domingo, 25 de outubro de 2009

Poema escrito pelo padre G. P. a mestre Eugénio Macedo.




O BOMBEIRO
                                                 
Eugénio Macedo
olhou o penedo
e viu, dentro dele,
aquele segredo
que mais ninguém vê,
se olha à flor da pele
da arte se descrê.

Sempre a obra medra
na ideia sonhada…
Lá dentro da pedra,
estava um bombeiro
que subia a escada,
garboso e ligeiro.
Ninguém via nada.



Com escopro e cinzel,
Eugénio Macedo,
desbasta, a granel,
o grande penedo.
Esboça-lhe um corpo,
talha o capacete:
com cinzel e escopro,
põe-lho no topete.


As mãos nos varais,
os pés nos degraus,
atento aos sinais,
que parecem maus
uma missão cumprida
que é “vida por vida”!


Arte é sempre gala!
Com buril ou broxa,
nunca a obra é fátua…
No cepo ou na rocha,
há sempre uma estátua
preciso é tirá-la.


Padre G. P.

sábado, 17 de outubro de 2009

Vila Boa - Sabugal. O moumento ao Agricultor de mestre Eugénio Macedo, em fase de acabamento. Outubro de 2009.

Clique aqui para ver execução integral da obra




Por cada obra que mestre Eugénio Macedo procria, cria ou esculpe, mais perceptível se torna a sua crescente preocupação de rigor, apuro e asseio na arte escultórica, doseando um classicismo, sabiamente assumido, com a modernidade merecedora de que lhe chamemos assim. Este monumento ao Agricultor, a edificar em Vila Boa – Sabugal, é disso exemplo paradigmático.
Repare-se na delicadeza de formas, na leveza, na harmonia e beleza de que é capaz o cinzel deste Mestre.
É mais uma obra que muito valoriza a estatuária sabugalense.
Intencionalmente não a descrevo e mesmo a sua publicação é um incentivo para que os leitores a vão visitar ao vivo, no local onde se encontra. (Vila Boa – Sabugal.)
Depois, aproveitem para respirar o bom ar e degustem as iguarias gastronómicas nos variados restaurantes da região.


quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Coimbra: Ruído nocturno preocupa Provedoria do Ambiente, in Diário de Coimbra de 7-10-2009.

Escrito por Ana Margalho
Diário de coimbra

«A situação está a ultrapassar os limites». Massano Cardoso está «muito, muito preocupado» com a «frequência inusitada de queixas» que têm surgido nos últimos dias relativamente ao ruído que se tem sentido durante a noite em alguns pontos da cidade, prometendo «fazer um levantamento de todas as situações e pedir informações às autoridades, administrativas e policiais relativamente a esta temática».
Recorde-se que especialmente este fim-de-semana foram várias as reclamações feitas junto da Polícia de Segurança Pública (PSP), ontem confirmadas ao Diário de Coimbra por fonte policial, do ruído «insuportável» na madrugada de sábado na zona dos Alqueves provocado pelas obras na Variante Sul do IC-2 e ainda, na madrugada e manhã de segunda-feira, do «barulho infernal» vindo da Praça da Canção, onde se realizou o Coimbra Dance Event.
O provedor do Ambiente e Qualidade de Vida Urbana de Coimbra confessa que, apesar de existirem, não têm aumentado as reclamações junto da provedoria relativamente a casos de ruído nocturno, no entanto, as notícias e os textos de opinião publicados nestes últimos dias no Diário de Coimbra com reclamações de cidadãos de Coimbra sobre o ruído, especialmente nocturno, na cidade, chegaram para que Massano Cardoso considere «fundamental que se ponha ordem na casa» no que diz respeito às competências e às responsabilidades nesta matéria e se respeitem os direitos dos cidadãos.
«Isto já não é de agora. Há uma grande confusão sob o ponto de vista jurídico relativamente às responsabilidades no que respeita ao ruído e os cidadãos estão baralhados», confirmou, garantindo que a Provedoria irá fazer «tudo o que está ao seu alcance para que as pessoas sejam esclarecidas e, mais do que isso, para que não se viole o direito que todos têm de descansar, sem serem incomodados com o ruído de outros».
Questionado se não será exagero o epíteto de “Coimbra, Capital do Ruído”, aplicado nos últimos dias, Massano Cardoso adiantou que, «apesar de se estar a generalizar, no fundo, é uma crítica perfeitamente legítima para quem se sente lesado». «É algo muito desagradável», admitiu o provedor, deixando claro que, apesar de tudo, o ruído se sente em «sítios perfeitamente localizados».

Diário de Coimbra de 7-10-2009

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

2009. Notícia em 1.ª mão: Munumento ao Emigrante, de Meimão, esculpido por Eugénio Macedo.



















Mais um excelente monumento esculpido pelo imparável e inigualável mestre Eugénio Macedo. Meimão, Setembro de 2009.

quarta-feira, 30 de setembro de 2009

“O Novíssimo Testamento”, de Mário Lúcio de Sousa, vence Prémio Literário Carlos de Oliveira 2009.

“O Novíssimo Testamento”, do escritor cabo-verdiano Mário Lúcio Sousa, foi o título vencedor da segunda edição do Prémio Literário Carlos de Oliveira, concurso promovido pela Câmara Municipal de Cantanhede e pela Fundação Carlos de Oliveira. O objectivo é estimular a criação literária e, simultaneamente, homenagear um dos grandes vultos da literatura portuguesa do século XX.


Na acta da decisão, o júri refere que “a obra se distingue de todas as outras apresentadas a concurso”, fazendo notar “a grande originalidade da abordagem que faz ao religioso (…), o que evidencia um vasto conhecimento sobre o tema”, sublinhando ainda “a notável capacidade de escrita que se encontra bem patente na riqueza e vastidão do léxico utilizado”.
Na fundamentação utilizada é ainda apontada “uma efabulação poderosa, rica em imaginação e temperada por acentos de humor, que recorre muitas vezes à ironia e ao picaresco”. Segundo o júri, Mário Lúcio Sousa retoma em O Novíssimo Testamento as Escrituras Sagradas, “reinventa-as por meio do recurso a um contrafactual herdado da teologia medieval, colocando a hipótese de Jesus ter sido mulher e explorando as vastas implicações e consequências dessa hipótese”.
Nos termos do regulamento, integraram o júri Pedro António Vaz Cardoso, Vereador do Pelouro da Cultura, em representação do Presidente da Câmara Municipal de Cantanhede, António Apolinário Lourenço, indicado pelo Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, Osvaldo Silvestre, designado por Ângela de Oliveira (viúva de Carlos de Oliveira), Arsénio Mota, personalidade do meio literário convidado e vencedor da primeira edição do prémio, bem como Cristóvão de Aguiar, representante da Associação Portuguesa de Escritores.
O valor do Prémio Literário Carlos de Oliveira é de 5.000 euros, verba totalmente suportada pelo Município de Cantanhede, ficando também assegurada a publicação da obra pela autarquia.
Das 67 obras concorrentes, foram distinguidas com menções honrosas Rendição e Trevas, de Nuno de Figueiredo, autor de Coimbra que utilizou o pseudónimo de Urbano Soares, e Ao Compasso da Noite, de Ricardo Augusto Sanguinho de Jesus, autor de Lisboa que concorreu sob pseudónimo de Chico Marraquexe.
Conforme consta do regulamento, as inscrições para a segunda edição do concurso decorreram até 15 de Abril, estando aberta à participação de autores dos Países de Língua Oficial Portuguesa, que podiam concorrer apenas com uma obra, inédita e não editada, em prosa narrativa (conto ou romance) e assinada obrigatoriamente sob pseudónimo.
Recorde-se que na primeira edição do concurso, a obra vencedora foi Quase Tudo Nada, do escritor Arsénio Mota, jornalista, cronista, poeta, ensaísta, tradutor e editor de livros com vasta colaboração dispersa por jornais e revistas. Foram ainda distinguidos com menções honrosas Parede de Adobo, de João Carlos Costa da Cruz, residente em Febres, e Visões do Azul, de Emília Ferreira, com morada na Caparica.
RB

Tags: Cantanhede, Prémio Literário

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Quintela, Nemésio e Torga, in blog De Rerum Natura.

Quintela, Nemésio e Torga

Já não é recente o livro Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia. Tive dele uma primeira edição que comprei em finais dos anos oitenta e que depois dum empréstimo não voltou às minhas mãos. Lembro-me disso, porque me ficou a fazer falta: a escrita de Cristóvão de Aguiar dava-me a conhecer melhor um mítico professor de Filologia Germânica da Universidade de Coimbra, que penso nunca ter visto mas de que muito me falavam na Faculdade de Letras – Paulo Quintela.

Comprada a segunda edição, reli-a de ponta a ponta, detendo-me em algumas passagens que me tinha ficado na memória durante mais de vinte anos. Partilho com os leitores uma dessas passagens em que se refere a longa e estreita amizade entre três grandes nomes das Literatura: Vitorino Nemésio, Paulo Quintela e Miguel Torga.

“Nemésio estudava pouco. Não teria muito tempo! Antes das frequências chegava-se a Quintela para se informar da matéria que vinha para o exame. Ouvia o que dizia o colega, ia tomando notas num cartão-de-visita, e por fim entrava na sala. Perante o papel da prova, escrevia o que sabia e inventava o que não sabia. Numa frequência de História Medieval, da regência do Doutor Gonçalves Cerejeira, Nemésio, como de costume, chegou-se à beira do amigo e perguntou-lhe as linhas gerais da matéria. Durante a prova desunhou-se a escrever. Dias mais tarde, o professor apreciava e comentava e comentava na aula, as provas escritas uma por uma, tão poucos seriam os alunos. Ao chegar ao exercício de Nemésio, «Quanto ao exercício de frequência do senhor Vitorino Nemésio Mendes Pinheiro da Silva, tenho a dizer que mais me parece uma página de Anatole France…», tal era a sua capacidade de escrita.

Lá escrever bem, venha aí quem o negue, e como facilidade, o que já poderá ser um estorvo, mas segundo Paulo Quintela, Nemésio escrevia com a mesma naturalidade com que mijava. Anos mais tarde, leitor de Português em Bruxelas, Nemésio havia de surpreender Miguel Torga pela facilidade de escrita. O passo que a seguir se transcreve do tomo III de Criação do Mundo ilustra bem essa agilidade: «Ao cabo de algumas horas de comboio, fui encontrá-lo confortavelmente instalado num quarto burguês, a matraquear à máquina um ensaio sobre Valéry. Depois das primeiras efusões, com medo de o interromper, fiquei calado. – Vai dizendo, que isto tem de seguir hoje… – Acaba lá primeiro. – Ainda demora. Conta, conta… – Pasmado, assisti então ao fenómeno de o ver a conversar e escrever ao mesmo tempo»”

Imagem: Reprodução do quadro de Bárbara Borges. Nele se pode ver Cristóvão de Aguiar e Paulo Quintela com o seu cachimbo. Aguiar foi seu aluno e amigo e durante muitos anos encontravam-se com regularidade para conversar em tom de tertúlia.

Referência completa: Aguiar, Cristóvão. (2005). Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia. No centenário do seu nascimento. Coimbra: Imprensa da Universidade, página 32.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006