A MP levou para a Madeira, a recomendação minha, um livro de contos intitulado Trasfega (Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2003), de Cristóvão de Aguiar. No regresso, quis discutir comigo alguns aspectos de algumas das narrativas e eu, por dever de exegese, obriguei-me a reler a obra.
Cristóvão de Aguiar é um escritor açoriano que mereceria, da parte de críticos e das instituições académicas, um reconhecimento maior. A pátria parece preferir, à literatura, derivados industriais sousa tavares, rebelo pintos, dos santos, etc.
Conheci pessoalmente este exímio cultor da palavra literária, no âmbito de um Prémio Literário em que fiz parte do Júri, e pude até, numa das reuniões de trabalho, beneficiar de uma sua generosa oferta – queijinho dos Açores, com o pão e vinho que se pôde arranjar. Aproveitei a ocasião para lhe solicitar, em dois dos seus livros, a graça de autógrafos; ele acedeu e acrescentou-lhes simpáticas dedicatórias.
A sua maior obra é, sem dúvida, Raiz Comovida, canto ilhéu & universal que me parece superior ao canónico Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, ou ao celebrado Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo. [Parênteses: a expressão “Raiz Comovida” é um achado; não deve haver melhor designação para isto que se passa com quem faz da linguagem um tributo permanente ao chão de onde vem.]
Trasfega é – humanamente e literariamente - uma brisa de beleza, singeleza e engenho. À boleia de histórias muito simples e, apesar disso, sempre surpreendentes, cruzamo-nos com o pensamento, as emoções e os modos de falar da gente do povo (sobretudo, da gente das ilhas). No meu (pessoalíssimo) Plano Nacional de Leitura, eis um livrinho para recomendar muito vivamente.
Reli-o na praia da Tocha, num cantinho atlântico muito limpo e sereno que pede meças a qualquer estância turística do nosso país.
Bem a propósito, a páginas tantas, Cristóvão de Aguiar cita o intemporal Torga:
Cristóvão de Aguiar é um escritor açoriano que mereceria, da parte de críticos e das instituições académicas, um reconhecimento maior. A pátria parece preferir, à literatura, derivados industriais sousa tavares, rebelo pintos, dos santos, etc.
Conheci pessoalmente este exímio cultor da palavra literária, no âmbito de um Prémio Literário em que fiz parte do Júri, e pude até, numa das reuniões de trabalho, beneficiar de uma sua generosa oferta – queijinho dos Açores, com o pão e vinho que se pôde arranjar. Aproveitei a ocasião para lhe solicitar, em dois dos seus livros, a graça de autógrafos; ele acedeu e acrescentou-lhes simpáticas dedicatórias.
A sua maior obra é, sem dúvida, Raiz Comovida, canto ilhéu & universal que me parece superior ao canónico Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, ou ao celebrado Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo. [Parênteses: a expressão “Raiz Comovida” é um achado; não deve haver melhor designação para isto que se passa com quem faz da linguagem um tributo permanente ao chão de onde vem.]
Trasfega é – humanamente e literariamente - uma brisa de beleza, singeleza e engenho. À boleia de histórias muito simples e, apesar disso, sempre surpreendentes, cruzamo-nos com o pensamento, as emoções e os modos de falar da gente do povo (sobretudo, da gente das ilhas). No meu (pessoalíssimo) Plano Nacional de Leitura, eis um livrinho para recomendar muito vivamente.
Reli-o na praia da Tocha, num cantinho atlântico muito limpo e sereno que pede meças a qualquer estância turística do nosso país.
Bem a propósito, a páginas tantas, Cristóvão de Aguiar cita o intemporal Torga:
“O destino destina, mas o resto é connosco.”
Num tempo cheio deste negrume ominoso que a crise e respectiva retórica trouxeram aos nossos dias, vale a pena o aconchego torgaguiariano, não achais?
O destino é o destino, pois sim. Mas enquanto há vida, é connosco.
Coimbra, 30 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
O destino é o destino, pois sim. Mas enquanto há vida, é connosco.
Coimbra, 30 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
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