quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

Cristóvão de Aguiar recorda momentos vividos com Miguel Torga, In CAMPEÃO DAS PROVÍNCIAS


Escrito por Paula Alexandra Almeida
30-Jan-2008







É um livrinho pequeno mas rico em testemunho.
Em “Miguel Torga. O lavrador das letras. Um percurso partilhado”, com chancela da Almedina, o escritor açoriano Cristóvão de Aguiar reúne excertos das suas publicações diarísticas - “Relação de Bordo”, I e II, e “A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias” -, nos quais existem referências a Miguel Torga, fruto da convivência e do intercâmbio que ambos mantiveram durante mais de um ano.
“Os laços afectivos e literários que me enleiam à obra do poeta e escritor Miguel Torga datam de há mais de quarenta anos”, refere, recordando as primeiras impressões da obra do médico, fruto de leituras ainda na Ilha de S. Miguel, enquanto jovem.
Na altura leitor assíduo de Eça de Queiroz, Cristóvão de Aguiar confessa que, “pelo pouco que havia lido, notara logo que o estilo de Miguel Torga era totalmente distinto do cinzelado nas obras do pobre homem da Póvoa de Varzim - mais enxuto, descarnado e de uma seriedade granítica. Ali não se vislumbrava pingo de ironia”.
Foi já em Coimbra, onde se instalou na década de 60, que Cristóvão de Aguiar descobriu verdadeiramente a obra do transmontano. “Só em Coimbra, após a guerra colonial, e já numa idade mais amadurecida, me encafuei de tal forma na obra torguiana, que ainda hoje, passados todos estes anos, continuo a frequentá-la com uma assiduidade de devoto que ainda não esfriou a sua fé”, admite.
“Esta paixão deve ter tido origem não só na prosa apurada com que o escritor lavra cada página de cada livro e me fascina pela simplicidade trabalhada até à placenta da palavra, mas também no facto de a ambiência espelhada nos “Contos” e sobretudo em “A Criação do Mundo” ser idêntica, ou muito semelhante, ao pequeno grande mundo da Ilha onde fui nado e criado”, justifica.
Ainda hoje, confessa ainda o escritor, “a (re)leitura dos livros de Miguel Torga invade-me de uma paz rústica, genuíno oásis neste mundo barulhento, e transmuda-se num conchego caldeado de uma ansiedade mansa”. Torga, acrescenta, “é uma personalidade rebelde e inquieta e reflecte-a como poucos em toda a sua vasta obra”.

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Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006