segunda-feira, 29 de outubro de 2007

A Valsa do Silêncio, de Victor Rui Dores, 2005, 341 Páginas.







Nascido da pena de Victor Rui Dores, A Valsa do Silêncio é uma fábula sobre uma personagem masculina de origem açoriana, Augusto, professor de piano, cuja profissão exerce numa grande cidade. Esta personagem solitária encontra-se com outra personagem também solitária chamada Raquel, prostituta no início da acção. Dos encontros sexuais que mantêm, vai nascendo uma relação cada vez mais profunda, embora com altos e baixos. A acção vai-se tornando cada vez mais complexa, à medida que se descobre que Augusto é casado, que a mulher o deixa, que ele conhece muitas outras mulheres sem nunca as amar, embora uma delas venha a ter uma filha dele, descobrindo por fim que ama Raquel. Raquel por sua vez segue um caminho de sucesso, pois sai da prostituição, passa a porteira de condomínio fechado, terminando por estudar Direito e ser uma distinta advogada. De professor de piano, Augusto chega a um considerado intérprete de música clássica, percorrendo várias cidades da Europa e Japão, fazendo concertos. Em relação ao amor, será que é tão bem sucedido? E quando terminará um romance há muito iniciado? Esse seu primeiro romance “haveria de ser a sua forma de reinventar a vida. Escrevê-lo-ia?” (p. 208). A aprendizagem do amor é bem mais difícil de conseguir. Sempre com a música como principal objectivo, a arte, portanto, em que o esforço merece compensação, é na solidão dos dois momentos mais cruciais do romance que Augusto aprende mais sobre ele próprio: quando se isola para preparar uma gravação em CD “como um monge medieval” (p. 164), e quando, só no Japão, permanece algum tempo, aprendendo com os sábios do Oriente todo um conhecimento milenar que escapou aos ocidentais e que para Augusto, que buscava “a perfeição das coisas artísticas” (p. 133), vai servir para reconhecer o amor que tem por Raquel, a mulher que evolui sempre, lendo muito de literatura universal e confessando ao seu diário, “a escrita é o meu lado silencioso” (p. 301), ou, “eu sou cada vez mais eu” (p. 235). Raquel vem a descobrir que também ama Augusto, apesar da sua escolha ter recaído num colega com quem vive mas que morre inesperadamente.
Augusto mantém-se uma personagem sonhadora, “um criativo impetuoso e impaciente – em eterna busca da perfeição literária e da fecundidade musical” quando terminou o romance a que chamou A Valsa do Silêncio (p. 282) que gostaria que fosse entendido por todos e “tivesse a qualidade dos clássicos, sem deixar de ser moderno”. Augusto é um homem saudoso da sua ilha, nitidamente identificada embora não nominada com a ilha Graciosa, um homem que lembra a infância duma forma muito profunda e bela, e as pessoas dessa ilha, incluindo os familiares como a tia Cleófita moradora numa casa solarenga em decadência vivendo com uma criada, Maria de Jesus, e cinco gatos siameses, e onde se bebe um licor de canela único; ou o tio Juventino, traumatizado pela guerra colonial; ou ainda o tio John, o tio da América, embarcado no Lima (p. 331). À sua ilha vai com frequência onde encontra gente bondosa e fraterna.
Raquel por outro lado parece aprender mais com os livros que lê e com as reflexões que faz no diário. Interroga-se sobre variadas questões a respeito da mulher como a mutilação genital em África, e sobre a aldeia global que hoje impera no mundo. O silêncio tem grande importância neste romance: era o que Augusto mais apreciava na música e o que era mais apreciado pelos músicos após um dia de trabalho; Raquel aprendera a amar o silêncio de que necessita até para trabalhar, e as pessoas da sua ilha tinham “a sabedoria do silêncio” (p. 336). Este romance é uma busca do AMOR: na relação homem/mulher ambos de corpo e alma inteiros e na fusão dos seres com o Universo. Essa busca é muito insistente da parte da personagem Augusto que, através da música e da literatura, ambiciona fama como superação da morte. Se a sua obra artística for suficientemente valiosa, Augusto tornar-se-á imortal.
(Maria Eduarda Rosa)
Boletim Cultural da Horta.
28 de Abril de 2005


Victor Rui Dores é Escritor, Professor, e Crítico Literário.
Como não sou crítico literário, apenas posso dizer que gostei muito.

O Podium Scriptae recomenda: "A Valsa do Silêncio", de Victor Rui Dores.

1 comentário:

redonda disse...

Hoje vou ficar por aqui. Gostei do seu blog por escrever sobre livros. Espero um destes dias arranjar tempo para voltar numa visita mais demorada.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006