quinta-feira, 10 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

sábado, 5 de março de 2011

PRÉ-PUBLICAÇÃO: Excerto do livro Catarse - Diálogo epistolográfico em forma de romance, da autoria de Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar, a publicar em Abril próximo pela novel editora Lápis de Memórias. In Semanário Expresso das Nove, 4 de Março de 2011


I
Parto amanhã de manhã para Lisboa. Sábado que será de sol. Voo semidirecto: Pico, Lajes, Lisboa. Sempre que me vou de abalada, sinto uma ponta de tristeza e de saudade do local onde aqueci lugar durante algum tempo. A mala e a pasta do computador já se encontram no chão do alpendre da casa virada ao mar. Contemplo a Ilha de São Jorge: estende-se ao longo do meu olhar numa extensão de cerca de oitenta quilómetros. Hoje, pintou-se de azul arroxeado. Daqui a pouco, já troca de pintura, mas não é troca-tintas! Nunca usa a mesma durante muito tempo. Grande vaidosa, a Ilha em frente de minha casa! O Expresso que liga os portos da Horta, de São Roque e São Jorge, não navega: azula-se de tal maneira que já vai a meio do canal, o de Vitorino Nemésio, rumo à Vila das Velas. Enxergo o casario com nitidez e, à noite, até vislumbro a claridade dos faróis dos automóveis circulando nas estradas. O mar, um espelho. Estanhado. Bom Tempo no Canal! Ainda é muito cedo! Sou ardido no tocante a horários! A boleia só chegará daqui por uma hora, mas gosto de sentir-me em mangas de camisa dentro do tempo que me faço sobejar. Vou ainda percorrer a casa, palmo a palmo. Retiro algum prazer mórbido ao despedir-me das coisas, devagar. Das pessoas, é mais fácil! Entro de novo, subo as escadas que me levam ao sótão, o meu santuário da escrita e dos livros. Acaricio a lombada de um ou outro, endireito algum mais indisciplinado, sem vocação militar para a formatura rígida, deixo cair os olhos nas estantes de criptoméria, aliso a secretária já esvaziada do computador portátil, lanço um lento olhar em redor, na esperança de que ele fique, ali, preenchendo a ausência prestes a desabotoar-se e me dê as boas-vindas quando de novo eu chegar… Como existirão os livros sem mim, neste sótão de silêncio? Desço de novo as escadas, paro uns momentos em cada degrau, capto a sala de cima, e enterneço-me com o vidrinho de lágrima semi-inventada que me embacia os olhos.
Cristóvão de Aguiar
II
Passei a tarde em casa da filha da Flávia. A Gracinha lembrou-se de organizar uma festa para celebrar os setenta anos da mãe. Muito gostei de rever pessoas da família que há muito já não encontrava. A primeira com quem falei foi com a Telma de titia Maria da Ascensão. Está com muito bom aspecto. Todos os dias anda três milhas ao longo do passeio das ruas, para não ter de tomar medicamentos para a diabetes. Depois, falei com a irmã, a Maria Manuela, a Mané em família. Já não a via há muito tempo. Creio que desde que a Mãe faleceu. Convidou-me que fosse, um destes dias, a sua casa. Vive na mesma casa da filha, a Rosalinda. Diz que gosta muito de lá morar e não sente falta nenhuma da cidade de onde saiu.
Disse-me que o Humberto, o marido, não fala com ninguém. Vive numa rua sem saída e não há um conhecido com quem possa conversar. Queixou-se muito dele. Já não parece o mesmo. Tornou-se como a mãe, recadento, intenica com tudo e com todos. E continuou: "Já viste, Fernando, tenho de aturar, na minha velhice, o filho do Jaime Pardalito: é a comida que tem sal a mais, a roupa que está mal corrida; se faço massa sovada, diz logo que só vou acabar à meia-noite; mesmo assim, agora que o tempo melhorou, vai para o quintal - é um descanso. Eu bem que lhe digo: 'És igual a tua Mãe: mezinha, recadento, nunca me dás o valor'; responde-me que eu estou sempre a falar da Mãe: 'Pois então, se ele é igual a ela…'. A mãe teve de ir para o asilo dos velhos, ninguém a podia sofrer em Santa Luzia: sempre que as vizinhas lhe iam levar comida, ela respondia: 'Põe-me esta comida pelo cu a cima'. À noite, entretenho-me a ver a telenovela, mas é uma telenovela sem desdão nem tarelo… E é assim, meu rico Fernando José, esta vida não vale nada. O Humberto fala, fala, mas nunca lhe respondo, já não me apetece falar, quero o meu sossego; na outra cidade sabe-se tudo, um nunca mais acabar de enredos; agora, estou para aqui em paz…".
Teodora do José Anastácio: "Já estou casada há cinquenta e cinco anos, sempre com o mesmo homem: anda cada vez mais teimoso, fuma que nem chaminé, quer saber os mexericos todos, anda meio despercebido, uma desgraça. Também vejo a telenovela, mas não tem nenhum tarelo.".
José Anastácio: "Eh, Fernando, há tanto tempo que não te vejo, andas sumido por aí; tanto que trabalhaste; ainda estou por saber como é que ias à Ilha, estavas lá duas horas e, a seguir, regressavas a Boston; muito labutaste tu pela vida; o teu irmão Francisco também já tem a sua idade, ele está bom? Se calhar, a gente não se vai ver mais: vou fazer 78 anos para Novembro, não é brincadeira nenhuma. Custa-me saber que vou morrer."
Jesualdo: "Hoje a Ricardina fazia oitenta e sete anos; sem ela, vivo numa tristeza muito grande; os meus filhos fazem muito caso de mim, quase todas as semanas vou para casa deles; o Emanuel já fez sessenta e dois anos; em Julho, faço eu oitenta e nove; meu pai morreu aos cento e um, pode ser que eu também aguente até lá. Proibido adivinhar. Gostava de saber a tua opinião sobre um assunto que me tem posto a cabeça numa arredouça: tua Mãe morreu muito antes da Ricardina. Eram amigas e primas; todas as semanas iam juntas fazer compras; achas que elas já se encontraram lá em cima? Tenho na minha que sim, já estão juntas…"
Maria Josefina: "Vivo sozinha naquela casa, sem ninguém com quem conversar; o meu filho mora no Havai, veio visitar-me em Novembro passado. Agora, só vem daqui a meses, se vier…"
Salvador da Telma da tia Maria da Ascensão, em diálogo com o Fulgêncio Seco: "Ontem, no telejornal da RTP I, só falaram do José Saramago; ele tem a alma no inferno; que corisco homem era aquele?!"
Fulgêncio: "Sempre foi um homem muito controverso, contra tudo e contra todos, nunca estava satisfeito; os livros dele, quem os entende?"
Maria Lúcia da tia Maria da Ascensão: "Eh, Fernando, regalo-me a comer: desde que me levantei de manhã cedo, não meti nada no bucho para chegar aqui e consolar-me a comer…"

Francisco de Aguiar
4 de Março de 2011

sábado, 26 de fevereiro de 2011

Energia: Professor Luís Aguiar-Conraria Diário Económico de 25-02-2011.

Escalada do petróleo ameaça Orçamento

Margarida Peixoto e Luís Reis Pires

25/02/11 00:05
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Se o preço médio dos primeiros dois meses se mantivesse no resto do ano, a factura energética do país subia 1.650 milhões de euros.

Quase 100 euros por barril: esta é a média do preço do petróleo deste o início do ano até ontem. A escalada dos preços, impulsionada pela violência no Mundo Árabe, já deitou por terra o custo médio assumido pelo Governo no Orçamento do Estado para 2011. Esta será mais uma das várias dificuldades para o cumprimento do défice orçamental.

No OE/2011 a equipa de Teixeira dos Santos assumiu um preço médio de 78,8 dólares por barril para este ano. Mas em menos de dois meses a média do preço do ouro negro atingiu já os 99,9 dólares - mais 21 do que o esperado. Ontem o barril de brent chegou a ser negociado em Londres perto dos 120 dólares.[CORTE_EDIMPRESSA]

Um risco para o Orçamento, garante Luís Aguiar-Conraria, professor na Universidade do Minho. "Mesmo sem a alta de preços, este OE já era uma ficção porque prevê uma evolução positiva do PIB quando todos esperavam uma queda. Agora será mais negativo ainda", defende o economista.

O impacto no Orçamento será indirecto. "Numa primeira fase a subida dos preços de petróleo e a sua transmissão à economia poderá ter um efeito positivo, pelo aumento das receitas de impostos", diz Paula Carvalho, economista do departamento de research do BPI. "Mas sendo um efeito prolongado tem um impacto negativo, porque provocará a retracção global do consumo", acrescenta.

O aumento do preço do petróleo reflecte-se com alguma rapidez nos preços da energia e este, por sua vez, afecta o resto dos bens. Tendo em conta que os orçamentos familiares não esticam, "os consumidores têm de alterar a composição do seu cabaz de compras e reduzir consumos", concretiza Paula Carvalho.

E menos consumo implica menor actividade económica e um produto interno bruto mais baixo. Aguiar-Conraria garante que a duplicação do preço do petróleo tem um impacto negativo de 1,5 pontos percentuais na riqueza do país. "Não vai duplicar, admito, mas vai aumentar cerca de 50%. Por isso, espero pelo menos um efeito negativo de 0,5 pontos no PIB", explica o professor. O mesmo é dizer que mesmo que o Governo acertasse na previsão de crescimento de 0,2% para este ano, teremos uma recessão de 0,3%, só pela alta do petróleo.

Uma evolução desfavorável da economia tem impacto no Orçamento do lado da receita, mas não só: também coloca em causa a previsão de despesas, devido ao aumento dos gastos com apoios sociais. "As empresas são forçadas a reduzir custos, o que tem impacto no emprego", esclarece Paula Carvalho.

Perante os números, e apesar dos riscos que a manutenção dos preços altos implica para os objectivos traçados para as contas públicas, o Governo rejeitou ontem qualquer revisão das estimativas inscritas no OE. "Continuamos a acompanhar a situação e não vamos naturalmente fazer alterações de projecções orçamentais em cima do acontecimento", frisou Pedro Silva Pereira, ministro da Presidência.

Factura energética sobe 1.650 milhões de euros

No ano passado Portugal gastou 8.023 milhões de euros em importações de combustíveis e lubrificantes. Teixeira dos Santos assumiu que o preço médio do petróleo seria 3,4% mais alto em 2011, mas, os números desde o início do ano até agora apontam já para uma valorização de 24,3%.

A esta variação há que descontar, no entanto, o efeito do câmbio. Como o euro tem valorizado e está acima do dólar, a subida de preços é atenuada para 22,1%. Se não fosse o euro, Portugal arriscar-se-ia a pagar quase dois mil milhões de euros a mais pelo mesmo volume de importações. Mas o escudo do euro vale cerca de 350 milhões de euros: ao preço médio actual a factura fica mais cara em ‘apenas' 1.647 milhões de euros.

As mesmas contas ao aumento dos custos estão já a ser feitas pelas empresas. "Por cada 10 dólares que sobe o preço do barril, a factura em Portugal sobe 800 milhões de euros", alertou António Mexia, presidente executivo da EDP, à margem da inauguração de um laboratório FABLAD (o primeiro de prototipagem aberto ao público).

Tendo em conta que a economia portuguesa tem ainda muita intensidade energética - o que quer dizer que as empresas consomem muita energia - a subida dos preços tem um impacto significativo na balança de transacções correntes. A consequência é a subida do défice externo - um dos indicadores para onde apontam os holofotes dos mercados e instituições internacionais. Mesmo sem a subida dos preços, Portugal já era um dos que saía pior na fotografia: o défice externo está projectado para 8,8% do PIB este ano, o maior da OCDE.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Portugueses distinguidos com bolsas de estímulo à investigação

Oito investigadores portugueses são distinguidos, esta segunda-feira, com bolsas de 2500 euros, no âmbito do Programa de Estímulo à Investigação, para desenvolverem projectos em áreas como a Geometria Diferencial e as Ciências da Terra.
O Programa de Estímulo à Investigação distingue anualmente propostas de investigação em áreas científicas, no âmbito das disciplinas básicas: Matemática, Física, Química e Ciências da Terra e do Espaço, apoiando a sua execução em centros de investigação portugueses.
Em 2010, o Programa abrangeu áreas como Geometria Diferencial, Física das Nanoestruturas, Novos Materiais na Química e Ciências da Terra.
Aos investigadores é atribuída uma bolsa no valor de 2500 euros e a cada uma das instituições onde desenvolvem os seus trabalhos dez mil euros.
Entre as instituições distinguidas estão o Centro de Álgebra da Universidade de Lisboa, a Universidade de Aveiro, o Centro de Química da Universidade do Minho, o Centro de Geofísica da Universidade de Évora e o Instituto Dom Luiz, da Universidade de Lisboa.
A sessão em que serão distinguidos investigadores e instituições será presidida pelo ministro da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, Mariano Gago, na Fundação Calouste Gulbenkian.
Na mesma sessão serão ainda distinguidos dois investigadores no âmbito do Programa para a Internacionalização das Ciências Sociais.
Este programa destina-se a investigadores portugueses e estrangeiros, com idade inferior a 40 anos, que trabalhem em instituições portuguesas.
No concurso de 2010 foram admitidos artigos publicados, ou aceites para publicação, em revistas internacionais de referência entre os anos de 2006 e 2008.
Aos investigadores Nina Wiesehomeier, autora de "Presidents, Parties, and Policy Competition", publicado em 2009 na Revista The Journal of Politics, e Luís Francisco Aguiar-Conraria, autor de "Referendum design, quorum rules and turnout", publicado em 2009 na Revista Public Choice, será atribuída uma distinção no valor de cinco mil euros.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006