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sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Contuboel, 11 de Janeiro de 1967. Relação de Bordo, diário ou nem tanto ou talvez muito mais.


Contuboel, 11 de Janeiro de 1967
 
 ¾ Chegou alguma da tropa que nos vem ren­der. O capitão Miranda, oriundo da Mealhada, também veio. Tenho dó deles. O restante pes­soal só virá no dia em que nós daqui sairmos ¾ de hoje a uma semana, que não há insta­lações para toda a gente. Neste mo­mento procede-se à passagem de testemunho e das armas. Quando en­treguei a mi­nha, fiquei mais leve e mais livre. Mas sempre pensei que este dia há tanto es­pe­ra­do ficasse percorrido de uma alegria bem mais funda. Tanto a so­nhei ao longo des­tes infindáveis meses, que ela quase toda se gastou e agora en­co­lheu-se e ficou tris­tinha. Ando magro que nem cação. Estou convencido de que tenho uma ténia agarrada à parede dos in­testi­nos. Qua­renta e nove quilos é pouco! Já pedi um medicamento para o efeito no posto mé­dico e vou tomá-lo.
CRISTÓVÃO DE AGUIAR

sábado, 14 de maio de 2011

Catarse ou a escrita mano a mano de Cristóvão e de Francisco de Aguiar, por Victor Rui Dores

“A minha vida não tem idade: tem tempo”

Vitorino Nemésio, Eu Comovido a Oeste

As recordações dos verdes anos avivam-se à medida que vamos ficando mais vividos e menos jovens… A nossa existência é uma perpétua dialéctica: saudades do futuro e sauda¬des do passado

Catarse (Editora Lápis de Memórias, Coimbra, 2011) é um livro sobre a infância e a adolescência insulares enquanto busca de um tempo irremediavelmente perdido. Os autores, irmãos no sangue e nas emoções, protagonistas - narradores, revisitam, pela escrita, tempos, lugares, pessoas e memórias que povoam o seu imaginário. Vivendo em diferentes espaços geográficos, e através de um conjunto de cartas que vão tro-cando, recordam bons tempos que não foram tempos bons. “A vida, em S. Miguel era muito cainha” (pág. 20) porque esses eram os tempos de misérias várias e de repressões variadas de uma sociedade patriarcal – o salazarismo, o subdesenvolvimento, a hipocrisia social, a pobreza, a intolerância, a emigração, a guerra colonial…

A luta contra o esquecimento é a razão primeira da literatura em qualquer uma das suas formas e géneros, sendo que, no caso do livro em apreço, estamos perante um “diálogo epistolar em forma de romance”. Eis uma escrita de inquérito ao subconsciente, através da qual os autores, em diferentes registos e de forma sincera e sentida, travam intensos diálogos e partilham memórias surpreendentes.

Santa Luzia é o microcosmo de referência desta obra, constituindo-se como espaço onde pulsa todo o universo e toda a geografia sentimental e afectiva da ilha de São Miguel, de onde a acção parte viajando para outros lugares: Santa Maria, Terceira, Madeira, Lisboa, Coimbra, Guiné, Américas, Faial, Pico…

Por conseguinte, este livro dá conta de impressões do vivido e do sentido, isto é, das sensações e dos sentimentos que ficaram enraizados nas memórias dos autores. Essas memórias ora são muito positivas (a recordação das figuras tutelares da Mãe, dos Avós e outros familiares, amigos e conhecidos que surgem do fundo dos tempos como uma aparição de ternura no meio das ruínas da vida), ora são terrivelmente negativas (por exemplo, a memória magoada das tiranias do Pai, os ritos e os rituais da iniciação sexual que, nesse tempo de obscurantismo, descambavam invariavelmente para actos de pedofilia, violação e muitas outras formas de violência).

As deambulações dos narradores são fascinantes e lemos este livro como se de um romance se tratasse. Dando conta dos seus “eus” angustiados na sua relação conflituosa com a vida e com os outros, Cristóvão e Francisco, através de viagens interiores e narrativas justapostas, lançam olhares sobre o tempo do fascínio e do sortilégio (porque iniciático) do despertar para a vida, para os amores, para o mundo e para o conhecimento das coisas. E narram reminiscências e histórias das suas vidas com os outros. A prosa de um é sentida na pessoa do outro. E, pela escrita, fazem uma verdadeira catarse. Escreve Francisco, na página 304:

“Desculpa ter estado a escarafunchar coisas do passado, mas estou a passar por uma fase de despejar tudo aquilo que devia ter despejado na altura certa”.

Escreve Cristóvão:

“E que são estas cartas senão um exercício de psicanálise? Desde ontem já recebi três textos teus, qual deles o mais espirituoso! Vou, nas minhas respostas, procurar dar-lhes mais pormenores que os complementarão. Devido à diferença de idade entre nós, e ainda que tenhamos uma grande fatia de passado em comum, possuímos experiências desiguais e diversas histórias para contar, mas as personagens são praticamente as mesmas que conheci nos primeiros vinte anos que permaneci na ilha, só as mais novas me escapam.” (pág. 236)

As memórias sucedem-se com um ritmo perfeito e a descrição das pessoas evocadas – tanto a física como a psicológica – é um primor de minúcia. Desfila um universo de venturas malogradas perante nós. Vivências comuns confluem de página em página para nos recriarem um tempo (praticamente todo o século XX) que nos parece já tão distante mas que a geração dos autores não esquece nem desvaloriza como não glorifica em falsas nostalgias.

Esse foi um tempo de “brandos costumes”, de muitas inquietações e poucas alegrias, de muitas dúvidas e poucas certezas, um tempo marcado por sonhos e desejos, paixões e temores, partidas e chegadas, separações e reencontros.

Mas atenção: estes olhares retroactivos não visam um mero exorcismo da saudade. Os autores respondem a uma verdadeira “prise de conscience”. Por isso, estas páginas são, acima de tudo, lugar de confronto, de denúncia (dos mecanismos dos poderes políticos e religiosos) e de renúncia às máscaras de um quotidiano alienante, até porque os autores foram vítimas desse estado de coisas e sofreram na pele as consequências desse tempo português fascizante.

Catarse constitui uma narrativa coesa e consistente, perfeitamente equilibrada e apoiada em dois eixos narrativos: coloquialidade, prosa enxuta e leveza de estilo por parte de Francisco de Aguiar (texto em itálico). Virtuosismo verbal e manejo robusto da linguagem por parte de Cristóvão de Aguiar (de antologia são as páginas 313 e 314: “Os meus mortos…”). Francisco era até agora escritor adiado. Cristóvão é o autor consagrado da Raiz Comovida, ficcionista de méritos reconhecidos. O primeiro é o comparsa municiador de memórias; o segundo é o criador – arquitecto da narrativa. Ambos se complementam e, numa escrita que mistura memória, diário e discurso literário, falam do problema do destino do homem e do sentido da vida. Em páginas humaníssimas que em nós causam uma imediata adesão afectiva.


Victor Rui Dores

quarta-feira, 7 de julho de 2010

(2008) Cristóvão de Aguiar, Braço Tatuado. Lisboa, Dom Quixote. Crítica literária de Manuel Tomás. In Boletim do Núcleo Cultural da Horta. n.º 448

Braço Tatuado, é um “livro negro da guerra”, como vem afirmado na dedicatória com que o autor me honrou. “Retalhos da guerra colonial” é a expressão que surge inscrita como subtítulo ou complemento para
o entendimento do romance que vai ao mais profundo de uma guerra, injusta como todas elas são, ao âmago da profundidade psicológica de cada participante e à dimensão sociológica do grupo que luta em “comboio humano, agarrados uns aos outros pela cintura”.
Braço Tatuado é a recriação de uma dolorosa vivência pessoal de Cristóvão de Aguiar, durante a guerra colonial na Guiné. Essa experiência deu origem ao livro Ciclone de Setembro (1985), tendo uma das suas partes se autonomizado, posteriormente, com o título de Braço Tatuado (1990), saindo agora em uma nova versão (2008), para mostrar, de uma forma irónica e trágica, como se vivia a guerra, pois “só nos era permitido fazer manguitos por dentro ou roer as unhas de memória até ao sabugo; chorar não podíamos, nem, se calhar, teríamos lágrimas disponíveis no canto do saco– estávamos, exteriormente, em sentido e essa posição era sagrada”. Esta era a situação à partida, enquanto o capelão fazia o apelo ao patriotismo dos “bravos rapazes”. À saída do teatro de guerra, a ausência psicológica é ainda maior e ao discurso do governador militar, de copo na mão, só os “farrapos das palavras” são apanhados, cá-e-lá, e só são inteligíveis por quem esteja “animado de um profundo amor à pátria do copo”.
O livro escrito de rajada, como afirmou Carlos Ascenso André, in Jornal de Letras (23 de Abril de 2008), também é lido nesse mesmo impulso que não dá lugar a paragens e saltamos de página em página, ora procurando a emboscada, ora fugindo-lhe no matagal da angústia de algo que se faz para salvar a pele, mas o inesperado, maiorainda do que a emboscada do inimigo militar, de um caso pessoal pode virar tudo do avesso, onde já nada está às direitas, e esse inesperado vai causar o maior embaraço da missão, porque uma relação amorosa se perdeu na ausência de quem partiu para a guerra e se perdeu por completo na mistura de pânicos de guerra, com o pânico interior de um amor perdido. Na guerra, só se vive em pleno clímax de tudo e de todas as acções e recordações. Na guerra, “estamos cansados de tudo. Até de regressar. Tantas vezes foi este mágico verbo transitivo e intransitivo conjugado que se gastou tal qual um pataco…”, diz-nos o narrador que, às vezes, está a dar‑nos uma imagem visual e realista das operações em curso, obrigando-nos a visualizar toda a acção e a senti-la nos seus cheiros, sons e arrepios em momentos de vigoroso pânico derramado pelo ambiente onde se desenrolam as operações militares. Este forte e provocante realismo visualista revela-nos algumas atrocidades inimagináveis em seres humanos, mesmo em ambiente de guerra. O tenente Roberto, as suas atrocidades e o envolvimento educativo de seus filhos em uma autêntica barbárie evidenciam-nos, claramente, que aqueles são lugares de massacre tão violentos que o autor de tantas e malvadas acções criminosas actua de uma forma tão cruel que só no próprio enforcamento é que acha a solução para a previsível e desejável traição de sua mulher que, tempos mais tarde, há-de receber, como viúva, as insígnias dos grandes feitos de seu enforcado marido.
É de absurdos impostos, como dever, por um regime despótico e anacrónico, fazendo tantas vítimas, que Cristóvão de Aguiar nos dá conta, talvez com uma fidelidade sentida de tal modo que só mesmo a ficção nos poderia aproximar tanto da realidade e qualquer coincidência com essa realidade longínqua da Guiné-Bissau, mas ainda presente e não exorcizada totalmente na sociedade portuguesa, não será fruto de nenhum acaso.
Não fui à guerra colonial, mas não sou capaz de imaginar alguém a escrever ficção de esta maneira sobre ela sem por lá ter passado.

Manuel Tomás.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dunane, Guiné, 19 de Outubro de 1965. Guerra Colonial Interior.

Dunane, 19 de Outubro de 1965


[...] E eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma forna­lha de fúria e uma fome antiga não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrado silêncio da noite. Eis-me aqui, tentando pescar estrelas no poço aberto do firmamento. Eis-me aqui, indefeso e nu, interrogando não sei que morto que vive numa parte de mim... Em frente de mim, nu e com o frio de todos os pólos, interrogo-me como se fosse réu e juiz ao mesmo tempo. E as palavras que ouço vêm da minha voz antiga, saída do mais fundo de mim, carregada de pedras e de car­dos, que grita e se contorce, morre e ressuscita, e continuo, indefeso e nu, aqui em frente de mim...


Cristóvão de Aguiar no "Relação de Bordo 1964 - 1988"

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Cães Letrados, ou a fusão dos afectos, recensão crítica de Victor Rui Dores.

“Minha pobre Pantera, que tão cedo deste mundo cão te vais apartar.”
(pág. 138)

Em permanente desassossego criativo, Cristóvão de Aguiar andou, mais uma vez, pelo sótão da memória a mexer em penumbras empoeiradas…
Isto significa que, com mais um livro publicado, este autor continua a arrumar, nas páginas que escreve, os sonhos da infância.
Falar de Cristóvão de Aguiar é falar de uma reinvenção constante e de uma contínua e continuada necessidade de expressão literária. Ao (re)escrever os seus livros, ele carrega consigo a ilha perdida e mitificada, num diálogo que, partindo dos Açores, atravessa a história de Portugal da segunda metade do século XX até aos nossos dias, e busca espaços do universal.
Este açoriano escreve com mestria narrativa e imaginação verbal, num discurso literário que mergulha fundo no húmus da oralidade. De resto toda a sua obra é uma revisitação a lugares, pessoas, memórias, coisas e animais que povoam o seu imaginário.
Em Cães Letrados (2008, Calendário, geral@calendario.pt), Cristóvão de Aguiar lança olhares sobre cães e cadelas que foram “os inseparáveis e afectuosos companheiros da minha infância e juventude” (pág. 10). Os textos que compõem a obra foram extraídos, com ligeiras alterações, de vários livros seus onde as histórias sobre os referidos canídeos se encontram.
Com expressivos desenhos da autoria de André Caetano, Cães Letrados desperta em nós uma imediata adesão afectiva. E isto porque o autor humaniza os cães, emprestando-lhes sentimentos, emoções e estados de alma, dotando-os de grande lucidez e fascínio. Nesta matéria, aprendeu, e bem, a lição de Miguel Torga na referência incontornável que é esse clássico da literatura portuguesa que dá pelo título de Bichos (1940).
Mais do que cães e cadelas, mais do que companheiros fiéis, amigos e protectores, a Girafa, o Alex, a Monalisa, o Adónis, o Isquininho, a Tina, o Ligeiro, a Regina, o Schwarz, a Ísis, o Valente, a Pantera a Petruska, o Polícia, a Andorinha, entre outros, são personagens que sentem e agem como se de humanos se tratassem. Inevitavelmente o leitor tornar-se-á cúmplice deles e das suas aventuras e desventuras. Neste último caso, o atropelamento na via pública é um perigo que, a cada momento, espreita esses animais.
Os homens (pela voz e experiência do narrador) compartilham com os cães o grande valor da amizade – e a amizade é, aqui, a lição essencial da vida –, estando uns e outros irmanados na luta pela sobrevivência e a contas com as perplexidades, as inquietações, as vicissitudes e os dramas do dia a dia. A natureza instintiva de uns é a natureza instintiva de outros. E, para todos, o mistério da vida reside como a questão maior.
(Há também a considerar o papel simbólico do cão e, a propósito, convirá lembrar que uma das primeiras citações sobre cães na literatura nos remete para a Odisseia, de Homero, quando Ulisses, após longo exílio e diversas aventuras, regressa à ilha de Ítaca disfarçado de mendigo e é reconhecido apenas por Argos, o seu cão já velho e sem forças para qualquer acção além de abanar o rabo ao reencontrar o dono. Ulisses então chora…).
Tal como no mundo dos humanos, também na canidade há hierarquias e estratificações sociais. Os cães também são vítimas de injustiças, sejam eles dobermann, setter, pastor alemão, husky, ou um simples rafeiro. Há cães de “vocação aristocrática” (pág. 93) e que têm “casa, cama, mesa e pêlo esfregado” (pág. 61) e há “a cachorrada vadia e plebeia” (pág. 85); há os que são rafeiros e os que vivem “abarrotando de pedigree” (pág. 113); há os que recebem “a costumada ração de meiguice e afagos” (pág. 136) e os que fogem à rede da brigada camarária, ou pura e simplesmente são abatidos no canil municipal… Há o cão vadio da rua e há “o cãozinho pekinois de luxo de fidedigna linhagem” (pág. 160). Uns são órfãos, outros mimados…
Mas, em Cristóvão de Aguiar, os caninos nunca deixam de ter grandeza e verticalidade, possuem até comportamentos de gente… Como esquecer, por exemplo, a descrição (ia escrever cena) comovente e comovida em que o Alex, na véspera de morrer atropelado, se deita ao lado do dono, no sofá da sala, e o beija sofregamente como que a adivinhar a sua morte prematura?... E como não recordar, para sempre, a Andorinha a parir seis cachorros, em pleno palco de Guerra Colonial?
Por conseguinte, a força de Cães Letrados está precisamente nessa afeição canídea, isto é, na humanidade e na fraternidade partilhadas.
Mas há uma excepção que o autor, não inocentemente, reserva aos “Cães universitários”, numa das mais bem conseguidas narrativas do livro. Com efeito, os cães das Faculdades de Letras, Direito, Medicina e Ciências e Tecnologia não são amoráveis nem íntegros… A carga semântica de “canzoada” diz tudo. (“Cão que ladra não morde”. Enquanto ladra…).
Esta é uma das facetas mais aliciantes da arte verbal de Cristóvão de Aguiar: a perspicácia da ironia. Neste autor a ironia não é um dom – é um dado.
Numa prosa de afectos, rica de espessura evocativa e profundamente humana, e num registo que varia entre a narrativa, o conto e a crónica memorialista, Cães Letrados é um livro simples, honesto e sentido. Escrito com os olhos da memória.

Horta, 17 de Dezembro de 2008

Victor Rui Dores
Escritor

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

sábado, 27 de setembro de 2008

Ex-combatentes escritores participam em ciclo de conferências, de 25 de Setembro a 20 de Novembro de 2008.

A guerra colonial estará em debate num ciclo de oito conferências a realizar entre Setembro e Novembro na Biblioteca-Museu República e Resistência e no qual participarão antigos combatentes que sobre o conflito nas ex-colónias portuguesas escreveram.
As conferências realizam-se à quinta-feira, sempre às 19:00 locais, a partir do dia 25 de Setembro, prolongando-se até 20 de Novembro.
"Organizamos exposições e ciclos diversos, de ordem histórica, e a guerra colonial surge, naturalmente, como um tema. A nossa ideia é manter viva a chama da História", disse à Lusa Júlia Pires, da direcção da Biblioteca-Museu.
O ciclo abre com Nuno Roque da Silveira e prossegue com António Graça de Abreu (2 de Outubro), António Brito (9 de Outubro), Leonel Pedro Cabrita (18 de Outubro), Mário Beja Santos (23 de Outubro), Cristóvão de Aguiar (30 de Outubro), João Gualberto Estrela (dia 13 de Novembro) e António Bracinha Vieira (dia 20 de Novembro).
"Nós, portugueses, cuidamos menos de reavivar a memória da guerra do que os norte-americanos [em relação ao Vietname]", observou a responsável, reconhecendo embora estar a registar-se um crescendo de interesse dos editores pela publicação de obras sobre o conflito.
Os escritores ex-combatentes participantes no ciclo são autores de "Um outro lado da guerra" (Nuno Roque da Silveira), "Diário da Guiné. Lama, sangue e água pura" (António Graça de Abreu), "Olhos de caçador" (António Brito), "Capitães de vento" (Leonel Pedro Cabrita), "Diário da Guiné, 1968-69. Na terra dos Soncó" (Mário Beja Santos), "Braço tatuado-Retalhos da guerra colonial" (Cristóvão de Aguiar), "Perigo e fascínio em África, Angola 1962-64" (João Gualberto Estrela) e "Fim de Império" (António Bracinha Vieira)

A guerra colonial travou-se em três frentes - Angola, Moçambique e Guiné-Bissau - e fez cerca de 10.000 mortos nas fileiras portuguesas.

LUSA.

domingo, 2 de março de 2008

"BRAÇO TATUADO", crítica literária de Beja Santos in semanário "O Ribatejo" 08-02-2008.

CLICAR NO TÍTULO PARA LER ARTIGO INTEGRAL DE BEJA SANTOS

[...] " Cristóvão de Aguiar combateu na Guiné entre 1965-1967. É um momento crucial em que o PAIGC começa a demolir e a rechaçar as posições no leste e norte da Guiné, cultivando e ocupando territórios onde as tropas portuguesas nem sempre podiam ir e quando iam era por curta permanência. "Braço Tatuado, Retalhos da Guerra Colonial" (Publicações Dom Quixote, 2008) é um relato poderoso de quem está a fazer a guerra na região este, acima de Bafatá.

O relato dos horrores da guerra: executar um inimigo que serviu de guia e depois escrever no relatório que foi abatido por tentativa de fuga no teatro de operações. Guerra significa também misteriosas relações de poder: ameaças de punição, desautorização, desacreditação. Os soldados podem chamar-se Barrancos, Vila Velha, Cartaxo, Pombal. O capitão chama-se Carvalho e o alferes Mendonça. Pelo nome se conhece a classe e a hierarquia. Fazem-se patrulhamentos, batidas, emboscadas e golpes de mão. Há feridos em combate e acidentados em combate. Temos depois as alquimias dos relatórios, é nessa prosa que um desastre se torna num retumbante feito militar.

Cristóvão de Aguiar fala em Mário Soares, um célebre comerciante português de Pirada que, produto das circunstâncias, tem bom relacionamento com os guerrilheiros. É através de Soares que se dão e obtêm informações. Temos depois os comportamentos bizarros, os actos de heroísmo, as manhas, os oportunismos, o autor deambula pela guerra, satiriza, caustica, observa costumes, pega nos pontos altos e obscuros da alma humana, nas cartas que não chegam, na solidão, na perda do autodomínio, na bebedeira, no inesperado suicídio. Sete anos depois a guerra acaba.

Narrativas como a de Cristóvão Aguiar lembram-nos que há feridas que se mantêm abertas. Virá o dia em que todos estes apontamentos e testemunhos serão tomados em conta como episódios de uma História de Portugal ainda desvanecida. Até lá, bons testemunhos e bons escritos como o de Cristóvão de Aguiar precisam de ser reconhecidos pelos seus contemporâneos como textos de sofrimento que as novas gerações precisam de conhecer. Em Portugal e em África, pois claro."

In semanário O Ribatejo, por Beja Santos

"Braço Tatuado", de Cristóvão de Aguiar, crítica literária de Gonçalo Mira, in Orgia Literária. 28.2.2008

CLICAR TÍTULO PARA VER ORGIA LITERÁRIA
por Gonçalo Mira.
"Braço Tatuado tem um subtítulo que é, ao mesmo tempo, uma descrição da obra: Retalhos da Guerra Colonial. Este romance de Cristóvão de Aguiar, agora publicado numa nova versão pela Dom Quixote, havia sido publicado como parte do livro Ciclone de Setembro de 1985 e depois como romance independente, já com este título, em 1990. O autor esteve, entre 1965 e 1967, na Guiné, onde viveu experiências que serviram de matéria-prima para este romance.

A guerra colonial é vista frequentemente como um absurdo, como algo que não fez sentido. Pelo menos é essa a imagem que passa dos relatos de muitos ex-combatentes. Eram homens perdidos, que não sabiam porque estavam ali nem para quê. Braço Tatuado não foge a esta visão da guerra. Contudo, será bastante mais interessante analisar esta constância do ponto de vista do estudo sobre a guerra do que do ponto de vista do estudo sobre a literatura. O que é realmente importante não é o facto de as obras terem a mesma visão, mas sim que os combatentes tenham a mesma visão. Serve isto para defender o romance de acusações de falta de originalidade. Não é isso que está em causa aqui. Primeiro, porque todos os documentos sobre a guerra (ou qualquer outro acontecimento histórico) são importantes, se forem bem feitos – o que é o caso – e nunca os há que cheguem. Segundo, porque existe, de facto, originalidade nesta obra. Existe originalidade no tom, na forma como são contados os acontecimentos, no tratamento do tempo, no tratamento da linguagem.

Ao longo do romance, vamos acompanhando os episódios mais marcantes da companhia 666, narrados na primeira pessoa pelo alferes Mendonça. Estes retratos da guerra, ou retalhos como sugere o título, não espelham outra coisa que não o já falado absurdo. Não só o absurdo de quem foi chamado para uma guerra que não queria fazer, mas também o absurdo de quem olha à distância: neste caso, nós leitores. O mérito não está em fazer-nos sentir o que os soldados sentiam, até porque isso seria, provavelmente, impossível. O mérito é o de nos fazer ver o absurdo sem dizer que é absurdo. O próprio leitor cria as suas legendas para aquelas imagens, mesmo sem perceber as personagens. E uma vez mais, isto não deve ser entendido como uma crítica à obra. Não perceber as personagens é uma incapacidade do leitor que nunca viveu uma situação minimamente semelhante àquela. É uma incapacidade perfeitamente legítima. A maioria dos leitores encontra-se nesta situação: são espectadores atentos de algo que não conseguem compreender. E se numa leitura mais superficial poderia parecer absurdo admirar algo que não se compreende, com um pouco de reflexão e predisposição, tal facto é perfeitamente aceitável. Há certas coisas que nunca compreenderemos. É inevitável. Nenhum ser humano poderá saber e compreender tudo. Mas isso não deve impedir ninguém de admirar. Essa é a grande vantagem da arte."

por Gonçalo Mira

Braço Tatuado, Jornal Público 28-02-2008.

CLICAR NA IMAGEM DA DIREITA PARA LER ARTIGO




quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Trailer do Livro "Braço Tatuado - Retalhos da Guerra Colonial" de Cristóvão de Aguiar. Publicações Dom Quixote - 2008

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MECA; NHACRA; AMURA; BURUTUMA; ALGARVE; PIRADA; MANSOA; ANGOLA; BAMBADINCA; CAMBAJU; MADINA DE BUÉ; PIGIGUITI; ARGEL; LISBOA; BISSAU; SARE BACAR; UÍGE.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

Marcelo Rebelo de Sousa apresenta Braço Tatuado no "escolhas de Marcelo", depois de o ter seleccionado para o "Correntes D'escrita - 2008"

PARA OUVIR EM MP3 CLIQUE TÍTULO
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sábado, 16 de fevereiro de 2008

Marcelo Rebelo de Sousa Sugeriu "Braço Tatuado", de Cristóvão de Aguiar, na Conferência de Abertura "Correntes d'Escritas", Póvoa de Varzim - 2008.

Clicar título em cima para ler notícia integral "hardmusica.com".

"Para o Correntes e, consequentemente, para o seu programa televisivo do próximo domingo, Marcelo Rebelo de Sousa escolheu então: A Luz da Madrugada, de Fernando Pinto do Amaral (“poesia para me redimir”, afirmou com o seu sempre presente sentido de humor); Marchas, Danças, Canções, de Fernando Lopes Graça; Catarina da Áustria rainha de Portugal, de Ana Isabel Boesco; 1808, do jornalista brasileiro Laurentino Gomes;
Braço Tatuado – retalhos da guerra colonial, de Cristóvão Aguiar;













Caetano e o Ocaso do Império, de Amélia Neves de Souto (mais um livro sobre o passado colonial português e África, temas que lhe são tão caros); Luuanda, de Luandino Vieira; Crónicas de um Antigo Estudante de Coimbra, de Jorge Rabaça Correia Cordeiro; Livro-guia de Alentejo, de Alfredo Saramago ; Despertares para a Ciência, novos ciclos de conferências, de vários autores; Grão Vasco, de Dalila Rodrigues; a revista Monumentos; O Grande Livro das Lengalengas, de Viale Moutinho e Artistas retratam escritores que retratam artistas, obra criada exclusivamente para a inauguração da livraria Byblos, em Lisboa, com prefácio de José-Augusto França."

hardmusica.com
BAFATÁ; NOVA LAMEGO; DUNANE; PICHE; KANQUELIFÁ; BURUTUMA; FAJONQUITO; RIO GEBA; JABICUNDA; CONTUBOEL; MAFRA; COIMBRA; ILHA; SONACO; SENEGAL; GUINÉ-CONACRI; CARESSE; MECA; NHACRA; AMURA; BURUTUMA; ALGARVE; PIRADA; MANSOA; ANGOLA; BAMBADINCA; CAMBAJU; MADINA DE BUÉ; PIGIGUITI; ARGEL; LISBOA; BISSAU; SARE BACAR; UÍGE.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006