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sexta-feira, 6 de março de 2015

Cristóvão de Aguiar, Cinquenta anos de vida literária. Casa Museu Guerra Junqueiro, 18 de Abril de 2015, pelas 15H00.

Cristóvão de Aguiar Cinquenta anos de vida literária Casa-Museu Guerra Junqueiro 18 de abril de 2015 15:00 Programa Provisório: 15:00 Sessão de abertura Sr. Vereador da Câmara Municipal do Porto (CMP), Dr. Paulo Cunha e Silva. Sr. Presidente da Direcção da Casa dos Açores do Norte (CAN), Dr. Ponciano Oliveira. Pianissimo / Primeiro momento musical (guitarra clássica e guitarra elétrica) – Menuet Robert de Visée, interpretado por Anna Elisa Araújo e Nuno Alexandre Araújo. (7 minutos) Forte – Cristóvão de Aguiar: Açoriano de raiz, Português de língua pelo Sr. Dr. Manuel Tomás Gaspar da Costa (15 a 30 minutos). Andante – Escritoterapia: do estigma de vida ao refrigério da ilha por Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos (sobre a Obra poética do Escritor). (15 a 30 minutos) Allegro / Segundo momento musical – Menuet de Johann-Philipp Krieger, interpretado por Anna Elisa Araújo e Nuno Alexandre Araújo. (7 minutos) Pausa (10m) Largo / Momento audiovisual – Palavras... para quê? (Idalete Maria Silva Dias e Grupo “À conversa com...”). (30 minutos) Adagio / Terceiro momento musical – Chanson Catalane de Miguel Llobet, interpretada por Anna Elisa Araújo. (7 minutos) Presto / Momento de Leitura de extratos vários da obra multifacetada de Cristóvão de Aguiar (Grupo “À conversa com...”). (15 a 30 minutos) Prestissimo / Quarto momento musical – Rujero (primeiro andamento das quatro árias de dança do compositor Gaspar Sanz (interpretado por Anna Elisa Araújo. (7 minutos) Fortissimo – Momento de lançamento dos dois primeiros volumes da reedição da Obra Completa de Cristóvão de Aguiar – Amor Ilhéu. Prosa poética, Sonetos e outros poemas e Raiz Comovida – Edições Afrontamento, Porto, 2015. Palavras do Autor. Sessão de encerramento pelo Sr. Secretário Regional da Cultura, Prof. Doutor Avelino Freitas de Menezes Porto de Honra Rancho Folclórico do Porto faz uma breve evocação de Antero de Quental no 173º aniversário de nascimento – 18 de Abril de 1842. Com a participação do Escritor Açoriano Manuel Tomás Gaspar da Costa, do Grupo “À conversa com...” (Estudantes Finalistas do Curso de línguas e Literaturas Europeias do Instituto de Letras e Ciências Humanas da Universidade do Minho) Anna Elisa Silveira Araújo Atanásio Pereira Xavier Idalete Maria Silva Dias Liliana Pereira Fernandes Manuel José Silva Maria do Rosário Girão Ribeiro dos Santos Maria Rosa da Silva Oliveira Megumi Im Nuno Alexandre Henriques Araújo Susana Maria dos Santos Pereira Martins Zélia Iolanda Pinto da Silva Marques Curriculum Vitae Cristóvão de Aguiar nasceu no Pico da Pedra, Ilha de São Miguel, em 8 de setembro de 1940. Aí fez os seus estudos elementares, na Escola de Ensino Primário da freguesia. Concluídos os exames do 2.º grau e de admissão aos liceus, matricula-se no então Liceu Nacional de Ponta Delgada, cujo curso complementar de Filologia Germânica conclui em julho de 1960. Durante os últimos anos do liceu, colabora, em verso e prosa, nos jornais locais. Parte nesse mesmo ano para Coimbra, onde ingressa no Curso de Filologia Germânica da Faculdade de Letras da sua Universidade. Em janeiro de 1964, interrompe o curso universitário por ter sido chamado a frequentar o Curso de Oficiais Milicianos, em Mafra, que termina em agosto, com a promoção a Aspirante. Após uma curta passagem pelo Regimento de Infantaria 15, em Tomar, é mobilizado para a guerra colonial, na então província da Guiné, para aonde parte, em abril de 1965, com a sua companhia de caçadores. Um mês antes do embarque, publica um livrinho de poemas, Mãos Vazias, que pouco ou nada abona em seu favor. Regressa da Guiné, cansado e casado com um filho, em janeiro de 1967, e após um ano e meio de luta interior contra a doença e o desânimo consegue concluir as cadeiras do Curso de Filologia Germânica, indo de imediato lecionar para a então Escola Comercial e Industrial de Leiria. Aí permanece um ano e meio, regressando a Coimbra para escrever a sua tese de licenciatura, O Puritanismo e a Letra Escarlate, que apresenta em junho de 1971, obtendo assim o grau de licenciado em Filologia Germânica. A experiência da guerra forneceu-lhe material para um livro posterior, integrado inicialmente em Ciclone de Setembro (1985), de que era uma das três partes, e autonomizado, depois, com o título de O Braço Tatuado (1990). Foi durante quinze anos redator da revista Vértice, de Coimbra (1967-1982), tendo, nesse último ano, organizado um número duplo, especial, sobre a cultura açoriana. Depois do 25 de abril, colaborou na então Emissora Nacional com a rubrica semanal “Revista da Imprensa Regional” (1974-1975), que suscitou muita polémica e alarido nos meios eclesiásticos e reacionários da época. De 1972 até 2002 foi Leitor de Língua Inglesa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, estando neste momento aposentado. Ao longo da sua carreira literária, ganhou os seguintes prémios: Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa (1978), com o livro Raiz Comovida I, A Semente e a Seiva; Grande Prémio da Literatura Biográfica da APE /CMP (1999), com Relação de Bordo I (1964-1988), Diário ou nem tanto ou talvez muito mais; Prémio Miguel Torga / Cidade de Coimbra (2002), com o original Trasfega, casos e contos e, quatro anos mais tarde, com A Tabuada do Tempo, a lenta narrativa dos dias, com data de 2006. Foi agraciado pelo Presidente da República, Dr. Jorge Sampaio, com o grau de comendador da Ordem do Infante Dom Henrique (3 de setembro de 2001). Publicou em 2014 O Coração da Memória. Na Festa da Amizade. Em Memória de José Medeiros Ferreira.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Apresentação do novo e polémico romance "Catarse" de Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar na BPARAH (rectificada)

Ponta Delgada, 7 de Junho de 2011
Apresentação de `Catarse´ de Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar na BPARAH (rectificada)

Catarse, a última obra de Cristóvão de Aguiar, escrita em parceria com seu irmão Francisco será apresentada na próxima quinta-feira, dia 9 de Junho, na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Angra do Heroísmo. A sessão, que contará com a presença de Cristóvão de Aguiar, terá lugar às 17h00, na Sala de Reservados do Palácio Bettencourt.
Cristóvão de Aguiar tem sido um escritor inconformado e irreverente, por vezes incómodo, estatuto que assume e cultiva. Com este novo título, Catarse, ambos os autores concorrem para reforçar este estatuto e vão bem mais longe, surpreendendo o leitor e levando-o até ao confronto com o tratamento contundente de temas que muitos prefeririam que se mantivessem encobertos.
Nascido em 1940 na ilha de São Miguel, licenciado em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Cristóvão de Aguiar foi distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, por Raiz Comovida, sua primeira obra em prosa; com o Grande Prémio da Literatura Biográfica APE, por Relação de Bordo; e com dois Prémios Miguel Torga, pelos livros Trasfega e A Tabuada do Tempo.
A sua obra compreende ainda os títulos Ciclone de Setembro, Grito em Chamas, Passageiro em Trânsito, O Braço Tatuado, Marilha, Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia, A Descoberta da Cidade e outras histórias, Emigração e Outros Temas Ilhéus, Retalhos da Guerra Colonial, e a tradução de A Riqueza das Nações, de Adam Smith.
Em 2001, foi agraciado pelo Presidente da República com a Ordem do Infante D. Henrique. Em 2005, foi homenageado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra e pela Reitoria da Universidade, que publicou o livro Homenagem a Cristóvão de Aguiar - 40 anos de vida literária.
Francisco de Aguiar, seu irmão mais novo, nasceu na ilha de São Miguel em 1952. Frequentou o Liceu de Ponta Delgada até ao terceiro ano. Emigrou em seguida com os pais para a Nova Inglaterra, onde completou a High School. Foi operário em fábricas e foi bancário. Matriculando-se na Universidade de Brown, licencia-se em Inglês /Português. É professor diplomado de Inglês e de Francês segunda Língua para as escolas secundárias norte-americanas. Entre 1981 e 1985 foi Leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, onde já havia concluído o curso anual de Português e Cultura Portuguesa. Este é o primeiro livro que escreve e publica.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Lançado livro de Cristóvão de Aguiar em homenagem a Viriato Madeira, in azores digital

O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Ricardo Silva, presidiu sexta-feira à noite, ao lançamento do livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance, da autoria do escritor açoriano Cristóvão de Aguiar e do seu irmão Francisco de Aguiar.

O livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", é também uma homenagem à memória de Viriato Madeira, falecido a 15 de Janeiro deste ano, que dedicou boa parte da sua vida à melhoria da qualidade de vida da comunidade nortenha, tendo sido presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande.

Uma homenagem que Cristóvão de Aguiar quis prestar a "um Amigo que me acompanhou ao longo da vida. Sem­pre foste um ho­mem com muitas virtu­des e outros tantos defei­tos, como qual­quer ser humano. Somos e seremos feitos do mesmo barro bí­blico", como referiu na cerimónia de lançamento.
O livro que testemunha a "amizade entre Viriato Madeira e Cristóvão de Aguiar", como diria Ricardo Silva, foi apresentado no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que naquela noite foi pequeno para receber familiares e amigos de Viriato Madeira e também o escritor. Na abertura do lançamento do livro e numa cerimónia carregada de emoção e saudade, o presidente da autarquia leu um texto que Viriato Madeira, em Maio de 2007, dedicou a Cristóvão de Aguiar, aquando de uma exposição bibliográfica do autor, que decorreu no Teatro Ribeiragrandense, inserida no programa comemorativa dos 500 anos de elevação da Ribeira Grande a concelho.

Neste texto e em traços gerais, Viriato Madeira afirmou acreditar que (…amanhã, quando a passageira alucinação e paixão pelo esoterismo passar, o seu nome ficará indelevelmente gravado na história da literatura portuguesa, com ressaibos dum açorianismo autêntico, mas sem as negativas fronteiras que tantas vezes querem impor, mas como uma parte dum todo da lusitana maravilhosa expressão escrita).
O livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", da Editora Lápis de Memórias foi apresentado por Eduardo Jorge Brum.

Em "Catarse", revela Eduardo Jorge Brum, "Cristóvão e Francisco falam de si (como indica o título "Catarse"), mas, falando de si, falam de todo um povo, esse "Outro" que é toda a gente e em cuja história nos pensamos, nos revemos, nos conciliamos".

"Catarse" e nas palavras de Eduardo Jorge Brum "é a história de S. Miguel nos anos 50 e 60 do século XX. A história de uma ilha pobre que viu os seus filhos emigrarem ou partirem para a guerra. Um passado com dois caminhos apenas: partir para recomeçar ou partir para morrer e matar".
A obra fala ainda "de amor, sentimento de inimagináveis destinos, por tantas serem as suas formas, valências, possibilidades. Nós, açorianos; nós micaelenses, vivemos e crescemos no meio de um amor, que não poucas vezes encontrou o seu alimento na agressão". Esta agressão, segundo o orador era "em nome da educação, em nome do respeito, em nome da preservação de valores. Crescemos no meio de um amor de verdasca, pontapé, bofetada. Amor de pancadaria". Mas hoje, "vivemos tempos em que o amor já não se traduz em pancadaria. Até porque a lei não o permite. Mas nos anos 50 e 60, nos Açores, bater nas crianças e nas mulheres era uma atitude comum, pelo menos nas zonas rurais. Era uma "tradição". Uma "educação".



JOSÉ GARCIA

sábado, 30 de abril de 2011

"Catarse". Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar dedicam obra a Viriato Madeira. in Diário dos Açores.

O escritor açoriano Cristóvão de Aguiar e o seu irmão Francisco de Aguiar lançam no próximo dia 20 de Maio, na Ribeira Grande, o livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", em homenagem à memória de Viriato Madeira, um ribeiragrandense que sempre lutou pela melhoria da qualidade de vida da comunidade nortenha.

O livro da Editora Lápis de Memórias é lançado pelas 21h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa cerimónia presidida pelo presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, sendo apresentado por Eduardo Jorge Brum. (Director do Semanário Expresso das Nove)

Viriato Hermínio Rego Costa Madeira, que faleceu no passado dia 15 de Janeiro, dedicou toda a sua vida profissional e pessoal pela luta por um maior equilíbrio social, pela defesa dos direitos dos trabalhadores, mesmo em detrimento de promoções pessoais e profissionais. Foi um apaixonado e empenhado sindicalista regional e nacional, e um dos fundadores da Comissão de Trabalhadores da SATA, tendo exercido, por diversas vezes, cargos na referida comissão, até à sua aposentação.

Para além disso, Viriato Madeira foi um dos colaboradores do "Primeiro Plano de Estudo Económico Estratégico" da companhia e do "Plano para a Segurança". Fez, ainda, parte da Direcção do Clube Desportivo e Recreativo da empresa.

Tendo as preocupações sociais sempre um elevado peso no seu percurso de vida, nos finais da década de 80 foi o fundador da delegação ribeiragrandense do C.A.R.A. – Clube dos Alcoólicos Recuperados dos Açores.

Um amante da leitura e da escrita, deixou o seu contributo para a literatura açoriana com textos inéditos que ainda não foram publicados, embora durante muitos anos tenho dado forma a crónicas e artigos de opinião na imprensa regional. Animou, ainda, uma "tertúlia" ribeiragrandense, com análises entusiastas dos mais variados escritores nacionais, regionais e estrangeiros.

Fez, ainda, parte do Círculo de Amigos da Ribeira Grande e, desde 2000 até à data da sua morte foi Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, tendo lutado pela construção do respectivo quartel e da piscina, novamente na senda pela melhoria da qualidade de vida de toda uma comunidade.

terça-feira, 5 de abril de 2011

De arte, precisa-se. João Boavida. In As Beiras de 5-04-2011

Há dias ocorreu no Centro Cultural D. Dinis um acontecimento de relevo: a apresentação de uma nova editora – A Lápis de Memórias – e o lançamento, com a sua chancela, de dois livros: de Cristóvão Aguiar e Francisco Aguiar, “Catarse”, de Carlos M. Rodrigues “Um homem à janela” e a reedição de “Anos de eclipse” de Jorge Seabra.



Como se diria à moda oitocentista, a luzida cerimónia esteve muito concorrida, foi abrilhantada por algumas canções da linha baladeira de intervenção, à anos 70, bem escolhidas e interpretadas e com noção da medida. As apresentações dos livros foram preclaras, pois associaram a qualidade à moderação, tanto nos adjetivos como no tempo gasto. E as intervenções dos autores, nos agradecimentos, decorreram na mesma linha, espontâneas, interessantes e curtas. Enriqueceu o evento a leitura de passagens de todos os livros, também com cuidada escolha e equilíbrio, segundo a sábia lição aristotélica, que os tempo correntes não apreciam por aí além, mas que por cá se vai cultivando. Coimbra sabe fazer estas coisas e ainda bem.



O acontecimento foi importante. Em primeiro lugar, pela novo editora. Que tem por detrás o nome de Adelino Castro, homem há muito ligado aos livros e à edição, que tem o saber-fazer destas coisas e que, ao criar, em Coimbra, uma editora vocacionada para a ficção, vem remar contra a maré. Contra o facto das editoras da cidade terem deixado, há muito, de publicar nestes domínios. Temos muita edição mas não nesta área. A Almedina e a Coimbra Editora editam sobretudo no campo jurídico, educativo e sociológico, há a interessante coleção Minotauro, de autores espanhóis, do Grupo Almedina, a Minerva, com muitas edições de autor, tem sido um respiradouro e a Alma Azul tem editado alguns clássicos e poesia. Mas é pouco. Referência obligatoria é a Imprensa da Universidade de Coimbra, que tem feito um trabalho notável, mas ainda, e como é natural, no domínio cientifico.



Uma nova editora, que entra pela literatura e com escritores de Coimbra é de louvar. E mais ainda se for ao arrepio da literatura à tonelada, que por aí anda, criando resistência à onda da literatura de sucesso e aos monopólios editoriais, que a atrofiam. É refrescante, revolucionário até e deve ser apoiada. Depois os autores. Certamente que nenhum deles aparecerá no Expresso ou no Público, apesar de um deles, Cristóvão Aguiar, ter, como se sabe, obra importante. Mas por que não há de Coimbra editar os seus escritores e mandar às malvas o monopólio dos cânones literário-centralizantes? Por que não este ato de liberdade e de rebeldia? Estando assim as coisas, isto é um ato de respiração.



Aliás, a Semana Cultural da Universidade de Coimbra deste ano – “Reinventar a Cidade” – foi sob o mote da criação artística, que se faz e se tem feito em Coimbra. E teve coisas excelentes. Poderá dizer-se que a Semana Cultural ganhou a maioridade ao assumir a criação. Alguns o têm referido, sobretudo Virgílio Caseiro: é preciso fazer de Coimbra, cada vez mais, um lugar de acontecimentos artísticos, de realizações onde a expressão inovadora seja rainha e senhora. A criação artística – plástica, musical, literária, cénica, gráfica, fotográfica, enfim, toda – não pode ficar à sombra, nem na sombra, da científica. Não o tem feito, mas tem estado numa medida menor, e é por isso que acontecimentos assim são importantes. São bons sinais de autonomia e de vitalidade. E, já agora, de descentralização cultural, tão benéfica ao país, mesmo que este o não saiba nem queira saber, como às vezes parece.

sábado, 5 de março de 2011

PRÉ-PUBLICAÇÃO: Excerto do livro Catarse - Diálogo epistolográfico em forma de romance, da autoria de Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar, a publicar em Abril próximo pela novel editora Lápis de Memórias. In Semanário Expresso das Nove, 4 de Março de 2011


I
Parto amanhã de manhã para Lisboa. Sábado que será de sol. Voo semidirecto: Pico, Lajes, Lisboa. Sempre que me vou de abalada, sinto uma ponta de tristeza e de saudade do local onde aqueci lugar durante algum tempo. A mala e a pasta do computador já se encontram no chão do alpendre da casa virada ao mar. Contemplo a Ilha de São Jorge: estende-se ao longo do meu olhar numa extensão de cerca de oitenta quilómetros. Hoje, pintou-se de azul arroxeado. Daqui a pouco, já troca de pintura, mas não é troca-tintas! Nunca usa a mesma durante muito tempo. Grande vaidosa, a Ilha em frente de minha casa! O Expresso que liga os portos da Horta, de São Roque e São Jorge, não navega: azula-se de tal maneira que já vai a meio do canal, o de Vitorino Nemésio, rumo à Vila das Velas. Enxergo o casario com nitidez e, à noite, até vislumbro a claridade dos faróis dos automóveis circulando nas estradas. O mar, um espelho. Estanhado. Bom Tempo no Canal! Ainda é muito cedo! Sou ardido no tocante a horários! A boleia só chegará daqui por uma hora, mas gosto de sentir-me em mangas de camisa dentro do tempo que me faço sobejar. Vou ainda percorrer a casa, palmo a palmo. Retiro algum prazer mórbido ao despedir-me das coisas, devagar. Das pessoas, é mais fácil! Entro de novo, subo as escadas que me levam ao sótão, o meu santuário da escrita e dos livros. Acaricio a lombada de um ou outro, endireito algum mais indisciplinado, sem vocação militar para a formatura rígida, deixo cair os olhos nas estantes de criptoméria, aliso a secretária já esvaziada do computador portátil, lanço um lento olhar em redor, na esperança de que ele fique, ali, preenchendo a ausência prestes a desabotoar-se e me dê as boas-vindas quando de novo eu chegar… Como existirão os livros sem mim, neste sótão de silêncio? Desço de novo as escadas, paro uns momentos em cada degrau, capto a sala de cima, e enterneço-me com o vidrinho de lágrima semi-inventada que me embacia os olhos.
Cristóvão de Aguiar
II
Passei a tarde em casa da filha da Flávia. A Gracinha lembrou-se de organizar uma festa para celebrar os setenta anos da mãe. Muito gostei de rever pessoas da família que há muito já não encontrava. A primeira com quem falei foi com a Telma de titia Maria da Ascensão. Está com muito bom aspecto. Todos os dias anda três milhas ao longo do passeio das ruas, para não ter de tomar medicamentos para a diabetes. Depois, falei com a irmã, a Maria Manuela, a Mané em família. Já não a via há muito tempo. Creio que desde que a Mãe faleceu. Convidou-me que fosse, um destes dias, a sua casa. Vive na mesma casa da filha, a Rosalinda. Diz que gosta muito de lá morar e não sente falta nenhuma da cidade de onde saiu.
Disse-me que o Humberto, o marido, não fala com ninguém. Vive numa rua sem saída e não há um conhecido com quem possa conversar. Queixou-se muito dele. Já não parece o mesmo. Tornou-se como a mãe, recadento, intenica com tudo e com todos. E continuou: "Já viste, Fernando, tenho de aturar, na minha velhice, o filho do Jaime Pardalito: é a comida que tem sal a mais, a roupa que está mal corrida; se faço massa sovada, diz logo que só vou acabar à meia-noite; mesmo assim, agora que o tempo melhorou, vai para o quintal - é um descanso. Eu bem que lhe digo: 'És igual a tua Mãe: mezinha, recadento, nunca me dás o valor'; responde-me que eu estou sempre a falar da Mãe: 'Pois então, se ele é igual a ela…'. A mãe teve de ir para o asilo dos velhos, ninguém a podia sofrer em Santa Luzia: sempre que as vizinhas lhe iam levar comida, ela respondia: 'Põe-me esta comida pelo cu a cima'. À noite, entretenho-me a ver a telenovela, mas é uma telenovela sem desdão nem tarelo… E é assim, meu rico Fernando José, esta vida não vale nada. O Humberto fala, fala, mas nunca lhe respondo, já não me apetece falar, quero o meu sossego; na outra cidade sabe-se tudo, um nunca mais acabar de enredos; agora, estou para aqui em paz…".
Teodora do José Anastácio: "Já estou casada há cinquenta e cinco anos, sempre com o mesmo homem: anda cada vez mais teimoso, fuma que nem chaminé, quer saber os mexericos todos, anda meio despercebido, uma desgraça. Também vejo a telenovela, mas não tem nenhum tarelo.".
José Anastácio: "Eh, Fernando, há tanto tempo que não te vejo, andas sumido por aí; tanto que trabalhaste; ainda estou por saber como é que ias à Ilha, estavas lá duas horas e, a seguir, regressavas a Boston; muito labutaste tu pela vida; o teu irmão Francisco também já tem a sua idade, ele está bom? Se calhar, a gente não se vai ver mais: vou fazer 78 anos para Novembro, não é brincadeira nenhuma. Custa-me saber que vou morrer."
Jesualdo: "Hoje a Ricardina fazia oitenta e sete anos; sem ela, vivo numa tristeza muito grande; os meus filhos fazem muito caso de mim, quase todas as semanas vou para casa deles; o Emanuel já fez sessenta e dois anos; em Julho, faço eu oitenta e nove; meu pai morreu aos cento e um, pode ser que eu também aguente até lá. Proibido adivinhar. Gostava de saber a tua opinião sobre um assunto que me tem posto a cabeça numa arredouça: tua Mãe morreu muito antes da Ricardina. Eram amigas e primas; todas as semanas iam juntas fazer compras; achas que elas já se encontraram lá em cima? Tenho na minha que sim, já estão juntas…"
Maria Josefina: "Vivo sozinha naquela casa, sem ninguém com quem conversar; o meu filho mora no Havai, veio visitar-me em Novembro passado. Agora, só vem daqui a meses, se vier…"
Salvador da Telma da tia Maria da Ascensão, em diálogo com o Fulgêncio Seco: "Ontem, no telejornal da RTP I, só falaram do José Saramago; ele tem a alma no inferno; que corisco homem era aquele?!"
Fulgêncio: "Sempre foi um homem muito controverso, contra tudo e contra todos, nunca estava satisfeito; os livros dele, quem os entende?"
Maria Lúcia da tia Maria da Ascensão: "Eh, Fernando, regalo-me a comer: desde que me levantei de manhã cedo, não meti nada no bucho para chegar aqui e consolar-me a comer…"

Francisco de Aguiar
4 de Março de 2011

sábado, 28 de agosto de 2010

PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, A PROPÓSITO DE CÃES LETRADOS, por Carlos Alberto Machado

PELA ILHARGA ESQUERDA – SOBRE A ESCRITA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR,

A PROPÓSITO DE CÃES LETRADOS1

por Carlos Alberto Machado

AS PALAVRAS

As palavras armazenam-se como ladrões maduros

São flexíveis à memória são marinheiros em terra

Acontece dizer: levantem-se e caminhem

Mas quem somos e que hábito envergamos?

As palavras entontecem

Quando dispersas levantam rumos vários.

Zeca Afonso, Poemas e Canções

I shall never get you put together entirely,

Pieced, glued, and properly jointed.

(Nunca conseguirei juntar-te todo,

compor-te, colar-te e unir-te devidamente.)

Sylvia Plath, The Colossus (trad. Maria de Lourdes Guimarães)

[embaraço]

Falar de alguém. Falar sobre o que alguém escreveu. Em público. “Sempre que alguém me faz essa intimação fico sem saber aonde pôr as palavras. (…) Não sei onde as pôr. Rodo-as, camponesamente, entre as mãos, como o aldeão ao chapéu em casa de gente de cerimónia.2” Mas avanço. Fecho os olhos e avanço com uma voz inventada, “em punhal, de encontro ao lugar comum do peito, a ilharga esquerda.3” Nossas debilidades – ou fortalezas.

[inquirição]

Não irei “inquirir acerca das [suas] origens, das raízes que [o] fascicularam pela vida fora. De como foi possível arrancá-las e carregá-las depois na carroça de outro destino. Se houve ou não uma raiz literária que [lhe] deslavou a vida com metáforas…4”

1 Editora Calendário, 2008.

2 M/CS: 168-169.

Aconselho já os leitores a não se preocuparem em seguir as origens das chamadas para notas de rodapé, pois apenas distraem a leitura, que se quer proveitosa – a esmagadora maioria delas são, como se explicará, de Cristóvão de Aguiar.

3 M/CS: 164.

4 PT: 171.

Não. Escolhi o fascínio de viajar pelas palavras de Cristóvão de Aguiar – e é esse fascínio que desde logo afasta qualquer intento bisbilhoteiro. Empreendo a viagem, humildemente, com a esperança de poder sentir o que de outro modo seria impossível sentir: os encontrões inadvertidos das suas palavras, as suas lâminas ainda demasiado afiadas e a sua dureza rude – as suas palavras ainda antes de serem matéria narrativa, as palavras antes de (aparentemente) estabilizarem no devir das linhas paralelas de um texto.

[ideias]

Sinto que neste preciso momento devo partilhar convosco umas poucas ideias que hão-de evoluir por aí abaixo e, a modos de jangada, nos manterem à tona do entendimento: – a escrita não é encarada como “distracção”, divertimento” ou “habilidade circense”, para isso, procure-se na Internet um qualquer “professor Marcelo”; – “Por trás de cada linha ou verso escrito, muita dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E sofrimento.5” A escrita de Cristóvão de Aguiar exige dele, então, dor e sacrifício – mas não necessariamente do leitor, pergunto? “Quem escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais intensidade, na arena de desforço onde a memória aguça e esgrime as suas armas de ataque e de defesa…6”; a memória, ainda: mesmo para haver algo de novo a dizer, é preciso “que se desça aos infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há) de original, no sentido de que é só nosso.7”; - e, tão importante, o esforço persistente à procura da perfeição inalcançável, demanda sem descanso, polindo “cada palavra ou frase que consert[a] na bigorna da perseverança. E da paciência.8”

5 T: 15.
6 T: 15.
7 T: 15.
8 TT: 97.

[a procura da perfeição]

Retomo: Cristóvão de Aguiar diz-nos quase até à exaustão: a escrita é coisa de causar “instantes de um prazer rasante à dor”9. Não se trata aqui, obviamente, de querer elevar o acto criativo a coisa divina, de considerar a escrita como matéria exclusiva de eleitos ou de iluminados. Não. Cristóvão de Aguiar sabe, como poucos, do que se trata: de uma procura daquilo que sabemos, tragicamente, não se poder alcançar – é o que nos diz, por palavras semelhantes, Eduardo Lourenço, a propósito de uma possível definição de poesia e da sua inevitável tragicidade. Cristóvão de Aguiar, artesão honesto e honrado do dizer escrito, não pode deixar de o saber e de o sentir, e de o dizer descarnadamente: “Penélope desfazia para enganar os pretendentes. Eu para iludir o tempo e procurar uma perfeição que nunca se deixa apanhar. Situa-se sempre um pouco mais além.”10. Marca maior da sua escrita é a que releva da sua consciência aguda de ser uma nova “Penélope de pacotilha11”, nesse interminável fazer e desfazer os fios da vida e da escrita, em “constante dobadoira a remendar e a estraçoar os livros que componho com muito trabalho e suor” – palavras suas12. Uma luta “agónica para atingir a perfeição da escrita”, como acentua Eloísa Alvarez, na apresentação de A Tabuada do Tempo.

[afectos]

É agora o momento de dizer que Cristóvão de Aguiar, ao mesmo tempo que expõe e se expõe no labor miudinho de entrelaçar vida e literatura, demarca-se com clareza dos “marajás da crítica13”: “só eu é quem sabe as linhas com que coso ou cozo a minha escrita…”14. Por vezes é preciso dizer as coisas com os nomes certos: “Os escritores passam a vida, por via da inspiração, a roer em público o plástico traseiro da esferográfica. Os críticos fazem os seus biscates semióticos, e acabam por publicar autênticas peças sinfónicas em si maior – a chamada crítica em si.15”

9 TT: 318.
10 TT: 97-98.
11 CL, Nota Prévia: 9.
12 CL, Nota Prévia: 9.
13 Eduardo Lourenço, “Ficção e realidade da crítica literária”, in Eduardo Lourenço, O canto do signo. Existência e
literatura (1957-1993), Lisboa, Presença, 1994: 15 [A situação do crítico pareceu-se durante séculos à do marajá caçando o tigre real do alto da torre confortável e segura de um elefante.]
14 CL, Nota Prévia: 9.
15 PT: 162.
Num pequeno texto da década de cinquenta, Maurice Blanchot16 reflecte sobre a necessária impureza da crítica e em como nessa impureza se revela justamente a sua razão de ser. Se as obras são de uma infinita solidão, como dizia Rilke, nada há de pior para elas do que a crítica ao chamar a atenção sobre as obras, ao fazê-las sair desse ponto de fascinante discrição onde elas se formaram e onde gostariam de se fechar, ao abrigo de toda a curiosidade pública. Mas a crítica é uma força que passa rápida e na força da sua soberania introduz, sem precauções, as obras nas mãos do mundo. A essência do crítico moderno é ele estar ligado ao instante, à acção, ao quotidiano fugitivo, à instantaneidade. O crítico não deve ter arte própria nem talento pessoal, ele não deve ser o centro. É certamente um olhar, mas um olhar anónimo, impessoal, vagabundo. A obra, na sua intimidade fechada, é ciumenta, desejosa de negar o exterior: a tarefa da crítica não pode deixar de ser a de seu antagonista. Mas para contrariar a obra de arte, a crítica deve ao mesmo tempo aproximar-se dela, de a compreender, de a trair, não porque não a compreenda, mas exactamente porque ela é um esforço muito grande de compreensão. Mas a interpretação mais fiel é também a mais infiel, porque ele expõe completamente a obra à verdade do dia banal quando a natureza da obra é a de escapar à verdade.17 No fundo, aquilo que é a verdade da obra é inalcançável ou não existe. Como sublinha Eduardo Lourenço, o “(…) discurso dos outros só se aproximará da verdade da obra se tomar consciência da sua impossível formulação da verdade, ou da sua nãoverdade essencial”.18
Isto ajuda-me a dizer que nesta “apresentação”, como já se deverá ter percebido, não assumo o papel do crítico todo-poderoso, do crítico dono-da-verdade. Contudo, falar de alguém ou de uma obra é sempre um falar-sobre. Ora, este falarsobre assume também ele o risco da interpretação, o risco de dizer, mesmo sem o dizer: isto quer dizer aquilo. Como a ultrapassagem ou a fuga a este estigma será improvável, há quem escolha, como eu, dizer claramente duas coisas: a primeira, é a 16 Maurice Blanchot, «La condition critique», in Trafic, Revue de Cinéma, Paris, nº 2, Printemps 1992: 140-142. O texto foi originalmente publicado em L’Observateur, nº 6, de 18 de Maio de 1950. 17 Extracto do meu livro Teatro da Cornucópia. As Regras do Jogo, Prefácio de Alexandre Melo, Lisboa, frenesi, 1999.
18 José Gil, “O ensaísmo trágico”, in José Gil e Fernando Catroga, O ensaísmo trágico de Eduardo Lourenço, Lisboa,Relógio D’Água, 1996: 14. de que se está a falar de uma obra ou de um autor de quem se gosta – o que desde logo afasta qualquer máscara de “imparcialidade”; portanto, já fui, e serei, “parcial”,
é, pois, uma questão de afecto; a segunda, é que este falar, mesmo a “favor” do autor e da obra, é sempre um falar de um indivíduo que, como defende António Pinto Ribeiro, está historicamente situado, porque “toda a escrita sobre arte (…) é sempre determinada pelo local e pela época precisos em que é produzida, ou seja, deriva do ‘estado do sítio’ em que historicamente aconteceu.”19. «O que transportará consigo (…) o escritor que escreve sobre objectos ou situações de arte? Tudo o que ele próprio é e tudo o que sabe. Transporta consigo um conjunto de dados, determinados pontos de vista, um número limitado de preconceitos, algumas estratégias de análise o sexo, a sua sexualidade, algumas crenças (…).”20; portanto, este escriba que aqui hoje vos fala da obra de Cristóvão de Aguiar é um ser, como todos nós, sujeito às mesmas boas e más consequências de estar vivo e estar vivo num determinado local e numa determinada época. Por isso… Então, o que para trás ficou dito e o que se seguirá é, tão só, um testemunho de leitura – valha isto o que valer – e um desafio de partilha: muito de que aqui vos digo é dito através das palavras concretas de Cristóvão de Aguiar. Como alguém disse, a melhor crítica de um texto é o mesmo texto dito em voz alta.

[maravilhamento]

Os obras de Cristóvão de Aguiar são de uma enorme riqueza vocabular – que não se restringe ou deixa armadilhar em regionalismos, tenham eles deitado raízes atrás dos séculos ou não –, de muito variadas fontes, e passadas pelo filtro finíssimo do homem que sempre considerou “a escrita [como] a única maneira válida de [s]e apresentar documentado na vida.21” Mas este rico e variado universo vocabular nunca por si só faria literatura. O que seguramente aí nos atrai e maravilha é a desconcertante variedade de danças com que esse mundo imenso de palavras nos brinda, um aluvião de combinatórias que têm também o condão de evitar mostrar-nos os seus modos de fazer, 19 António Pinto Ribeiro, «Novas lógicas, novos sentidos», in Maria de Lourdes Lima dos Santos (coord.), Cultura e economia - Actas do Colóquio realizado em Lisboa, 9-11 de Novembro de 1994, Lisboa, Instituto de Ciências Sociais, col. Estudos e Investigações, nº 4, 1995: 91-96.

20 Idem, pg. 91.
21 RL-I: 304.

os seus esqueletos ou ossaturas – mas não evita, para nosso prazer, de mostrar a sua presença como distanciamento irónico, como por exemplo naquele que é para mim uma obra notável de inventividade, Passageiro em Trânsito: “(…) Afrânio (…) esgueira-se com certeza para as linhas desta escrita.” (33); “(…) tenciono ainda apanhá-lo no alto mar, se o tempo e a prosa estiverem de ficção.” (102). “(…) Agora vou puxar o senhor Afrânio padrinho para dentro do rego desta história.” (103) Resistindo, então, à vaidade de nos mostrar as suas habilidades construtivas, Cristóvão de Aguiar dá-nos em oferenda fluxos de palavras sem sobressaltos, dorsos nem sempre dóceis de sons e sentidos que nos impelem a viajar para espaços de ser até aí sequer imaginados. Mas surge sempre uma ocasião em que um pequeno escolho interrompe a marcha e então voltamos atrás para refazer caminho – que nunca se repete. E a cada regresso os trilhos aparentemente conhecidos fazem-se outros. E depois de muito caminhar cada palavra torna-se uma pedra em que nos refazemos e refazemos o mundo. E depois ainda deixamos de saber afinal que “história” ele estava a contar-nos e é então quando se dá em toda a sua magnificência o “alumbramento” da palavra, quando ela tem o atrevimento de querer ser, na qual e pela qual a vida se dá a partilhar.

[a construção de si]

Cristóvão de Aguiar desce “aos seus infernos do íntimo” e lá “escarafuncha o que lá é mais original”, no sentido do que possa ser apenas seu. Tal como Dom Quixote desce à caverna de Montesinos e de lá sai, vitorioso, com uma “história” que é só sua, assim faz Cristóvão de Aguiar quando desce ao seu “inferno íntimo”22. Embora aos olhos dos incrédulos “sanchos” estas “histórias” possam ser alucinações ou mentiras, o que é certo é que as “histórias” de ambos são na verdade absolutamente verdadeiras. E são-no porque pertencem a um outro patamar, a outra natureza, aquela que advém de uma paciente, e tantas vezes dolorosa, fabricação de si mesmo. Um homem – Miguel de Cervantes ou Cristóvão de Aguiar – elabora milhares de páginas escritas que mais não são que um processo de criação e de união de pontos que apenas no fim da obra justificam um nome. Cervantes no Dom Quixote não criou a figura, “Dom Quixote”, 22 Creio que Cristóvão de Aguiar é, aliás, leitor assíduo de Cervantes e do seu Quixote: ver por exemplo: TT: 73. mas sim a figura “Miguel de Cervantes”, tal como Cristóvão de Aguiar faz desde a primeira Relação de Bordo até a A Tabuada do Tempo – apenas para referir a sua escrita diarística, mas que a ela não se restringe. Com todos os livros que escreveu, não é apenas o trabalho laborioso da escrita em busca de uma impossível perfeição – de escrita e de literatura. O que sempre demandou, e ainda demanda, creio, é a sua própria (impossível) perfeição como ser humano, como homem. Mas isto não no sentido de algum dia vir a descobrir quem (na verdade) é, como se se tratasse de um tesouro ciosamente escondido por Deus, não. Não é um “procura-te e encontra-te”, ou um encantatório jogo infantil de “escondidas”, não. Trata-se, pelo contrário, de um processo de construção, no qual são usadas matérias bem à mão de semear: as palavras e a memória, mas uma memória que não se limita a rondar escaninhos mais ou menos obscuros do passado e a reavivá-los, mas uma memória que opera processos recombinatórios do vivido, os escolhe e monta e remonta sob um prisma que não é apenas devedor de uma hipotética verdade pessoal (e, no caso de Cristóvão de Aguiar, familiar). Imaginemos que a nossa vida certo dia se fragmentava em milhares de minúsculos pedaços e que nos era oferecida uma derradeira possibilidade de voltar a fazer deles um ser – de preferência cada um de nós mesmos em “versão aperfeiçoada”... – isto é, algo que de alguma forma voltasse de novo a fazer sentido. Sem livro de instruções – apenas Deus tem o seu e usou-o para fazer o mundo – que ou quem nos guiaria nesse empreendimento? Juntar às cegas os pedaços? Ao acaso? Cristóvão de Aguiar resolveu seguir outra “instrução”: a cada pedaço colou um nome, uma palavra; depois, foi experimentando juntar cada destes pedaços uns a seguir a outros, experimentou sequências curtas e longas; repetições; retornos; alguns pedaços foram abandonados ou desperdiçados, outros alcandorados a chaves-mestras das sequências de nomes e palavras, algumas delas novas, outras com novos usos que as posições relativas lhes ofereciam. Muito tempo demorou ele a fazer nova configuração dos fragmentos estilhaçados da sua vida – provavelmente ainda e sempre incompleta. Ou com tantas faces quantas lhe pode oferecer cada volta completa da roda de oleiro.

[obsessões]

Não gostaria de lhe chamar obsessões, mas por vezes parecem-se com isso. Algumas delas foram já afloradas, tais como a busca da perfeição, a busca da sua própria construção (ou a sua identidade, se se quiser), e a sua relação com a crítica. Acrescento à digressão uma espécie de montagem com as palavras do autor – as suas obsessões ou inquietações –, extraídas daquela espécie de oficina de escrita que é toda a sua produção diarística: o escrever-se com a plasmação da sua memória (de elefante); o incansável labor sobre a matéria palavra (rigor, precisão, esforço, dor, angústia, depressão, júbilo…).
Permitam-me chamar aqui uma voz que o próprio Cristóvão de Aguiar convoca para o seu primeiro Relação de Bordo: o poeta Joaquim Manuel Magalhães. É, para mim, este belíssimo poeta que, de tudo o que li sobre o nosso autor, aquele que, precisamente como poeta, isto é, como cúmplice da escrita, mais luz nos oferece para ler Cristóvão de Aguiar ainda com mais prazer. Diz ele – e desculpem-me a citação longa: “Um romance que parta da ligação entre um local de comportamentos e um contínuo fluxo verbal, desenfreado de memória, enternecido de situações e carregado de um ritmo transbordante não podia deixar de agradar mesmo a quem não lê um romance a não ser com uma certa distância. Fascinou-me muito mais o seu romance que Casas Pardas da Velho da Costa ou Directa de Nuno Bragança. A sua “istora” (termo sedutor) de reminiscências é muito importante. Deixe-me acentuar três pontos: – lembrou-me o António Manuel Pires Cabral a sua “matança” açoriana. Lembrou-me porque gostei muito de ambas; a emigração, dada sem demagogia nem complacências, antes como ir-se embora, com a consciência dos limites económicos duma colectividade; – a poesia narrativa dos corpos, dos desejos, das células familiares. – O processo: um encadeamento, menos narrativo que designativo da situação; quero dizer, o que conduz a istora não é um enredo, mas impulsos organizados a partir de momentos da memória, ligado sempre a situações sociais e comportamentais.”23 “Sinto pavor à morte.24”, diz Cristóvão de Aguiar. E quando a sua avó Hermínia ainda em vida se despede dele como se estivesse morta, ele fica “sem saber onde pôr as
23 RL-I: ???.
24 RL: 310.
palavras (…).25” Toda a sua escrita está marcada desde muito cedo, aliás, por este pavor, como ele próprio regista em nota de diário datada de 7 de Abril de 1965, quando escreve sobre a sua intenção de publicar o seu primeiro livro, de poemas: “(…) se morrer na guerra fico com descendência.26” (o livro, entenda-se). “Sempre tiveste um medo pânico da morte.27”, diz, mais tarde, de si para si.
O sofrimento de Cristóvão de Aguiar não é, seguramente, motivo de autocomiseração ou de exibição gratuita, mas não pode nunca deixar de gritar quando a dor lhe dói, e, quando alguma vez deixou de a passar a escrito, vem o inevitável queixume: “(…) talvez tivesse ficado com menos agrafos no corpo e decerto menos agravos na alma.28”
Para Cristóvão de Aguiar, escrever é na verdade um modo de se resolver,29 e é deste modo que ele o exprime: “(…) o modo de te resolveres por escrito (…)”. Que é como quem diz, uma espécie de renascimento. Como creio que já vos disse, em Cristóvão de Aguiar trata-se sempre, ou quase sempre (é preciso ter cuidado com as certezas), de uma eterna renovação: “É urgente reconstruíres-te. Trasfegares-te como teu avô fazia ao vinho novo. Desentulha-te dos montes de destroços e ruínas que te impedem o acesso à unidade original, à clarividência dos gestos, à limpidez da entrega. O melhor é escreveres-te. Necessitas de palavras. De muitas palavras em brasa, amadurecidas, capazes de te limpar de uma vida que se te azedou. Colhe o fruto sazonado que o tempo põe todos os dias ao teu alcance…30” O seu ofício é um “ofício de trevas31” E a divisa de Goethe poderia ser a sua: “Se tens um monstro, escreve-o.32” Para ele, “Escrever é um acto solitário, de introspecção profunda (…) não se compadece com o sol brilhante da chamada felicidade. Exige, sim,25 RL-I: 38. 26RL-I: 39. 27 T: 17. 28 TT: 195, sobre dever ter escrito há mais tempo sobre a sua dor da ausência do filho mais moço. 29 RL-I: 308. 30 T: 23-24. 31 RL-II: 110. 32 RL-II: 150. um estado psíquico de penumbra, situado entre a saúde e a doença, entre a mágoa e uma alegria meio triste. Era este o estado tranquilo que eu gostava de alcançar.33”, um “(…) estado de doce tensão interior (…)34” Apesar da sua persistência, não são poucos os momentos de desânimo, na sua procura incessante de perfeição: “O que tenho andado escrevinhando neste caderno mete-me nojo. Aliás, tudo quanto tenho feito ultimamente em matéria de escrita me desgosta.35” E nos piores momentos “Cresce-[lh]e a alma de um só lado.36” “Já não tenho que escrever. Fui esgotando o que julgava haver em mim depositado, à espera de uma inteligência que lhe desse uma ordem, um rumo, um vazão. Mas, também ela, me tem sido curta e madrasta – não lhe soube dar o uso e o óleo que ela requereria. E as coisas, como se sabe, embotam e embrutam por falta de serventia.”37 E desabafa: “(…) nunca acerto com a justa medida.38” “O ofício da palavra rende pouco e dá suores de aflição. Trabalhar. Trabalhar.39”
Não será estranho ouvir dizer a alguém tão perfeccionista: “(…) tenho pavor às palavras. Não sei se sabes que elas têm o condão de transfigurar coisas e criaturas. Bafeja-as de um sopro de vida verdadeira, transformando-as em seres de um outro mundo mais real e plausível do que este. Só de íntimo lavado e de ânimo aquecido consigo abeirar-me da palavra, quer para lhe rasgar o ventre, arredondar-lhe o corpo, afiar-lhe os gumes e os cumes, quer ainda para com ela travar uma luta, a que, não raro, só os alvores da madrugada vêm pôr ponto final. Nunca para adulá-la, porque, se o silêncio é de ouro, de mais valioso ouro será ainda a palavra gerada, amadurecida e parida na maternidade do verbo.”40

33 TT: 88.

34 TT: 78.

35 RL-I: 325.

36 RL-II: 106.

37 RL-II: 72-73.

38 TT: 37.

39 TT: 304.

40 RL-I: 340.

Cristóvão de Aguiar sabe que “(…) não po[de] negar que, por vezes, encontr[a] na escrita uma certa paz interina. Mas dá-[lhe]e também muita guerra…41” “Por trás de cada linha ou verso escrito, muita dor sublimada se encontra latente. E sacrifício. E sofrimento. Claro que já sofreste. E a maduridade e a distanciação? Quem escreve, disse alguém, escreve-se. (…) Recria-se a partir do intimamente vivido. Ou do revivido, ainda com mais intensidade, na arena de desforço onde a memória aguça e esgrime as suas armas de ataque e de defesa… (…) Exageras… Há sempre alguma coisa nova a dizer. É mister que se desça aos infernos do íntimo e se escarafunche o que lá possa haver (e há) de original, no sentido de que é só nosso. Tudo isto leva tempo, muito tempo. Tens de atravessar vastos desertos, sofrer muitas angústias, derramar suor em abundância. (…) Nada te detém quando galopas à garupa da imaginação e da fantasia.
Desde que te fervilha um poema ou uma história, pedindo forja, grosa e o demais ferramental com que a escrita se afeiçoa (…).42” Mas é “Caprichosa, a escrita. Deleita-se em vingar-se de quem dela se abeira de coração inseguro e de mãos limpas.43” Pacientemente, embora às vezes se sinta “(…) enjoado do mar encapelado em que a escrita se transforma (…)44”, Cristóvão de Aguiar persiste no seu trabalho interminável “de coligir, podar e limar centenas de páginas (…)45”, de as “ir colocando, obedientes, dentro do sistema nervoso da frase.46”, labor que noutras ocasiões parece descoroçoante: “(…) seis magras páginas em sete horas e picos de severa aplicação (…)47”; “Aqui em frente do ecrã do computador há não sei quanto tempo e sem conseguir pescar uma palavra das muitas que sinto correr pela ribeira que nasce e desagua em mim.48”; “[um dia em que] (…) só escutei as minhas vozes de dentro, quase sempre muito exigentes e duras comigo, não têm a mínima condescendência nem transigem um cisquinho no que diz respeito ao trabalho de escrita e a outros pontos da gramática de viver.49”

41 TT: 195.
42 T: 15.
43 TT: 17.
44 M/CS: 171.
45 TT: 74.
46 RL-I: 262
47 TT: 111.
48 TT: 72.
49 TT: 96.

[este livrinho]

“Os textos que compõem este livrinho, que ora vos apresento, foram extraídos, com ligeiras alterações, de vários livros meus [boa parte deles, por exemplo, d’A Tabuada do Tempo e de Ciclone de Setembro] onde essas histórias sobre cães e cadelas se encontram — os inseparáveis e afectuosos companheiros da minha infância e juventude.”50. Esta pequena declaração de Cristóvão de Aguiar pode servir-nos como guia de leitura de toda a sua obra. Em poucas palavras direi que se trata do complexo entrelaçar, quase promiscuidade, entre a escrita dita diarística e a escrita de ficção. É sempre Cristóvão de Aguiar homem/escritor que nesses dois registos se encontra e desencontra. De tal maneira e tão radicalmente o faz que diria que, com essa atitude, é a própria fronteira de géneros que se esbate, ou, num certo sentido, se clarifica e aprofunda aquela que para muitos é a mais forte possibilidade (ou validade) da narrativa ficcional: a implicação autobiográfica como derradeira possibilidade. Esta perspectiva, sobreleva e arrasta outra questão, que é a da tendencial anulação de fronteiras entre o real e o ficcional, isto é, de fazer derivar a diferença para outro patamar, onde são bem distintos os valores em causa, como seja, por exemplo, a possibilidade de considerar igualmente o real sensível como algo que se constrói autoralmente, e, assim, ser possível modelar o experienciado e o imaginado com as mesmas regras que a ficção utiliza.
Isto que parece apenas teoria é absolutamente claro na prosa de Cristóvão de Aguiar. Hei-de dar-vos um exemplo no final destas notas quando vos ler um trecho de um dos seus livros e vos convidar a reflectir a que tipo de obra do autor ele pertence. E acrescento ainda isto, que é claro e público: o primeiro Relação de Bordo, livro em jeito de diário que relata os anos 1964-1988, foi pacientemente escrito nos finais da década de 1990, com o auxílio da sua prodigiosa memória, de notas de época, cartas e, acrescento eu como óbvio corolário, do uso da mesma oficina em que se fabrica toda e qualquer ficção. “A minha escrita tem de ser coada pela memória afectiva.51” “Tenho de facto facilidade em me transportar a outras épocas da minha vida
50 CL, Nota Prévia: 10.
51 RL-II: 42.

e revivê-las quase com a mesma intensidade com que as vivi. Basta-me um incentivo que incendeie a memória.52”, diz-nos o autor com toda esta clareza. Os diários ou quasediários Relação de Bordo I e II, Nova Relação de Bordo e A Tabuada do Tempo são exemplares e eloquentes. Tal como as ficções Passageiro em Trânsito, Trasfega e Ciclone em Setembro. Podemos talvez dizer isto: Cristóvão de Aguiar é tão verdadeiro nuns como noutros livros. E a literatura ficcional é tão excelente tanto nuns como noutros. Ele sabe que as suas razões são “(…) razões que, por serem imaginadas, correm o risco de se tornar verídicas…53”
Os contos de Cães Letrados são, como disse, extraídos de vários livros do autor: e não errarei muito se afirmar que mais de metade destas pequenas ficções pertencem…aos seus livros ditos não ficcionais – os diários. Quem leu os livros anteriores só tem a ganhar em ler esta sequência – como nova. Aos leitores que só agora chegam ao mundo de Cristóvão de Aguiar, Cães Letrados é um saboroso aperitivo, recheado de bons sabores e bem nutrientes! Os contos podem agrupar-se em dois latos conjuntos: um, integra as estórias que o autor nos diz que vivenciou (mas só ele saberá a verdade – ou não…); outros, em que os cães são vestidos com um pêlo mais alegórico e por aí ironizam com figuras (supostamente não caninas) – cães polícias e polícias cães, cães universitários… – que todos podemos facilmente reconhecer no nosso quotidiano. Para Cristóvão de Aguiar, os cães têm sido “(…) povoadores de solidões acumuladas.54” Boa companhia, portanto. E agora, peço a vossa atenção para o trecho de que vos falei.

[prazer rasante à dor]

“A vontade de escrever sentida não me é bissexta como a escrita; só quando, nos anos do rei, executa a dança do ventre me caem todas as defesas: deixo então de lhe resistir e fico nela enleado como aranhiço em sua própria teia; nesses instantes de um prazer rasante à dor, sinto-me mais rente a mim e acareado por ela (…), atraindo-me
52 TT: 74-75.
53 T: 77.
54 NRL: 211.
para jogos preliminares do banquete dos sentidos que se vai seguir; não sei deslindar qual deles será o mais cativante, talvez ambos, assim como se torna impossível delimitar as fronteiras dos moldes em que será vazada a massa ígnea com que vou lavourando as palavras para se transfigurarem em magma e escrita, ou escrita de magma, cada extrema crescendo para a vizinha, invadindo-se reciprocamente, derriçando-se ou eriçando-se, acasalando-se por amor raramente espúrio, rumo a uma  nebulosa cada vez mais espapaçada de sombra na qual só cabe a morte total de todas as balizas entre suas terras comarcãs. Cuidado, porém: a morte traz no peito uma carta de alforria, no sítio exacto da cicatriz ficada do recontro; nessa sintonia vai originar-se uma ressurreição seguida de outro aniquilamento, e assim por diante, até a nebulosa se tornar no cerne de toda a escrita, sem castas nem marcos, sem sentinelas nem espias.55”

Lajes do Pico, 17 de Dezembro de 2008

ABREVIATURAS DA OBRAS DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR UTILIZADAS:
CL = Cães Letrados, s/ l., Calendário, 2008
M/CS = Marilha (Ciclone de Setembro), Lisboa, Dom Quixote, 2003
NRB = Nova Relação de Bordo, Lisboa, Dom Quixote, 2004
PT = Passageiro em Trânsito, Lisboa, Salamandra, 1994
RB I = Relação de Bordo (1964-1988), Porto, Campo das Letras, 1999
RB II = Relação de Bordo II (1989-1992), Porto, Campo das Letras, 2000
T = Trasfega, Lisboa, Dom Quixote, 2005
TT = Tabuada do Tempo, Coimbra, Almedina, 2007
55 TT: 318.

CARLOS ALBERTO MACHADO, poeta, dramaturgo e ensaísta

segunda-feira, 23 de março de 2009

APRESENTAÇÃO DA OBRA CHARLAS SOBRE A LÍNGUA PORTUGUESA, 25 de Março 2009, às 18h 30m, Almedina Estádio Cidade de Coimbra.

O Autor, Cristóvão de Aguiar, e a Almedina têm o prazer de convidar V.ª Ex.ª para a apresentação da obra Charlas sobre a Língua Portuguesa. Alguns dos deslizes mais comuns de linguagem

A apresentação realizar-se-á na quarta-feira, dia 25 de Março, pelas 18h30, na Livraria Almedina, Estádio Cidade de Coimbra.


A obra será apresentada por Regina Rocha (Linguista e professora de Português e Literatura na Escola Secundária de José Falcão, em Coimbra)

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

Cães Letrados. Apresentação fnac: Hoje, 01.12. SEG 22H00 Mar Shopping; 04.12. QUI 18H30 Colombo; 06.12. SAB 17H00 Coimbra Fórum


Apresentação

CÃES LETRADOS




04.12. QUI 18H30 Colombo
06.12. SAB 17H00 Coimbra
08.12. SEG 22H00 Mar Shopping

SINOPSE:
Um magnífico livro de histórias sobre cães.
Histórias comoventes, onde aprendemos coisas extraordinárias destes nossos amigos.
Por exemplo: sempre que quisermos um cão idóneo devemos adoptá-lo entre a família dos vadios de primeira geração - só estes possuem capacidade para serem amigos de verdade e dar tudo pelo dono que o escolheu.
A apresentação de Cães Letrados, em Coimbra, conta com a presença do autor e de Leocádia Regalo.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Cães Letrados, de Cristóvão de Aguiar, apresentação de Carlos Alberto Machado, na Câmara Municipal das Lajes do Pico. 17 de Dezembro, pelas 21 horas.

CRISTÓVÃO DE AGUIAR é um dos grandes nomes da literatura açoriana de todos os tempos. Em 2006, teve homenagem nacional por ocasião da passagem dos seus 40 anos de vida literária.Mãos Vazias, poesia, é a sua primeira obra, saída em 1965. Contudo, é na prosa – romance, conto e diarística – que mais se tem distinguido. A sua trilogia romanesca Raiz Comovida valeu-lhe o prémio Ricardo Malheiros, da Academia de Ciências. Relação de Bordo, cuja trilogia foi completada em 2004, foi distinguida com o Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores, e o livro de contos Trasfega recebeu o Prémio Nacional Miguel Torga. É ainda autor de muitas outras obras, como O Braço Tatuado (sobre a guerra colonial), Ciclone de Setembro, Grito em Chamas, Passageiro em Trânsito, Marilha, Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia e A Descoberta da Cidade.
SINOPSE:
Um magnífico livro de histórias sobre cães.
Histórias comoventes, onde aprendemos coisas extraordinárias destes nossos amigos.
Por exemplo: sempre que quisermos um cão idóneo devemos adopta-lo entre a família dos vadios de primeira geração - só estes possuem capacidade para serem amigos de verdade e dar tudo pelo dono que o escolheu.

domingo, 18 de maio de 2008

FNAC FORUM COIMBRA 2008, 31 de Maio às 17h00, Apresentação do livro "Braço Tatuado Retalhos da Guerra Colonial" de Cristóvão de Aguiar.














BRAÇO TATUADO Retalhos da Guerra Colonial de Cristovão Aguiar - Crónica e romance de guerra. Dramático, absorvente. Brilhante.
Eduardo Lopes
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ADVERTÊNCIA:
O LIVRO MORTE NA PICADA, DA EDITORA VIA OCCIDENTALIS, TEM A MESMA CAPA DO BRAÇO TATUADO DA EDITORA DOM QUIXOTE.




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terça-feira, 22 de abril de 2008

Lançamento do livro "Braço Tatuado" de Cristóvão de Aguiar, na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia

"Braço Tatuado" de Cristóvão Aguiar
Comemorações do Dia Internacional de Livro Infantil e do Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor
Lançamento do livro "Braço Tatuado" de Cristóvão de Aguiar
Na Biblioteca Municipal de Vila Nova de Gaia.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

Apresentação de Raiz Comovida, no Foyer do Teatro Académico Gil Vicente, pelo Professor José Carlos Seabra Pereira. Coimbra 2003




























JOSÉ SEABRA PEREIRA, CRISTÓVÃO DE AGUIAR, TERESA ALEGRE PORTUGAL, RUI DE ALARCÃO, FRANCO, ASCENÇÃO FERREIRA, ANTÓNIO PITA, DORA CAEIRO, ORMONDO AGUIAR, BRITO CORREIA, DUARTE FIGUEIREDO, ADELINO CASTRO, entre outros.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

HOMENAGEM A CRISTÓVÃO DE AGUIAR E APRESENTAÇÃO DO SEU ÚLTIMO ROMANCE "BRAÇO TATUADO", HOJE NO MERCADO FERREIRA BORGES, ÀS 17H, PORTO

A homenagem ao escritor açoriano Cristóvão de Aguiar marca hoje, às 17 horas, o fim do programa cultural da Festa do Livro, que se iniciou no passado dia 8 e termina amanhã no Mercado Ferreira Borges, no Porto. O autor da trilogia de romances "Raiz Comovida" estará presente na homenagem, aproveitando para apresentar a sua mais recente obra, o romance "O Braço Tatuado".
MECA; NHACRA; AMURA; BURUTUMA; ALGARVE; PIRADA; MANSOA; ANGOLA; BAMBADINCA; CAMBAJU; MADINA DE BUÉ; PIGIGUITI; ARGEL; LISBOA; BISSAU; SARE BACAR; UÍGE.BAFATÁ; NOVA LAMEGO; DUNANE; PICHE; KANQUELIFÁ; BURUTUMA; FAJONQUITO; RIO GEBA; JABICUNDA; CONTUBOEL; MAFRA; COIMBRA; ILHA; SONACO; SENEGAL; GUINÉ-CONACRI; CARESSE;

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

LANÇAMENTO DE A TABUADA DO TEMPO, NA CASA DOS AÇORES NORTE.

Clicar no título para ver notícia no blogue Mulheres de Atenas.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

APRESENTAÇÃO DA TABUADA DO TEMPO, NA CIDADE DO PORTO, Sábado, 10-Nov-2007, 21h

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CONVITE


Casa dos Açores do Norte, Porto - 10 de Novembro

APRESENTAÇÃO DA OBRA A TABUADA DO TEMPO - A LENTA NARRATIVA DOS DIAS

O Autor, Cristóvão de Aguiar, a Almedina e o Podium Scriptae têm o prazer de convidar V.ª Ex.ª e família para a apresentação da obra A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias.
A apresentação realizar-se-á no sábado, dia 10 de Novembro de 2007, pelas 21h, na Casa Dos Açores do Norte, sita à Rua do Bonfim, n.º 163, Porto.

A obra será apresentada pelo Senhor Doutor Mário Mesquita.

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

À CONVERSA COM CRISTÓVÃO DE AGUIAR, NA LIVRARIA ALMEDINA ESTÁDIO CIDADE DE COIMBRA, 09-10-07











Cristóvão de Aguiar esteve muito bem e a discussão que se seguiu também foi enriquecedora.

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

IMAGENS DA CONFERÊNCIA DO DOUTOR CARLOS ANDRÉ, SOBRE A OBRA DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR 25-SET-2007


















Ideias concertadas,Carlos André e Ana Paula Arnaut










Eloísa Alvarez, Cristóvão de Aguiar, Carlos André, António Arnaut, Alferes.

















Gostei.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006