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segunda-feira, 20 de setembro de 2010

1. Pois eu li uma obra cujo autor merecia um Nobel! in Diário de Coimbra,31/08/2010 "A Tabuada do Tempo – A Lenta Narrativa dos Dias" de Cristóvão de Aguiar.

“(…) Ouço o Sol brincando em silêncio num retirado recanto do jardim. Por vezes sabe-me a som. Tanto desejava compartilhar este secreto sol que esbraseia o meu saboreá-la. Repouso o coração no sanguíneo desfecho da tarde relvado de memória. Andarinhocos empoleiram-se no telhado da casa enquanto retiro pétalas às palavras. Hão-de profetizar e matizar as cores pacificantes que molharam o seu corpo escorrido de verde-mar. Com os olhos acaricio-a ao longe e ao longo das linhas de água que de Ela se despenham coalhadas da luz salina que as ondas nele esculpiram. Gostava que o mapa de sal, que a cristalografia constrói no silêncio suturado de sol, entardecesse sobre a pele do seu corpo. (…)”
Cristóvão de Aguiar escreve num jeito de ilhéu, saudoso e melancólico. “Despenha-se-me em cascatas pelos sentidos abaixo. A Ilha.” A sua Ilha sempre presente “navegando nos mares que me habitam por dentro.”E o mar, eternamente o mar da sua Ela, em que “A Tabuada do Tempo” é o seu diário com sabor a sal, a maresia, um suceder de partilhas e vivências quotidianas, postas a nu, numa descrição intimista. Em muitas e deliciosas páginas o autor, “vestindo a recordação de palavras (…)” em que “ (…) a saudade é o desejo de desejar e não o desejo das coisas em si”,perpassa pela sua juventude na Ilha mas também, no seu dia-a-dia citadino em Coimbra. Ao longo das laudas o autor, põe em confronto permanente a guerra e paz no seu “parir “ a escrita, reconhecendo não conseguir ler outrem enquanto em “trabalho criativo”. Sempre rodeado de livros que lê ou escreve, Cristóvão de Aguiar confronta-se com a publicação duma sua obra em que a espera angustiante, o aguardar dos comentários por parte de quem lê o original, a ansiedade no “sim” do editor o trazem “curioso e expectante”. Existe no escritor o narrar dos dias. As trivialidades de que se compõem a nossa vida sobretudo o “tempo” que sempre nos gere e nos mata; o clima ensolarado que nos enche a alma ou nos corrói de calor; a chuva e o nevoeiro que nos tolhem os passos estugados. “Esta tarde a noite lembrou-se de cair mais cedo. Ainda não são quatro e meia e lá fora já há ameaças de escuridão. Tanto e tão grosso nevoeiro (…) Tenho frio (…) O frio deve ser outro e provir de outro quadrante. Só assim se compreende”. É com estas palavras que o autor pressagia um “não” de “Ela”. Depois tudo se resume a uma tulipa “que Ela me deixou no solitário sobre a secretária” e nos fantasmas que deambulam pela casa.
“A Tabuada do Tempo A Lenta Narrativa dos Dias” é uma apresentação de vida através duma lógica talvez matemática, talvez filosófica … mas sobretudo através da lógica do amar, do sentir e da espera: “Nem tão-pouco te prestas a analisar ou a sentir isto: que nem tu nem eu merecemos ser torpedeados por esta maneira tão absoluta de contracenar (…) Vais deleitar-te com o dano que a missiva te provocará e tu a leres de afogadilho. O que tu fazes para te provar que me amas ou te amas! Depois de amanhã à noitinha vais zarpar ao meu encontro. Tomarás a lancha para me ires sentindo em cada sorvo de vaga. Ao longo do mar revolto sobre o qual, em vagalhão, ainda te espero. Sempre te esperei!”

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

A Tabuada do Tempo, de Cristóvão de Aguiar. Crítica de Cláudia Gameiro.

O primeiro olhar foi de desafio, quase de inveja pelas palavras ditas quase em sintonia com uma música de fundo, nunca presente mas sempre desperta. Depois veio a viagem, veio a lembrança, veio a presença por se estar a pisar os mesmos terrenos, as mesmas angústias. Ser-se ilha não é ser-se pequeno, é um estado de espírito que acompanha quem amou a terra onde nasceu e aprendeu a ser-se, a ver-se, diante de uma paisagem. Nos dias que se percorrem, saborando quase sempre a instabilidade do tempo, encarna-se uma audacidade também ela temperamental e procura-se um objectivo nas palavras do quotidiano.
Para ler com uma grande vontade de saborear, nunca de entreter...
Publicada por claudiagameiro

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"Tabuada do Tempo": Expresso das Nove online 26/09/2008, por Bartolomeu Dutra.













"Ainda estou cheio de Ilha, como poderia dizer o Cristóvão de Aguiar, que não vi no Pico, mas encontrei-o n' A Tabuada do Tempo das pequenas coisas que nos enchem a vida, do Amor que nos aquece por dentro."
BARTOLOMEU DUTRA
PROFESSOR/MÚSICO (excelente)

Uma voz que veio de longe
Aceitei o convite do Vítor Rui Dores, em carta impressa na última página d'O Dever, e cá me encontro balouçando por dentro destes três tempos de valsa. Talvez me tenha antecipado na lembrança quando, no mês passado, olhando o Pico na transparência de um gin no Peter, tentava indicar à Guilhermina o local onde Brel tocara a sua guitarra. O prazer de recordar algumas histórias vividas pelo grande trovador no Faial, fez correr o tempo até à chegada do avião que me traria de volta ao continente. Dias antes, o meu irmão Jorge levara-me num magnífico passeio até ao Cabeço Verde e depois ao Cabeço Gordo, alargando-me o fascínio da ilha na contemplação dos recortes agrestes da Caldeira desde um ponto mais elevado. De volta ao Pico, pude rever a antiga Fábrica da Baleia, já sem aqueles homens de espeiro nas mãos a cortar os pedaços de toucinho. Mas a chaminé ainda era a mesma que tinha conversas de vizinha com a da Fábrica do Antunes, enquanto o batelão, com o meu irmão Manuel ao pé da máquina, trazia o peixe das traineiras que ao largo se espreguiçavam num balanço tranquilo para os meus olhos à espreita desde o alto de uma parede nos Biscoitos. Ainda estou cheio de Ilha, como poderia dizer o Cristóvão de Aguiar, que não vi no Pico, mas encontrei-o n' A Tabuada do Tempo das pequenas coisas que nos enchem a vida, do Amor que nos aquece por dentro e da viagem perene com a Ilha no peito, um pesqueiro andante em busca de aventuras. No decorrer desta lenta narrativa dos dias, que recebeu o prémio Miguel Torga, pode ler-se a dada altura, no contexto de uma viagem com esmero preparada para um grupo de amigos da vivência coimbrã:

"São Miguel, Agosto, 12
Chegámos há três dias e já demos grandes passeios por toda a Ilha. Ao planear esta excursão, principiei deliberadamente pelo grupo central para que, ao chegarmos aqui, houvesse apoteose, espécie de grand final. Enganei-me e bem! Toda a gente abria a boca, maravilhada, com as paisagens das Sete Cidades, da Lagoa do Fogo, das Furnas, da Caldeira Velha, mas no fim exclamava: tudo muito belo, mas o Pico... Às tantas, também eu fazia coro: mas o Pico..."


26 de Setembro de 2008

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

LANÇAMENTO DE A TABUADA DO TEMPO, NA CASA DOS AÇORES NORTE.

Clicar no título para ver notícia no blogue Mulheres de Atenas.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

APRESENTAÇÃO DA TABUADA DO TEMPO, NA CIDADE DO PORTO, Sábado, 10-Nov-2007, 21h

Para adquirir a obra carregue clique no título



CONVITE


Casa dos Açores do Norte, Porto - 10 de Novembro

APRESENTAÇÃO DA OBRA A TABUADA DO TEMPO - A LENTA NARRATIVA DOS DIAS

O Autor, Cristóvão de Aguiar, a Almedina e o Podium Scriptae têm o prazer de convidar V.ª Ex.ª e família para a apresentação da obra A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias.
A apresentação realizar-se-á no sábado, dia 10 de Novembro de 2007, pelas 21h, na Casa Dos Açores do Norte, sita à Rua do Bonfim, n.º 163, Porto.

A obra será apresentada pelo Senhor Doutor Mário Mesquita.

domingo, 21 de outubro de 2007

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Crítica Literária de Ruben P. Ferreira a: "A Tabuada do Tempo", de Cristóvão de Aguiar, na Revista Os Meus Livros, N.º 56, de 06-Outubro-2007.

The Arithmetic Table of Time



DIARY


WRITER HUMANENESS





This metapoem (Miguel Torga’s Prize in 2006) on the daily life of a man of belles-letres leads the reader into the meanders that originate the writing itself and its themes. The modesty, humaneness, childhood, friends, travelling digressions, anxieties, depressions, fears, preferences, flatulencies of the body (of the soul), the absence of the sun, the humidity, affections, his children, in a mixture of very pleasant and joined chronologies in a daily report of one year, which is much comprehensive as well as recomforting.
If in some periods one understands that that year may be 1996, in others the years fly away mingled with numerous references to past epochs, up to the moment of the formation of the convictions and of the first poems, or to the more recent melancholy attacks, amidst lectures in the Faculty. It is a diagram of the days and nights which is kept up in an essentially nostalgic register, at times revealing solved anguishes as time goes by or never. Anguishes for ever. A Time marked by the Author’s internal chronology, by the exposure implemented in the incapacity of becoming autonomous, in the ability of creating a work of art as never before. A time of oblivion combined with the effort, at times abstract, of wording that it is already understood (hidden) in the understanding of himself, of other people and the world.

Ruben P. Ferreira (Trad.)

CLICAR NA IMAGEM PARA LER A CRÍTICA LITERÁRIA

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

IMAGENS DA CONFERÊNCIA DO DOUTOR CARLOS ANDRÉ, SOBRE A OBRA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR 25-SET-2007


















Ideias concertadas,Carlos André e Ana Paula Arnaut










Eloísa Alvarez, Cristóvão de Aguiar, Carlos André, António Arnaut, Alferes.

















Gostei.

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

O DOUTOR CARLOS ANDRÉ DISSERTA SOB O TEMA "CRISTÓVÃO DE AGUIAR: UMA RAIZ POR ACHAR" HOJE, 25 - SET - 07, NA LIVRARIA ALMEDINA-ESTÁDIO



LIVRARIA ALMEDINA ESTÁDIO CIDADE DE COIMBRA,HOJE DIA 25 de SETEMBRO, ÀS 21H00.
A DISSERTAÇÃO DO PROFESSOR DOUTOR CARLOS ANDRÉ TAMBÉM TERÁ COMO MOTE OS LIVROS RAIZ COMOVIDA, PASSAGEIRO EM TRÂNSITO E A TABUADA DO TEMPO

MARCELO REBELO DE SOUSA ANUNCIOU "A TABUADA DO TEMPO", PRÉMIO MIGUEL TORGA - CIDADE DE COIMBRA, NO PROGRAMA “AS ESCOLHAS DE MARCELO”, 23 - 09 - 07

CLICAR NO TÍTULO PARA VER APRESENTAÇÃO

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Doutor Carlos André, presidente do conselho directivo da FLUC e ex Governador Civil de Leiria, disserta sobre Cristóvão de Aguiar:"Uma Raiz Por Achar"






























A sessão realizar-se-á no dia 25 de Setembro pelas 21 horas, na livraria Almedina - Estádio, em Coimbra.

domingo, 9 de setembro de 2007

A TABUADA DO TEMPO - RECOMENDAÇÃO DE LEITURA DO PROFESSOR CARLOS FIOLHAIS - In Primeiro de Janeiro et in Blogue De Rerum Natura

Cristóvão de Aguiar, “A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias”, Almedina. O escritor açoriano (da pequena povoação, Pico da Pedra, em São Miguel, de onde também é natural o escritor e crítico Onésimo Teotónio Almeida) volta ao estilo dos seus “Diários de Bordo”, que é do melhor que de escrita diarística se publica entre nós (o autor ganhou já, por um dos “Diários", o Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores, e esta “Tabuada do Tempo” valeu-lhe, pela segunda vez, o Prémio Miguel Torga da cidade de Coimbra). Curiosamente, depois de ter andado por outras editoras como a Caminho e a Dom Quixote, o autor regressa ao editor que lhe publicou nos anos 60 o seu primeiro livro, antes de ele embarcar para a guerra colonial. Cristóvão de Aguiar está agora reformado, mas durante muitos anos foi professor de inglês na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra. Fui seu aluno e com ele aprendi muitas expressões idiomáticas de língua inglesa, tendo-me até preparado para a minha primeira viagem a Inglaterra. E corrigiu os primeiros textos que publiquei em jornais. Como sou amigo dele (esta nota serve para confirmar a regra de que os críticos tendem a falar dos livros dos amigos), já me fez aparecer numa das suas páginas diarísticas!

terça-feira, 4 de setembro de 2007

A TABUADA DO TEMPO, CRÍTICA DE PAULA ALEXANDRA ALMEIDA

Há muito tempo que não me acontecia isto com um livro.

O Cristóvão de Aguiar é um escritor açoriano há muito radicado em Coimbra. Publica desde 1965 mas nunca tinha lido nada dele. Por força de uma entrevista, ofereceram-me o último livro "A Tabuada do Tempo. A lenta narrativa dos dias".

É um diário. Mas não é um diário contínuo. Ou seja, há dias que são seguidos, mas outros há que correspondem a anos diferentes. É um diário de dias não sequencial. A escrita é bonita. Com uma certa poesia.

Mas dizia eu que há muito tempo que não me acontecia isto com um livro. Espero ansiosamente por um bocadinho livre para ler mais umas páginas, aguardo o fim do dia e dos compromissos para pegar nele e percorrer mais uns dias...

Tenho que me lembrar de agradecer ao meu editor ter-me encomendado a entrevista.


"Janeiro, 3
[…] Vou-me agora em cata dos passos que hei-de percorrer, na esperança de que eles pouco a pouco me devolvam o quinhão de música a que tenho direito. Depois escrevo. Se o não fizer, não cai o mundo das alturas."

Publicada por caracois in blogue 1001 páginas

domingo, 2 de setembro de 2007

Onésimo Teotónio Almeida, crítica à "A Tabuada do Tempo"

Agradeço-te o exemplar do teu livro A Tabuada do Tempo. De novo proporcionas aos teus leitores uma escrita muitíssimo apurada e um deveras interessante diário. Embora continues a fixar-te obsessivamente no triângulo Coimbra / S. Miguel / Bristol (apontei-te essa marca ao Relação de Bordo, e apesar da extensão do volume que ultrapassa as 300 páginas, não cansa.
Achei o autor do diário mais brando, menos perturbado pelos seus demónios. A morte do teu pai, agora presente só como memória, torna as evocações mais suaves. De qualquer modo, esse abrandamento não se confina à figura do teu pai.
Conseguiste sem dúvida colocar o teu diário entre os notáveis portugueses do género,[...]

Onésimo T. Almeida
Agosto de 2007

quarta-feira, 29 de agosto de 2007

A TABUADA DO TEMPO - FUNDAMENTAÇÃO DO JURI PARA A ATRIBUIÇÃO DO PRÉMIO LITERÁRIO MIGUEL TORGA - 2006

A TABUADA DO TEMPO. A lenta narrativa dos dias.

Cristóvão de Aguiar

Prémio de Narrativa Miguel Torga - Cidade de Coimbra, 2006.



A aparente insignificância de cada instante do dia ou da noite é transcendida por Cristóvão de Aguiar com a paixão de quem vive esses momentos como se fossem os últimos, os definitivos da sua vida: ungindo-os, - como se de um feito religioso se tratasse - com o amor, numa sacralização invasora que inclui quer o erotismo ( Ela), quer o humanismo ( o Outro, feito bicho – o Isquininho, o Adonis - ou feito Homem).
E a memória, desencadeada pela sensualidade do aroma de uma flor, ou do toque aveludado de uma pele ou de um objecto, das cores da terra, do ar, da água, ou do inquietante tilintar de uma bigorna, lança as pontes dos emotivos encontros e desencontros que vivificam a sua infância, o longe, o sentimento de momentâneas ausências que o tempo foi transformando em definitivas.
São, no entanto, as páginas dedicadas à própria escrita as que consubstanciam a oração mais intensa que percorre esta Tabuada do Tempo. Oração diversificada em metáforas referidas à palavra (“o seu coração de magma batendo na chaga esquerda do peito”) ou ao escritor (“barco á deriva, com estragos na quilha”). Poucas vezes nos é dado assistir a uma luta tão agónica para atingir a perfeição da palavra como esta a que o escritor aqui se entrega. É na sua inatingível procura que se debate, convicto de que a sua salvação como ser humano encarna-se nela e convicto também de que a sua sina vai ser a de nunca atingir nem uma nem outra.
O humor franco e aberto que perpassa estas páginas e que consegue os seus mais originais registos na escatologia manifestada em frases (“ventosidades silentes ou sonorosas”) ou vertida em histórias (a referente a dona Prudência e o Ti Zé Peidão), estabelece um contraponto na expressão, refreando o ímpeto desse sentimento de incompletude que percorre o livro e que parte da solidão para desaguar na solidão, após a penosa travessia feita no deserto por uma afectividade, por uma criatividade e por uma autenticidade absolutamente invulgares numa época como a nossa, em que impera a forma mais banal e inócua das narrativas light.
Cada frase desta Tabuada do tempo transforma-se numa revelação estilística, com descobertas lexicais e sintácticas que, iludindo a divagação, partem da procura no cerne da língua portuguesa, identificando o estilo de um autor que mostra nesta obra o ponto mais alto da sua maturidade literária.
Eloísa Alvarez

Universidade de Coimbra, 18.06.06.

sábado, 18 de agosto de 2007

A Tabuada do Tempo, recomendada pelo Instituto Camões em Agosto de 2007



A Tabuada do Tempo
Cristóvão de Aguiar
Almedina
2007, 330 pp.
ISBN: 978-972-40-3179-8
www.almedina.net


A Tabuada do Tempo percorre o quotidiano do escritor, que nos apresenta um diário de bordo. Nele inclui as suas memórias, as alegrias e angústias, os amores e desamores e, sobretudo, o local onde nasceu, Pico da Pedra, concelho de Ribeira Grande, ilha de S. Miguel, Açores.

O narrador questiona e reflecte o tempo, ao partilhar connosco as preocupações mais íntimas do ser humano.

«Sinto-me e sento-me à borda do pânico. Por seu turno, gera outro maior e sempre por aí acima, em espiral, até ao inferno interior da culpa total por tudo quanto acontece dentro e fora de mim. Quem te manda a ti pensar que a escrita é o pão do teu supreio e a serenidade do teu espírito? E, depois, o universo e tudo quanto nele habita vai moendo e doendo no tutano do íntimo. Caprichosa, a escrita».

Cristóvão de Aguiar nasceu em 1940 e é licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Lançou o seu primeiro livro em 1965, pouco tempo antes de prestar serviço militar na guerra colonial, na Guiné.
Ao longo da sua carreira escreveu várias obras em poesia e prosa, tendo recebido os prémios Ricardo Malheiros da Academia de Ciências de Lisboa, Grande Prémio da Literatura Biográfica APE e, em 2006, o Prémio Literário Miguel Torga – Cidade de Coimbra, com o livro A Tabuada do Tempo.

Livros do mês.

sexta-feira, 3 de agosto de 2007

A Tabuada do Tempo, crítica de Victor Rui Dores

“Três são os meus lugares de escrita: Coimbra, a Ilha, a América.”pág. 286

Iniciei a leitura deste último livro de Cristóvão de Aguiar temendo estar perante mais do mesmo em relação à sua produção no campo da diarística: Relação de Bordo (1964-1988), Campo das Letras, 1999; Relação de Bordo II (1989-1992), Campo das Letras, 2000; e Nova Relação de Bordo, Publicações Dom Quixote, 2004. Agora que fecho o livro, tenho esta certeza: depois de ter escrito muito bem, Cristóvão de Aguiar voltou a escrever melhor.
A Tabuada do Tempo, com o subtítulo de “a lenta narrativa dos dias” (Almedina, Coimbra, 2007) e que foi merecedor, no ano transacto, do Prémio Literário Miguel Torga, passará a constituir referência importante na já vasta produção literária deste autor que continua a “escreviver”.
Cristóvão de Aguiar, 42 anos de vida literária, é escritor de compulsivas memórias. É conhecido o seu intenso e obstinado trabalho oficinal: memórias e experiências acumuladas e vertidas, com paixão e arte, na escrita. Trabalhador operoso e incansável das letras portuguesas, ele é autor do apuro formal, da exigência estética, da preocupação estilística e da descoberta lexical e sintáctica.
Com uma capa de concepção gráfica particularmente feliz, A Tabuada do Tempo, diário factual, passa em revista o ano de 1996 (numa viagem que começa em Janeiro e termina em Dezembro) e constitui mais um acto de auto-revelação de um escritor autêntico que se quer renovar e que procura dizer as coisas de uma maneira sua.
Cristóvão de Aguiar não se confessa – revela-se e, por essa via, revela-se-nos através das suas interrogações e incertezas, perplexidades e deslumbramentos, angústias e estados de alma. E, lançando olhares a alguns dos principais factos e acontecimentos ocorridos no referido ano, o narrador – fino observador da vida que se lhe oferece em palco – questiona e reflecte esse tempo, lança doses de humor e (amarga) ironia ao quotidiano, viaja em peregrinação interior, sendo simultaneamente protagonista, participante, observador e mediador. E nunca descura a sua relação com a escrita:
“Acordei de imaginação entupida”. (pág. 19)
Por exemplo: Cristóvão de Aguiar dá-nos pistas muito interessantes sobre a escrita da Relação de Bordo e a (re)escrita de Raiz Comovida, sua opus magnum. E lamenta a incerteza da publicação, denuncia os silêncios dos editores, ou os atrasos de resposta das editoras…. E fala-nos abertamente dos autores e das escritas que mais o influenciaram.
Escrevendo para iludir o tempo, e procurando na escrita “uma perfeição que nunca se deixa apanhar”, Cristóvão de Aguiar mantém-se fiel e coerente no mais profundo de si próprio. Voz inquieta e inquietante, continua ele a fazer da escrita uma catarse e um ajuste de contas com o passado e as novas mitologias do presente. E a partilhar connosco as preocupações mais íntimas do ser humano, de tudo fazendo assunto literário: a sua relação com os familiares (emotivas e emocionantes são as memórias do Pai e da Mãe) e amigos (Carlos André, Viriato Madeira, Mário Mesquita, José Augusto, Oliva, Victor Torres, etc.); a evocação da Ilha (a mítica e a real) e de Ela (a amada, referente constante na sua diarística); o seu modo de (d)escrever as suas viagens de comboio, as actividades lectivas, as memórias magoadas da guerra, as maleitas que o apoquentam, a viagem à América, ou a sua relação com os cães Isquininho, Alex, Regina, Adónis, Monalisa, Tina, Eurice, Pitão…
Efectivamente nunca o autor perde de vista a qualidade do seu discurso literário, quer fale de Virginia Woolf, Ernest Hemingway, May Sarton, ou de futebol…
Cristóvão de Aguiar escreve com amor e humor. E são muitos os olhares que lança à literatura, aos seus escritores e cultores: Almeida Garrett, Camilo Castelo-Branco, Júlio Dinis, Eça de Queiroz, Fernando Pessoa, Raul Brandão, Aquilino Ribeiro, José Régio, Vitorino Nemésio, Vergílio Ferreira, Miguel Torga, Paulo Quintela, José Rodrigues Miguéis, José Cardoso Pires, António Vilhena, Augusto Abelaira, David Mourão-Ferreira, António José Saraiva, Almeida Pavão, Manuel Alegre, Eduardo Lourenço, Óscar Lopes, João de Melo, António Lobo Antunes, Vasco Pereira da Costa, Carlos Reis, entre outros.
E está aqui a grande linha de força de A Tabuada do Tempo: a dimensão literária e humana. Basta ler o espantoso testemunho que nos é dado de Isabel, seropositiva, para percebermos isso mesmo.
Há “flashbacks” de episódios (digo, cenas) inesquecíveis e que nos remetem para a infância e adolescência do autor: a representação da comédia Inês de Castro (sendo que o narrador, enquanto menino, se apaixona pela actriz que desempenha o papel de Inês); as memórias do Liceu e as peripécias de dona Cesaltina; a educação sexual do narrador com uma “catequista e mestra da luxúria”; as incontornáveis e fascinantes personagens de dona Prudência e do Ti Zé Peidão… Mas atenção: não há aqui a gratuita aposta na descrição da peripécia – o que há é o aprofundamento do psicológico e do humano, que são no fundo os grandes valores da literatura.
Este é, por conseguinte, um livro sobre a usura e o devir do tempo. Um livro sedutor, evocativo, íntimo, intimista e musical (atravessado por música clássica) que constrói vidas inteiras.
Leiam, por favor, Cristóvão de Aguiar, porque ele ajuda a engrandecer a língua portuguesa.

Horta, 15 de Julho de 2007

Victor Rui Dores
Escritor/Professor

P.S. – Agora que temos um novo director a liderar os destinos da RTP/AÇORES, não seria de apostar numa nova série televisiva que incluísse a adaptação de obra(s) de Cristóvão de Aguiar? Recordo que o realizador José Medeiros colheu, na Raiz Comovida, abundante campo de referências para as celebradas séries televisivas “Xailes Negros” e “O Barco e o Sonho”, com os resultados de excelência que se conhecem.
Aqui fica (mais uma vez) o repto.


Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006