terça-feira, 13 de abril de 2010

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Dunane, Guiné, 19 de Outubro de 1965. Guerra Colonial Interior.

Dunane, 19 de Outubro de 1965


[...] E eis-me aqui, diante de mim, nu, andrajoso, suplicante, a alma enregelada e crucificada na cruz destes dias sem nome. Nos olhos, uma forna­lha de fúria e uma fome antiga não sei em que víscera, essa fome de séculos que é já grito milenário de todas as bocas em mim. Eis-me, pois, aqui, disparando bombas de palavras ao concentrado silêncio da noite. Eis-me aqui, tentando pescar estrelas no poço aberto do firmamento. Eis-me aqui, indefeso e nu, interrogando não sei que morto que vive numa parte de mim... Em frente de mim, nu e com o frio de todos os pólos, interrogo-me como se fosse réu e juiz ao mesmo tempo. E as palavras que ouço vêm da minha voz antiga, saída do mais fundo de mim, carregada de pedras e de car­dos, que grita e se contorce, morre e ressuscita, e continuo, indefeso e nu, aqui em frente de mim...


Cristóvão de Aguiar no "Relação de Bordo 1964 - 1988"

terça-feira, 30 de março de 2010

Câmara Municipal de Coimbra, ESTRADAS DE PORTUGAL e restantes autoridades judiciárias permitem que o stand/sucateira ilegal permaneça ilegal e impunemente aberto ao público, não obstante o parecer de 21 de Janeiro de 2010 que determina a posse administrativa em virtude do incumprimento por parte dos proprietários...


Fotografia tirada hoje, dia 30 de Março de 2010.
Não só não encerrou, como ainda depositam mais viaturas e sucatas.
Continua alegre e impunemente aberto ao público sem qualquer intervenção visível das autoridades municipais e judiciárias.
CABOVISÃO ESTÁ INSTALADA E LICENCIADA DENTRO DESTA CONSTRUÇÃO ILEGAL QUE ESTÁ EM ZONA DE ESTRADA, PREVIAMENTE EXPROPRIADA POR UTILIDADE PÚBLICA...

sexta-feira, 26 de março de 2010

PARABÉNS DOUTOR LUÍS AGUIAR-CONRARIA: vice-presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho

Aguiar-Conraria acaba de conquistar, com muito mérito, o cargo de vice-presidente da Escola de Economia e Gestão da Universidade do Minho e é, também, responsável pelo 'pelouro' da investigação científica.
O Podium Scriptae aqui exprime o seu voto de congratulação e de felicitações académicas.

Túneis para ligar as ilhas ou metro de superfície… in Expresso das Nove 20 anos.

CRISTÓVÃO DE AGUIAR

Escritor
“Como nada sei sobre o assunto proposto, vou fazer uma composição sobre a Primavera”. Aluno liceal numa prova escrita de Língua Portuguesa

Muito gosto eu de desafios! Quem me tira um tira-me o mar e tudo! Não sei se o Arquipélago gosta deles. É natural que sim. Pelo menos, as cantigas ao desafio têm sido timbre de qualidade da cultura popular das Ilhas todas. A Terceira e São Miguel levam-lhes as lampas.

O velho Virgínio da Bretanha; o Pereira, da antiga Lomba de Santa Bárbara, da Ribeira Grande; a Turlu e o José da Lata, da Terceira, foram dos melhores cultores do despique entoado no terreiro das cantigas ou nas cantigas de terreiro. Devo ter deixado dezenas e dezenas na sombra… A omissão é filha legítima da minha ignorância. Para ela, peço uma indulgência plenária...

Sai o primeiro cantador, o Virgínio, e entoa: “Entre merda foste nascido /E na merda foste gerado /Muita merda tens comido /E dela toda tens gostado…” E o Pereira, da Lomba de Santa Bárbara: “Ainda me chamas galo, /Desses que andam pela rua /Já me viste a cavalo /Nalguma galinha tua?” Da Turlu, que, in illo tempore, ouvi despicar, boquiaberto, tamanho o aguçamento de língua e o seu poder criativo, estas duas cantigas: “A felicidade vagueia, /Fumo que passa veloz, /Está sempre na nossa ideia /E tão distante de nós…” e “A minha língua é comprida, /O que diz não te convém…/ E a tua está torcida /Por isso não fala bem…” A seguir, entra José da Lata e canta: “Deitei uma velha em choco, /Dentro de um cesto de palha, /Lá na Canada das Vinhas. //Descascou-me vinte ratas, /Cinquenta e duas patas /E trinta e cinco doninhas. //Tinha pombas e coelhos, /Melros pretos e tintilhões, /Uma porca com cabritos /E uma cabra com leitões.”

Quando há tempos recebi este desafio, por via electrónica, para ser resolvido por escrito, em três mil caracteres, sem espaços – logo me ocorreu Frei João Sem Cuidados… O seu Rei era invejoso e não podia ver nenhum dos seus Súbditos sem arrelias e apoquentações. Chamou um dia Frei João ao palácio e fez-lhe três perguntas embaraçosas para serem respondidas num dado prazo. O frade saiu do palácio real acabrunhado e cabisbaixo. Se respondesse errado, o Rei mandava-o matar… Por acaso, o moleiro do reino encontrou Frei João muito triste. Vivo e fino como azougue, logo se prontificou, depois de saber as perguntas, a apresentar-se ao Rei vestido com o hábito de Frei João. Respondeu às três perguntas como era dado, de tal sorte que Sua Majestade ficou toda contente e mandou o moleiro na paz do Senhor! Com que se entretinham os Reis de algum tempo!

Ora, este humilde escriba acocorado não tem moleiro para quem apelar! Nem moleiros existem já – os últimos que conheci iam da freguesia para a Ribeira Grande moer a moenda nos moinhos de água da ribeira, já não sei se a do Paraíso se a do Inferno… Três vezes por semana, com cães velhos e doentes amarrados ao eixo da carroça para serem lançados à Tarpeia ribeiragrandense… Caso os houvesse ainda, qual deles seria capaz de responder direito a um século pejadinho de desafios? É muito desafio numa só molhada de brócolos!

Mas há um enorme desafio já proposto às Ilhas do Grupo Central, lançado não há grande tempo pelo eterno candidato à liderança do PSD, Castanheira Barros. Andou em digressão turístico-eleitoral por aquelas Ilhas sem culpa da criatividade do social-democrata relapso. Prometeu mandar construir túneis entre o Pico e São Jorge e entre a Madalena e a Horta. O ovo do Colombo, que resolveria a insularidade de uma assentada. Em estando a obra feita e inaugurada, sempre que um ilhéu radical chegar à porta de casa para interrogar o mar, ficará menente e sem pé dentro de si: em vez de indagar o monstro de água, para ir à pesca ou contemplar a Ilha em frente para lhe sondar os ventos e as nuvens, meter-se-á logo a caminho da emigração, a cavalo no automóvel ou na camionete da carreira… Um Metro de Superfície, como o que está sendo construído em Coimbra, ficaria muito mais em conta, podendo estender-se às Flores-Corvo, à Graciosa-São Jorge-Terceira, que também são filhos e filhas do mesmo magma… Quanto a São Miguel-Santa Maria… Aqui, sim, um túnel tipo Canal da Mancha, mas em formato maior, que os micaelenses são assopradinhos e amantes fidelíssimos da monumentalidade…

Já excedi o número de caracteres. Que o Eduardo Brum se não afromente, me perdoe a incontinência, e aceite os parabéns deste ilhéu desilhado, que muita lenha apanhou nas páginas do ora aniversariante Expresso das Nove… Pois alevá!



sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

2.º Volume do livro Memórias do Rock Português, de Aristides Duarte, 2010

O 2.º Volume de "Memórias do Rock Português" estará à venda a partir de 27 de Fevereiro.

O livro tem 252 páginas. Contém 19 biografias de bandas importantes (não contempladas no 1.º Volume), 24 entrevistas com músicos de bandas(e artistas)importantes de Rock português (das décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990) e 8 relatos pormenorizados de concertos a que assisti nas décadas de 1970, 1980 e século XXI.
Contém "memorabilia", fotos de concertos e reproduções de capas de discos. Para além disso contém mais bibliografia, lista de blogs e sites da internet relacionados com o Rock português e uma listagem de bandas não referidas no 1.º Volume,cronologicamente alinhadas, por décadas.
A capa (já publicada neste blog) foi, entretanto, motivo de um "upgrade" e será publicada no próximo fim-de-semana.
Desta vez a capa do livro será revestida (laminada) com um película plástica para que possa ser manuseada , sem que se deteriorem as cores.
O preço do livro será o mesmo das edições anteriores do 1.º Volume, apesar do aumento das páginas (13 euros). Para encomendas feitas directamente e pagamento antecipado por transferência bancária terão que se acrescentar os portes de correio. Também poderá ser enviado à cobrança. Contactar pelo e-mail: akapunkrural@gmail.com

O prefácio de António Manuel Ribeiro (UHF) foi alvo de uma revisão pelo próprio músico.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006