Magnífico Reitor |
domingo, 18 de setembro de 2011
O Professor Doutor Teixeira Ribeiro vai ser homenageado pela Universidade de Coimbra, no próximo dia 7 de Outubro. Testemunho de Cristóvão de Aguiar, in Relação de Bordo 1964-1988. I
Coimbra, 1 de Agosto de 1974 --- Quem lança uma vista de olhos pela Imprensa Regional dá-se conta de que alguma coisa de muito importante se passou neste País de há uma semana para cá. E apesar de o calor estival convidar a um certo amolecimento da mente e do corpo, a semana que se passou foi das mais férteis em acontecimentos, tanto no âmbito nacional como no regional. O de maior relevância deu-se no último sábado, por coincidência no dia em que decorriam quatro anos sobre a morte física do velho ditador de Santa Comba Dão, em que o Presidente da República, sabe Deus com que amargos de boca, anunciou ao País que os Povos das Colónias poderiam, desde já, tomar em mãos as rédeas do seu destino, findando assim as causas da guerra que se prolongou durante cerca de treze anos. O outro acontecimento relevante foi a tomada de posse, na passada terça-feira, do novo Reitor da Universidade de Coimbra, Prof. Doutor Teixeira Ribeiro. Se a vetusta Sala dos Capelos tivesse sensibilidade teria decerto tremido como varas verdes ao ouvir o que lá se disse. Durante o último meio século, com excepção do então estudante de Direito, Carlos Candal, que, em 1961, como Presidente eleito da Associação Académica de Coimbra, ali proferiu no primeiro de Março, dia comemorativo da fundação da Universidade, um discurso notável e corajoso, as vozes que nessa venerável Sala dos Actos Grandes se fizeram ouvir eram de um modo geral monótonas, balofas, gordurosas de sapiência e onde os estudantes ¾ razão de ser da Universidade ¾ raramente a tiveram. Anteontem, porém, o Presidente da Associação Académica usou da palavra no acto solene da tomada de posse do Magnífico Reitor. Entre outras coisas foi dizendo que a "escola do futuro, se vai aproveitar os alicerces ainda válidos do ensino tradicional, não pode de modo nenhum assentar sobre as bases minadas e traiçoeiras da Universidade subserviente, dócil às exigências dos monopólios e aos caprichos do fascismo". E num solene aviso à navegação: "Aqueles que servilmente bajularam a política oficial de repressão estudantil, aqueles que puderam ocupar as suas cátedras à custa do afastamento de melhores valores intelectuais das nossas escolas, aqueles que viam na Universidade apenas um instrumento ao serviço dos seus interesses e dos seus benefícios pessoais não poderão ter mais lugar entre nós". As palavras do empossado, Prof. Doutor Teixeira Ribeiro, foram lúcidas, incisivas e claras, como é timbre do grande professor que tem sido. Agora vindas da sua qualidade de Reitor, cargo que foi sempre, salvo raríssimas excepções que confirmam a regra, a encarnação da flatulência oficial: "Não tenho ilusões sobre os muitos e agudos espinhos da minha tarefa. Mas conto com todos para me auxiliarem a cumpri-la. Conto em primeira linha com os estudantes. São eles os destinatários da Universidade e, como tais, maiormente interessados na excelência do seu ensino e no êxito da sua investigação. Espero que me aplaudam, quando entendam que procedo bem, e que me critiquem e esclareçam, quando entendam que procedo mal. Pelo que a voz dos estudantes há-de ser sempre atentamente ouvida e considerada por mim [...]". Há, de facto, algo de novo pairando no ar. Tudo se tornou mais bonito. Respira-se com mais largueza de fôlego. Súbito soltou-se a alegria das masmorras do peito para vir brincar para as ruas e praças. Os pés parece caminharem sobre um pavimento calcetado de nuvens. Seria tão bom nunca mais acordar deste quotidiano sonhar acordado!
Publicado por Lapa às 20:49:00 0 comentários
Secção: COIMBRA, HISTÓRIA DE PORTUGAL, Jornais, Relação de Bordo I
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
quinta-feira, 1 de setembro de 2011
Acerca de Trasfega, por Joaquim Jorge de Carvalho no blogue Muito Mar
A MP levou para a Madeira, a recomendação minha, um livro de contos intitulado Trasfega (Lisboa, Ed. Dom Quixote, 2003), de Cristóvão de Aguiar. No regresso, quis discutir comigo alguns aspectos de algumas das narrativas e eu, por dever de exegese, obriguei-me a reler a obra.
Cristóvão de Aguiar é um escritor açoriano que mereceria, da parte de críticos e das instituições académicas, um reconhecimento maior. A pátria parece preferir, à literatura, derivados industriais sousa tavares, rebelo pintos, dos santos, etc.
Conheci pessoalmente este exímio cultor da palavra literária, no âmbito de um Prémio Literário em que fiz parte do Júri, e pude até, numa das reuniões de trabalho, beneficiar de uma sua generosa oferta – queijinho dos Açores, com o pão e vinho que se pôde arranjar. Aproveitei a ocasião para lhe solicitar, em dois dos seus livros, a graça de autógrafos; ele acedeu e acrescentou-lhes simpáticas dedicatórias.
A sua maior obra é, sem dúvida, Raiz Comovida, canto ilhéu & universal que me parece superior ao canónico Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, ou ao celebrado Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo. [Parênteses: a expressão “Raiz Comovida” é um achado; não deve haver melhor designação para isto que se passa com quem faz da linguagem um tributo permanente ao chão de onde vem.]
Trasfega é – humanamente e literariamente - uma brisa de beleza, singeleza e engenho. À boleia de histórias muito simples e, apesar disso, sempre surpreendentes, cruzamo-nos com o pensamento, as emoções e os modos de falar da gente do povo (sobretudo, da gente das ilhas). No meu (pessoalíssimo) Plano Nacional de Leitura, eis um livrinho para recomendar muito vivamente.
Reli-o na praia da Tocha, num cantinho atlântico muito limpo e sereno que pede meças a qualquer estância turística do nosso país.
Bem a propósito, a páginas tantas, Cristóvão de Aguiar cita o intemporal Torga:
Cristóvão de Aguiar é um escritor açoriano que mereceria, da parte de críticos e das instituições académicas, um reconhecimento maior. A pátria parece preferir, à literatura, derivados industriais sousa tavares, rebelo pintos, dos santos, etc.
Conheci pessoalmente este exímio cultor da palavra literária, no âmbito de um Prémio Literário em que fiz parte do Júri, e pude até, numa das reuniões de trabalho, beneficiar de uma sua generosa oferta – queijinho dos Açores, com o pão e vinho que se pôde arranjar. Aproveitei a ocasião para lhe solicitar, em dois dos seus livros, a graça de autógrafos; ele acedeu e acrescentou-lhes simpáticas dedicatórias.
A sua maior obra é, sem dúvida, Raiz Comovida, canto ilhéu & universal que me parece superior ao canónico Mau Tempo no Canal, de Vitorino Nemésio, ou ao celebrado Gente Feliz com Lágrimas, de João de Melo. [Parênteses: a expressão “Raiz Comovida” é um achado; não deve haver melhor designação para isto que se passa com quem faz da linguagem um tributo permanente ao chão de onde vem.]
Trasfega é – humanamente e literariamente - uma brisa de beleza, singeleza e engenho. À boleia de histórias muito simples e, apesar disso, sempre surpreendentes, cruzamo-nos com o pensamento, as emoções e os modos de falar da gente do povo (sobretudo, da gente das ilhas). No meu (pessoalíssimo) Plano Nacional de Leitura, eis um livrinho para recomendar muito vivamente.
Reli-o na praia da Tocha, num cantinho atlântico muito limpo e sereno que pede meças a qualquer estância turística do nosso país.
Bem a propósito, a páginas tantas, Cristóvão de Aguiar cita o intemporal Torga:
“O destino destina, mas o resto é connosco.”
Num tempo cheio deste negrume ominoso que a crise e respectiva retórica trouxeram aos nossos dias, vale a pena o aconchego torgaguiariano, não achais?
O destino é o destino, pois sim. Mas enquanto há vida, é connosco.
Coimbra, 30 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
O destino é o destino, pois sim. Mas enquanto há vida, é connosco.
Coimbra, 30 de Agosto de 2011.
Joaquim Jorge Carvalho
Publicado por Lapa às 20:24:00 0 comentários
Secção: críticas literárias, Trasfega
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TANTO MAR
A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006