quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um episódio respigado do livro Com Paulo Quintela À Mesa da Tertúlia, de Cristóvão de Aguiar







O Largo do Leão! Assim denominado por via do leão de bronze que fazia parte integrante do monu­mento a Luís de Camões, outrora no largo defronte da casa do poeta Eugé­nio de Cas­tro e agora rele­gado para um recanto ajardinado, no segui­mento da mata do Jar­dim Botânico, mesmo à ilharga da empena do antigo CADC, hoje Insti­tuto de Jus­tiça e Paz. O leão de bronze não possui testícu­los. A ausên­cia de tão impor­tante apên­dice anató­mico constituiu para mui­tas gera­ções de estu­dantes motivo de cha­cota e de mote de gozo aos caloiros. Quando no prin­cí­pio dos anos qua­renta o camar­telo ini­ciou a des­trui­ção da Alta, o monu­mento a Luís de Camões foi removido. O leão de bronze foi para o Pátio da Inqui­si­ção e anos depois para o átrio exte­rior da entrada da Associa­ção Acadé­mica, no Palá­cio dos Gri­los. No iní­cio da década de sessenta, após o novo edi­fí­cio da AAC ter sido inaugu­rado, o leão de bronze foi tras­ladado para um recanto do jar­dim onde permaneceu até à reabilita­ção do monu­mento a Luís de Camões no local onde hoje se encontra.

Embora o local escolhido peque pela sua extrema humildade se comparado com a grandiosidade balofa do monumento erguido, nos Arcos do Jardim, ao Papa João Paulo II, é de louvar a lembrança das autoridades, creio que municipais. Só que as suas congéneres académicas deveriam ter decerto uma palavra a dizer. E esta seria a de que o monumento a Luís de Camões poderia muito bem ter sido reerguido no antigo local e reconstituído como dantes. Faltam os dois versos dos Lusíadas esculpidos em bronze no pedestal da estátua, sem os quais não se compreende a castração do animal esculpido em bronze:

Melhor merecê-los sem os ter
Que possuí-los sem os merecer.


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Eis um exemplo paradigmático de um texto de "Literatura Lusa-Ateniense".

Esta tipificação é destinada à melhor compreensão por parte de todos os adeptos da, digamos assim, "Teoria da Segmentação Territorial da Literatura Portuguesa"... :)))

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2 comentários:

Anónimo disse...

Estaremos perante 3 ( apesar da ausência ser par) situações de censura?
Lapa: Obrigado pelo blog....defensor acérrimo da causa Aguiar... que merecia mais respeito e divulgação. Desconhecia completamente a obra de Cristóvão de Aguiar. Ass: Outro Forcalhense

Lapa disse...

Outro Forcalhense:

Um abraço Arraiano salpicado de mar...

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006