terça-feira, 31 de julho de 2007

Relação de Bordo 1964-1988, crítica do Professor Carlos Reis



"(…) "Relação de Bordo" permite-nos testemunhar muitos tempos e muitos lugares: o tempo e o lugar da Coimbra do anos 60, o regresso episódico às origens açorianas de Cristóvão de Aguiar, a passagem pelos lugares da emigração americana, a guerra colonial, os entusiasmos da revolução de 74, os dramas pessoais e familiares do autor, etc., etc. Em tudo surpreende-se normalmente a tonalidade de uma contenção que equilibra a escrita diarística de Cristovão Aguiar entre os dois extremos que não raro são escolhos da perdição de uma tal escrita: o extremo da radical pessoalidade, sem outra explicação que não seja o gosto pela autocontemplação; o extremo do relatório neutro de coisas, pessoas e eventos. Entre um e outro extremo transcorre o discurso de uma relação: um texto que, sendo relato e descrição, é também o resultado de um encontro e de uma interacção do sujeito 'viajante' (…). Saúde-se, pois, de forma expressiva, esta "Relação de Bordo" de Cristovão de Aguiar. Ela é um outro passo importante na obra de um escritor porventura ainda insuficientemente valorizado, mas a quem devemos já uma obra ficcional coerente, tecnicamente elaborada e bem representativa de tendências da ficção portuguesa contemporânea (…).»




CARLOS REIS, sobre o primeiro volume de "Relação de Bordo", in Jornal de Letras, 8/9/99

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Cristóvão por APELOEH

domingo, 29 de julho de 2007

MARILHA, CRÍTICA LITERÁRIA DE MANUEL MELO BENTO


UM LIVRO DA PRATELEIRA


Cristóvão de Aguiar serviu-se de uma personagem a que deu o nome de Severiana de Jesus para dar corpo a um dos mais criativos romances da literatura portuguesa actual: “Marilha”. Severiana lega-nos uma história político-religiosa de assombro, onde a ética que a enforma é uma opção de um humanismo vivido no plano do terreno de todas as vivências. Para avaliar Aguiar é preciso afastarmo-nos dele e da sua obra. Afastarmo-nos dos profetas imorredoiros da literatura universal também é preciso. Por exemplo, Dostoievsky escreveu “Os Irmãos Karamazov” num país com nove milhões de quilómetros quadrados de superfície e cento e tal milhões de habitantes à época. Quem é escritor sabe o valor que isso representa. Aguiar escreve “Marilha” num panorama único e restrito. Numa ilha com dezenas de milhar de habitantes e com setecentos e poucos quilómetros quadrados de superfície “descobrir” um discurso de gente de uma “Tronqueira” recheada de toda uma cultura de exploração psicológica “invisível” e não só ao nível de quem pouco sabendo sabe “tudo”, é ser-se senhor de uma pena genial, pois apresenta sentidos direccionais de conclusão ideológica jamais deslindados na escrita dos nossos actuais escritores, a não ser quando os propõem (os sentidos) como manifestos políticos. A participação de Aguiar na literatura universal desabrochou há muito. Mais do que nunca é preciso pensar Aguiar. A “literatura de veio açoriano” sofre de uma frente fria que a liofiliza. Talvez tenhamos medo de nos descobrirmos a nós próprios. Vai lá saber-se porquê...



manuelmbento

NOVA RELAÇÃO DE BORDO, crítica de Aida Baptista


AIDA BAPTISTA





Sexta-feira passada deitei-me com Cristóvão de Aguiar e deixei-me invadir por toda a profundidade da escrita da sua “Nova Relação de Bordo”. Já a tinha comprado há bastante tempo, mas aqui me penitencio por me não ter disponibilizado ainda para com ela conviver. Os textos de Cristóvão de Aguiar não foram escritos para serem lidos em intervalos de lazer ou para descansar os olhos das rotineiras canseiras a que diariamente nos entregamos. Não! A sua escrita exige muita daquela preguiça que descarrega neurónios saturados, vasculha a mente suja de preocupações e prepara-a para uma leitura atenta e muito cuidada. Tão cuidada quanto o apreço em que ele tem o leitor, ao surpreender-nos com o que faz de melhor e mais bonito - escrever. Preciso de todos estes preliminares para me poder concentrar, ler e voltar atrás, sublinhar, tomar notas e repetir mentalmente muitas das frases, comendo-lhe as sílabas das palavras, uma a uma, como as cerejas. Se as conversas são como as cerejas - umas atrás das outras -, a escrita também. Se não era assim, passa a ser a partir de agora. Decretei-o eu, hoje!
Numa dessas colheitas de leitura sôfrega e sumarenta, deparei com este cacho

“Apetece passear os pensamentos à beira deste mar baboso de tanto tropeçar de sono e de sonho contra as pedras do anteparo da marina e da Avenida …”।



Enciclopédia do Rock Português, por Aristides Duarte.

O ESCRAVO DO TEMPO, ESCULTURA EM CIMENTO DE EUGÉNIO MACEDO


Escultura em cimento, por Eugénio Macedo.

quinta-feira, 26 de julho de 2007


CONTINUAÇÃO

ESTREIA



Vamos estrear um blogue de homenagem ao Comendador, Professor, Poeta, Prosador, Romancista, Tradutor e muito mais: Cristóvão de Aguiar.






Fernando Pessoa, escultura em ferro de Fernando Monteiro Fernandes, Soito Sabugal-2003

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006