Eu, José Manuel de Aguiar, sou o autor deste livro.
Porque tive a ideia, a iniciativa e o trabalho de extrair tudo quanto é publicado, à excepção de umas pequenas correcções e pelo PREFÁCIO efectuados pelo autor formal do livro que é Cristóvão de Aguiar.
A motivação da realização deste livro deveu-se ao facto de eu ter constatado que Cristóvão de Aguiar não foi sequer convidado no âmbito das comemorações do centenário do nascimento de Miguel Torga promovidas pela Câmara Municipal de Coimbra, que atribuiu pela segunda vez o Prémio Literário Miguel Torga Cidade de Coimbra ao referido autor este ano.
Como os estimados visitantes deste blogue já puderam constatar Cristóvão de Aguiar, um dos expoentes máximos da literatura portuguesa, segundo o Professor Aníbal Pinto de Castro e outros literatos muito mais entendidos do que eu, foi acintosamente excluído das respectivas comemorações.
Sendo que, eu, sem falsa modéstia, sou o mais profundo conhecedor e admirador da obra de Cristóvão de Aguiar e sabendo que este tem na sua obra diarística, e não só, inúmeras peças literárias sobre Miguel Torga, entendi por bem reuni-las num livro, que deveria ser da minha autoria, uma vez que fui eu que tive a ideia e o trabalho de o realizar. Mas não, como os santos da casa não fazem milagres e como não consigo obter o respeito que me seria devido pelo meu Pai. Não só ele é autor do livro, como também aceitou que pessoas totalmente alheias ao mesmo se pronunciassem, com acolhimento por parte do autor formal do livro, quanto ao título do mesmo.
Passo a explicar:
Quando concebi e idealizei o livro, foi com o intuito de dar a conhecer ao público em geral os belos textos sobre Miguel Torga que Cristóvão de Aguiar tinha escrito na sua obra e demonstrar à saciedade a brutal injustiça que este "escritor maldito" estava a ser vítima. Se bem o pensei, melhor o fiz, deitei mãos à obra, durante as minhas férias, compilei todos os textos da obra enviei para os jornais de Letras e outros que decidiram entrevistar Cristóvão de Aguiar, no ambito das comemorações do centenário. Cristóvão passou de excluído a protagonista do centenário do nascimento de Miguel Torga... Vide intróito da semana comemorativa do centenário promovida pelo Correio da Manhã e pelo Jornal de Letras, Artes e Ideias, Campeão das Províncias, todos de Agosto de 2007.
Quando acabei o livro pensei chamar-lhe aquilo que ele é: "Miguel Torga na Obra de Cristóvão de Aguiar". Tout Court.
No entanto, como ainda não consegui obter o respeito do meu Pai, não só ele é o autor do livro, como também, o título escolhido é enganoso e não reflecte de forma alguma o que lá está escrito e o que presidiu à sua concepção.
Vejamos:
O livro intitula-se "Miguel Torga O Lavrador das Letras, um Percurso Partilhado, no centenário do seu nascimento"
Este título foi sugerido pela tradutora de Miguel Torga para a língua espanhola, a saber Professora Eloísa Alvarez, tudo com o meu veemente protesto. Não só porque engana o leitor, como também porque pode demonstrar arrogância de Cristóvão de Aguiar em ter a veleidade de afirmar, ele próprio, que tem um percurso partilhado com o grande Miguel Torga.
Este título estaria correcto se o livro fosse da autoria de Eloísa Alvarez que sendo conhecedora da obra de Miguel Torga o poderia afirmar, se essa é a sua opinião, mas nunca deveria ter sugerido tal título a Cristóvão de Aguiar, nem muito menos este o deveria ter aceitado com o agravante desta professora não ter tido sequer a curiosidade de ler o livro. Um livro com 83 páginas, muito fácil de traduzir para a língua espanhola, da qual essa professora é especialista...
Concluindo, o título deste livro é enganoso e foi sugerido e aceite pelo "Autor" por uma pessoa que não teve a curiosidade, sequer, de ler o livro e que eu, pessoalmente, só lhe reconheço competência para o traduzir.
Aqui fica a verdade, doa a quem doer!
Ainda assim, recomendo o livro, com estas ressalvas, porque é mesmo bom senão não o teria feito.
José Manuel Gomes Dias de Aguiar
PS: Pergunta: Se eu resolvesse fazer um livro sobre por exemplo: "Fernando Vale na obra de Miguel Torga"
Quem era o autor do livro? Era Miguel Torga?
Penso que não!
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
ESCLARECIMENTO SOBRE A AUTORIA DO LIVRO "MIGUEL TORGA, O LAVRADOR DAS LETRAS, UM PERCURSO PARTILHADO NO PRIMEIRO CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO"
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Secção: Miguel Torga, Polémica
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
NOVA GUARDA, EDIÇÃO n.º 571 de 03-10-2007
clicar na imagem para ler o artigo e no título para comprar o livro
DENÚNCIA
Esta obra que mereceu por unanimidade do júri o Prémio Miguel Torga, para o Biénio de 2005/2006, cujo galardão foi anunciado e entregue no dia 4 de Julho de 2006 e o livro lançado no dia 4 de Julho de 2007, não foi digna de qualquer menção em nenhum dos jornais de referência nacionais e da especialidade, à excepção da revista literária Os Meus Livros, designadamente, PÚBLICO, EXPRESSO, VISÃO, SÁBADO, SOL, JORNAL DE LETRAS, CORREIO DA MANHÃ, JORNAL DE NOTÍCIAS, DIÁRIO DE NOTÍCIAS, SIC, TVI,RTP (à excepção das escolhas de marcelo)etc., etc.
Meus amigos, parece-me que isto é objectivamente notícia e que reclama a atenção e a indignação de quem gosta de literatura e, sobretudo, dessa gente que tem o poder de criar best sellers e anda para aí a fazer críticas louvaminhatórias a qualquer iniciado mediático, guindado ao pódio, a troco de dinheiro e de outros interesses promocionais não literários.
Estamos perante um facto objectivo de lesa cultura.
Que canelas pensais vós mordiscar sem possuirdes a dentição completa…?
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Secção: Polémica
APRESENTAÇÃO DA TABUADA DO TEMPO, NA CIDADE DO PORTO, Sábado, 10-Nov-2007, 21h
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CONVITE
Casa dos Açores do Norte, Porto - 10 de Novembro
APRESENTAÇÃO DA OBRA A TABUADA DO TEMPO - A LENTA NARRATIVA DOS DIAS
O Autor, Cristóvão de Aguiar, a Almedina e o Podium Scriptae têm o prazer de convidar V.ª Ex.ª e família para a apresentação da obra A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias.
A apresentação realizar-se-á no sábado, dia 10 de Novembro de 2007, pelas 21h, na Casa Dos Açores do Norte, sita à Rua do Bonfim, n.º 163, Porto.
A obra será apresentada pelo Senhor Doutor Mário Mesquita.
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terça-feira, 30 de outubro de 2007
MIGUEL TORGA O LAVRADOR DAS LETRAS, UM PERCURSO PARTILHADO, DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR. THE ENGLISH VERSION OF THIS TEXT IS TO BE FOUND BELOW
Coimbra, 1.º de Maio de 1974
Nunca vi um dilúvio de gente desta natureza em toda a minha vida. Nem a procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que é a maior de todas as que se realizam, também em Maio, nas Ilhas dos Açores, se pode comparar com o que hoje assisti com as lágrimas rebentando-me de gostosura dos olhos cheios. Era um tejo transbordando de povo correndo da Praça da República até ao Estádio Universitário, na margem esquerda do Mondego.
Miguel Torga seguia perto de mim. Procurei ler-lhe no rosto o que lhe ia na alma. Não consegui. Mas a sua presença na grandiosa procissão cívica deu ao aconteci¬mento uma garantia de seriedade patriótica ─ a Poesia e a Revolução de mãos dadas pela avenida abaixo. Oxalá seja duradouro este Himeneu.
Até o meu filho mais velho, o Zé Manuel, que tem pouco mais de sete anos, teve hoje o seu primeiro acto de emancipação doméstica ─ perdeu-se por entre a multidão e só regressou a casa ao princípio da noite! Vi-o todo contente, porque, segundo declarou, sumiu-se de propósito, porque conhecia as ruas que o podiam conduzir de regresso a casa. Quis também saborear o seu quinhão de liberdade.
Ajuizando pela multidão que seguia no cortejo de Coim¬bra e em todos os outros que vi, à noite, pela televisão, deu-me a ideia de que toda a gente deste País estava ansiando pela democracia. Não serão democratas a mais numa nação tão pequena? Já é tempo de começar a desconfiar de tanta fartura.
(Do livro Miguel Torga ─ O Lavrador das Letras ─ Um percurso partilhado, a sair brevemente).
Coimbra, May 1, 1974 >
I have never seen a deluge of people of this nature in all my born life. Neither the procession of the Senhor Santo Cristo dos Milagres, the largest of all held, also in May, on one of the Islands of the Azores, might be compared with what I have seen today, with tears gushing out, willingly, from my full eyes. It was like a river Tagus overflowing of people from the Square of the Republic to the University Stadium, on the river Mondego left bank.
Miguel Torga followed close to me. I tried to read in his face what he would feel within his soul. I was not successful. However, his presence in the grand civic procession gave the event a guarantee of patriotic seriousness ─ the Poetry and the Revolution hand in hand down the Avenue. God grant that this Hymen might be lasting!
Even my eldest son, Zé Manuel, who is little more than seven years old, has had his first act of domestic emancipation ─ he got lost among the crowd and only came back home by nightfall! I saw him very happy, because, according to what he said, he did it on purpose ─ he knew the streets that could lead him back. He also wanted to enjoy his share of freedom…
Judging by the crowd that joined Coimbra procession and all the others I watched on television in the evening, it gave me the idea that everyone in this country was longing for democracy. Are there not too many democrats in so small a nation? It is high time to begin to doubt so much abundance…
(From the book: Miguel Torga ─ The ploughman of the Writing ─ A Shared Path, to be published within a few days)
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Secção: Miguel Torga
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
"MIGUEL TORGA O LAVRADOR DAS LETRAS, UM PERCURSO PARTILHADO", DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, ALMEDINA 2007, SAI PARA A SEMANA. CAPA EM ESTREIA ABSOLUTA
Coimbra, 21 de Novembro de 1994
A Igreja Católica está apostada em converter o herege de A Criação do Mundo. Já não lhe bastava a visita de padres, seus amigos ou conhecidos. A Hierarquia entendeu que, para um ateu da grandeza de Torga, só um bispo... E enviou ao hospital um prelado dessa categoria para o tentar converter... “Sabe, senhor doutor, Deus é Pai e bastaria uma só palavra sua para eu lhe dar a absolvição. Pense, senhor doutor, Deus é Pai, bastava uma palavrinha sua e...” “Qual Pai, senhor, não preciso da sua absolvição, nem ela me valia de nada, hei-de morrer assim, coerente com a vida que sempre levei”...
(Cristóvão de Aguiar)
Coimbra, November 21st, 1994
The Catholic Church is resolute in converting the heretical author of A Criação do Mundo. (The Creation of the World). It would not be enough the visit of priests, friends of his or mere acquaintances. The Hierarchy understood that for an atheist of a magnitude of Torga only a bishop would suit. In addition, it sent to the hospital a prelate of that status in order to try to convert the Poet… “You know, doctor, God is our Father only one word of yours would be enough for me to give you the absolution. Think, doctor, God is our Father and only one word of yours and…” “Nonsense, sir, I do not need your absolution, not even would it be of any use to me: I will die like this ─ coherent with the life I have always led”…
(Written in English by Cristóvão de Aguiar)
Coimbra, 21 de Nobiembro 1994
La Iglesia Católica resolvió convertir al autor herético de "A Criação do Mundo" (La Creación del Mundo). No sería bastante la visita de sacerdotes, de sus amigos o de meros conocidos. La jerarquía entendía que para un ateo de la magnitud de Torga solamente le satisfaría un obispo... Además, envió al hospital a un prelado de ese estado para intentar convertir al poeta… "Usted lo sabe doctor, Dios es nuestro padre, basta solamente una palabra suya para darte la absolución. Piénselo doctor , Dios es nuestro padre y solamente una palabra suya y…" "…..No, eso es Absurdo, señor, no necesito su absolución, no me serviria de nada , Moriré así ,coherente con la vida que siempre llevé"…
(La traduction en Espanol es de José António Caparros que gentilmente hay enviado por e-mail).
UM PEQUENO GRANDE LIVRO.
A NÃO PERDER!
TAMBÉM À VENDA NO BRASIL.
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Secção: Miguel Torga
A Valsa do Silêncio, de Victor Rui Dores, 2005, 341 Páginas.

Nascido da pena de Victor Rui Dores, A Valsa do Silêncio é uma fábula sobre uma personagem masculina de origem açoriana, Augusto, professor de piano, cuja profissão exerce numa grande cidade. Esta personagem solitária encontra-se com outra personagem também solitária chamada Raquel, prostituta no início da acção. Dos encontros sexuais que mantêm, vai nascendo uma relação cada vez mais profunda, embora com altos e baixos. A acção vai-se tornando cada vez mais complexa, à medida que se descobre que Augusto é casado, que a mulher o deixa, que ele conhece muitas outras mulheres sem nunca as amar, embora uma delas venha a ter uma filha dele, descobrindo por fim que ama Raquel. Raquel por sua vez segue um caminho de sucesso, pois sai da prostituição, passa a porteira de condomínio fechado, terminando por estudar Direito e ser uma distinta advogada. De professor de piano, Augusto chega a um considerado intérprete de música clássica, percorrendo várias cidades da Europa e Japão, fazendo concertos. Em relação ao amor, será que é tão bem sucedido? E quando terminará um romance há muito iniciado? Esse seu primeiro romance “haveria de ser a sua forma de reinventar a vida. Escrevê-lo-ia?” (p. 208). A aprendizagem do amor é bem mais difícil de conseguir. Sempre com a música como principal objectivo, a arte, portanto, em que o esforço merece compensação, é na solidão dos dois momentos mais cruciais do romance que Augusto aprende mais sobre ele próprio: quando se isola para preparar uma gravação em CD “como um monge medieval” (p. 164), e quando, só no Japão, permanece algum tempo, aprendendo com os sábios do Oriente todo um conhecimento milenar que escapou aos ocidentais e que para Augusto, que buscava “a perfeição das coisas artísticas” (p. 133), vai servir para reconhecer o amor que tem por Raquel, a mulher que evolui sempre, lendo muito de literatura universal e confessando ao seu diário, “a escrita é o meu lado silencioso” (p. 301), ou, “eu sou cada vez mais eu” (p. 235). Raquel vem a descobrir que também ama Augusto, apesar da sua escolha ter recaído num colega com quem vive mas que morre inesperadamente.
Augusto mantém-se uma personagem sonhadora, “um criativo impetuoso e impaciente – em eterna busca da perfeição literária e da fecundidade musical” quando terminou o romance a que chamou A Valsa do Silêncio (p. 282) que gostaria que fosse entendido por todos e “tivesse a qualidade dos clássicos, sem deixar de ser moderno”. Augusto é um homem saudoso da sua ilha, nitidamente identificada embora não nominada com a ilha Graciosa, um homem que lembra a infância duma forma muito profunda e bela, e as pessoas dessa ilha, incluindo os familiares como a tia Cleófita moradora numa casa solarenga em decadência vivendo com uma criada, Maria de Jesus, e cinco gatos siameses, e onde se bebe um licor de canela único; ou o tio Juventino, traumatizado pela guerra colonial; ou ainda o tio John, o tio da América, embarcado no Lima (p. 331). À sua ilha vai com frequência onde encontra gente bondosa e fraterna.
Raquel por outro lado parece aprender mais com os livros que lê e com as reflexões que faz no diário. Interroga-se sobre variadas questões a respeito da mulher como a mutilação genital em África, e sobre a aldeia global que hoje impera no mundo. O silêncio tem grande importância neste romance: era o que Augusto mais apreciava na música e o que era mais apreciado pelos músicos após um dia de trabalho; Raquel aprendera a amar o silêncio de que necessita até para trabalhar, e as pessoas da sua ilha tinham “a sabedoria do silêncio” (p. 336). Este romance é uma busca do AMOR: na relação homem/mulher ambos de corpo e alma inteiros e na fusão dos seres com o Universo. Essa busca é muito insistente da parte da personagem Augusto que, através da música e da literatura, ambiciona fama como superação da morte. Se a sua obra artística for suficientemente valiosa, Augusto tornar-se-á imortal.
(Maria Eduarda Rosa)
Boletim Cultural da Horta.
28 de Abril de 2005
Victor Rui Dores é Escritor, Professor, e Crítico Literário.
Como não sou crítico literário, apenas posso dizer que gostei muito.
O Podium Scriptae recomenda: "A Valsa do Silêncio", de Victor Rui Dores.
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Secção: Victor Rui Dores
sábado, 27 de outubro de 2007
ILHA MAIOR, CAPA DA EDIÇÃO N.º 653, de 23 de JUNHO DE 2006
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Secção: A Tabuada do Tempo, Jornais
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
CÂNTICO DE AMOR, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR
Ainda sou capaz de um cântico de amor. Não sejas tão vaidoso… Sinto que os sessenta e sete anos esbarrondados por sobre este corpo nada pesam no reino poético. Tal como a infância, o espírito não envelhece nem nunca se cansa. Nem tão-pouco a alma. Não em verso. A poesia modelada nessa linha arquitectónica sempre te foi muito madrasta. O livrinho com que te estreaste dá conta dessa indigência poética! Em prosa, dizem que sim, que vou encontrando, por entre o cascalho das palavras, uma flor ou pepita de ouro, iluminando a semântica da frase escurentada de seus complementos e outros enfadonhos acessórios gramaticais. Só no fundo da cratera poderei ir buscar as ferramentas para entretecer as asas desse canto e acordá-las para o magma e para o voo. Ou inventá-las para outro êxtase ainda mais pando. Lá fora, não. Faz frio e há nuvens escuras de onde cai uma chuviscada tristeza. Posso pedir-te um pouco de sonho emprestado. Sei que mo concedes, sobretudo aquele pedaço que tem partido comigo para igual aventura.

Para dois sonhos companheiros de viagem, o paraíso ou o inferno ficam sempre mais perto, com a vantagem de ao primeiro nunca se aproar, regra segura da saúde do sonho – anima-o uma febre alta, tornando-o num ente traquinas dentro da gente. Ao inferno tens chegado vezes sem conta!
(Cristóvão de Aguiar)
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quinta-feira, 25 de outubro de 2007
INAUGURAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO DE PINTURA, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR.
Seriam pouco mais de uma dúzia e meia de quadros a óleo, excelentemente emoldurados, de oitenta contos para cima, sendo cento e quarenta o preço máximo, dois ou três dos quais foram vendidos a catedráticos, que têm da arte pouco mais, ou nem tanto, do que a noção do bem feito, do bonitinho, do decorativo. Pelo menos àqueles que lá estavam servindo de holofotes à sala não ouvi, e estava bem atento e de orelhas afitadas, nenhum daqueles comentários pertinentes e definitivos acerca daquela pintura nem de pintura em geral – atinham-se mais ou menos às exclamações nem mais profundas, nem mais superficiais das que minha Avó eventualmente proferiria diante de um quadro de uma abóbora-menina pintada a preceito que talvez pela naturalidade com que estava representada lhe apetecesse abrir, tirar as pevides e assá-las a seguir ─ era e sou perdido por elas, e minha Avó sabia-o, por isso nunca se esquecia de as assar, no forno, à sexta-feira, temperadas com sal e calda de pimenta – até se me estão crescendo águas na boca. Seria este o seu maior e mais sábio elogio, porque
constituiria a prova incontestável de que, diante dela, essa pintura mais não era do que uma abóbora de verdade, fugida do aboboral, sabe-se lá por que motivos, às tantas larapiada, e se fora refugiar na tela para semente...
(Cristóvão de Aguiar)
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quarta-feira, 24 de outubro de 2007
UMA VISITA AO MAR, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR. The English version of this text is to be found below.
Fui ver o mar. Acabo de regressar com ele aprisionado no peito. Respirei-o bem fundo e com a competente convicção para o cativar em mim. Trouxe-o também impresso na retina – olhei-me ao espelho, para confirmar ─ vi-o rebentar em inchas de uma alvura de fraldas de noiva... Estava mesmo sozinho, furioso e de sobrecenho soturno. Gosto de o surpreender assim! O porta-contentores a sair do cais não me deixa mentir. À medida que se fazia ao alto mar, a proa a fincar-se naquele chão remexido, abraçavam-se as ondas por cima, numa balbúrdia de espuma. Nessa altura já eu estava no alto da Serra da Boa Viagem, um amplo e fundo horizonte defronte dos olhos. Tinha saudades da sua voz absoluta e do seu insofrimento.Logo após o almoço, peguei dos meus dois velhos amigos, com quem ultimamente tenho passeado por aí, e partimos em direcção à Figueira da Foz. Seguimos pelo caminho velho, mais pachorrento e humanizado.

Desde que a via rápida tomou posse do cargo, foi-se pouco a pouco transformando numa estrada do lá vai um.
À moda antiga e com aqueles encantos que as auto-estradas não têm mais. Já lá não ia há muito tempo.
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TANTO MAR
do qual este poema começou a nascer.
Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.
Manuel Alegre
Pico 27.07.2006
