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sábado, 29 de outubro de 2011

Entrevista de Luís Aguiar-Conraria: economista e professor na Universidade do Minho

PRIMEIRO PLANO

EXCLUSIVO
Luís Aguiar-Conraria: economista e professor na Universidade do Minho

“A crise só vai acabar quando formos mais pobres do que somos hoje”

Luís Aguiar-Conraria é doutorado em economia e professor auxiliar e vice-presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e esteve presente, no passado dia 15out11, numa conferência promovida pela Casa dos Açores do Norte, em parceria com o “Etc e Tal”.

Em exclusivo, este jovem economista traça um quadro pouco animador, mas realista, da economia nacional. Em momentos de austeridade, Luís Aguiar-Conraria coloca os seus “pontos nos is” em diversas e importantes questões relacionadas com a grave crise que vivemos.

Ele concorda com a redução dos bens da taxa intermédia do IVA; diz que o OE2012 é um péssimo plano; avisa que vamos viver pior; defende a descida da Taxa Social Única, e que temos uma cultura “mediocrática” que protege os medíocres.

Para o nosso entrevistado teremos, mais cedo ou mais tarde, de “saber fazer mais com menos” e que o regresso de Portugal aos mercados será uma realidade só lá para… 2015.

Mas há mais! Muito mais… a ler.

A grave crise que vivemos é, e de acordo com o que disse na nossa conferência, a terceira desde o 25 de Abril, se tivermos em conta o número de pedidos de ajuda ao FMI. Esta é a mais grave de todas? Até que ponto a nossa integração na Zona Euro complicou a economia e as finanças nacionais? Como e quando isto poderá acabar?

Esta é a mais grave de todas. Não há dúvidas em relação a isso. Quer por causa dos desequilíbrios macroeconómicos acumulados, quer pela incapacidade de seguir políticas monetária e cambial autónomas.

Só poderá acabar quando o saldo das nossas contas com o exterior for positivo e o Estado apresentar saldos primários positivos também. Infelizmente, tal só vai acontecer quando formos substancialmente mais pobres do que somos hoje.

Revelou que os portugueses poupam menos, e que a poupança é essencial para o crescimento ou para a estabilidade económica do País. Como é que num Portugal em que parte substancial das famílias não chega com dinheiro ao dia 20, os cidadãos e as cidadãs podem poupar alguns “tostões”? As taxas de juro são atraentes? O que foi feito aos Certificados de Aforro?

Não quero ter discursos moralistas, que são descabidos. Mas a questão das poupanças é também uma questão de atitude. Há países bastante mais pobres do que nós que têm uma população com maiores taxas de poupança.

O Orçamento de Estado para 2012
O Governo prepara-se para colossais cortes na despesa, designadamente em setores tão importantes como o da Saúde (800 milhões) e Educação (600 milhões). Ao mesmo tempo que cria receita através do aumento de impostos, com destaque para o IVA e logo no que concerne a bens tão importantes como a eletricidade, o gás, e os transportes. Essas medidas são essenciais? Os cortes na despesa são estruturais? Não falta aqui um plano ao incentivo ao crescimento?

Não há qualquer consenso quanto ao que é um bom plano de incentivo ao crescimento. Por exemplo, um desses planos foi a aposta nas Energias Renováveis, Já viu os lindos resultados desse plano? A eletricidade seria muito mais barata se não fosse essa política voluntarista. Outro plano de crescimento foi a construção de estádios. Belo resultado, não? E o da construção de aeroportos? Quase que temos de pagar aos turistas para aterrarem no Aeroporto de Beja. Independentemente da bondade de tais políticas, a verdade é que não há dinheiro para as financiar.

Concorda com a considerável redução de bens da Taxa Intermédia do IVA?

Concordo. Não vejo motivos para o Estado definir quais são os produtos mais caros ou mais baratos. Isso deve ser uma escolha dos mercados, ou seja das empresas e das pessoas. Assim, tirando um cabaz de bens essenciais, todos os produtos devem ter a mesma taxa. Outra questão diferente é a de saber se ela é demasiado alta ou não.

O Orçamento de Estado para 2012 é, ou não, um bom Plano, mesmo tendo em conta o Estado Social em que o País se encontra, enfatizando-se o crescente número de desempregados que poderão ultrapassar os 13,5 por cento no final do próximo ano?

É um péssimo plano. Infelizmente todas as alternativas são péssimas. Admito que se possa discutir algumas medidas em concreto, mas sempre propondo alternativas que conduzam a resultados semelhantes para o défice orçamental.

Por exemplo, podemos discutir se será possível reduzir menos os salários dos funcionários públicos, mas tal, implicará que se vá buscar receitas (ou reduzir despesas) a outro lado. Por exemplo, cortando nos subsídios de Natal do setor privado.

Incentivos e cortes

Devia ou não haver incentivos às pescas e à agricultura? É que se os há… não conheço. E não conheço desde a altura em que o atual Presidente da República, Cavaco Silva, então primeiro-ministro, deu cabo desses importantes setores produtivos, ao contrário do que aconteceu em outros países europeus…

Na minha opinião não devia haver nem incentivos às pescas nem incentivos para acabar com as pescas, que foi o que houve nos tempos de Cavaco Silva como primeiro-ministro. Talvez se justifiquem alguns subsídios para compensar os disparates passados. Mas a verdade é que não há margem orçamental para isso. Já seria bom que o Estado não atrapalhasse com impostos tão altos, quanto mais esperar por subsídios.

As medidas de austeridade que o Governo vai fazer aprovar, passam por um ataque direto à Função Pública, com a eliminação do 13.º e 14.º mês para os funcionários e pensionistas que ganhem mais de mil euros. Concorda com este corte radical? Em seu entender, esta é só uma medida a aplicar em 2012, ou vai durar mais alguns aninhos?

Na prática, penso que a longo prazo, um desses salários não será recuperado. No setor privado, na prática, também vai acontecer uma redução salarial, com a desvantagem de o desemprego aumentar pelo caminho.

Infelizmente, vamos todos viver bastante pior, antes de Portugal retomar uma trajetória de crescimento.

Estado social e TSU

Muita gente pergunta, e alguns são leitores do nosso jornal, se daqui a vinte anos não haverá prestações sociais (reformas) para os velhos, nem para os desempregados, isto quando se sabe que a receita das taxas não chegam para cobrir metade das despesas do Estado. É possível haver esses cortes e regressarmos ao período anterior ao da primavera marcelista?

A democracia não é um facto adquirido. É algo que se constrói. Tem muita razão na sua pergunta. No que respeita a contas públicas a nossa situação não é muito diferente da que Salazar encontrou. Felizmente que o nosso regime político atual parece ser mais estável e mais capaz de enfrentar dificuldades do que o da 1ª República.

Ainda relativamente às medidas de austeridade, o professor defendeu na nossa conferência, a descida da Taxa Social Única (TSU). O Governo pensou e estudou o assunto, mas parece que tudo ficou em “águas de bacalhau”… ficou na mesma. Por que era tão necessária para a nossa recuperação económica a descida da TSU? O problema fica resolvido com o horário de trabalho no setor privado ser aumentado meia hora por dia nos próximos dois anos?

Para onde vai o dinheiro desse sacrifício dos portugueses? Para a banca?

A descida da TSU, compensada por uma subida uniforme do IVA (para uma descida de quatro pontos percentuais da TSU, o IVA teria de subir cerca de dois p.p.), permitiria manter as receitas fiscais totais.

Ao mesmo tempo, seria uma forma encapotada de subsidiar as exportações e penalizar as importações. Correspondia a uma desvalorização cambial. Com essa medida, este período transitório seria menos difícil. Possivelmente, em vez de a recessão ser de 2,8 por cento seria “só” de 2 por cento. Não acredito que a meia hora de trabalho faça alguma diferença. A maioria dos portugueses já trabalha bem mais do que essa meia hora.

Afirmou também que o Bloco de Esquerda, há uns anos atrás, defendia a descida da TSU. Em sua opinião por que é que a posição desse movimento político mudou radicalmente?

O BE defendeu e propôs mesmo em Assembleia da República que a Segurança Social fosse financiada por um imposto sobre o valor acrescentado das empresas. Não percebo por que motivo agora são contra a descida da TSU compensada por um IVA social. Terá de lhes perguntar. É pena. Baixar a TSU seria uma forma de promover o emprego. A nossa fiscalidade protege o capital em vez de proteger o trabalhador. A descida da TSU seria um passo no bom sentido.

O regresso do Escudo
São cada vez mais as vozes que defendem a saída de Portugal da Zona Euro e o regresso ao escudo ou a outra moeda qualquer. Quais seriam os custos dessa “revolução”? E os benefícios a médio ou longo prazo?

É uma experiência praticamente sem precedentes. Nem sequer a consigo imaginar. Não tenho um quadro intelectual que me permita sequer equacionar os prós e os contras.

Imagino que o efeito final dependeria muito das condições em que fosse negociada a nossa saída. Por exemplo, as nossas dívidas passariam para a nossa moeda ou continuariam em Euros? Neste último caso, adivinho consequências catastróficas.

A recessão poderá ultrapassar os três pontos percentuais no próximo ano. Isso é quase o caos total! Não? Estamos, ou não, a seguir as pisadas gregas, ainda que com ligeiras diferenças e com algumas (hipócritas) palmadinhas nas costas vinda de senhores de peso a nível internacional… não só da União Europeia?

Em 2009, em vários países europeus, a recessão foi de 7, 8 e 9 por cento. Nós não tivemos uma quebra tão forte na altura, mas, somando estes anos todos, lá vai ser algo desse género. Vamos sair disto bastante mais pobres, não tenho dúvidas.

Voltando à questão dos incentivos ao crescimento, a regionalização, com produção e promoção dos produtos de cada terra (agricultura, pescas e indústria) não só em termos nacionais como também internacionais (leia-se exportação), não seria um bom incentivo para sairmos do marasmo em que nos encontramos?
Eu, pessoalmente, sou a favor da regionalização. Mas não me parece que isso contribuísse para sairmos da crise. Um processo de regionalização demora sempre alguns anos a ser concluído. E, se for feita, tem de ser muito bem feita.
Alternativas

Não há alternativa a esta política neo-liberal capitalista, assente no domínio do eixo franco-alemão? O Euro tem capacidades para sobreviver, ou – e sem querer que faça futurologia – voltaremos a “um Estado uma Moeda”? O Euro deveria desvalorizar?

Há sempre alternativas. É uma questão de escolhas das sociedades. O Euro não vai desvalorizar. O saldo externo na Zona Euro, como um todo, é equilibrado. Vamos mesmo ser nós a fazer a desvalorização interna (ou seja, ficarmos mais pobres).

Portugal, mesmo com as boas relações que tem com os países de expressão oficial portuguesa (mais teóricas do que práticas), não deveria apostar mais nas exportações para essas nações?

Tirando o Brasil e, se calhar, Angola, esses países têm pouca dimensão económica. As nossas maiores oportunidades aí não serão tanto de exportações. Será mais de investirmos nesses países.

“Mediocracia”

A política partidária, as finanças e a economia fazem parte da mesma família, ainda que às vezes não se entendam. Há bons políticos e economistas em Portugal? Quem?

O nosso sistema não premeia os bons políticos. Temos uma cultura mediocrática, que protege os medíocres. Há bons economistas, claro, há-os até muito bons. Mas ser um bom economista não implica que se consiga levar a cabo boas políticas económicas. Um ministro da economia ou das Finanças não é um economista, é um político.

Se fosse ministro da Economia que medida, ou medidas, tomaria de imediato? Começaria por cortar às bases ao poder local democrático, muita das vezes, também algo despesista?

Se me convidassem para ministro eu pensara que estavam a gozar comigo e desligaria o telefone. Se me ligassem novamente, eu desligaria novamente.

O “buraco” na Madeira surpreendeu-o? Não deveria o Governo ter já revelado os outros buracos que andam por aí escondidos?

Vamos com calma. De certeza que haverá muito mais buracos. Que sejam revelados à medida que forem sendo descobertos já seria bom.

Fazer mais com menos

Com o número de desempregados a crescer de dia para dia, assim como o de pessoas que se encontram no limiar da pobreza. Com a massa cinzenta portuguesa a abalar para o estrangeiro, porque aqui não arranja colocação. Como é que um país pode crescer se o seu Estado Social está a cair de podre? E como é que, não apostando na Educação, se pode formar jovens para dar resposta às exigências do futuro? Professor, teremos um Serviço Nacional de Saúde, como hoje o vemos, daqui a vinte anos?

Temos de fazer mais com menos. Tenho a certeza que cada um de nós, nas suas áreas de trabalho, sabe como fazer mais com menos. Eu vejo imensas coisas nas universidades que podem ser feitas de forma bastante mais eficiente.

Tem é de haver flexibilidade e autonomia para poder levar essas transformações a cargo. Olhando para as universidades, realidade que conheço melhor, faz sentido que um professor universitário que não faz investigação e que não ocupa cargos de gestão tenha uma carga horária semanal que vai seis a nove horas semanais? Não poderia/deveria dar o dobro das aulas? Um professor universitário que não faça investigação é, simplesmente, um professor do secundário luxuosamente bem pago. Tenho a certeza de que exemplos simples como estes abundam em todas as áreas.

Quando é que Portugal regressará aos mercados, em 2013 ou em 2020?

2015 é a minha aposta, mas este ministro das finanças parece determinado em que seja mesmo 2014. Vamos ver.

Por último, como é que os seus alunos reagem à situação económica em que se encontra este país à beira mar plantado, mas mal regado?

Com trabalho. Os meus alunos sabem que têm de trabalhar mais para encontrar emprego. Muitos que não encontram emprego, investem na sua formação, fazendo mestrados. São trabalhadores, competitivos, sem porem de lado a camaradagem. É uma boa geração esta.

José Gonçalves (texto)
(20-out-11)

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Energia: Professor Luís Aguiar-Conraria Diário Económico de 25-02-2011.

Escalada do petróleo ameaça Orçamento

Margarida Peixoto e Luís Reis Pires

25/02/11 00:05
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Se o preço médio dos primeiros dois meses se mantivesse no resto do ano, a factura energética do país subia 1.650 milhões de euros.

Quase 100 euros por barril: esta é a média do preço do petróleo deste o início do ano até ontem. A escalada dos preços, impulsionada pela violência no Mundo Árabe, já deitou por terra o custo médio assumido pelo Governo no Orçamento do Estado para 2011. Esta será mais uma das várias dificuldades para o cumprimento do défice orçamental.

No OE/2011 a equipa de Teixeira dos Santos assumiu um preço médio de 78,8 dólares por barril para este ano. Mas em menos de dois meses a média do preço do ouro negro atingiu já os 99,9 dólares - mais 21 do que o esperado. Ontem o barril de brent chegou a ser negociado em Londres perto dos 120 dólares.[CORTE_EDIMPRESSA]

Um risco para o Orçamento, garante Luís Aguiar-Conraria, professor na Universidade do Minho. "Mesmo sem a alta de preços, este OE já era uma ficção porque prevê uma evolução positiva do PIB quando todos esperavam uma queda. Agora será mais negativo ainda", defende o economista.

O impacto no Orçamento será indirecto. "Numa primeira fase a subida dos preços de petróleo e a sua transmissão à economia poderá ter um efeito positivo, pelo aumento das receitas de impostos", diz Paula Carvalho, economista do departamento de research do BPI. "Mas sendo um efeito prolongado tem um impacto negativo, porque provocará a retracção global do consumo", acrescenta.

O aumento do preço do petróleo reflecte-se com alguma rapidez nos preços da energia e este, por sua vez, afecta o resto dos bens. Tendo em conta que os orçamentos familiares não esticam, "os consumidores têm de alterar a composição do seu cabaz de compras e reduzir consumos", concretiza Paula Carvalho.

E menos consumo implica menor actividade económica e um produto interno bruto mais baixo. Aguiar-Conraria garante que a duplicação do preço do petróleo tem um impacto negativo de 1,5 pontos percentuais na riqueza do país. "Não vai duplicar, admito, mas vai aumentar cerca de 50%. Por isso, espero pelo menos um efeito negativo de 0,5 pontos no PIB", explica o professor. O mesmo é dizer que mesmo que o Governo acertasse na previsão de crescimento de 0,2% para este ano, teremos uma recessão de 0,3%, só pela alta do petróleo.

Uma evolução desfavorável da economia tem impacto no Orçamento do lado da receita, mas não só: também coloca em causa a previsão de despesas, devido ao aumento dos gastos com apoios sociais. "As empresas são forçadas a reduzir custos, o que tem impacto no emprego", esclarece Paula Carvalho.

Perante os números, e apesar dos riscos que a manutenção dos preços altos implica para os objectivos traçados para as contas públicas, o Governo rejeitou ontem qualquer revisão das estimativas inscritas no OE. "Continuamos a acompanhar a situação e não vamos naturalmente fazer alterações de projecções orçamentais em cima do acontecimento", frisou Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência.

Factura energética sobe 1.650 milhões de euros

No ano passado Portugal gastou 8.023 milhões de euros em importações de combustíveis e lubrificantes. Teixeira dos Santos assumiu que o preço médio do petróleo seria 3,4% mais alto em 2011, mas, os números desde o início do ano até agora apontam já para uma valorização de 24,3%.

A esta variação há que descontar, no entanto, o efeito do câmbio. Como o euro tem valorizado e está acima do dólar, a subida de preços é atenuada para 22,1%. Se não fosse o euro, Portugal arriscar-se-ia a pagar quase dois mil milhões de euros a mais pelo mesmo volume de importações. Mas o escudo do euro vale cerca de 350 milhões de euros: ao preço médio actual a factura fica mais cara em ‘apenas' 1.647 milhões de euros.

As mesmas contas ao aumento dos custos estão já a ser feitas pelas empresas. "Por cada 10 dólares que sobe o preço do barril, a factura em Portugal sobe 800 milhões de euros", alertou António Mexia, presidente executivo da EDP, à margem da inauguração de um laboratório FABLAD (o primeiro de prototipagem aberto ao público).

Tendo em conta que a economia portuguesa tem ainda muita intensidade energética - o que quer dizer que as empresas consomem muita energia - a subida dos preços tem um impacto significativo na balança de transacções correntes. A consequência é a subida do défice externo - um dos indicadores para onde apontam os holofotes dos mercados e instituições internacionais. Mesmo sem a subida dos preços, Portugal já era um dos que saía pior na fotografia: o défice externo está projectado para 8,8% do PIB este ano, o maior da OCDE.

sábado, 15 de janeiro de 2011

Professor Luís Aguiar-Conraria, 15 de Janeiro às 15h30 na Fnac do GaiaShopping. Tema: REFERENDOS, TEORIA DOS JOGOS E O TEOREMA DA IMPOSSIBILIDADE DE ARROW

January 14, 2011 5:30 pm
Tardes de Matemática em Gaia

REFERENDOS, TEORIA DOS JOGOS E O TEOREMA DA IMPOSSIBILIDADE DE ARROW
Local: , Vila Nova de Gaia
Orador: Professor Aguiar-Conraria.

Resumo: Como todos sabem, em Portugal para que um referendo seja vinculativo é necessário que a taxa de abstenção seja inferior a 50%. Vários países têm requisitos semelhantes ou variações do mesmo. Chamam-se a estes requisitos regras de quórum. Recorrendo à Teoria de Jogos demonstra-se que estas regras têm vários efeitos perversos: estimulam a abstenção, podem favorecer minorias fanáticas e põem em causa o segredo de voto.

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Chinese money supply figures point to more inflationary pressure whilst Portugal hopes for an international rescue. January 11, 2011 by notayesmanseconomics

This morning has seen some new information released on the state of the Chinese economy and in particular on her monetary system. This matters because one of the influences on the world economy has been the strength of the Chinese economy which has had all sorts of influences not least on commodities and their prices. The Chinese have been responding to fears of overheating in their economy by tightening banking reserve requirements and on Christmas Day with a rise in official interest-rates.

The Peoples Bank of China has reported this morning that Chinese banks issued 7.95 trillion yuan ( around US $1200 billion) in new loans last year which exceeded by 6% the official target of 7.5 trillion yuan. The broad M2 measure of money supply grew by 19.7 % which exceeded the official target of 17 % by 2.7%. So we can look at this two ways firstly if we look at the level of broad money growth as an absolute we can see that 19.7% is an extraordinary level of growth for a broad money aggregate on its own flashing an amber warning light. However monetary growth needs to be compared with actual economic growth and again according to official Chinese statistics this was revised up to 9.2% for 2010 as a whole this morning. If we use the measure of monetary growth minus economic growth we get 10.5% which turns the amber light to a red one. If one needed a further influence you could say that reported economic growth of 9.2% for a single year flashes its own warning signal.

Comment

The numbers above confirm a worrying trend for China. Her economy is showing more and more signs of overheating and the levels of monetary growth and bank lending increases add to it. The broad money numbers for December on its own show an acceleration to an annual growth rate of 19.7% from November’s 19.5%. These are heady numbers.

As I have pointed out before there is an irony in a command economy like China making the same mistakes as the imperial capitalist lackeys it likes to criticise and this involves doing too little to late in response to an economy overheating. Also economic history elsewhere has suggested that using bank reserve requirements to help cool an economy is a blunt unreliable instrument at best. In theoretical terms it works nicely but sadly for theoreticians the real world is not a theory! Even interest-rate rises take their time to have an impact so the danger for China in 2011 is that these overheating trends persist for some time. Of course the extent of this depends on what happens in the world economy too and much of that is unknown particularly in such uncertain times.

There is also an opposite risk which involves these trends persisting and China continuing to respond by raising interest-rates again and again which if the experience of the imperialist capitalist lackeys is anything to go by will have the eventual effect of working like a brick on the end of a piece of elastic. So a sharp slowdown is also a danger in this scenario.

If I was in charge I would raise official interest-rates by say 0.5% and would wait to see signs of an effect. Unless the situation got worse I would resist temptation to move again as one of the challenges of this sort of situation is to move promptly (which mostly we don’t) and then hold your nerve (which quite often we do not either). Also I just wish to point out that I use the difference between broad money growth and economic growth as a guide to likely inflation trends rather than assuming an automatic one for one relationship.

Chinese Foreign Exchange Reserves

The PBOC published news on this front today, the currency holdings by the Chinese authorities rose by US $199 billion to US $2,850 billion in the last quarter of 2010 which exceeded even the US $194 billion increase in the third quarter. You may wonder why this matters and the essential reason is that China invests much of this money abroad. In a world of deficits there also have to be surpluses in some areas and here is one which is used to help finance some deficits. An example of this is the fact that China has in recent years made very large purchases of US Treasury Bonds (government debt) helping to finance America’s deficits.

We can link this large and increasing fund to the Euro zone crisis. If we remember that Portugal needs to issue some 20 billion Euros of debt this year which translates to US $25.8 billion we can see that compared to the Chinese surplus it suddenly looks more like a pittance than an international problem. Even likely Spanish issuance of 91 billion Euros suddenly looks a lot smaller. Accordingly there is rumour after rumour of Chinese purchases and plans which the Chinese have encouraged and these are unlikely to stop. Perhaps it may suit China to buy some after all there are high interest-rates on offer but as to a substantial programme I suspect the Chinese will be wary of that.

The European Central Bank steps in to help Portugal

Monday was a slightly contradictory day for the ECB and its Securities Markets Programme. We got news on its settled purchases last week and according to its website.

The net settled SMP transactions last week were of a volume of EUR 113 million. Combined with the effect of the quarterly revaluation exercise (published on the Weekly Financial Statement last week), the rounded settled amount – and the intended amount for absorption accordingly – increased to EUR 74.0 billion.

So there was a reduction in the rate of purchases, but on the day itself the Securities Markets Programme found itself heavily supporting the Portuguese government bond market which was again under severe pressure. Yields on the ten-year benchmark had risen to 7.25% before the ECB came in like the US seventh cavalry in a cowboys and indians movie and drove the yield back down to 7% before it rose again and closed at 7.1%. No doubt the ECB had its eye on the auction of three and nine and a half year debt that is due on Wednesday and wanted to try to stabilise the market before then although the price of this is that its holdings of the total Portuguese government bond market were already estimated at 20% of the total and in a way the problem is being moved from Portugal to the ECB itself as it accumulates bonds which at this moment in time nobody else wants or in other words makes losses. The falls in price of Irish,Portuguese and Greek debt must be hurting the balance sheet of the ECB, no wonder it has called for an increase in capital!

Portugal and her gold reserves

After all the bad news for Portugal I thought that it might be time for some good news. One area where she is relatively strong is the size of her gold reserves which at 382.5 tonnes are relatively higher than those of her peers. The last valuation has this at around 7% of her Gross Domestic Product if you wish to put it like that or if you wish around this years fiscal deficit. This begs the question can she put her hands on it? Not according to Portuguese law she cannot as it belongs to the Portuguese central bank which pays a dividend on gains etc to the government each year. This amounted to around 200 million Euros in 2009. Also some of the gold is in effect a capital backing for the ECB and its moves in capital and foreign exchange markets as it is backed by the various national central banks of its constituent members.

So in essence Portugal has shown sound financial management in this area and the credit goes to a previous period under the Salazar dictatorship when Portugal was a gold purchaser and it would appear that he had the opposite position on Portugal’s gold position that Gordon Brown had on the UK’s.

Portugal’s Economic history

There was something of a debate in the comments section yesterday and as there is a regular flow of new readers to my blog I wish to show again a chart from a Portuguese economist Luís Aguiar-Conraria that I put on here some time ago as I feel it is very informative. What is the saying, a picture can replace a thousand words?
I believe that this chart eloquently explains Portugal’s problems and they are long-term ones which have been exposed by the current crisis. Portugal has not arrived at this position by the boom and bust that has imploded in Greece and Ireland as this chart plainly tells us there was sadly for Portugal no boom. It is a story of long-term decline and this does not go well when questions are asked about long-term solvency. I wish to add a further chart today from the same source which looked at Portuguese unemployment over a similar time period.
Again the message is clear and the turn in late 2000 precedes the current crisis by many years.

International Rescue?

The pun is deliberate on a day when it is announced that Gerry Anderson is going to be represented on a set of UK stamps. For the uninitiated he made several programmes based on puppets back in the days of my childhood and one of them Thunderbirds had an organisation called International Rescue. He also in an odd link in one of his other programmes, Captain Scarlet, had a vehicle called an SPV (Spectrum Pursuit Vehicle) which was the initials used initially by the Euro zone for their rescue vehicle. Plainly they did not share the TV watching of my childhood as they would otherwise have known that in spite of it being the epitome of high-tech for the time the Mysterons remained undefeated at the end!

The economic link to now is that in addition to the hopes for Chinese buying to help the peripheral members of the Euro zone Japan has made some promises this morning about supporting a bond issue made by the European Financial Stability Facility or EFSF. However I feel that care is needed with such statements as Japan is also an international investor and may only be declaring what she would have done anyway…..Nice PR perhaps..

However fuel has been thrown on the fire by the appearance of a new Portuguese debt vehicle in the market which appears not to have been offered to the public has no coupon and expires in December 2012. The Portuguese government is not answering questions on the subject but Bloomberg helpfully tells us there is some one billion Euros of this in issue. Everyone will suspect China bought this bond but whilst we are waiting for more information let me give you a suggestion why Portugal has made a move even Greece rejected. The lack of a coupon means that she will have no interest payments to make which helps her deficit numbers. There will be a settlement at the end but this is not until December 2012 so it helps cash management until then (for those who do not understand the bond will probably have been sold at a price of around 90 and will be bought back at 100). Whilst this is a gain there is also a danger as this sort of medium term note is only for the relatively short-term and can lead to an unstable situation when it needs refunding and is another form of “kicking the can down the road” which has hardly worked so far!

Posted in Euro zone Crisis, General Economics, Quantitative Easing and Extraordinary Monetary Measures | 5 Comments » VEJA AQUI

quinta-feira, 15 de julho de 2010

Estado da Nação: Famílias e empresas já sentem o efeito das medidas de austeridade. Autor: Margarida Peixoto

Fonte: Diário Económico

Data: 15-07-2010
Tema: Economia

Há um ano a economia também estava em crise, mas tirando isso, tudo o resto é diferente. As famílias pagam mais impostos, têm menos apoios e os preços começam a subir.
"Entretanto, o mundo mudou", disse José Sócrates, há cerca de dois meses. Que o digam as famílias: em apenas um ano, os impostos subiram, há quase 100 mil novos desempregados e o rendimento disponível entrou em queda. Passados um ano e 12 dias desde o último debate do Estado da Nação, a crise mantém-se, mas a economia nem parece a mesma.

"A alteração mais importante foi termos passado de uma política expansionista para uma contraccionista, tanto a nível europeu, como em Portugal", diz Pedro Laíns, economista e investigador na Universidade de Lisboa. Os termos técnicos escondem uma realidade bem palpável para as famílias e para as empresas: em vez da aposta no crescimento e no emprego - com a introdução de apoios e subsídios -, a prioridade passou a ser a correcção do défice orçamental.

Ao contrário do que se esperava em Julho do ano passado, o défice orçamental não ficou nem perto da previsão de 5,9%. As contas finais revelaram um desequilíbrio de 9,3% do PIB e uma dívida pública crescente, que levou os mercados a desconfiar da capacidade de resposta do Estado português no momento de pagar as dívidas. "As ameaças são diferentes. Em 2009, havia o medo de se cair numa brutal recessão; agora há a ameaça de os Estados entrarem em incumprimento", nota Luís Aguiar-Conraria, economista e professor na Universidade do Minho.

O resultado foi a passagem abrupta da política de apoio à economia - com investimentos públicos na renovação do parque escolar, por exemplo, ou com a promessa de um TGV que ligue Portugal à Europa - para uma estratégia de aumento de impostos e corte a direito nas despesas.

"A segunda grande alteração foi na política de obras públicas", acrescenta Laíns, referindo-se ao congelamento das linhas de alta-velocidade Lisboa-Porto e Porto-Vigo, mais uma inevitabilidade ditada pela obrigação de poupar.
Mas não é só o Estado que será obrigado a fechar os cordões à bolsa. As famílias e as empresas também não terão outra alternativa. Os impostos, tanto sobre os rendimentos do trabalho, como nos lucros das empresas estão mais altos; os juros já começaram a subir, inflacionando as prestações dos empréstimos à habitação; e os preços dão sinais de aumento, com a subida do IVA e a valorização do petróleo.

Perante este aperto, os salários mantiveram-se, na grande maioria dos casos, inalterados. A Função Pública teve aumento zero e muitas empresas seguiram o exemplo do Estado. Feitas as contas, o rendimento disponível já está em queda e o Banco de Portugal antecipa que o corte no dinheiro que os consumidores têm disponível todos os meses seja de 1,3% este ano.

A juntar a estas dificuldades, o medo do desemprego mantém-se, com a agravante de os apoios sociais serem agora mais restritos. "Muitas medidas de combate à crise foram revertidas. Mas o que é mais grave é que, neste momento, o desemprego não é uma escolha pessoal e por isso estamos a negar apoio a quem mais precisa", critica Luís Aguiar-Conraria.

As expectativas para 2011 não são melhores. É que se é certo que a economia saiu do vermelho no primeiro trimestre deste ano, com um crescimento de 1,8% face ao período homólogo, nada garante que o crescimento se vai manter na segunda metade do ano e durante 2011.

A razão é simples: a economia funciona como uma espécie de bola de neve. Se as famílias têm os rendimentos reduzidos e estão ameaçadas pelo desemprego, diminuem os níveis de consumo - a previsão é que em 2011 haja uma retracção de 0,9% do consumo privado, o pior valor desde o 25 de Abril, diz o Banco de Portugal. E se não consomem, as empresas não vendem, tornando muito difícil colocar a economia a crescer. Um argumento a favor poderia ser o bom comportamento das exportações na primeira metade do ano (cresceram 9,8%), mas também os principais parceiros comerciais portugueses estão a colocar no terreno medidas de austeridade, pelo que tudo indica que também aqui tenha sido sol de pouca dura.

10/07/15 11:14

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Keynes e Esopo, por Luís Aguiar-Conraria.


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Keynes e Esopo
Luís Aguiar-Conraria*

Nas duas últimas décadas, os governos têm sido recorrentemente acusados de se esquecerem de que há vida para além do défice. Apesar de tanta obsessão, a nossa Dívida Pública, que mais não é do que soma dos défices ao longo dos anos, representa cerca de 65% do nosso PIB. Compare-se com a Irlanda que, nos anos 90, chegou a ter uma Dívida superior a 100% do PIB, mas que, em 2007, não valia mais do que 25%. Aliás, na Europa, vários países há com dívidas inferiores a 40%. Em Portugal, ainda por cima, à dívida pública oficial, há que acrescentar 22% de dívida do Sector Empresarial do Estado e mais um valor desconhecido de dívida indirecta gerada pelas parcerias público-privadas.
À beira de uma grande recessão, fatalmente, a fábula de Esopo com a cigarra e a formiguinha vem à cabeça. Tivéssemos tido, verdadeiramente, governos obcecados com o défice e hoje, com uma dívida pública decente, teríamos margem para aumentar a despesa pública e cortar os impostos de forma determinada. Fazer como o Reino Unido, onde se prevê que o défice dispare para os 9% em 2010, ou como a Irlanda, que deve deixar a Dívida Pública quase duplicar. Sem essa margem de manobra, as políticas governamentais têm de ser certeiras, com impacto rápido e alargado e com custos orçamentais transitórios.
Benesses para os sectores mais reivindicativos são de excluir. Apesar de eleitoralmente proveitoso, distorcem-se regras básicas de concorrência, prejudicando as melhores empresas, que são as que não choram por apoios estatais. Políticas que impliquem um aumento da despesa pública a longo prazo proporcionam um alívio imediato mas deixam-nos mais indefesos no futuro. Cortes nos impostos sobre o rendimento, seja das empresas seja dos particulares, também têm efeitos reduzidos. Tal acontece porque as pessoas não são tolas e sabem que défices orçamentais presentes traduzem-se em impostos futuros. Assim, em vez de aumentarem o consumo, estimulando a procura, irão aumentar o aforro. Por outro lado, as empresas protegem-se da incerteza dos mercados adiando decisões de investimento. Ou seja, cortes nos impostos sobre os rendimentos não se vão traduzir em aumentos do investimento e do consumo, mas sim em entesouramento.
Para garantir a eficácia de um corte nos impostos sobre o rendimento, estes devem ser dirigidos aos mais pobres, que ganham tão pouco que nada poupam. Basta criar um escalão de IRS com taxa de imposto negativa. Para garantir que apenas os mais pobres são beneficiados, tal pode ser compensado com uma subida nos escalões mais altos do IRS. Com esta medida, o impacto é imediato e aliviam-se as dificuldades financeiras das famílias de baixos rendimentos. Outra hipótese a considerar será um corte provisório do IVA, para 15%, por exemplo. As famílias aumentariam o seu consumo, de forma a beneficiarem da redução temporária nos preços. Mesmo que a descida do IVA não se reflectisse totalmente numa descida dos preços, tal traduzir-se-ia num aumento das margens das empresas, que bem necessitadas estão de algum desafogo.
Concluindo, há quatro mensagens que gostaria de deixar. Primeiro, perante uma recessão tão forte como a que se adivinha não faz sentido subsidiar umas indústrias à custa de todas as outras. Qualquer acção do governo deverá ter um impacto global. Segundo, dado o valor da nossa Dívida Pública, não podemos investir em projectos públicos que se traduzem num aumento da despesa por muitos anos. Terceiro, cortes nos impostos sobre o rendimento devem ser dirigidos às famílias mais pobres. Cortes temporários de impostos devem incidir sobre o IVA. Finalmente, se no futuro quisermos estar mais bem preparados para enfrentar crises económicas, será bom que durante os anos de bonança a obsessão pelo défice seja levada a sério: sem a formiga de Esopo não há Keynes para salvar a cigarra.
*Professor de Economia na Universidade do Minho
lfaguiar@eeg.uminho.pt

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006