sábado, 11 de abril de 2009

Casa dos Açores Norte. André Caetano, exposição das ilustrações de Cães Letrados.

Há livros e livros. Uns têm sorte, outros nem tanto. Uns morremlogo à nascença ou em idade mais ou menos adiantada, não se pode predizer por proibido; outros vogam no limbo, e podem pedir para ressuscitar noutro tempo e noutro espaço… E há os que nascem com várias estrelas nas páginas. Como o nascituro que há-de acordar para a vida com uma pregada na testa. Sinal de destino bem-fadado. Cães Letrados é uma dessas criaturas privilegiadas.
Não pelas palavras lá escritas – podem esmaecer pela usura do tempo… Até a língua que lhes escorou os passos poderá um dia sumir-se ou transformar-se de tal sorte que torne enigmática e indecifrável a leitura. A imagem, não! Uma só, diz-se, vale por mil palavras!
As ilustrações do artista André Caetano trouxeram qualidade aos dezanove contos que compõem o livro. Dezanove textos que correspondem a outros tantos cães e cadelas. As gravuras narram mais que os contos... Como dizer por palavras a tristeza da Girafa já condenada, a seriedade maternal da Pipa, o olhar traquinas do Alex, o embevecimento na leitura do cachorro Adónis, a dança alada da Tina, o olhar triste e esfomeado do Ligeiro, a feminilidade senhoril da Regina cadela, o coro afinado e a uma só voz dos Cães Cantores, e dos restantes que não fui capaz de trocar por palavras?
Porém, André Caetano, cujo auto-retrato figura na badana direita do livro, conseguiu descer, através de suas gravuras, a funduras que as palavras por si só não poderiam alcançar. Com o concurso de ambas, tornar-se-á mais fácil a tarefa!
Cristóvão de Aguiar

3 comentários:

Anónimo disse...

Os desenhos são, sem dúvida, bons. Mas os contos do Mestre são indiscutivelmente melhores.

António José disse...

_A rondar a falsa modéstia.

Anónimo disse...

É caso para dizer: desenhos ilustrados por estórias de C Aguiar

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006