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A Real República Corsários das Ilhas foi fundada em 1960 por iniciativa de estudantes provenientes do arquipélago dos Açores. Nos seus 41 anos de viagens a «nau corsária» já albergou marinhagem que se mostrou distinta.
A título de exemplo, cite-se o nome de Carlos Candal; o actual eurodeputado socialista era, em 1962, durante a grave crise que assolou a universidade, presidente da Associação Académica de Coimbra.
Ainda, durante a crise académica de 1972, destaca-se Carlos Fraião; este antigo corsário foi membro do Comité Central do Partido Comunista Português.
Também Germano de Sousa, Bastonário da Ordem dos Médicos e Cristóvão de Aguiar, escritor, viveram nesta República.
Por falar neste escritor, o zé manuel deixou um comentário na anterior versão desta página que reescreve um passo do Relação de Bordo (1964-1988), livro do referido Cristóvão de Aguiar, em que lança um olhar sobre as suas experiências nesta casa quando por cá passou nos anos 60:
"Coimbra, 1 de Janeiro de 1964 -
Na Real República Corsários das Ilhas, a cuja tripulação venho pertencendo desde 1961 (em Outubro ascendi a 2º telegrafista), a passagem de ano foi, para mim, pavorosamente triste! De resto, nunca fui de grandes expansões nessas horas que a tradição instituiu como marcos de viragem não se sabe bem de quê. Alheio ao natural estardalhaço dos meus camaradas co-repúblicos, bem comidos e muito mais bem bebidos, encafuei-me no meu cantinho a ruminar. É que 1964 vai ser o ano em que vou dizer adeus à vida de estudante (para sempre?) e ela agora que me estava correndo tão bem: no terceiro ano sem nenhuma cadeira atrasada, mas é sempre assim). Isto porque já no próximo dia vinte e sete do corrente, numa segunda-feira logo de manhã, vou iniciar em Mafra o Curso de Oficiais Milicianos, com destino marcado para a guerra colonial. Consta da guia de marcha que recebi há dias, não esse destino, mas outro que vai de certeza desembocar naquele. Por isso, logo ao bater da primeira badalada da meia-noite no relógio da torre da Universidade, senti que me estava afundando em terreno pouco firme e lodoso. Cheguei da Ilha em finais de Setembro com uma mala na mão e sem dinheiro com que mandar cantar um cego, quanto mais para continuar os estudos. Havia justamente perdido a bolsa da Junta Geral do Distrito Autónomo de Ponta Delgada, novecentos escudos mensais, mas que me davam, resvés, para me ir sustentando em Coimbra. E perdi-a, não porque chumbasse, mas por não ter atingido a nota final de catorze valores, classificação exigida a partir do segundo ano até o final do curso para a manutenção da referida bolsa. Podia ter pedido dinheiro emprestado, a juro de dez por cento, como é costume lá na minha freguesia, mas meu Pai zangou-se comigo devido a um namoro reatado que ele não queria, derriço que, uma semana após a minha chegada a Coimbra, se desmanchou na secura de meia dúzia de linhas de uma carta, que me acompanha, na carteira, dobrada em quatro, as dobras delidas e enferrujadas… Por tal motivo, negou-se a ser minha fiança. Perdi a cabeça e pedi que me antecipassem a incorporação! Veja-se o paradoxo: em tempo de guerra ser meio voluntário, eu que, se tivesse coragem e juízo, devia mas era desertar daqui para fora. Na Ilha não queria ficar. Minha tia Lurdes e o Ti José da Costa deram-me coragem e o dinheiro para a passagem de barco e ainda mais algum para me ir tenteando. Cheguei à República e logo pus os meus companheiros ao par da minha situação. Houve reunião de casa à noite e ficou decidido, por unanimidade, que eu ficaria lá na mesma com todas as prerrogativas de um Corsário e só pagaria as minhas despesas, que seriam apontadas pelo Comissário de Bordo da Nau Corsária, quando recebesse os primeiros ordenados de aspirante. Eram apenas quatro meses que ficaria a dever, de Outubro a Janeiro, que orçariam em cerca de três contos de réis. Depois, quando viesse de Mafra passar os fins-de-semana, andaria à lebre, como se diz em linguagem académica. Suspirei de alívio e comovi-me com tamanho companheirismo de que poucos como os ilhéus, fora das Ilhas, são capazes."
Por não conseguir perceber bem os motivos que levam um gajo a querer meter-se na guerra… terei que reconhecer que às vezes só se dá pelo erro depois de se ter dado o passo inexorável da tomada de decisão e consequente prisão às amarras que daí decorrem… nos tempos actuais, em boa consciência, eu, o corsário que escreve estas linhas, teria que manifestar, a um colega que se me aparecesse com o mesmo dilema existencial que fosse pedir telha e comida ao Exército para o qual fosse servir… Mas, exceptuando este detalhe que se prende com a valoração do mundo e com a justeza, ou não das coisas, o texto retrata aquilo que os Corsários têm melhor sabido fazer, não deixar um irmão na mó de baixo.
Termino citando a frase de Antero de Quental aposta numa das paredes da sala de refeições da Casa:
“Mais vale experimentá-lo que julgá-lo, mas julgue-o quem não puder experimentá-lo”
COMENTÁRIOS RELEVANTES:
1) Anónimo disse:
Na crise de 62 o Candal já não era o presidente da Associação Académica de Coimbra.
O Presidente era o Francisco Paiva ( Medicina), da República ao lado dos Corsários, Os Galifões.
17 de Janeiro de 2008 2:33
2)Anónimo disse:
A frase do fim do texto não é de Antero de Quental, mas, sim, dos Ludíadas, de Luís de Camões.
18 de Janeiro de 2008 16:16
segunda-feira, 14 de janeiro de 2008
COIMBRA, CRISTÓVÃO DE AGUIAR E A REAL REPÚBLICA CORSÁRIOS DAS ILHAS.
Publicado por Lapa às 15:26:00
Secção: COIMBRA, curiosidades, PICO DA PEDRA, Relação de Bordo I, Textos avulsos
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TANTO MAR
A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
5 comentários:
Saludos cordiales, Lapa.
;)
Um excelente texto.
Hola, no entiendo ni papa lo que dices, pero te mando un beso...
Cielo
Na crise de 62 o Candal já não era o presidente da Associação Académica de Coimbra.
O Presidente era o Francisco Paiva ( Medicina), da República ao lado dos Corsários, Os Galifões.
A frase do fim do texto não é de Antero de Quental, mas, sim, dos Ludíadas, de Luís de Camões
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