sexta-feira, 26 de setembro de 2008

"Tabuada do Tempo": Expresso das Nove online 26/09/2008, por Bartolomeu Dutra.













"Ainda estou cheio de Ilha, como poderia dizer o Cristóvão de Aguiar, que não vi no Pico, mas encontrei-o n' A Tabuada do Tempo das pequenas coisas que nos enchem a vida, do Amor que nos aquece por dentro."
BARTOLOMEU DUTRA
PROFESSOR/MÚSICO (excelente)

Uma voz que veio de longe
Aceitei o convite do Vítor Rui Dores, em carta impressa na última página d'O Dever, e cá me encontro balouçando por dentro destes três tempos de valsa. Talvez me tenha antecipado na lembrança quando, no mês passado, olhando o Pico na transparência de um gin no Peter, tentava indicar à Guilhermina o local onde Brel tocara a sua guitarra. O prazer de recordar algumas histórias vividas pelo grande trovador no Faial, fez correr o tempo até à chegada do avião que me traria de volta ao continente. Dias antes, o meu irmão Jorge levara-me num magnífico passeio até ao Cabeço Verde e depois ao Cabeço Gordo, alargando-me o fascínio da ilha na contemplação dos recortes agrestes da Caldeira desde um ponto mais elevado. De volta ao Pico, pude rever a antiga Fábrica da Baleia, já sem aqueles homens de espeiro nas mãos a cortar os pedaços de toucinho. Mas a chaminé ainda era a mesma que tinha conversas de vizinha com a da Fábrica do Antunes, enquanto o batelão, com o meu irmão Manuel ao pé da máquina, trazia o peixe das traineiras que ao largo se espreguiçavam num balanço tranquilo para os meus olhos à espreita desde o alto de uma parede nos Biscoitos. Ainda estou cheio de Ilha, como poderia dizer o Cristóvão de Aguiar, que não vi no Pico, mas encontrei-o n' A Tabuada do Tempo das pequenas coisas que nos enchem a vida, do Amor que nos aquece por dentro e da viagem perene com a Ilha no peito, um pesqueiro andante em busca de aventuras. No decorrer desta lenta narrativa dos dias, que recebeu o prémio Miguel Torga, pode ler-se a dada altura, no contexto de uma viagem com esmero preparada para um grupo de amigos da vivência coimbrã:

"São Miguel, Agosto, 12
Chegámos há três dias e já demos grandes passeios por toda a Ilha. Ao planear esta excursão, principiei deliberadamente pelo grupo central para que, ao chegarmos aqui, houvesse apoteose, espécie de grand final. Enganei-me e bem! Toda a gente abria a boca, maravilhada, com as paisagens das Sete Cidades, da Lagoa do Fogo, das Furnas, da Caldeira Velha, mas no fim exclamava: tudo muito belo, mas o Pico... Às tantas, também eu fazia coro: mas o Pico..."


26 de Setembro de 2008

2 comentários:

Lapa disse...

Ó Dutra o nome do Victor Rui Dores não se altera com o acordo ortográfico!

Grande abraço, do admirador José Manuel.

Anónimo disse...

Grande Escritor: Cristóvão de Aguiar...

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006