quarta-feira, 25 de maio de 2011

Lançado livro de Cristóvão de Aguiar em homenagem a Viriato Madeira, in azores digital

O presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, Ricardo Silva, presidiu sexta-feira à noite, ao lançamento do livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance, da autoria do escritor açoriano Cristóvão de Aguiar e do seu irmão Francisco de Aguiar.

O livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", é também uma homenagem à memória de Viriato Madeira, falecido a 15 de Janeiro deste ano, que dedicou boa parte da sua vida à melhoria da qualidade de vida da comunidade nortenha, tendo sido presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande.

Uma homenagem que Cristóvão de Aguiar quis prestar a "um Amigo que me acompanhou ao longo da vida. Sem­pre foste um ho­mem com muitas virtu­des e outros tantos defei­tos, como qual­quer ser humano. Somos e seremos feitos do mesmo barro bí­blico", como referiu na cerimónia de lançamento.
O livro que testemunha a "amizade entre Viriato Madeira e Cristóvão de Aguiar", como diria Ricardo Silva, foi apresentado no Salão Nobre dos Paços do Concelho, que naquela noite foi pequeno para receber familiares e amigos de Viriato Madeira e também o escritor. Na abertura do lançamento do livro e numa cerimónia carregada de emoção e saudade, o presidente da autarquia leu um texto que Viriato Madeira, em Maio de 2007, dedicou a Cristóvão de Aguiar, aquando de uma exposição bibliográfica do autor, que decorreu no Teatro Ribeiragrandense, inserida no programa comemorativa dos 500 anos de elevação da Ribeira Grande a concelho.

Neste texto e em traços gerais, Viriato Madeira afirmou acreditar que (…amanhã, quando a passageira alucinação e paixão pelo esoterismo passar, o seu nome ficará indelevelmente gravado na história da literatura portuguesa, com ressaibos dum açorianismo autêntico, mas sem as negativas fronteiras que tantas vezes querem impor, mas como uma parte dum todo da lusitana maravilhosa expressão escrita).
O livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", da Editora Lápis de Memórias foi apresentado por Eduardo Jorge Brum.

Em "Catarse", revela Eduardo Jorge Brum, "Cristóvão e Francisco falam de si (como indica o título "Catarse"), mas, falando de si, falam de todo um povo, esse "Outro" que é toda a gente e em cuja história nos pensamos, nos revemos, nos conciliamos".

"Catarse" e nas palavras de Eduardo Jorge Brum "é a história de S. Miguel nos anos 50 e 60 do século XX. A história de uma ilha pobre que viu os seus filhos emigrarem ou partirem para a guerra. Um passado com dois caminhos apenas: partir para recomeçar ou partir para morrer e matar".
A obra fala ainda "de amor, sentimento de inimagináveis destinos, por tantas serem as suas formas, valências, possibilidades. Nós, açorianos; nós micaelenses, vivemos e crescemos no meio de um amor, que não poucas vezes encontrou o seu alimento na agressão". Esta agressão, segundo o orador era "em nome da educação, em nome do respeito, em nome da preservação de valores. Crescemos no meio de um amor de verdasca, pontapé, bofetada. Amor de pancadaria". Mas hoje, "vivemos tempos em que o amor já não se traduz em pancadaria. Até porque a lei não o permite. Mas nos anos 50 e 60, nos Açores, bater nas crianças e nas mulheres era uma atitude comum, pelo menos nas zonas rurais. Era uma "tradição". Uma "educação".



JOSÉ GARCIA

sexta-feira, 20 de maio de 2011

sábado, 14 de maio de 2011

Catarse ou a escrita mano a mano de Cristóvão e de Francisco de Aguiar, por Victor Rui Dores

“A minha vida não tem idade: tem tempo”

Vitorino Nemésio, Eu Comovido a Oeste

As recordações dos verdes anos avivam-se à medida que vamos ficando mais vividos e menos jovens… A nossa existência é uma perpétua dialéctica: saudades do futuro e sauda¬des do passado

Catarse (Editora Lápis de Memórias, Coimbra, 2011) é um livro sobre a infância e a adolescência insulares enquanto busca de um tempo irremediavelmente perdido. Os autores, irmãos no sangue e nas emoções, protagonistas - narradores, revisitam, pela escrita, tempos, lugares, pessoas e memórias que povoam o seu imaginário. Vivendo em diferentes espaços geográficos, e através de um conjunto de cartas que vão tro-cando, recordam bons tempos que não foram tempos bons. “A vida, em S. Miguel era muito cainha” (pág. 20) porque esses eram os tempos de misérias várias e de repressões variadas de uma sociedade patriarcal – o salazarismo, o subdesenvolvimento, a hipocrisia social, a pobreza, a intolerância, a emigração, a guerra colonial…

A luta contra o esquecimento é a razão primeira da literatura em qualquer uma das suas formas e géneros, sendo que, no caso do livro em apreço, estamos perante um “diálogo epistolar em forma de romance”. Eis uma escrita de inquérito ao subconsciente, através da qual os autores, em diferentes registos e de forma sincera e sentida, travam intensos diálogos e partilham memórias surpreendentes.

Santa Luzia é o microcosmo de referência desta obra, constituindo-se como espaço onde pulsa todo o universo e toda a geografia sentimental e afectiva da ilha de São Miguel, de onde a acção parte viajando para outros lugares: Santa Maria, Terceira, Madeira, Lisboa, Coimbra, Guiné, Américas, Faial, Pico…

Por conseguinte, este livro dá conta de impressões do vivido e do sentido, isto é, das sensações e dos sentimentos que ficaram enraizados nas memórias dos autores. Essas memórias ora são muito positivas (a recordação das figuras tutelares da Mãe, dos Avós e outros familiares, amigos e conhecidos que surgem do fundo dos tempos como uma aparição de ternura no meio das ruínas da vida), ora são terrivelmente negativas (por exemplo, a memória magoada das tiranias do Pai, os ritos e os rituais da iniciação sexual que, nesse tempo de obscurantismo, descambavam invariavelmente para actos de pedofilia, violação e muitas outras formas de violência).

As deambulações dos narradores são fascinantes e lemos este livro como se de um romance se tratasse. Dando conta dos seus “eus” angustiados na sua relação conflituosa com a vida e com os outros, Cristóvão e Francisco, através de viagens interiores e narrativas justapostas, lançam olhares sobre o tempo do fascínio e do sortilégio (porque iniciático) do despertar para a vida, para os amores, para o mundo e para o conhecimento das coisas. E narram reminiscências e histórias das suas vidas com os outros. A prosa de um é sentida na pessoa do outro. E, pela escrita, fazem uma verdadeira catarse. Escreve Francisco, na página 304:

“Desculpa ter estado a escarafunchar coisas do passado, mas estou a passar por uma fase de despejar tudo aquilo que devia ter despejado na altura certa”.

Escreve Cristóvão:

“E que são estas cartas senão um exercício de psicanálise? Desde ontem já recebi três textos teus, qual deles o mais espirituoso! Vou, nas minhas respostas, procurar dar-lhes mais pormenores que os complementarão. Devido à diferença de idade entre nós, e ainda que tenhamos uma grande fatia de passado em comum, possuímos experiências desiguais e diversas histórias para contar, mas as personagens são praticamente as mesmas que conheci nos primeiros vinte anos que permaneci na ilha, só as mais novas me escapam.” (pág. 236)

As memórias sucedem-se com um ritmo perfeito e a descrição das pessoas evocadas – tanto a física como a psicológica – é um primor de minúcia. Desfila um universo de venturas malogradas perante nós. Vivências comuns confluem de página em página para nos recriarem um tempo (praticamente todo o século XX) que nos parece já tão distante mas que a geração dos autores não esquece nem desvaloriza como não glorifica em falsas nostalgias.

Esse foi um tempo de “brandos costumes”, de muitas inquietações e poucas alegrias, de muitas dúvidas e poucas certezas, um tempo marcado por sonhos e desejos, paixões e temores, partidas e chegadas, separações e reencontros.

Mas atenção: estes olhares retroactivos não visam um mero exorcismo da saudade. Os autores respondem a uma verdadeira “prise de conscience”. Por isso, estas páginas são, acima de tudo, lugar de confronto, de denúncia (dos mecanismos dos poderes políticos e religiosos) e de renúncia às máscaras de um quotidiano alienante, até porque os autores foram vítimas desse estado de coisas e sofreram na pele as consequências desse tempo português fascizante.

Catarse constitui uma narrativa coesa e consistente, perfeitamente equilibrada e apoiada em dois eixos narrativos: coloquialidade, prosa enxuta e leveza de estilo por parte de Francisco de Aguiar (texto em itálico). Virtuosismo verbal e manejo robusto da linguagem por parte de Cristóvão de Aguiar (de antologia são as páginas 313 e 314: “Os meus mortos…”). Francisco era até agora escritor adiado. Cristóvão é o autor consagrado da Raiz Comovida, ficcionista de méritos reconhecidos. O primeiro é o comparsa municiador de memórias; o segundo é o criador – arquitecto da narrativa. Ambos se complementam e, numa escrita que mistura memória, diário e discurso literário, falam do problema do destino do homem e do sentido da vida. Em páginas humaníssimas que em nós causam uma imediata adesão afectiva.


Victor Rui Dores

sábado, 30 de abril de 2011

"Catarse". Cristóvão de Aguiar e Francisco de Aguiar dedicam obra a Viriato Madeira. in Diário dos Açores.

O escritor açoriano Cristóvão de Aguiar e o seu irmão Francisco de Aguiar lançam no próximo dia 20 de Maio, na Ribeira Grande, o livro "Catarse, Diálogo Epistolar em forma de Romance", em homenagem à memória de Viriato Madeira, um ribeiragrandense que sempre lutou pela melhoria da qualidade de vida da comunidade nortenha.

O livro da Editora Lápis de Memórias é lançado pelas 21h00, no Salão Nobre dos Paços do Concelho, numa cerimónia presidida pelo presidente da Câmara Municipal da Ribeira Grande, sendo apresentado por Eduardo Jorge Brum. (Director do Semanário Expresso das Nove)

Viriato Hermínio Rego Costa Madeira, que faleceu no passado dia 15 de Janeiro, dedicou toda a sua vida profissional e pessoal pela luta por um maior equilíbrio social, pela defesa dos direitos dos trabalhadores, mesmo em detrimento de promoções pessoais e profissionais. Foi um apaixonado e empenhado sindicalista regional e nacional, e um dos fundadores da Comissão de Trabalhadores da SATA, tendo exercido, por diversas vezes, cargos na referida comissão, até à sua aposentação.

Para além disso, Viriato Madeira foi um dos colaboradores do "Primeiro Plano de Estudo Económico Estratégico" da companhia e do "Plano para a Segurança". Fez, ainda, parte da Direcção do Clube Desportivo e Recreativo da empresa.

Tendo as preocupações sociais sempre um elevado peso no seu percurso de vida, nos finais da década de 80 foi o fundador da delegação ribeiragrandense do C.A.R.A. – Clube dos Alcoólicos Recuperados dos Açores.

Um amante da leitura e da escrita, deixou o seu contributo para a literatura açoriana com textos inéditos que ainda não foram publicados, embora durante muitos anos tenho dado forma a crónicas e artigos de opinião na imprensa regional. Animou, ainda, uma "tertúlia" ribeiragrandense, com análises entusiastas dos mais variados escritores nacionais, regionais e estrangeiros.

Fez, ainda, parte do Círculo de Amigos da Ribeira Grande e, desde 2000 até à data da sua morte foi Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários da Ribeira Grande, tendo lutado pela construção do respectivo quartel e da piscina, novamente na senda pela melhoria da qualidade de vida de toda uma comunidade.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Molelos tem escultura de Eugénio Macedo «Tondela» louça preta é uma referência: São Pedro padroeiro de Molelos«Tondela»

Molelos tem escultura de Eugénio Macedo «Tondela» louça preta é uma referência: São Pedro padroeiro de Molelos«Tondela»: "Aqui uma das etapas, em ângulos diferentes, próximo a conclusão da escultura feita apartir de um único bloco de granito, para a terra da "louça do barro preto". Molelos ,«Tondel..."

terça-feira, 12 de abril de 2011

terça-feira, 5 de abril de 2011

De arte, precisa-se. João Boavida. In As Beiras de 5-04-2011

Há dias ocorreu no Centro Cultural D. Dinis um acontecimento de relevo: a apresentação de uma nova editora – A Lápis de Memórias – e o lançamento, com a sua chancela, de dois livros: de Cristóvão Aguiar e Francisco Aguiar, “Catarse”, de Carlos M. Rodrigues “Um homem à janela” e a reedição de “Anos de eclipse” de Jorge Seabra.



Como se diria à moda oitocentista, a luzida cerimónia esteve muito concorrida, foi abrilhantada por algumas canções da linha baladeira de intervenção, à anos 70, bem escolhidas e interpretadas e com noção da medida. As apresentações dos livros foram preclaras, pois associaram a qualidade à moderação, tanto nos adjetivos como no tempo gasto. E as intervenções dos autores, nos agradecimentos, decorreram na mesma linha, espontâneas, interessantes e curtas. Enriqueceu o evento a leitura de passagens de todos os livros, também com cuidada escolha e equilíbrio, segundo a sábia lição aristotélica, que os tempo correntes não apreciam por aí além, mas que por cá se vai cultivando. Coimbra sabe fazer estas coisas e ainda bem.



O acontecimento foi importante. Em primeiro lugar, pela novo editora. Que tem por detrás o nome de Adelino Castro, homem há muito ligado aos livros e à edição, que tem o saber-fazer destas coisas e que, ao criar, em Coimbra, uma editora vocacionada para a ficção, vem remar contra a maré. Contra o facto das editoras da cidade terem deixado, há muito, de publicar nestes domínios. Temos muita edição mas não nesta área. A Almedina e a Coimbra Editora editam sobretudo no campo jurídico, educativo e sociológico, há a interessante coleção Minotauro, de autores espanhóis, do Grupo Almedina, a Minerva, com muitas edições de autor, tem sido um respiradouro e a Alma Azul tem editado alguns clássicos e poesia. Mas é pouco. Referência obligatoria é a Imprensa da Universidade de Coimbra, que tem feito um trabalho notável, mas ainda, e como é natural, no domínio cientifico.



Uma nova editora, que entra pela literatura e com escritores de Coimbra é de louvar. E mais ainda se for ao arrepio da literatura à tonelada, que por aí anda, criando resistência à onda da literatura de sucesso e aos monopólios editoriais, que a atrofiam. É refrescante, revolucionário até e deve ser apoiada. Depois os autores. Certamente que nenhum deles aparecerá no Expresso ou no Público, apesar de um deles, Cristóvão Aguiar, ter, como se sabe, obra importante. Mas por que não há de Coimbra editar os seus escritores e mandar às malvas o monopólio dos cânones literário-centralizantes? Por que não este ato de liberdade e de rebeldia? Estando assim as coisas, isto é um ato de respiração.



Aliás, a Semana Cultural da Universidade de Coimbra deste ano – “Reinventar a Cidade” – foi sob o mote da criação artística, que se faz e se tem feito em Coimbra. E teve coisas excelentes. Poderá dizer-se que a Semana Cultural ganhou a maioridade ao assumir a criação. Alguns o têm referido, sobretudo Virgílio Caseiro: é preciso fazer de Coimbra, cada vez mais, um lugar de acontecimentos artísticos, de realizações onde a expressão inovadora seja rainha e senhora. A criação artística – plástica, musical, literária, cénica, gráfica, fotográfica, enfim, toda – não pode ficar à sombra, nem na sombra, da científica. Não o tem feito, mas tem estado numa medida menor, e é por isso que acontecimentos assim são importantes. São bons sinais de autonomia e de vitalidade. E, já agora, de descentralização cultural, tão benéfica ao país, mesmo que este o não saiba nem queira saber, como às vezes parece.

quinta-feira, 10 de março de 2011

segunda-feira, 7 de março de 2011

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006