sábado, 16 de fevereiro de 2008

BRAÇO TATUADO: "É UM MURRO NO ESTÔMAGO", CRÍTICA DE VICTOR RUI DORES. Açoriano Oriental.14-02-2008


Retalhos da Guerra Colonial
2008-02-14 12:13

A Guerra Colonial (1961-1974) constituiu uma das mais trágicas encruzilhadas da História portuguesa e é ferida que ainda não cicatrizou na memória dos que a viveram. Não foi só o caudal de feridos, estropiados, desaparecidos, desertores e mortos que essa guerra provocou. Foi também a memória de um tempo em que o medo, a angústia, a crueldade e a intolerância foram postos ao serviço dos mecanismos repressivos do Estado Novo.
A “Síndrome do Stress Pós-Traumático da Guerra” não é mera figura de retórica – é uma enfermidade que atinge hoje milhares de ex-combatentes (há estudos que apontam para cerca de 140.000), com reflexos directos nas suas famílias, havendo mesmo psiquiatras que afirmam tratar-se de um problema de saúde pública.
Os que ontem eram jovens na flor da idade, vivem hoje o trauma e o recalcamento dessa guerra escusada e inglória. Na guerra aprenderam a amar melhor a paz. Vendo a morte a rondar por perto, aprenderam o valor excepcional de viver. E, porque calaram durante longos anos a indignação, têm vindo a dar testemunho dos horrores vividos e sentidos. Nesta matéria, e no âmbito da produção literária, há autores incontornáveis que, através da escrita, fizeram (e continuam a fazer) catarse e exorcismo da memória: Álamo Oliveira, António Lobo Antunes, Cristóvão de Aguiar, Fernando Dacosta, Fernando Assis Pacheco, João de Melo, José Martins Garcia, Manuel Alegre, Mário de Carvalho, entre outros.
Por outro lado, o cinema português tem vindo também a dar importantes contributos na revisitação desse conflito armado, havendo a destacar filmes como O Mal Amado (1974), de Fernando Matos Silva; Um Adeus Português (1985), de João Botelho; Inferno (1999), de Joaquim Leitão; Preto e Branco (2002), de José Carlos de Oliveira; Os Imortais (2003), de António Pedro de Vasconcelos, entre outros.
Mais recentemente, dois excelentes comentários televisivos vieram avivar a memória dessa guerra e lançar novas formas de compreensão da mesma: As Duas faces da Guerra, de Diana Adringa, e A Guerra, de Joaquim Furtado.
É neste contexto que surge o livro Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial (Dom Quixote, 2008), de Cristóvão de Aguiar, agora reeditado em nova versão. Este romance começou por constituir uma das partes de Ciclone de Setembro (1985), tendo sido mais tarde autonomizado com o título O Braço Tatuado (1990). E esta é uma atitude de coerência de Cristóvão de Aguiar, na medida em que estamos perante um escritor que, contínua e continuadamente, reescreve os seus livros.
O autor, cumprindo serviço militar obrigatório, viveu uma experiência traumática de dois anos no pior palco da guerra colonial: Guiné. E, por isso mesmo, faz uma “digressão retrospectiva” (pág. 28) a vivências, perplexidades e amarguras dos dias incertos dessa guerra – feita de ataques, flagelos, emboscadas, contra-emboscadas e outras atrocidades…
Os soldados da companhia 666 vivem o jogo da vida e da morte num quotidiano povoado de angústias e medos. As ciladas e as armadilhas espreitam a cada momento. E, nas páginas deste livro, ecoam rajadas de G-3, explosões de granadas, minas, morteiros, rockets, canhões, armas ligeiras e semi-automáticas. Há ordens insensatas, missões absurdas e relatórios hipócritas. Há picadas de incerteza, montes baga-baga e “rios secos de angústia” (pág. 134). E há a ração de combate, a leitura expectante de cartas e aerogramas. E há a loucura do capim, o desespero do cacimbo, a miséria dos autóctones, os efeitos do paludismo, as densas matas, as extensas bolanhas, a violação de mulheres indefesas, as sevícias sobre os prisioneiros… É, enfim, o horror de matar e ver morrer e uma contundente chamada de atenção para o desrespeito pela vida humana.
Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial denuncia a hierarquia “castrense e castradora” e o regime político que sustenta uma guerra sem fim à vista. O livro desenrola as teias do delírio e da loucura. Neste aspecto, é bastante significativo e sintomático o suicídio de Niza – tatuado com os dizeres AMOR DE LENA, a sua amada que o trocaria por outro…
Anti-heróis inadaptados numa guerra onde o que conta é manter-se vivo, as personagens (humaníssimas) deste livro entregam-se com sinceridade a contar o tempo que lhes falta para o definitivo adeus às armas, aguardando, com impaciência, que o navio Uíge (“em sua colonial majestade” – pág. 131) os transporte de regresso a Portugal. Como aspecto positivo da guerra, ficarão apenas as amizades que se construíram, as cumplicidades que se aprofundaram, as experiências de grupo que se viveram.
De salientar que Cristóvão de Aguiar percepciona a guerra não só sob o ponto de vista de ex-combatente, mas também na perspectiva do próprio povo africano, afinal tão vítima como nós dessa guerra escusada e inglória. Os portugueses lutavam pela sua sobrevivência, tal como os guerrilheiros do PAIGC lutavam pela sua libertação. Há aqui um olhar humano e uma consciência crítica sobre o logro da guerra colonial.
Escrito com desenvoltura narrativa, Braço Tatuado – Retalhos da Guerra Colonial é um murro no estômago. Urge lê-lo, sabido que é curta a memória dos homens.

Victor Rui Dores

BAFATÁ; NOVA LAMEGO; DUNANE; PICHE; KANQUELIFÁ; BURUTUMA; FAJONQUITO; RIO GEBA; JABICUNDA; CONTUBOEL; MAFRA; COIMBRA; ILHA; SONACO; SENEGAL; GUINÉ-CONACRI; CARESSE; MECA; NHACRA; AMURA; BURUTUMA; ALGARVE; PIRADA; MANSOA; ANGOLA; BAMBADINCA; CAMBAJU; MADINA DE BUÉ; PIGIGUITI; ARGEL; LISBOA; BISSAU; SARE BACAR; UÍGE.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2008

Campeão das Províncias, 14-02-2008, Notícia Única da Última Página

Clicar título para ver notícia original no Campeão on-lineCLICAR NOTÍCIA PARA AMPLIAR










Desta vez, fizeram as vontadinhas todas ao Cristóvão, não há razões para não estar contente.
Para quem declarou ao Campeão das Províncias, em Agosto de 2007, que tinha dificuldade em arranjar editora...
Em seis meses, editou três livros, qual deles o melhor?
Este último, na verdade, é um mimo, capa brochada, letra grande, mesmo ao gosto do Cristóvão "menino"...Mas, realmente, merecia-o.
E o "TRAILER"? -Ganda pinta.
Agora, tem duas editoras de prestígio, a Almedina e a Dom Quixote e está a ser homenageado por uma terceira, a novel e promissora Editora Calendário de Letras, que o homenageia no próximo dia 23 de Fevereiro, na cidade do Porto, no Mercado Ferreira Borges onde, pela última vez, se realiza este mercado do livro.
Cidade do Porto, onde viu reconhecida a sua obra, Relação de Bordo, com o Grande Prémio de Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores/Câmara Municipal do Porto, depois de ter sido apresentado na Livraria Lello, por Egito Gonçalves- "o único livro que se lhe impôs apresentar em vida".
Hoje de manhã, ao ler o Campeão, disseram-me, na padaria Padrão, perto do comboio, que o Cristóvão andava impecável. Que lhe fazia bem andar como anda... e que andava muito!
Sim senhor, é assim mesmo!
Não há fome que não dê em fartura.
E, pelos vistos, isto ainda é só o começo...

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Braço Tatuado - 2008. Cristóvão de Aguiar

CLICAR TÍTULO EM CIMA PARA VER APRESENTAÇÃO DO LIVRO











É a guerra aquele monstro que se
sustenta das fazendas, do sangue,
das vidas, e quanto mais come e
consome, tanto menos se farta.

Padre António Vieira

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

Cristóvão de Aguiar, 40 anos Dom Quixote.

QUARENTA, Vários autores, Ed. Dom Quixote, 286 págs., €24,00. A Dom Quixote, ao celebrar 40 anos de existência, reuniu um conjunto notável de contos dos seus autores nesta obra, onde se pode encontrar parte do que melhor se escreve em Língua Portuguesa. Inês Pedrosa, Maria Teresa Horta, Maria Velho da Costa, Lídia Jorge, José Eduardo Agualusa, Manuel Alegre, Cristóvão de Aguiar e muitos outros convidam à leitura destes excelentes textos.

domingo, 10 de fevereiro de 2008

AVENTURAS DE UM NABOGADOR, DE ONÉSIMO TEOTÓNIO ALMEIDA. Bertrand 2007.

Nabices “Nabogador” (termo usado no título do último livro de Onésimo Teotónio Almeida) é um neologismo infeliz. Às vezes, Onésimo tem graça. Desta vez, porém, falhou o alvo por completo. O termo “prosema”, que também consta ser da sua autoria, também é um perfeito disparate. Por estas e por outras é que um conhecido cá do Argolas diz que Onésimo tem muito mais de exibicionista do que de escritor… E outro amigo meu diz que ele não fica atrás do popular humorista Bruno Nogueira! Onésimo rima com stand-up comedy. Pois rima. E já é muito.

In Argoladas, Expresso das Nove, de 08-02-2008.

Cristóvão de Aguiar, homenageado dia 23 de Fevereiro de 2008, às 17h00, no Mercado Ferreira Borges, Cidade do Porto








Público: "A Festa do Livro de 2008 vai também homenagear o escritor Cristóvão de Aguiar, que participa, dia 23, às 17h00, numa mesa-redonda sobre a sua obra, disponível na feira."

DNonline: "A Festa do Livro" vai homenagear o escritor açoreano Cristóvão de Aguiar no dia 23.

LUSA/ SOL: Durante a Festa do Livro, a Calendário de Letras vai homenagear o escritor açoriano Cristóvão de Aguiar, autor de uma vasta obra de que se destaca a trilogia de romances Raiz Comovida, estando o escritor convidado a vir ao Porto para participar na homenagem.

RTP.pt: Durante a Festa do Livro, a Calendário de Letras vai homenagear o escritor açoriano Cristóvão de Aguiar, autor de uma vasta obra de que se destaca a trilogia de romances "Raiz Comovida", estando o escritor convidado a vir ao Porto para participar na homenagem.
Nascido na Ribeira Grande, Ilha de S. Miguel, em 1940 Cristóvão de Aguiar terminou a licenciatura em Filologia Germânica na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, em 1968, já depois de ter participado na guerra colonial, na Guiné, entre 1965 e 1967.
Foi professor no ensino secundário de Leiria, tradutor na Faculdade de Ciências da Universidade de Coimbra (1972) e redactor da revista Vértice (1967-82).
É desde 1972 leitor de Língua Inglesa na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra, onde reside.
Como escritor recebeu o prémio Ricardo Malheiros (A Semente e a Seiva, 1978) e o Grande Prémio de Literatura Biográfica APE/CMP (Relação de Bordo, 1999), e o Prémio Nacional Miguel Torga, pelo livro "Trasfega".
Foi agraciado em 2001 com a Ordem do Infante D. Henrique.
"Ciclone de Setembro", "Grito em Chamas", "Passageiro em Trânsito", "O Braço Tatuado", "Marilha", "À Mesa da Tertúlia", "A Descoberta da Cidade e outras histórias", "Emigração e Outros Temas Ilhéus" e a tradução de A Riqueza das Nações, de Adam Smith, são algumas das suas obras.
Em 2005 foi homenageado pelos quarenta anos de vida literária pela Faculdade de Letras em conjunto com a Reitoria da Universidade de Coimbra, publicando o livro "Homenagem a Cristóvão de Aguiar - 40 anos de vida literária".

JN- Durante a Festa do Livro, a Calendário de Letras vai homenagear o escritor açoriano Cristóvão de Aguiar, autor de uma vasta obra, de que se destaca a trilogia de romances "Raiz comovida", estando o escritor convidado a ir ao Porto para participar na homenagem."Ciclone de Setembro", "Grito em chamas", "Passageiro em trânsito", "O braço tatuado", "Marilha", "À mesa da tertúlia", "A descoberta da cidade e outras histórias", "Emigração e outros temas ilhéus" e a tradução de "A riqueza das nações", de Adam Smith, são algumas das suas obras.

etc.

sábado, 9 de fevereiro de 2008

DIÁRIO DE COIMBRA: JOVEM CONDENADO A 11 ANOS DE PRISÃO E O OUTRO ARGUIDO FOI ABSOLVIDO DE TODOS OS CRIMES DE QUE VINHA ACUSADO.

LEGENDA: O LAPA, DE CIGARRO NA BOCA, À DIREITA A DESLIGAR O TELEMÓVEL, MOMENTOS ANTES DE OUVIR O ACÓRDÃO ABSOLUTÓRIO DO SEU CONSTITUINTE QUE ESTÁ DE COSTAS A ENTRAR NA SALA DE AUDIÊNCIAS.

"Jovem condenado a 11 anos de prisão por homicídio simples Nem qualificado, nem privilegiado. O jovem que matou à facada um outro, em Setembro de 2006, no Loreto, foi ontem condenado por homicídio simples e ao cumprimento de 11 anos de prisão. O outro envolvido no processo foi absolvido de todos os crimes de que estava acusado, saindo em liberdade.
O Tribunal de Coimbra condenou ontem a 11 anos de prisão Mário J., um jovem de 19 anos, residente no Loreto, que matou outro com (pelo menos) duas punhaladas na zona do abdómen em consequência de desavenças e troca de insultos entre famílias. O colectivo de juízes, presidido por Paulo Correia, deu como provada a prática de um crime de homicídio simples, punível com penas que vão dos oito aos 16 anos de prisão.Os factos remontam a Setembro de 2006, altura em que Mário J., na altura com 18 anos, após uma discussão acesa com Márcio, de 27 anos, em consequência de insultos vários proferidos por este à mãe do condenado, que manteria uma relação amorosa com o pai da vítima, foi a casa buscar um punhal e o esfaqueou, provocando a sua morte, horas depois, nos Hospitais da Universidade de Coimbra.«Foi uma agressão extremamente violenta, sanguinolenta quase», afirmou ontem o juiz, justificando a decisão pelo homicídio simples – e não o privilegiado (punível com prisão de um a cinco anos), como pretendia Carlos Fraião, advogado de defesa de Mário –, recordando ainda o facto de a vítima ter deixado mulher e um filho, com dois anos na altura. «Fez uma coisa que não devia ter feito e que a todos repugna. A pena procurou não ser muito fustigadora, dada a sua idade, mas também não podemos ignorar o valor supremo da vida», disse ainda o juiz.Recorde-se que Mário estava acusado do crime de homicídio qualificado, a que se juntavam ainda dois crimes de ofensa à integridade física grave na forma tentada, um crime de coacção grave e ainda um por detenção de arma proibida. Para além de não ter encontrado razões suficientes para o condenar à pena máxima por homicídio (que vai de 12 a 25 anos de prisão), o juiz absolveu o réu de todos os outros crimes, uma vez que os factos que estiveram na origem da acusação não ficaram provados em tribunal.Arrependimento pouco sinceroDe qualquer forma, Paulo Correia fez questão de deixar alguns conselhos a Mário J., que está há um ano e meio em prisão domiciliária, com pulseira electrónica e que, apesar de se ter entregue no dia do crime às autoridades, na opinião do juiz, não terá demonstrado em tribunal um verdadeiro arrependimento pelo acto que cometeu.«O Mário parece não ter interiorizado o mal que fez. Em muitos momentos arrependeu-se do mal que fez, mas pelo que de negativo ele traz a si próprio e não por pena de alguém ter morrido em consequência da sua conduta», afirmou, durante a leitura da sentença, aconselhando-o a, pela vida fora, «controlar os seus instintos de agressividade». Isto, para além de admitir que o comportamento da vítima, que se deslocou a casa de Mário, com a mãe, para a insultar e tirar satisfações «não é aceitável e é até censurável».Em declarações aos jornalistas, o advogado de defesa do jovem – apesar de não se ter confirmado a condenação por homicídio privilegiado como tinha pedido nas alegações finais – confessou que «à primeira vista» não o «repugna» a decisão pelo homicídio simples, o mesmo acontecendo a Mário que, em tribunal, havia admitido que teria de «pagar» pelos seus actos. «Vou estudar a sentença melhor, mas admito não recorrer», afirmou Carlos Fraião. A advogada da mãe da vítima, Lina Lucas, que havia pedido uma condenação por homicídio qualificado, também admitiu não pedir recurso se a decisão «não mexer com os prazos da prisão preventiva». No entanto, prefere primeiro falar com a cliente e estudar o processo antes de tomar uma decisão definitiva.Já Fábio, amigo de Mário J. e o outro arguido no processo, foi absolvido ontem de todos os crimes de que estava acusado – homicídio qualificado e coacção grave na forma tentada – por ter ficado provado em tribunal que «não teve qualquer intervenção directa no homicídio», afirmou o juiz, que adiantou ter-se dado como provada apenas uma agressão a Márcio com um murro, mas que nada teve a ver com a sua morte.Juiz não aceita pedido de indemnização da mãe da vítimaProcesso “cheio de contradições”O presidente do colectivo de juízes não aceitou o pedido de indemnização da mãe da vítima, absolvendo Mário J. do pagamento de 65 mil euros solicitados por Maria F. em tribunal pelos danos causados com a morte do filho. Paulo Correia achou «estranho» o facto de este pedido ser feito pela mãe de Márcio quando este tinha mulher e um filho que, legalmente, seriam quem teria legitimidade para o fazer.«Enquanto houver mulher e um filho, a mãe não está em condições de reclamar qualquer indemnização», afirmou o juiz, deixando claro que, apesar do julgamento estar encerrado, os legítimos recorrentespodem, agora, fazê-lo, num processo cível autónomo. Aliás, o juiz fez questão de sublinhar que esteve perante um caso «cheios de contradições, ao longo de todo o inquérito e depois em tribunal».«Parecia que nada, na vez seguinte, era igual à vez anterior», afirmou, recordando que houve elementos «com relevância» para o processo «que surgiram muito mais tarde, não se entendendo como não apareceram antes». O discurso «confuso» e as «declarações contraditórias» da mãe da vítima foram sublinhados por Paulo Correia.Depois da decisão «pacífica» anunciada e já fora da sala de audiências, a irmã da vítima foi a que demonstrou maior indignação com a sentença aplicada a Mário J. «Não há justiça. Como é que é possível matar uma pessoa e, ao fim de 11 anos, sair da cadeia?», protestava."


Ana Margalho / Diário de Coimbra

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Braço Tatuado Retalhos da Guerra Colonial, de Cristóvão de Aguiar, nota de Tito Couto

CLICAR TÍTULO PARA VER TRAILER DO LIVRO
[...]Fecho com uma nota para a reedição, em nova versão, de “Braço Tatuado” de Cristóvão Aguiar.
Trata-se de um livro que nos remete para o universo colonial português em pleno conflito. Na Guiné de tantos traumas e experiências violentas, Cristóvão Aguiar consegue levar-nos de rastos pelas picadas, dormir nas camaratas dos aquartelamentos ou experimentar a dor atroz de perder um amigo num mar de sangue.
“Braço Tatuado, retalhos da Guerra Colonial” é o retrato de muitas companhias, de muitos soldados. Uma imagem viva e impressionante que tem tanto de singular como de comum a gerações de portugueses.
Editado em 1990, este romance regressa aos escaparates com a mesma força bruta que as suas páginas encerram.

Tito Couto, in Forum Páginas Tantas
.

BRAÇO TATUADO, Retalhos da Guerra Colonial, de CRISTÓVÃO DE AGUIAR.

CLICAR TÍTULO PARA VER TRAILER DO LIVRO

BRAÇO TATUADO
Cristóvão de Aguiar

"Cerrada é a noite. Não se vislumbra um coalho de lua. Seguimos em fila indiana, num comboio humano, agarrados uns aos outros pela cintura. Não se pode fumar, nem acender qualquer foco ou lanterna – o inimigo está atento, mantém as suas sentinelas nos locais estratégicos. Nas próprias tabancas há gente que informa, por meio de batuques e outros sinais, da nossa passagem e do rumo que tomamos. Por isso, o brasido de um cigarro ou o clarão de um foco poderão denunciar-nos a quilómetros de lonjura. Depois, seria a emboscada, a mina antipessoal, o corisco que abrase tudo isto."

Romance em torno das vivências do autor na guerra colonial, ferida que se mantém aberta na sua memória, após uma experiência traumatizante de dois anos na Guiné.

Um texto de ecos e lembranças que de forma onírica e fantástica dá conta do absurdo desse conflito armado.

O cenário de horror, as emboscadas, as atrocidades cometidas, a voz da liberdade, as saudades e a perplexidade perante uma guerra que era obrigatório viver, fazem deste texto uma das mais interessantes narrativas sobre a guerra colonial.

ISBN: 978-972-20-3494-4
Páginas: 136
Dimensões: 15,5x23,5 cm
Colecção: AUTORES DE LÍNGUA PORTUGUESA
Ano de Edição: 2008
Encadernação: Brochado
Preço sem IVA: 11,43 €
Preço com IVA: 12,00 €

BRAÇO TATUADO: Cristóvão de Aguiar revisita as memórias da guerra colonial : “Nunca nos libertámos totalmente do pesadelo”

31 Janeiro 2008 [Regional]
O pior da guerra não foi a guerra, foi o depois. Cristóvão de Aguiar exorciza os fantasmas de um conflito injusto no seu mais recente livro, Braço Tatuado.
A Guerra Colonial está-lhe tatuada na memória. Após ter regressado da Guiné, em 1967, levou 20 anos para escrever sobre o que vivera. O livro ficaria guardado na gaveta. Este ano, Cristóvão de Aguiar faz chegar Braço Tatuado: Retalhos da Guerra Colonial às bancas.
Mas porquê esperar 20 anos para escrever? Estive na Guerra Colonial e sofri tudo na pele. Só ao fim de um certo tempo a memória passa por uma espécie de coador e fica só o principal. Se escrever no momento, é tudo muito a quente.
Embora as memórias do Ultramar não estejam já a quente, ainda são dolorosas. Posso dizer que revivi tudo outra vez. Para escrever sobre alguma coisa é preciso vivê-la, não se pode escrever sobre o vazio. Passei por tudo aquilo, umas coisas pessoalmente, outras de perto. Penso que o pior da guerra não foi a guerra, mas os sete ou oito anos depois. Existem pessoas que estão muito piores do que eu, mas penso que nunca nos libertámos totalmente do pesadelo.
O conflito foi rebentando desde Angola, ganhando dimensão depois em Moçambique. Na Guiné, aconteceu o que Cristóvão de Aguiar lembra como alto-requinte. O outro lado tinha armas melhores que as nossas, fornecidas, por exemplo, pela União Soviética. Ficou, desde cedo, muito claro que aquela não era uma guerra que pudesse ser ganha.
Braço Tatuado é uma viagem ao cenário onde essa guerra travada em vão se desenrolou. Foi difícil. Havia minas espiando os passos. E emboscadas. E gritos. E incêndios. E animais espavoridos em seus currais de morte, escreve Cristóvão de Aguiar no epílogo da obra.

O livro é também um testemunho sobre uma guerra injusta. Massacrou-se toda uma mocidade por um regime corrupto. É ainda uma denúncia, uma chamada de atenção aos responsáveis actuais para os perto de 150 mil antigos combatentes que foram esquecidos. Da guerra resultaram famílias destroçadas, pessoas traumatizadas... Não é suficiente fazer como Durão Barroso e Paulo Portas, que atribuíram uma pensão anual de 150 euros aos ex-combatentes. Cento e cinquenta euros são tão pouco para quem deu tanto, critica. Depois do 25 de Abril, passou-se muito tempo sem se falar nesta guerra. Vivíamos numa espécie de culpa. Em Braço Tatuado, quebra-se o silêncio.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006