CLIQUE NA IMAGEM PARA A AMPLIARHoje, ao fim da tarde, fui com o meu Pai visitar a Casa-Museu Miguel Torga.
Já sabia que Torga havia gostado de ler Cristóvão. Só não imaginava encontrar a “Raiz Comovida, vindima de fogo”, na estante por trás da sua secretária, na galeria dos Autores Portugueses.
O livro está virado ao contrário, tem a lombada vermelha e branca e está na terceira prateleira, do lado esquerdo a contar de cima.
Foi a nota alta do dia…
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
CASA - MUSEU MIGUEL TORGA : "Raiz Comovida", representada na biblioteca de Miguel Torga, no escritório da sua Casa - Museu, em Coimbra
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Secção: curiosidades, Miguel Torga, Raiz Comovida
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Aquilino Ribeiro e Cristóvão de Aguiar têm em comum, pelo menos, a conquista do Prémio Literário Ricardo Malheiros. Aquilino - 1933 , Cristóvão - 1979
CLIQUE NO TÍTULO PARA VER TODOS OS PREMIADOSContuboel, 22 de Junho de 1965 - Acabei de riscar a sexagésima cruzinha no calendário. É uma espécie de desobriga que pratico todos os dias, à noite, antes de me deitar. Ainda faltam tantas centenas, meu Deus! Será que chego ao fim? Comprei doze livros de Aquilino Ribeiro num estabelecimento de Bafatá. Cada um custou-me quarenta e cinco escudos. Tenho muito que ler, se para tal tiver cabeça. (Relação de Bordo)
[…] Leio Aquilino que me desunho. Assim, sinto-me no centro da seiva da língua e não me cafrealizo […] (Braço Tatuado)
[…] DE AUTORES AÇORIANOS QUE, ESTANDO FORA DOS AÇORES, DELES SE OCUPAM , DE MODO DIRECTO E INDIRECTO”, escreve António Machado Pires: “É o caso especial de Nemésio, ao qual teremos de voltar como caso paradigmático que é. É o caso de Cristóvão de Aguiar, cuja Raiz Comovida (I, II, III) é um mundo primordial de vivências e da fala da sua Ilha, em fios de histórias soltas que se unem na imagem de um povo com o qual se identifica. E com uma autenticidade e uma força que lembram Aquilino”. Raul Brandão e Vitorino Nemésio, (Lisboa, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, s/d.).
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Secção: curiosidades, Raiz Comovida
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
A REVISTA "OS MEUS LIVROS" RECOMENDA "A TABUADA DO TEMPO", DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR
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Secção: A Tabuada do Tempo, Notícias
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Doutor Carlos André, presidente do conselho directivo da FLUC e ex Governador Civil de Leiria, disserta sobre Cristóvão de Aguiar:"Uma Raiz Por Achar"


A sessão realizar-se-á no dia 25 de Setembro pelas 21 horas, na livraria Almedina - Estádio, em Coimbra.
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Secção: A Tabuada do Tempo, Notícias
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
domingo, 16 de setembro de 2007
Egito Gonçalves, apresentou "Relação de Bordo" 1965 - 1988, na Livraria Lello, Porto - 1999 (O único livro que Egito Gonçalves apresentou na vida)


"Nunca tinha apresentado nenhum livro na vida. Sempre fui, essencialmente, escritor e poeta. Mas a leitura deste livro impôs-me essa excepção e por isso aqui estou a apresentá-lo"
Palavras proferidas pelo Poeta Egito Gonçalves no lançamento da "Relação de Bordo I", na Cidade do Porto onde esta prodigiosa Obra veio a conquistar o Grande Prémio de Literatura Biográfica - APE/CMP, 2000
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Secção: curiosidades, Lançamentos, Relação de Bordo I
sábado, 15 de setembro de 2007
MOTA AMARAL, MANUEL ALEGRE e MEDEIROS FERREIRA, na apresentação da "Raiz Comovida" na fnac Chiado, pelo Professor Luiz Fagundes Duarte
Cristóvão de Aguiar reúne o consenso das mais variadas forças políticas e culturais...
Em 2003, Mota Amaral era o Presidente e Manuel Alegre o Vice-presidente da Assembleia da República.
É curioso, e não deixa de ser estranho que, apesar da presença destes pesos pesados no lançamento, não tenha havido qualquer cobertura noticiosa do evento, ao contrário dos escritores José Mourinho, Mantorras e Jorge Costa, entre outros... que apresentaram as suas obras de arte no mesmo local.
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Secção: Fotografias, Lançamentos, Raiz Comovida
"MELRINHOS", IN NOVA RELAÇÃO DE BORDO (III), de Cristóvão de Aguiar, Pág. 83, Publicações Dom Quixote - 2004
"Não fora a sensação de que me encontro fermentando não sei de que mal e sentir-me-ia mais livre que os melrinhos poisados, ao morrer da tarde, nos fios dos postes do telefone que atravessam a paisagem da parte de trás do quintal da Ilha. Com eles e como eles, ao bater de certa hora mágica, não desdenharia de me embebedar de voo, sem outras coordenadas que não fossem as do próprio bater de rémiges rumo ao Canal de tantas ressonâncias poético-trágicas, a Ilha em frente agravada de roxo e de outras tonalidades mais profanas cada vez mais longe – só na lonjura ela usa a língua secreta para me contar os enredos dos muitos mistérios que lhe tecem o espinhaço de enleios. Sinto-me todavia livre, mau grado o mundo transpirar violência por todos os poros do corpo cravejado de crateras que as bombas escancaram a toda a hora, e eu continuar levedando não sei bem o quê num ventre clandestino. Sinto, ouço-te a voz do lado de lá e ainda estremeço num sinal saboroso de que a vida vale e merece ser perseguida no vigor ou no declinar da estação. Escrevo com os restos de lume que usurpo à vida…"
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Secção: Relação de Bordo III
sexta-feira, 14 de setembro de 2007
Victor Rui Dores, sobre Trasfega, de Cristóvão de Aguiar

Cristóvão de Aguiar
Trasfega, Publicações Dom Quixote, 2003
Com olhar atento e mão certeira, continua Cristóvão de Aguiar a carregar a ilha perdida e mitificada e a escrever a sua (e nossa) memória insular. E fá-lo com mestria narrativa, imaginação verbal e ousadia sintáctica, num discurso literário que mergulha fundo na raiz (comovida) e no húmus da oralidade açoriana. É disso exemplo este livro, que recebeu o Prémio Literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra.
A obra, que inclui treze contos, inscreve-se e escreve-se no âmbito da literatura de significação açoriana. Ainda e sempre, há um imaginário ilhéu, há uma memória telúrica e há uma capacidade evocativa que escreve Cristóvão de Aguiar. Essa memória é o atlas do escritor que, nos seus livros, continua a dar conta da sua identificação com a ilha e consigo próprio. Porque a ilha deixa uma memória indelével e retroactiva: nela está o paraíso irremediavelmente perdido da infância e da adolescência. Daí a revisitação que o narrador empreende a toda a geografia sentimental, afectiva e humana à terra que lhe deu berço: a ilha de S. Miguel. Falar deste autor é falar da regionalização de uma escrita vernácula e de uma efabulação literária autêntica. Cristóvão de Aguiar escreve o homem açoriano, descreve a paisagem açoriana, exorciza a memória e capta o «espírito do lugar» porque aprendeu – e bem – a lição de Miguel Torga: «o universal é o local sem paredes». Ou seja, quanto mais regional, mais universal.
Trasfega continua a saga da trilogia romanesca Raiz Comovida (o livro mais emblemático de Cristóvão de Aguiar, agora em nova versão revista e remodelada, numa belíssima edição da Dom Quixote, saída em 2003) e vem acrescentar, à galeria imensa de personagens populares deste autor, um José Maiato (que recebeu uma Língua de Fogo que o pôs a falar inglês, sem ele saber como), um Mestre Libório (dado a estranhíssimas flatulências...), uma Tia Escolástica das Dores (soberba beata), um Ti Burrica (velhote castiço de grande recorte humano), entre outras.
Mas este livro não dá só conta de gente rural, de inocências rústicas e de acontecimentos pícaros. Há aqui dois registos, dois investimentos semânticos: o popular e o literário. Vejamos estes exemplos: «[...]a Ti Mariana das Quintas, mulher de gadanho rijo e de pêlo na venta [...]» (p. 50);
«Caminhava ligeiro galopando em seu dorso nu. Das calhas do silêncio, alucinado de sirenes, escorria um bafor de incêndio [...]» (p. 96)
O narrador age e reage: comenta, analisa, denuncia, renuncia, questiona o real, empreende viagens interiores. Narrativas há em que ele se confronta com as suas próprias memórias e vivências, havendo a salientar o conto «Trasfega» em que uma voz narrativa se intromete para fazer uma espécie de inquérito ao subconsciente. Esta mesma situação verifica-se no conto «Domingo», o que empresta a esta obra marcas de diferença e de originalidade.
A religiosidade açoriana é, por outro lado, muitíssimo bem agarrada (e ironizada) nos contos «Judas Iscariotes» e «O Sonho». Neste último, há um soberbo retrato de padrice e beatice e há a história de um seminarista (nunca a iniciação sexual foi tão longe na literatura açoriana) de ressonâncias queirozianas, que bem mereciam um filme. Custódio (na pele de um outro padre Amaro) e Tia Escolástica (no papel de uma outra Santa Joaneira) passarão, a partir de agora, a emparceirar com as grandes personagens da melhor literatura portuguesa de sempre. E a merecer, por isso mesmo, a melhor atenção do realizador José Medeiros, que, à referida trilogia romanesca, foi colher abundante campo de referências para as celebradas séries televisivas «Xailes Negros» e «O Barco e o Sonho [...]».
Há um outro tema que é recorrente na larga folha de serviços literários de Cristóvão de Aguiar: a Guerra Colonial, ferida que ainda não cicatrizou na sua memória, pois que, durante dois anos, conheceu uma experiência traumatizante na Guiné. Há ecos e memórias que ressoam no belíssimo conto «A Noite e a Sombra», que, de forma onírica e fantástica, dá conta do absurdo desse estúpido e inútil conflito armado. Recorde-se que este romancista é autor de uma das melhores ficções sobre a referida guerra: O Braço Tatuado (Signo, 1990).
Trasfega remete-nos para um tempo fascizante e salazarento em que os poderes absolutos (o governativo, o clerical e o militar) corrompiam absolutamente. O cerco apertava-se e, mesmo no microcosmo pacato da ilha, as personagens defrontam-se e confrontam-se com os poderes instituídos e com os mecanismos aleatórios e repressivos do Estado Novo. O regedor, o padre e o professor primário simbolizavam (e exerciam) o poder e policiavam os bons costumes...
Apreciei ainda, neste livro, o enfocamento visual na maneira de contar. Atente-se neste exemplo:
«Sentada no vão da janela, Maria do Carmo fixa os olhos num ponto imaginário, deixa os lábios esboçarem um sorriso de incerteza e pergunta para dentro de si mesma se Custódio era de facto sincero. Duas lágrimas quentes e teimosas deslizam como dois ribeirinhos pelas faces abaixo e vão alojar-se-lhe na boca encarnada. São salgadas. Como o sal que o padre António lhe colocara na boca no dia do seu baptizado, havia mais de vinte e cinco anos...».
Estão aqui as técnicas cinematográficas do raccord e do flash back: as lágrimas salgadas de Maria do Carmo (presente, a cores) e o sal que lhe foi colocado na boca no dia do seu baptizado (passado, em sépia). É de uma grande eficácia o traçado substantivo da escrita e é deveras excelente a visualidade dos diálogos (cf. «O Sonho»).
Trasfega será porventura a obra mais cinematográfica de Cristóvão de Aguiar, mesmo sendo um livro de passagem. Se bem que, para mim, Um Grito em Chamas (Salamandra, 1995) continue a ser o seu melhor livro, aceite o sábio princípio que diz que o melhor livro de um escritor é sempre aquele que ainda não foi escrito...
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Secção: críticas literárias, Trasfega, Victor Rui Dores
TANTO MAR
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006


