terça-feira, 28 de agosto de 2007

TRASFEGA (CASOS E CONTOS) Prémio Literário Miguel Torga 2002

Um prémio a condizer com a obra premiada


Sottomayor
In A Capital
23 de Julho de 2003








(…)O paralelo pode parecer despropositado e, no entanto, Torga paira por sobre a obra do escritor açoriano. Claro que sabemos que os abalos telúricos não são fenómenos habituais em Trás-os-Montes nem os vulcões foram exactamente o substrato do Marão. Mas o apego à terra, a lonjura (ditada num lado pela insularidade e noutro pela interioridade), a cultura própria, as figuras que perpassam, uma espécie de honradez colectiva, a crueldade de uma troça em que o mesmo povo bom é também mestre, são os mesmos.

As narrativas de Trasfega são, pois, antes de mais um testemunho de portugalidade. São vividas em São Miguel ou na Terceira como o seriam, sem esforço aparente, em Trás-os-Montes ou nalguns pontos do Alentejo. O espírito profundo de um povo, nos seus arroubos de gigante corajoso e nas suas cobardias de medroso mesquinho, captado magistralmente pelo Torga dos Contos da Montanha ou mesmo, servindo-se da fábula, dos Bichos, permanece vivo neste volumezinho de casos de contos, passado quase todo em terras do meio do mar, como que a mostrar à evidência a raiz comum. Em vez da Maria Lionça, do Lopo ou do Leproso das Fragas do Marão, temos aqui, noutras longitudes, retratos como o de José Maiato, o “Língua de Fogo”, ou de Mestre Libório e da sua ciência espertalhona que consistia em dizer à mulher o contrário do que pretendia, para assim obter o desejado.

Claro que “espírito” é uma coisa e “estilo” é bem outra. Cristóvão de Aguiar tem o seu, bem próprio e usa um português de lei, que, se o termo não deu azo a interpretações malévolas e despropositadas – diríamos “à antiga”, quando os sujeitos, os predicados e os complementos viviam em estranha harmonia e formavam frases com sentido, sonoridade e até musicalidade quando fosse necessária...

Mais qualidades não serão necessárias, de momento, para demonstrar a afinidade entre o poeta que serviu de “padrinho” ao prémio e o “afilhado” que lhe fez jus. Ficou aberto o apetite para ler melhor a obra publicada por Cristóvão de Aguiar e esperar com interesse pelos novos trabalhos.

2 comentários:

Anónimo disse...

É curioso, quase nem se deu conta deste livro.
Mas há quem diga que é um dos melhores livros do Cristóvão de Aguiar.

Anónimo disse...

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Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006