domingo, 30 de dezembro de 2007

Este livro que idealizei, concebi e realizei, em Agosto de 2007, já está esgotado na FNAC de Coimbra. Mais? Só em 2008.

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PREÇO MÍNIMO GARANTIDO FNAC: € 9,00.
Secção Destaque: História/Crítica.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Cristóvão de Aguiar, Escritor Universal, por Rita Basílio in Campeão das Províncias, 10 de Março de 2005

“Poucos se aventuraram a ser marinheiros. Os que foram ficando em terra abraçaram outras ondas, talvez mais amargas, sem barcos nem navios. Quanto a mim, cumpri o meu destino: trago uma Ilha servindo-me de lastro num dos porões abalroados da proa deste velho navio onde navego e me viajo”.


Não poderia ser mais inconfidente a pena de Cristóvão de Aguiar nesta passagem de «Marilha», título que, por estes dias a D. Quixote irá lançar. Aderir à leitura da obra do escritor, nascido em 1940 no lugar de Pico da Pedra, Ilha de São Miguel, e “refugiado” em Coimbra desde os turbulentos anos 60, é entrar no âmago da sua experiência mental e emocional.
Por uma razão simples. Escrever, argumenta no seu sotaque carregado, “é um exercício autobiográfico. O que acontece é que todo o autor altera cenários, personagens e mente. Quanto mais mentir, melhor!”
Numa palavra, Cristóvão é o criador e o protagonista das suas histórias. Desde a «Raiz Comovida», o primeiro volume a romper a barreira do conhecimento e a merecer uma distinção de peso – o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências de Lisboa, em 1978 –, até «Trasfega: casos e contos», título com que arrecadou o Prémio Miguel Torga, em 2002.

Reconhece-se na escrita “como, e enquanto, pessoa-escritor”, atesta, por seu lado, Ana Paula Arnaut. A sua prosa, prossegue a docente da Faculdade de Letras de Coimbra, é “uma catarse onde se misturam tempos e vivências, espaços e recordações, pessoas e amores perdidos ou encontrados, mundos experimentados ou imaginados”. Mas universos recriados de dentro para fora, como bem testemunha «Trasfega», colectânea de histórias com perfume insular. Nesta, salienta Ana Paula Arnaut, ele “se perde e se encontra em casos e contos que, embora diferentes no que respeita à temática particular, parecem ser presididos pelo mesmo espírito e por uma mesma preocupação”. A saber: “dar conta das teias em que o Homem se vê enredado”.

É exactamente por isso que José Medeiros Ferreira considera Cristóvão um nome incontornável da produção literária contemporânea:
“Está para os Açores como Almeida Garrett está para a literatura portuguesa do século XIX”. Começou, retrata, por “mergulhar na memória ficcionada, assentando, depois, no registo diário e aderindo, mais tarde, à dimensão onírica, através do relato dos sonhos”, mas, em qualquer uma dessas fases, “tornou erudita a linguagem popular”.

Quatro décadas de vida literária.

Tal como a escrita, quase sempre mais sofrida do que prazenteira, também a vida não trouxe a Cristóvão de Aguiar só alegrias. Originário de uma família de camponeses e artífices, só prosseguiu os estudos para além da primária graças ao sacrifício do pai, que se empregou na base militar do arquipélago para fazer face às despesas crescentes.
Foi bom aluno, interessado, desde o berço, na literatura e até o responsável pela ausência de Medeiros Ferreira nos campos de futebol. Contagiou-o a tal ponto com o vício da Biblioteca do Liceu de Ponta Delgada que, anos mais tarde, inauguraram ambos uma colaboração literária n’«O Correio dos Açores», como uma página dedicada a Eça de Queirós.
À boleia de uma bolsa de estudo, viaja, findo o liceu até Coimbra, para cursar Filologia Germânica e só à custa de uma extraordinária resistência ao doloroso sentimento da solidão não regressou, pouco depois, ao regaço familiar. Valeu-lhe a imersão na vida cultural da cidade e nas tertúlias de figuras eminentes, onde sempre preferiu falar menos e escutar mais.
Apaixonou-se por essa efervescência intelectual e não mais se ausentou da cidade meses a fio a não ser por culpa da guerra. Fê-lo interromper o curso, atirou-o para a Guiné e pô-lo de rastos durante os anos seguintes à comissão.
Pelo meio nasceram-lhe dois dos seus três filhos. O primogénito, concebido em África e crescido com os olhos colados na sua obra, chegou a vender os seus livros porta a porta, promovendo-o como um autor que “não pede meças aos grandes nomes da literatura portuguesa”.
Hoje, José Manuel Aguiar, advogado de profissão, aprecia a sua obra como se de um tratado multidisciplinar se tratasse. “Ela abarca a História, a sociologia, o fascismo, a vida académica de Coimbra, a portugalidade e, acima de tudo, a alma do povo açoriano”.


Curiosamente, o primeiro registo que o antigo redactor da revista «Vértice» escolheu para se expressar foi a poesia. Antes mesmo de se licenciar, de dar aulas em Leiria e de se tornar director de Inglês na Faculdade de Ciências de Coimbra – funções que desempenhou durante 30 anos e até se aposentar –, estreou-se com um livro de poemas. Hoje, vê esse «Mãos Vazias», surgido em 1965, como “mau, muito mau”. O único valor que lhe vislumbra é o de assinalar o início da sua vida literária.

Volvidos 40 anos, a Faculdade de Letras de Coimbra prepara-se para o homenagear. Sob a coordenação de Ana Paula Arnaut, está a ser forjado um livro que reúne grande parte das críticas que, ao longo destas décadas, foram sendo dirigidas à sua obra. São, ao todo, mais de dezena e meia de títulos nascidos da pena de um homem com o coração dividido. Ama os Açores, mas só deste lado do Atlântico, a uma distância espacial e emocional vasta e sentida, consegue ficcionar as suas experiências de ilhéu.

A sua matriz, porém, é a identidade de um povo. Já o disse o ensaísta Aníbal Pinto de Castro quando, no prefácio ao seu «Relação de Bordo II», afirma que observa a “realidade vivida por si com as lentes de uma agudíssima poética de dimensão universal”.

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

O Podium Scriptae ainda é um bébé que completa hoje 5 meses de vida.


Muito obrigado a todos os visitantes e amigos.

José Manuel

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

Soito-Sabugal, 24 de Dezembro de 1970

"[...] Mas fiquei compensado. Deus quis mostrar-me, a mim, que sou descrente, que se há solidão entre os homens há verdadeira comunhão na Natureza. E logo pela manhãnzinha, que estes milagres querem-se na pura claridade da hora do nascer, Ele paramentou-se e distribuiu a comunhão. Nem um ateu poderia deixar de estremecer. E era um regalo para os sentidos observar as árvores, de joelhos, e os montes, e os campos, recebendo o maná branco que descia lento do cálice do céu. Depois foi a sinfonia branca do silêncio. "

Cristóvão de Aguiar, Relação de Bordo, 1964-1988, pág. 106.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Soito-Sabugal, 28 de Dezembro de 1970, Relação de Bordo, 1964-1988. Esgotado

" Aqui vou de abalada com os olhos roídos de neve e o remorso de não querer ficar.
Ficou o Loto com as suas aventuras de contrabando, a pedir uma tela ou um livro. Deixei-o falar à vontade. E foi tal a violência da descrição, que me pus com ele a rastejar ao som dos primeiros tiros dos carabineiros. Fiquei molhado até às virilhas na travessia do Côa, enquanto os cavalos tingiam a neve de sangue.

Estação da Guarda, mesmo dia, um pouco mais tarde-

Este frio mata as almas - diz uma mulherzinha aqui ao meu lado, enquanto bate com os pés no cimento do apeadeiro. As pessoas que vejo dão-me a impressão de corpos sem alma. Esta enorme lâmina que cai verticalmente de um céu alucinado corta tudo rente, até o comboio que está parado na linha em frente e se destina a Hendaia e parte dentro de momentos. O comboio é longo, escuro e triste. Nem homens nem mulheres se dependuram nas janelas. É um comboio ao contrário. O chefe da estação apita, mas não tem culpa. A lâmina dá mais uma guinada e apanha os olhos daquela mulher que chora. Da carruagem acena uma mão tímida, sem coragem. No apeadeiro, a mão e o lenço da mulher responden, sem coragem também."


Cristóvão de Aguiar in Relação de Bordo 1964-1988, pags 108 e 109.

domingo, 16 de dezembro de 2007

Soito - Sabugal, 24 de Dezembro de 1970.

"Chegaram alguns emigrantes de França. Curtidos das neves e dos frios da estranja, vieram aquecer-se à lareira do torrão. Trouxeram os seus automóveis potentes - gritos de protesto à servidão de séculos. Apesar do frio, as ruas estão cheias de vozes e de cores. Duas línguas confraternizam nesta tarde raiana. No cruzeiro, homens possantes e terrosos armam, com tocos de castanheiro, a fogueira da confraternização. São os mordomos do Menino. Há mais calor humano neste altar de tocos do que nos litúrgicos repiques dos sinos, convidando o povo para a Missa do Galo. Tanto que me enternece todo este paganismo pré-histórico, em que uma lareira acesa significa uma lareira realmente acesa, à qual todos se podem aquecer."
Cristóvão de Aguiar, in Relação de Bordo, 1964-1988, página 105.










A imagem foi retirada do blogue Capeia Arraiana.

Sítio da Nazaré, 20 de Dezembro de 1970. In Relação de Bordo 1964 - 1988

"Deste púlpito de rocha, a imaginação pára de trabalhar. Fica atónita em face de  tamanha grandeza. Ao voltar as costas, porém, apanhei num relance toda a dimensão trágica das gentes destas praias. Uma velha embuçada num xaile negro, encostada a um muro caiado de um branco de noiva, comungava o sol da tarde que declinava. Exactamente por cima da sua cabeça, a sombra projectada do cruzeiro completava o quadro fantasmagórico - a mulher ficou ali crucificada naquela cruz de sombra."

Cristóvão de Aguiar, páginas 103 in fine e 104.

F.M.F., escultura em ferro, 2004 Soito Sabugal

sábado, 15 de dezembro de 2007

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

terça-feira, 11 de dezembro de 2007

Publicação do prefácio do livro "Miguel Torga o Lavrador das Letras", por Cristóvão de Aguiar

[…] É um duro ofício, o do poeta. Começa por ser uma vocação irreprimível e acaba por ser uma penitência assumida. A fatalidade e a voluntariedade inexoravelmente conjugadas no mesmo destino carismático e aziago que só encontra sentido na fidelidade com que se cumpre […].
Miguel Torga, in Prefácio à Antologia Poética.

"O PORQUÊ DESTE LIVRO

Os laços afectivos e literários que me enleiam à obra do poeta e escritor Miguel Torga datam de há mais de quarenta anos. Na Ilha de onde zarpei em 1960 só havia lido, e mal, dois livros de sua autoria: Traço de União e Vindima. Pensei na altura que tinha sido uma estreia muito pouco auspiciosa (mais tarde corrigi a minha impressão), não pelos livros em si, mas por culpa minha. A leitura não se me revelara tão aliciante
ao ponto de me aguçar a curiosidade de ir em cata de outras obras do corpus literário do autor de Bichos. É que, nesse tempo, só lia Eça de Queirós, e de tal sorte me encontrava imbuído do seu estilo e da sua fina e elegante ironia, que se me tornava difícil ler outro escritor sem sentir um certo vazio no íntimo. Pelo pouco que havia lido, notara logo que o estilo de Miguel Torga era totalmente distinto do cinzelado nas obras do pobre homem da Póvoa de Varzim – mais enxuto, descarnado e de uma seriedade granítica. Ali não se vislumbrava pingo de ironia!
No entanto, mesmo que desejasse prosseguir na leitura do demiurgo de A Criação do Mundo, não o poderia fazer. Em nenhuma livraria /papelaria da cidade de Ponta Delgada, havia qualquer obra torguiana à venda, nem tão-pouco na biblioteca do Liceu, bem apetrechada de obras de escritores portugueses do século XIX, dos quais só nos era autorizado ler alguns, por motivos morais e outras balelas... Os que adquirira de Miguel Torga encomendara-os numa “livraria” que, por sua vez, os mandara vir, à cobrança, do Continente. A demora converteu-se em cerca de três semanas de espera…
Só em Coimbra, após a guerra colonial, e já numa idade mais amadurecida, me encafuei de tal forma na obra torguiana, que ainda hoje, passados todos estes anos, continuo a frequentá-la com uma assiduidade de devoto que ainda não esfriou a sua fé. Esta paixão deve ter tido origem não só na prosa apurada com que o escritor lavra cada página de cada livro e me fascina pela simplicidade trabalhada até à placenta da palavra, mas também no facto de a ambiência espelhada nos Contos e sobretudo em A Criação do Mundo ser idêntica ou muito semelhante ao pequeno grande mundo da Ilha onde fui nado e criado.
Fui também aquele rapaz do primeiro dia de A Criação do Mundo. Só não embarquei para o Brasil no navio Arlanza, nem sofri as agruras da emigração real, embora tivesse amargado outra(s) não menos verdadeira(s). Até me reconheci em muito do léxico transmontano contido na obra! O vocabulário micaelense tinha parecenças ou as mesmas raízes do transmontano e alentejano, o que não surpreende, porque a Ilha foi povoada por gentes das províncias portuguesas e, nesse tempo, a lonjura e a falta de comunicação entre o reino e as Ilhas ou mesmo entre as províncias do Continente conservavam, como peixe em salgadeira, o português arcaico e castiço, que já quase se perdeu nas engrenagens comunicacionais desta era cada vez mais tecnológica.
A (re) leitura dos livros de Miguel Torga invade-me de uma paz rústica, genuíno oásis neste mundo barulhento, e transmuda-se num conchego caldeado de uma ansiedade mansa – Torga é uma personalidade rebelde e inquieta e reflecte-a como poucos em toda a sua vasta obra.
Um dia, falando com o Poeta no seu consultório, no Largo da Portagem, e após lhe ter contado alguns lances da minha vida, ele, que me ouvia atentamente com seus olhos pontiagudos que me atravessavam de lado a lado, saiu-se-me com esta que me deixou aterrado:
“Escreva um livro do género de A Criação do Mundo, que pressinto que Você tem dentro de si matéria bastante para a transformar em prosa; trabalhe, só com persistência e muito suor conseguirá alguma coisa; desconfie da facilidade...”
Os vates não se enganam e, de facto, três anos mais tarde, escrevi e publiquei o primeiro volume de Raiz Comovida, a minha criação do mundo, salvaguardadas as devidas proporções com a do Mestre da prosa e da poesia que é e será sempre Miguel Torga. Soube, depois, por um amigo comum, que ele havia gostado de me ler – foi a mais importante bênção literária que alguma vez me botaram... Ia subindo ao ar como um balão!
Que teria sentido o Poeta na minha pessoa para me sugerir um empreendimento de tal responsabilidade?
Alguns poetas são verdadeiros vates e Miguel Torga era-o até à medula.
Anos mais tarde, após o desaparecimento físico do Poeta, iniciei a publicação da literatura diarística, que já conta com quatro volumes, tendo dois deles obtido prémios: a Relação de Bordo I, o da APE /CMP da Literatura Biográfica (1999) e o último, A Tabuada do Tempo – a lenta narrativa dos dias, o Prémio Miguel Torga /Cidade de Coimbra (2006).
Era natural que, no registo nem sempre diário da minha conta-corrente, falasse de Miguel Torga, da sua obra, do intercâmbio que com ele mantive durante mais de um ano. Não me vou alargar em explanações porque o leitor ao ler este livro compreenderá o que ora afirmo.
Devo ao meu filho José Manuel, incansável leitor da minha obra, a ideia e iniciativa de extrair, não só dos diários mas também do livrinho Com Paulo Quintela À Mesa da Tertúlia, todos ou quase todos os excertos em que há referências a Miguel Torga e reunir esses passos num volume. Diz-me o meu filho que sente, por vezes, que existe um diálogo em certas entradas entre os diários de ambos. Perdoo-lhe a imodéstia pela intensidade e calor que põe em tudo quanto diz respeito à obra do Pai, que quase sabe de cor. A ele devo também o trabalho paciente que despendeu, com prejuízo das suas férias, de coligir tudo quanto adiante se publica.
A Livraria Almedina, nas pessoas de Carlos Pinto e de Paula Valente, acolheram bem a ideia e vestiram-na com um corpo que ora vo-lo apresento com o mesmo receio e insegurança que me acompanham sempre que publico um livro. Com ele pretendo, à minha maneira, prestar uma modestíssima homenagem ao Poeta de Orfeu Rebelde, cujo 1.° centenário de nascimento ocorre no dia em que escrevo estas notas, neste ano da era de Jesus Cristo de 2007."

Cristóvão de Aguiar

Ilha do Pico, 12 de Agosto de 2007

P. S.
A leitura deste livro não dispensa a obra integral.

domingo, 9 de dezembro de 2007

Escultura em ferro. (F.M.F. - 2006) Soito Sabugal

Clicar no título para ver notícia.




domingo, 2 de dezembro de 2007

sábado, 1 de dezembro de 2007

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006