segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Comentário de ISABEL a Miguel Torga e ao meu "modesto Tributo".

Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

Talvez o poema de Miguel Torga que mais gosto, é uma poema visceral e dorido sem se alhear da beleza e da ternura.
Talvez porque também escrevo de forma visceral e terna talvez me identifique tanto com este poema, imagino-o a escrever rasgando-se lá dentro para o fazer e ao mesmo tempo alimentando-se da ternura que as palavras trazem a quem tanto as ama.

Gostei muito da tua homenagem, o teu poema é muito bonito e tocou-me. O fruto ultrapassa a vida, não sei se é imortal, não sei se existe alguma coisa imortal, mas sei que a essencia fica para além da vida.Isabel ( http://asminhaspalavras23.blogspot.com)

Muito obrigado pelo elogio.
Lapa

domingo, 14 de outubro de 2007

Tributo a Miguel Torga, por Lapa. Agora que está prestes a ser lançado o livro Miguel Torga "O Lavrador das Letras", de Cristóvão de Aguiar.


MODESTO TRIBUTO A TORGA

leia-se em verso ou bela prosa,
Trás-os-Montes e seu memorial
das suas "pétalas": perfume rosa
tudo narrado de forma magistral.

Coimbra, cidade buliçosa
dela ódio, amor colossal.
exigente, bela e formosa
também a cantaste sem igual.

lavrador de versos e prosas,
Foste, porém, poeta visceral.
e as colheitas tão dolorosas…

mas Teu arado esventrou Portugal!
muito obrigado, Miguel Torga
por tudo Teu fruto é imortal!

(by lapa, Nazaré, Agosto-2007 depois de compilar o livro sobre Miguel Torga na Obra de Cristóvão de Aguiar)

Este próximo livro de Cristóvão de Aguiar, Miguel Torga "o Lavrador das Letras", tal como no livro Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia, mostra-nos um grande homem, pelo lado de dentro.
A ética, o saber, as intrigas, os sentimentos, os amigos, a criação artística, tudo pela pena (tecla) de Cristóvão de Aguiar que empresta sempre um forte pendor de humanidade e qualidade literária às suas "Peças".
Enfim, uma lição de vida!

Recomendo-o vivamente.

sábado, 13 de outubro de 2007

NA ESQUINA DO VENTO, in Sonetos de Amor Ilhéu, de Cristóvão de Aguiar, Coimbra - 1992.



na esquina do vento


Minha casa plantaste na esquina do vento
onde as marés afinam suas melodias
desde então te respiro e ganho meu sustento
caiando de palavras o muro dos dias.

entre o meu e o teu corpo um intervalo lento
que a baixa-mar escolta bem de penedias.
redobra o meu querer-te quanto mais te invento
e só depois me vejo de órbitas vazias.

velha pecha esta minha de mergulhar
nos confins do teu nome para te procurar
e a mim também por rumos que eu já nem sabia.

à minha conta trouxe o mar dentro em mim
vazei-o no meu búzio no dia em que vim
- ouço o marulhar não lhe cheiro a maresia.

(Cristóvão de Aguiar, in Sonetos de Amor Ilhéu, Coimbra 1992)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um episódio respigado do livro Com Paulo Quintela À Mesa da Tertúlia, de Cristóvão de Aguiar







O Largo do Leão! Assim denominado por via do leão de bronze que fazia parte integrante do monu­mento a Luís de Camões, outrora no largo defronte da casa do poeta Eugé­nio de Cas­tro e agora rele­gado para um recanto ajardinado, no segui­mento da mata do Jar­dim Botânico, mesmo à ilharga da empena do antigo CADC, hoje Insti­tuto de Jus­tiça e Paz. O leão de bronze não possui testícu­los. A ausên­cia de tão impor­tante apên­dice anató­mico constituiu para mui­tas gera­ções de estu­dantes motivo de cha­cota e de mote de gozo aos caloiros. Quando no prin­cí­pio dos anos qua­renta o camar­telo ini­ciou a des­trui­ção da Alta, o monu­mento a Luís de Camões foi removido. O leão de bronze foi para o Pátio da Inqui­si­ção e anos depois para o átrio exte­rior da entrada da Associa­ção Acadé­mica, no Palá­cio dos Gri­los. No iní­cio da década de sessenta, após o novo edi­fí­cio da AAC ter sido inaugu­rado, o leão de bronze foi tras­ladado para um recanto do jar­dim onde permaneceu até à reabilita­ção do monu­mento a Luís de Camões no local onde hoje se encontra.

Embora o local escolhido peque pela sua extrema humildade se comparado com a grandiosidade balofa do monumento erguido, nos Arcos do Jardim, ao Papa João Paulo II, é de louvar a lembrança das autoridades, creio que municipais. Só que as suas congéneres académicas deveriam ter decerto uma palavra a dizer. E esta seria a de que o monumento a Luís de Camões poderia muito bem ter sido reerguido no antigo local e reconstituído como dantes. Faltam os dois versos dos Lusíadas esculpidos em bronze no pedestal da estátua, sem os quais não se compreende a castração do animal esculpido em bronze:

Melhor merecê-los sem os ter
Que possuí-los sem os merecer.


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Eis um exemplo paradigmático de um texto de "Literatura Lusa-Ateniense".

Esta tipificação é destinada à melhor compreensão por parte de todos os adeptos da, digamos assim, "Teoria da Segmentação Territorial da Literatura Portuguesa"... :)))

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QUINTELA E OUTRAS "HISTÓRIAS", CRÍTICA LITERÁRIA DE JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS, DIRECTOR DO JL, Ano XXVI / N.º 935.







[…] O primeiro deles é “Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia" , de Cristóvão de Aguiar, que se tem distinguido na ficção e na diarística (ainda agora lhe foi atribuído, pela segunda vez, o Prémio Miguel Torga), que acresce ao de Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, e de uma nova edição, refundida e aumentada, um testemunho significativo, sentido e bem escrito, sobre o homem, o intelectual e o combatente.
Um testemunho de quem o acompanhou bastante, sobretudo na última fase da sua vida – e é desta fase que o livro revela mais aspectos ou episódios desconhecidos, ou só conhecidos dos seus mais próximos. Dele resulta um expressivo retrato de Quintela, da sua dimensão humana e cultural, inclusive do seu carácter e forma de ser (de uma frontalidade por vezes bastante “difícil” para quem não o conhecia bem), do seu corajoso apoio às lutas estudantis pela liberdade, da sua relação com grandes amigos como Vitorino Nemésio (até ao fim) ou Miguel Torga (esta a certa altura “rompida”), etc.
Além disso, e ultrapassando o que o título sugere, o livro traça também a história do mais relevante de todo o percurso de Paulo, neto de um almocreve e oitavo dos dez filhos de um pedreiro e de uma padeira de Bragança, que pelo seu trabalho, esforço e talento se fez o que foi, sem nunca renegar as origens, antes delas se orgulhando. Do que são paradigmas as magníficas intervenções que fez em vários momentos relevantes, como, por exemplo, ao receber as insígnias doutorais ou ao ser homenageado quando lhe foi atribuída a Medalha de Ouro do Instituto Goethe.[...]

JVC, in Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2006, n.º 935, página 18.


Alguém ouviu falar deste livro?

Aposto que a edição nem saiu dos caixotes que estavam depositados na livraria situada em frente das Escadas Monumentais e da cantina da Associação Académica de Coimbra...
Se duvidam, perguntem aos vossos livreiros.

Lapa.

À CONVERSA COM CRISTÓVÃO DE AGUIAR, NA LIVRARIA ALMEDINA ESTÁDIO CIDADE DE COIMBRA, 09-10-07











Cristóvão de Aguiar esteve muito bem e a discussão que se seguiu também foi enriquecedora.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Crítica Literária de Ruben P. Ferreira a: "A Tabuada do Tempo", de Cristóvão de Aguiar, na Revista Os Meus Livros, N.º 56, de 06-Outubro-2007.

The Arithmetic Table of Time



DIARY


WRITER HUMANENESS





This metapoem (Miguel Torga’s Prize in 2006) on the daily life of a man of belles-letres leads the reader into the meanders that originate the writing itself and its themes. The modesty, humaneness, childhood, friends, travelling digressions, anxieties, depressions, fears, preferences, flatulencies of the body (of the soul), the absence of the sun, the humidity, affections, his children, in a mixture of very pleasant and joined chronologies in a daily report of one year, which is much comprehensive as well as recomforting.
If in some periods one understands that that year may be 1996, in others the years fly away mingled with numerous references to past epochs, up to the moment of the formation of the convictions and of the first poems, or to the more recent melancholy attacks, amidst lectures in the Faculty. It is a diagram of the days and nights which is kept up in an essentially nostalgic register, at times revealing solved anguishes as time goes by or never. Anguishes for ever. A Time marked by the Author’s internal chronology, by the exposure implemented in the incapacity of becoming autonomous, in the ability of creating a work of art as never before. A time of oblivion combined with the effort, at times abstract, of wording that it is already understood (hidden) in the understanding of himself, of other people and the world.

Ruben P. Ferreira (Trad.)

CLICAR NA IMAGEM PARA LER A CRÍTICA LITERÁRIA

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Obra de Cristóvão de Aguiar Censurada nas Livrarias dos Açores. Senhor Presidente Carlos César: Quid Iuris?










A livraria SOLMAR, de São Miguel, tem uma galeria de fotografias de autores açorianos onde figurava Cristóvão de Aguiar.
Digo figurava, porque a fotografia do CRISTÓVÃO de AGUIAR foi ostensivamente retirada...
Obrigado, livraria SOLMAR. De facto Cristóvão não pertence só aos escritores açorianos, pertence aos escritores Universais!

Desafortunadamente, parece que existe la censura, que hay letras que no se desean ver difundidas. Eso va contra el elemental derecho de expresión. Mi solidaridad con Cristòvao y mi deseo de que esa situación cambie.
(Isabel Romana)

Quanto a Cristóvão Aguiar, não vi nada sobre ele na minha recente visita aos Açores, de facto. Mas também para comprar um CD de José Medeiros foi complicado.
Talvez os Açores tenham que cuidar mais do seu património. Aliás, como todo o país, não é?
(SÃO)


A recente visita aos Açores (S. Miguel) revelou que o arquipélago não cuida dos seus escritores. Em nenhuma das livrarias que visitei em Ponta Delgada pude encontrar qualquer obra de CA. A justificação era de que estavam esgotados. Se assim for, retiro a minha conclusão inicial.
(Victor Alves).

R: Não, não estão esgotados..., antes pelo contrário!


sábado, 6 de outubro de 2007

PASSAGEIRO EM TRÂNSITO-1988 PASSAGEIROS EM TRÂNSITO - 2006






Não se compreende que as Publicações Dom Quixote publiquem um romance do escritor Agualusa com (quase) o mesmo título de um livro de Cristóvão.
Vejamos:
Passageiros em Trânsito, de Agualusa (2006);

Passageiro em Trânsito, de Cristóvão de Aguiar (1988 - 1994).

A diferença reside apenas no plural do primeiro. O romance de Cristóvão de Aguiar foi publicado em 1988. O de Agualusa em 2006.

O "PASSAGEIRO EM TRÂNSITO" é de Cristóvão de Aguiar.

HAJA RESPEITO!

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006