31 Janeiro 2008 [Regional]
O pior da guerra não foi a guerra, foi o depois. Cristóvão de Aguiar exorciza os fantasmas de um conflito injusto no seu mais recente livro, Braço Tatuado.
A Guerra Colonial está-lhe tatuada na memória. Após ter regressado da Guiné, em 1967, levou 20 anos para escrever sobre o que vivera. O livro ficaria guardado na gaveta. Este ano, Cristóvão de Aguiar faz chegar Braço Tatuado: Retalhos da Guerra Colonial às bancas.
Mas porquê esperar 20 anos para escrever? Estive na Guerra Colonial e sofri tudo na pele. Só ao fim de um certo tempo a memória passa por uma espécie de coador e fica só o principal. Se escrever no momento, é tudo muito a quente.
Embora as memórias do Ultramar não estejam já a quente, ainda são dolorosas. Posso dizer que revivi tudo outra vez. Para escrever sobre alguma coisa é preciso vivê-la, não se pode escrever sobre o vazio. Passei por tudo aquilo, umas coisas pessoalmente, outras de perto. Penso que o pior da guerra não foi a guerra, mas os sete ou oito anos depois. Existem pessoas que estão muito piores do que eu, mas penso que nunca nos libertámos totalmente do pesadelo.
O conflito foi rebentando desde Angola, ganhando dimensão depois em Moçambique. Na Guiné, aconteceu o que Cristóvão de Aguiar lembra como alto-requinte. O outro lado tinha armas melhores que as nossas, fornecidas, por exemplo, pela União Soviética. Ficou, desde cedo, muito claro que aquela não era uma guerra que pudesse ser ganha.
Braço Tatuado é uma viagem ao cenário onde essa guerra travada em vão se desenrolou. Foi difícil. Havia minas espiando os passos. E emboscadas. E gritos. E incêndios. E animais espavoridos em seus currais de morte, escreve Cristóvão de Aguiar no epílogo da obra.
O livro é também um testemunho sobre uma guerra injusta. Massacrou-se toda uma mocidade por um regime corrupto. É ainda uma denúncia, uma chamada de atenção aos responsáveis actuais para os perto de 150 mil antigos combatentes que foram esquecidos. Da guerra resultaram famílias destroçadas, pessoas traumatizadas... Não é suficiente fazer como Durão Barroso e Paulo Portas, que atribuíram uma pensão anual de 150 euros aos ex-combatentes. Cento e cinquenta euros são tão pouco para quem deu tanto, critica. Depois do 25 de Abril, passou-se muito tempo sem se falar nesta guerra. Vivíamos numa espécie de culpa. Em Braço Tatuado, quebra-se o silêncio.
quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008
BRAÇO TATUADO: Cristóvão de Aguiar revisita as memórias da guerra colonial : “Nunca nos libertámos totalmente do pesadelo”
Publicado por Lapa às 12:36:00
Secção: Braço Tatuado., críticas literárias
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TANTO MAR
A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
2 comentários:
Nos anos em que vivi em Portugal, encontrei muitas pessoas que haviam vivido em Angola e que de la partiram na decada de 70 devido a guerra de libertacao nacional. Mas a maior parte destas pessoas falavam de Angola sempre com saudades e nostalgia...isto faz-me alguma confusao, confesso.
No caso de Cristovao de Aguiar, alguem que esteve na guerra colonial, isto certamente nao deve acontecer.
Este livro revela as atrocidades cometidas pelos soldados portugueses na guerra do Ultramar.
É evidente que este livro de Cristóvão de Aguiar ultrapassa muito a temática da guerra colonial portuguesa.
Este livro reflecte essencialmente sobre as teias em que os militares se vêm enredados na guerra em geral, apesar da acção se desenvolver na Guiné.
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