"Não fora a sensação de que me encontro fermentando não sei de que mal e sentir-me-ia mais livre que os melrinhos poisados, ao morrer da tarde, nos fios dos postes do telefone que atravessam a paisagem da parte de trás do quintal da Ilha. Com eles e como eles, ao bater de certa hora mágica, não desdenharia de me embebedar de voo, sem outras coordenadas que não fossem as do próprio bater de rémiges rumo ao Canal de tantas ressonâncias poético-trágicas, a Ilha em frente agravada de roxo e de outras tonalidades mais profanas cada vez mais longe – só na lonjura ela usa a língua secreta para me contar os enredos dos muitos mistérios que lhe tecem o espinhaço de enleios. Sinto-me todavia livre, mau grado o mundo transpirar violência por todos os poros do corpo cravejado de crateras que as bombas escancaram a toda a hora, e eu continuar levedando não sei bem o quê num ventre clandestino. Sinto, ouço-te a voz do lado de lá e ainda estremeço num sinal saboroso de que a vida vale e merece ser perseguida no vigor ou no declinar da estação. Escrevo com os restos de lume que usurpo à vida…"
sábado, 15 de setembro de 2007
"MELRINHOS", IN NOVA RELAÇÃO DE BORDO (III), de Cristóvão de Aguiar, Pág. 83, Publicações Dom Quixote - 2004
Publicado por Lapa às 00:08:00
Secção: Relação de Bordo III
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TANTO MAR
A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
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