Por razões de ordem familiar tenho passado este Verão em Coimbra e isso possibilitou-me estar presente na sessão solene do dia 4 de Julho, em que a cidade homenageou um grupo de cidadãos atribuindo-lhes medalhas de mérito. Juntou a isso, como julgo ser tradição, a entrega do Prémio Literário Miguel Torga, que é atribuído por concurso àqueles escritores que decidam apresentar trabalhos inéditos, depois avaliados por um júri, como dizem os franceses, de sábios.
A sessão, que decorreu numa quinta dos arredores da cidade, teve o figurino tradicional nestas coisas, foi interessante e constou, como sempre, de muitos discursos, testemunhos, alguma emoção e uma forte participação, o que quer dizer que os homenageados são realmente figuras bem integradas na cidadania.
Bom, mas fui à dita sessão pela circunstância do escritor que este ano, pela segunda vez, frise-se, ganhou o Prémio Torga ter sido o nosso conterrâneo Cristóvão de Aguiar e, estando eu em Coimbra, não queria deixar passar a oportunidade de o encontrar e felicitá-lo pessoalmente pelo galardão. Espero, agora, como de certo todos os seus admiradores, que a Câmara de Coimbra publique o seu inédito (A Tabuada do Tempo), o que acontecerá durante o ano de 2007.
Infelizmente, o membro do júri que leu a apreciação da obra premiada não conseguiu fazer ouvir-se e por isso pouco ou nada ficou a saber-se acerca desta "Tabuada". A solução é esperar.
Acontece que também este ano consegui ter acesso a um livro de homenagem a Cristóvão de Aguiar editado pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, já em 2005, e onde se reúne uma antologia sobre a obra do homenageado, além de informação bibliográfica e uma muito curiosa autobiografia, sem dúvida uma daquelas páginas inspiradas de Cristóvão de Aguiar. É até, julgo, mais do que uma autobiografia. É uma espécie de confissão na linha da literatura intimista que C.A. cultiva com mestria.
O livro tem a virtude de quebrar a preocupação comum de só reunir textos laudatórios, para se abrir a um vasto panorama de opiniões, favoráveis umas, críticas outras, e até derrotistas algumas, o que, no meu entendimento, só quer dizer que a obra do nosso escritor é suficientemente variada e suficientemente polémica para suscitar a paixão, coisa que nos tempos que correm, além de ser uma virtude, é um caso raro, uma vez que a literatura deixou há muito de constar dos interesses quotidianos do cidadão comum.
Uma dessas críticas incluídas no livro é a de João Gaspar Simões, velho e impenitente inimigo de todos os regionalismos literários, publicada no Diário de Notícias (2-4-1981), que suscitou alguma polémica, também ela incluída na antologia, mas curiosamente nenhuma vinda dos sectores literários açorianos. Curioso e decepcionante. Para o Verão quente coimbrão foi uma bela surpresa este livro e este encontro com Cristóvão de Aguiar, ambos com brisa atlântica.
JOSé GUILHERME REIS LEITE, in Expresso das Nove.
Ilustração de lapa.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Uma Brisa Atlântica, por JOSÉ GUILHERME REIS LEITE, in Expresso das Nove, Julho de 2006
Publicado por Lapa às 15:13:00
Secção: AÇORES, COIMBRA, críticas literárias, Notícias
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TANTO MAR
A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
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