presença na Escola Secundária

Na próxima sexta-feira, 18 de Maio, o mestre escultor, pintor e paisagista Eugénio Macedo, com inúmeras obras dispersas por todo o concelho sabugalense, vai estar presente num colóquio na Escola Secundária do Sabugal.

O mestre Eugénio Macedo é autor de imensas obras no concelho do Sabugal, entre elas a Estátua do “Bombeiro”, no Sabugal; Escultura de Nossa Senhora da Graça; D. Sancho, em Alfaiates; Monumento ao Agricultor, em Vila Boa; Estátua de São Bartolomeu, nas Quintas de São Bartolomeu; Painel que representa a freguesia, em Vale das Éguas, Painel granítico em relevo com motivo religioso, em Malcata, entre muitas outras.
Destaque-se que a primeira “obra” em granito que Eugénio Macedo fez, no Concelho, foi o “Touro” que se encontra junto à Praça de Touros Municipal do Soito.
Este colóquio dirige-se aos alunos, mas está igualmente aberto a todos aqueles que queiram participar. Terá início às 9h30, na Sala 9 da Escola Secundária do Sabugal, onde será feita uma pequena apresentação, explicação das suas obras, debate e oficina, com encerramento previsto para as 12h30.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Fernando Monteiro Fernandes,Inauguração das exposições “O Povo que Somos” e “Um Ferreiro, na Terra do Ferro”. Com o Apoio do Município da Guarda

No próximo dia 13 de Junho, Segunda-feira, pelas 18h00, serão inauguradas, na Galeria do Paço da Cultura da Guarda, as exposiçõese “Um Ferreiro, na Terra do Ferro” – Exposição de Escultura de Fernando Monteiro Fernandes e “O Povo que Somos” – Exposição de Pintura de Sandra Santos.

Fernando Monteiro Fernandes trabalha o ferro com mestria na sua oficina na Vila do Soito, onde nasceu, e apresenta-nos um conjunto de obras escultóricas dotadas de imensa originalidade e denotando uma incrível inspiração, talento e trabalho valoroso. O ofício de ferreiro, herdou-o dos bisavós, avós, e pais, que produziam utensílios agrícolas, na altura em que havia vários ferreiros no Soito.
Actualmente é o único. Começou por fazer candeeiros e outros objectos utilitários, mas depressa surgiu a “sua arte”; peças únicas que surgem da observação do quotidiano e da sua imaginação. Usa desperdícios de ferro e ferramentas já gastas. Inspira-se nos Descobrimentos, Religião, Poesia… Embora o ferro seja o material mais usado, a madeira e o granito são também matérias-primas que trabalha.
A pintura de Sandra Santos, segundo Carlos Santos “aludindo a temáticas simples, numa pintura pensada e sentida, a artista vai procurando transferir para a tela alguns temas identificativos das raízes do povo português; numa abordagem aproximada dos seus quadros deparamo-nos com uma concepção que parece abstracta e geométrica no traçado, todavia, quando nos afastamos e vislumbramos a obra na sua totalidade, apercebemo-nos que as linhas sóbrias e as formas minimalistas desembocam numa profusão de trabalhados intencionais, composições formais que proporcionam diferentes leituras consoante o distanciamento do observador.
Os jogos de luz/sombra criam uma atmosfera alucinante onde coabitam em harmonia figuras humanas e animais, seres vivos e inanimados que encontram paridade e equilíbrio em combinações plásticas vestidas de cores vibrantes.
No seu trabalho é notória a sua teimosia em querer reinventar o mundo, desconstruindo-o e recriando-o, numa busca incessante pela verdade das formas orquestrada ao sabor de uma expressão plástica que nos transporta para a irrealidade.”
As exposições estarão patentes até dia 27 de Agosto de 2011 e podem ser visitadas de

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Molelos tem escultura de Eugénio Macedo «Tondela» louça preta é uma referência: São Pedro padroeiro de Molelos«Tondela»

Molelos tem escultura de Eugénio Macedo «Tondela» louça preta é uma referência: São Pedro padroeiro de Molelos«Tondela»: "Aqui uma das etapas, em ângulos diferentes, próximo a conclusão da escultura feita apartir de um único bloco de granito, para a terra da "louça do barro preto". Molelos ,«Tondel..."

terça-feira, 5 de abril de 2011

De arte, precisa-se. João Boavida. In As Beiras de 5-04-2011

Há dias ocorreu no Centro Cultural D. Dinis um acontecimento de relevo: a apresentação de uma nova editora – A Lápis de Memórias – e o lançamento, com a sua chancela, de dois livros: de Cristóvão Aguiar e Francisco Aguiar, “Catarse”, de Carlos M. Rodrigues “Um homem à janela” e a reedição de “Anos de eclipse” de Jorge Seabra.



Como se diria à moda oitocentista, a luzida cerimónia esteve muito concorrida, foi abrilhantada por algumas canções da linha baladeira de intervenção, à anos 70, bem escolhidas e interpretadas e com noção da medida. As apresentações dos livros foram preclaras, pois associaram a qualidade à moderação, tanto nos adjetivos como no tempo gasto. E as intervenções dos autores, nos agradecimentos, decorreram na mesma linha, espontâneas, interessantes e curtas. Enriqueceu o evento a leitura de passagens de todos os livros, também com cuidada escolha e equilíbrio, segundo a sábia lição aristotélica, que os tempo correntes não apreciam por aí além, mas que por cá se vai cultivando. Coimbra sabe fazer estas coisas e ainda bem.



O acontecimento foi importante. Em primeiro lugar, pela novo editora. Que tem por detrás o nome de Adelino Castro, homem há muito ligado aos livros e à edição, que tem o saber-fazer destas coisas e que, ao criar, em Coimbra, uma editora vocacionada para a ficção, vem remar contra a maré. Contra o facto das editoras da cidade terem deixado, há muito, de publicar nestes domínios. Temos muita edição mas não nesta área. A Almedina e a Coimbra Editora editam sobretudo no campo jurídico, educativo e sociológico, há a interessante coleção Minotauro, de autores espanhóis, do Grupo Almedina, a Minerva, com muitas edições de autor, tem sido um respiradouro e a Alma Azul tem editado alguns clássicos e poesia. Mas é pouco. Referência obligatoria é a Imprensa da Universidade de Coimbra, que tem feito um trabalho notável, mas ainda, e como é natural, no domínio cientifico.



Uma nova editora, que entra pela literatura e com escritores de Coimbra é de louvar. E mais ainda se for ao arrepio da literatura à tonelada, que por aí anda, criando resistência à onda da literatura de sucesso e aos monopólios editoriais, que a atrofiam. É refrescante, revolucionário até e deve ser apoiada. Depois os autores. Certamente que nenhum deles aparecerá no Expresso ou no Público, apesar de um deles, Cristóvão Aguiar, ter, como se sabe, obra importante. Mas por que não há de Coimbra editar os seus escritores e mandar às malvas o monopólio dos cânones literário-centralizantes? Por que não este ato de liberdade e de rebeldia? Estando assim as coisas, isto é um ato de respiração.



Aliás, a Semana Cultural da Universidade de Coimbra deste ano – “Reinventar a Cidade” – foi sob o mote da criação artística, que se faz e se tem feito em Coimbra. E teve coisas excelentes. Poderá dizer-se que a Semana Cultural ganhou a maioridade ao assumir a criação. Alguns o têm referido, sobretudo Virgílio Caseiro: é preciso fazer de Coimbra, cada vez mais, um lugar de acontecimentos artísticos, de realizações onde a expressão inovadora seja rainha e senhora. A criação artística – plástica, musical, literária, cénica, gráfica, fotográfica, enfim, toda – não pode ficar à sombra, nem na sombra, da científica. Não o tem feito, mas tem estado numa medida menor, e é por isso que acontecimentos assim são importantes. São bons sinais de autonomia e de vitalidade. E, já agora, de descentralização cultural, tão benéfica ao país, mesmo que este o não saiba nem queira saber, como às vezes parece.

sábado, 18 de dezembro de 2010

Professor Luís Aguiar-Conraria conquista prémio do PROGRAMA PARA A INTERNACIONALIZAÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS EM PORTUGAL

Concurso 2010: Incentivo à publicação em revistas internacionais de referência
Fundação Calouste Gulbenkian
Tendo como objectivo estimular a internacionalização das Ciências Sociais em Portugal, a Fundação Calouste Gulbenkian instituiu o Programa para a Internacionalização das Ciências Sociais, abrangendo as seguintes disciplinas: Antropologia, Ciências da Educação, Ciência Política, Demografia, Geografia Humana, História, Psicologia Social, Relações Internacionais e Sociologia.
Em 2010, são admitidos a concurso artigos publicados, ou aceites para publicação, em revistas internacionais de referência durante os anos de 2008 e 2009, da autoria de investigadores portugueses ou estrangeiros, com idade inferior a 40 anos (em 30 de Setembro de 2010) e que exerçam a sua actividade em instituições portuguesas.
Serão atribuídas duas distinções, no valor de 5.000€ cada, por um Júri constituído por três investigadores universitários nomeados pela Fundação Calouste Gulbenkian.
Informação complementar:
Fundação Calouste Gulbenkian: http://www.gulbenkian.pt/section63artId1950langId1.html

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Expresso das Nove 20.º aniversário: “Desafios dos Açores para o Século XXI”, publicados em livro, com um texto de Cristóvão de Aguiar.

Veja o texto aqui

Adicionar legenda
A edição, que reúne textos de 100 personalidades açorianas e comemora o 20º aniversário do Expresso das Nove, pode ser adquirida na Livraria Solmar.

O livro que assinala os 20 anos do Expresso das Nove já se encontra à venda na Livraria Solmar, em Ponta Delgada.

A publicação inclui a totalidade dos textos das 100 personalidades que participaram na edição especial do jornal, subordinada ao tema “Desafios dos Açores para o Século XXI”, que foi para as bancas no passado dia 26 de Março.

Da lista de personalidades que aceitaram pensar a Região e as suas potencialidades à luz de um mundo global nas décadas que se avizinham, constam nomes como os de Álvaro Monjardino, João Bosco Mota Amaral, José Medeiros Ferreira, José Manuel Monteiro da Silva, Mário Fortuna, Cristóvão de Aguiar, Gustavo Moura, entre muitos outros.

Todos os escritos estão agora disponíveis em livro de capa dura, que pode ser adquirido, em Ponta Delgada, pelo preço de 20 euros.

O Expresso das Nove foi fundado a 22 de Março de 1990, então com o nome de Jornal de Ponta Delgada.

Jornal Diario

2010-10-01 18:00:05

sexta-feira, 23 de julho de 2010

terça-feira, 6 de julho de 2010

Cristóvão de Aguiar, justamente referenciado pelo escritor João Luís de Medeiros, numa entrevista que deu ao jornal Correio dos Açores.

Tertúlia Açoriana - João Luís de Medeiros, poeta escritor: As minhas cartas de amor eram copiadas na tropa

02 Julho 2010 [Cultura]
“Como estamos na alvorada do século XXI, numa época em que as religiões, o futebol, as drogas ilícitas, a glorificação hedonista são alguns dos capitais mais negociáveis na esfera do globalismo, o escritor (operário da escrita) tanto pode ser um cúmplice do negócio vigente ou sujeitar-se à missão de ‘subversivo’ da alternativa...”, afirma o poeta e escritor João Luis de Medeiros.
Correio dos Açores: Nome, naturalidade, cidade e país onde reside?
João Luís de Medeiros – Em Janeiro de 1942, fui baptizado na igreja micaelense de São Roque com o nome que continuo a usar: João Luís Tavares de Medeiros.
Em finais de 1980, emigrei com a família para os Estados Unidos, mais precisamente para Fall River (Massachusetts) onde vivi até finais do século XX. No ano 2000, resolvi experimentar a rota do “sonho americano”, rumo ao sudoeste da Califórnia, onde continuo a viver como aprendiz da vida, numa pequena cidade do Coachella Valley, chamada Rancho Mirage.
O Primeiro livro que leu?
Faço parte das gerações que certamente ainda guardam recordações (embora amarelecidas) de que o famoso livro das primeiras classes da instrução primária terá sido o livro do pedagogo Virgílio Couto, hoje porventura imerecidamente esquecido...
Quando sentiu o chamamento para a escrita?
Creio que “assentei praça” na escrita devido a circunstâncias meramente casuais. Com cerca de 10 anos de idade, já tinha a incumbência de escrever as cartas que a saudosa avó ditava para serem enviadas ao filho que, por volta de 1946, embarcara para Angola integrado no corpo expedicionário açoriano para substituir o batalhão continental número 13 (Nova Lisboa, Angola).
Mais tarde, já com a adolescência a rondar as ameias da juventude, divertia-me imenso a escrever bilhetes românticos àquelas raparigas conhecidas que tinham autorização familiar para dar banho à beleza, no ambiente outrora meigo e calmo dos areais da área. Anos mais tarde, durante o “cruzeiro colonial”, em Moçambique (1963-66) aceitei o cativante desafio de redigir as “cartas-de-amor”, que eram depois copiadas (secretamente) pelos meus companheiros mais avessos à escrita...
Qual o seu género literário?
Desde muito moço fiquei cativo voluntário da Poesia. O conto e a crónica são dois géneros que continuo a espreitar como janelas criativas. Todavia, se tiver vida e não me sentir órfão de talento, gostaria de enveredar com sensatez criativa pelo estilo da Prosopopeia...
Na escola primária era habitual ter boas qualificações nas redacções?
Sinceramente, não tenho memórias gratificantes desse período. Apenas me lembro de ter escrito duas ou três linhas para ler junto à campa do antigo professor Almeida Pavão (pai), na peregrinacão anual dos miúdos do ensino primário ao cemitério de são Roque...
Há algum livro dos seus que gostaria de reescrever?
Reconheço a benignidade da pergunta, mas devo esclarecer que não nunca perdi a noção do meu tamanho como operário da escrita. Até hoje, tive a boa sorte de não ter publicado livros de que poderia estar agora arrependido. No universo das ideias, a mensagem vale muito mais do que o mensageiro...
Quais os livros que publicou e o mais recente?
Parabéns pela clarividente pergunta. Não tenho habilidade para esgrimir segredos comerciais, porque não gozo do estatuto para escrever para o mercado livreiro. Dito isto, meu caro, abro a confidência: dentro em breve aparecerá ao público da diáspora lusófona o livro “Canteiro da Memória” (colectânea alusiva a 10% das minhas crónicas publicadas entre 1979-2009, sob o pálio da coluna memorandum).
Recordo que no Outono de 2007 veio a público a minha presença poética com o livro “(Re)verso da Palavra”, cujos poemas (1957-2007) fazem parte da (minha) fase “poesia-de-combate” que, obviamente, continua alérgica ao fervor encomiástico da confraria da literatagem oficiosa da nossa praça psico-literária...
Em 1993, apareci como co-autor do livro “Em Louvor do Divino”, cuja edição está esgotada...
Indique-me um livro de um escritor açoriano de que gostaria de ter sido autor?
Ó deuses! ... sinto-me agora atraído pela categoria psico-literária da resposta do nosso conterrâneo Cristóvão de Aguiar, quando há semanas admitiu, com sincera angústia, que gostaria ter sido o autor dos SONETOS anterianos. Depois dessa resposta, só me resta dizer que vou morrer sem ter tentado escrever algo semelhante à sua “RAIZ COMOVIDA”... Todavia, no calendário da eternidade, espero (re)encontrar ambos Antero & Cristóvão no pavilhão dos vencidos mas nunca convencidos...
Como se relaciona com os escritores?
Para confirmar os meus dizeres, seria preciso contactar alguns deles... (alguns já estão à nossa espera na quinta da eternidade); Mas arrisco sem temor nomear os amigos Cristóvão de Aguiar, Fernando Aires, Onésimo Almeida, Urbano Bettencourt, Rui-Galvão de Carvalho, Mayone Dias, Daniel de Sá, Francisco Fagundes, Dias de Melo, Mário Mesquita, Álamo Oliveira...
Pensa enriquecer como escritor?
Bem sei que a pergunta não é maliciosa – é apenas pedagógica. Como operário da escrita sou porventura (em segredo) um abastado milionário! Embora ausente da confraria do turismo académico que tirou (inteligentemente) partido da mal-disfarçada subalternidade académica da açorianidade nascente (1985-2005), tenho procurado cultivar a prudência de não usar as conexões político-emocionais ao meu dispor... para facilitar o meu percurso de “missionário da escrita”...
Nesse aspecto, limito-me a imaginar a banda passar! Enfim, são feitios...
Que livro nunca recomendaria a um amigo?
... não desejo ser endossado de tal autoridade...
Que livro gostaria de deixar e que ainda não escreveu...?
Como estamos na alvorada do século XXI, numa época em que as religiões, o futebol, as drogas ilícitas, a glorificação hedonista são alguns dos capitais mais negociáveis na esfera do globalismo, o escritor (operário da escrita) tanto pode ser um cúmplice do negócio vigente ou sujeitar-se à missão de “subversivo” da alternativa...
Antes de sucumbir, involuntariamente, à febre global da trivialidade, talvez seja contemplado com o carimbo “subversivo” na última página do meu ignorado passaporte da alternativa...



Autor: Afonso Quental

terça-feira, 29 de junho de 2010

Abri o Diário de Coimbra e na necrologia noticiam a morte de um dos maiores poetas que conheci pessoalmente: João Damasceno (Albuquerque) 55 anos, professor de história. Ainda ontem o tinha recitado. Espero que Coimbra lhe preste a devida e justa homenagem. "Em terra de cegos/ quem tem um olho é rei/ e quem tem dois/ é frequentemente abatido... ".

O Poeta João Damasceno, 1955 - 2010, publicou, pelo menos: Corpo Cru, 1983; Alma Fria, Sketches Policiários, 1985; Cinco Suicídios, 1986, 300 exemplares; Retrato do Artista Quando Jovem aos Pés da Rainha Santa Isabel; 1989. Fenda Edições.


Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006