quinta-feira, 25 de outubro de 2007

INAUGURAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO DE PINTURA, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR.

Seriam pouco mais de uma dúzia e meia de quadros a óleo, exce­lente­mente emoldurados, de oitenta contos para cima, sendo cento e quarenta o preço máximo, dois ou três dos quais foram vendi­dos a catedrá­ticos, que têm da arte pouco mais, ou nem tanto, do que a noção do bem feito, do bonitinho, do deco­ra­tivo. Pelo menos àqueles que lá estavam ser­vindo de holofotes à sala não ouvi, e estava bem atento e de orelhas afita­das, nenhum daqueles comentários perti­nentes e defini­tivos acerca daquela pintura nem de pin­tura em geral – ati­nham-se mais ou menos às exclama­ções nem mais profundas, nem mais superfi­ciais das que minha Avó even­tualmente proferiria diante de um quadro de uma abó­bora-menina pintada a preceito que talvez pela naturalidade com que estava repre­sentada lhe apete­cesse abrir, tirar as pevides e assá-las a seguir ─ era e sou per­dido por elas, e minha Avó sabia-o, por isso nunca se esquecia de as assar, no forno, à sexta-feira, temperadas com sal e calda de pimenta – até se me estão cres­cendo águas na boca. Seria este o seu maior e mais sábio elogio, porque consti­tui­ria a prova incontestável de que, diante dela, essa pintura mais não era do que uma abóbora de verdade, fugida do aboboral, sabe-se lá por que motivos, às tantas larapiada, e se fora refu­giar na tela para semente...

(Cristóvão de Aguiar)

2 comentários:

Sr do Vale disse...

Lapa, Estou retribuindo a visita à Partículas do Sentido e gostaria de propor uma associação através de links.
Obrigado.

Sr do Vale disse...

Alias, estarei visitando mais vezes, pois tem muita coisa boa da literatura portuguesa, por aquí.

Um grande abraço.

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006