quarta-feira, 31 de outubro de 2007

NOVA GUARDA, EDIÇÃO n.º 571 de 03-10-2007

clicar na imagem para ler o artigo e no título para comprar o livro

DENÚNCIA

Esta obra que mereceu por unanimidade do júri o Prémio Miguel Torga, para o Biénio de 2005/2006, cujo galardão foi anunciado e entregue no dia 4 de Julho de 2006 e o livro lançado no dia 4 de Julho de 2007, não foi digna de qualquer menção em nenhum dos jornais de referência nacionais e da especialidade, à excepção da revista literária Os Meus Livros, designadamente, PÚBLICO, EXPRESSO, VISÃO, SÁBADO, SOL, JORNAL DE LETRAS, CORREIO DA MANHÃ, JORNAL DE NOTÍCIAS, DIÁRIO DE NOTÍCIAS, SIC, TVI,RTP (à excepção das escolhas de marcelo)etc., etc.

Meus amigos, parece-me que isto é objectivamente notícia e que reclama a atenção e a indignação de quem gosta de literatura e, sobretudo, dessa gente que tem o poder de criar best sellers e anda para aí a fazer críticas louvaminhatórias a qualquer iniciado mediático, guindado ao pódio, a troco de dinheiro e de outros interesses promocionais não literários.

Estamos perante um facto objectivo de lesa cultura.

Que canelas pensais vós mordiscar sem possuirdes a dentição completa…?

APRESENTAÇÃO DA TABUADA DO TEMPO, NA CIDADE DO PORTO, Sábado, 10-Nov-2007, 21h

Para adquirir a obra carregue clique no título



CONVITE


Casa dos Açores do Norte, Porto - 10 de Novembro

APRESENTAÇÃO DA OBRA A TABUADA DO TEMPO - A LENTA NARRATIVA DOS DIAS

O Autor, Cristóvão de Aguiar, a Almedina e o Podium Scriptae têm o prazer de convidar V.ª Ex.ª e família para a apresentação da obra A Tabuada do Tempo - A lenta narrativa dos dias.
A apresentação realizar-se-á no sábado, dia 10 de Novembro de 2007, pelas 21h, na Casa Dos Açores do Norte, sita à Rua do Bonfim, n.º 163, Porto.

A obra será apresentada pelo Senhor Doutor Mário Mesquita.

terça-feira, 30 de outubro de 2007

MIGUEL TORGA O LAVRADOR DAS LETRAS, UM PERCURSO PARTILHADO, DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR. THE ENGLISH VERSION OF THIS TEXT IS TO BE FOUND BELOW



Coimbra, 1.º de Maio de 1974
Nunca vi um dilúvio de gente desta natureza em toda a minha vida. Nem a procissão do Senhor Santo Cristo dos Milagres, que é a maior de todas as que se realizam, também em Maio, nas Ilhas dos Açores, se pode comparar com o que hoje assisti com as lágrimas rebentando-me de gostosura dos olhos cheios. Era um tejo transbordando de povo correndo da Praça da República até ao Estádio Universitário, na margem esquerda do Mondego.
Miguel Torga seguia perto de mim. Procurei ler-lhe no rosto o que lhe ia na alma. Não consegui. Mas a sua presença na grandiosa procissão cívica deu ao aconteci¬mento uma garantia de seriedade patriótica ─ a Poesia e a Revolução de mãos dadas pela avenida abaixo. Oxalá seja duradouro este Himeneu.
Até o meu filho mais velho, o Zé Manuel, que tem pouco mais de sete anos, teve hoje o seu primeiro acto de emancipação doméstica ─ perdeu-se por entre a multidão e só regressou a casa ao princípio da noite! Vi-o todo contente, porque, segundo declarou, sumiu-se de propósito, porque conhecia as ruas que o podiam conduzir de regresso a casa. Quis também saborear o seu quinhão de liberdade.
Ajuizando pela multidão que seguia no cortejo de Coim¬bra e em todos os outros que vi, à noite, pela televisão, deu-me a ideia de que toda a gente deste País estava ansiando pela democracia. Não serão democratas a mais numa nação tão pequena? Já é tempo de começar a desconfiar de tanta fartura.

(Do livro Miguel Torga ─ O Lavrador das Letras ─ Um percurso partilhado, a sair brevemente).

Coimbra, May 1, 1974 >
I have never seen a deluge of people of this nature in all my born life. Neither the procession of the Senhor Santo Cristo dos Milagres, the largest of all held, also in May, on one of the Islands of the Azores, might be compared with what I have seen today, with tears gushing out, willingly, from my full eyes. It was like a river Tagus overflowing of people from the Square of the Republic to the University Stadium, on the river Mondego left bank.
Miguel Torga followed close to me. I tried to read in his face what he would feel within his soul. I was not successful. However, his presence in the grand civic procession gave the event a guarantee of patriotic seriousness ─ the Poetry and the Revolution hand in hand down the Avenue. God grant that this Hymen might be lasting!
Even my eldest son, Zé Manuel, who is little more than seven years old, has had his first act of domestic emancipation ─ he got lost among the crowd and only came back home by nightfall! I saw him very happy, because, according to what he said, he did it on purpose ─ he knew the streets that could lead him back. He also wanted to enjoy his share of freedom…
Judging by the crowd that joined Coimbra procession and all the others I watched on television in the evening, it gave me the idea that everyone in this country was longing for democracy. Are there not too many democrats in so small a nation? It is high time to begin to doubt so much abundance…

(From the book: Miguel Torga ─ The ploughman of the Writing ─ A Shared Path, to be published within a few days)

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

"MIGUEL TORGA O LAVRADOR DAS LETRAS, UM PERCURSO PARTILHADO", DE CRISTÓVÃO DE AGUIAR, ALMEDINA 2007, SAI PARA A SEMANA. CAPA EM ESTREIA ABSOLUTA

Coimbra, 21 de Novembro de 1994
A Igreja Católica está apostada em converter o herege de A Criação do Mundo. Já não lhe bastava a visita de padres, seus amigos ou conhecidos. A Hierarquia entendeu que, para um ateu da grandeza de Torga, só um bispo... E enviou ao hospital um prelado dessa categoria para o tentar converter... “Sabe, senhor doutor, Deus é Pai e bastaria uma só palavra sua para eu lhe dar a absolvição. Pense, senhor doutor, Deus é Pai, bastava uma palavrinha sua e...” “Qual Pai, senhor, não preciso da sua absolvição, nem ela me valia de nada, hei-de morrer assim, coerente com a vida que sempre levei”...
(Cristóvão de Aguiar)

Coimbra, November 21st, 1994
The Catholic Church is resolute in converting the heretical author of A Criação do Mundo. (The Creation of the World). It would not be enough the visit of priests, friends of his or mere acquaintances. The Hierarchy understood that for an atheist of a magnitude of Torga only a bishop would suit. In addition, it sent to the hospital a prelate of that status in order to try to convert the Poet… “You know, doctor, God is our Father only one word of yours would be enough for me to give you the absolution. Think, doctor, God is our Father and only one word of yours and…” “Nonsense, sir, I do not need your absolution, not even would it be of any use to me: I will die like this ─ coherent with the life I have always led”…
(Written in English by Cristóvão de Aguiar)

Coimbra, 21 de Nobiembro 1994
La Iglesia Católica resolvió convertir al autor herético de "A Criação do Mundo" (La Creación del Mundo). No sería bastante la visita de sacerdotes, de sus amigos o de meros conocidos. La jerarquía entendía que para un ateo de la magnitud de Torga solamente le satisfaría un obispo... Además, envió al hospital a un prelado de ese estado para intentar convertir al poeta… "Usted lo sabe doctor, Dios es nuestro padre, basta solamente una palabra suya para darte la absolución. Piénselo doctor , Dios es nuestro padre y solamente una palabra suya y…" "…..No, eso es Absurdo, señor, no necesito su absolución, no me serviria de nada , Moriré así ,coherente con la vida que siempre llevé"…

(La traduction en Espanol es de José António Caparros que gentilmente hay enviado por e-mail).

UM PEQUENO GRANDE LIVRO.
A NÃO PERDER!
TAMBÉM À VENDA NO BRASIL.

A Valsa do Silêncio, de Victor Rui Dores, 2005, 341 Páginas.







Nascido da pena de Victor Rui Dores, A Valsa do Silêncio é uma fábula sobre uma personagem masculina de origem açoriana, Augusto, professor de piano, cuja profissão exerce numa grande cidade. Esta personagem solitária encontra-se com outra personagem também solitária chamada Raquel, prostituta no início da acção. Dos encontros sexuais que mantêm, vai nascendo uma relação cada vez mais profunda, embora com altos e baixos. A acção vai-se tornando cada vez mais complexa, à medida que se descobre que Augusto é casado, que a mulher o deixa, que ele conhece muitas outras mulheres sem nunca as amar, embora uma delas venha a ter uma filha dele, descobrindo por fim que ama Raquel. Raquel por sua vez segue um caminho de sucesso, pois sai da prostituição, passa a porteira de condomínio fechado, terminando por estudar Direito e ser uma distinta advogada. De professor de piano, Augusto chega a um considerado intérprete de música clássica, percorrendo várias cidades da Europa e Japão, fazendo concertos. Em relação ao amor, será que é tão bem sucedido? E quando terminará um romance há muito iniciado? Esse seu primeiro romance “haveria de ser a sua forma de reinventar a vida. Escrevê-lo-ia?” (p. 208). A aprendizagem do amor é bem mais difícil de conseguir. Sempre com a música como principal objectivo, a arte, portanto, em que o esforço merece compensação, é na solidão dos dois momentos mais cruciais do romance que Augusto aprende mais sobre ele próprio: quando se isola para preparar uma gravação em CD “como um monge medieval” (p. 164), e quando, só no Japão, permanece algum tempo, aprendendo com os sábios do Oriente todo um conhecimento milenar que escapou aos ocidentais e que para Augusto, que buscava “a perfeição das coisas artísticas” (p. 133), vai servir para reconhecer o amor que tem por Raquel, a mulher que evolui sempre, lendo muito de literatura universal e confessando ao seu diário, “a escrita é o meu lado silencioso” (p. 301), ou, “eu sou cada vez mais eu” (p. 235). Raquel vem a descobrir que também ama Augusto, apesar da sua escolha ter recaído num colega com quem vive mas que morre inesperadamente.
Augusto mantém-se uma personagem sonhadora, “um criativo impetuoso e impaciente – em eterna busca da perfeição literária e da fecundidade musical” quando terminou o romance a que chamou A Valsa do Silêncio (p. 282) que gostaria que fosse entendido por todos e “tivesse a qualidade dos clássicos, sem deixar de ser moderno”. Augusto é um homem saudoso da sua ilha, nitidamente identificada embora não nominada com a ilha Graciosa, um homem que lembra a infância duma forma muito profunda e bela, e as pessoas dessa ilha, incluindo os familiares como a tia Cleófita moradora numa casa solarenga em decadência vivendo com uma criada, Maria de Jesus, e cinco gatos siameses, e onde se bebe um licor de canela único; ou o tio Juventino, traumatizado pela guerra colonial; ou ainda o tio John, o tio da América, embarcado no Lima (p. 331). À sua ilha vai com frequência onde encontra gente bondosa e fraterna.
Raquel por outro lado parece aprender mais com os livros que lê e com as reflexões que faz no diário. Interroga-se sobre variadas questões a respeito da mulher como a mutilação genital em África, e sobre a aldeia global que hoje impera no mundo. O silêncio tem grande importância neste romance: era o que Augusto mais apreciava na música e o que era mais apreciado pelos músicos após um dia de trabalho; Raquel aprendera a amar o silêncio de que necessita até para trabalhar, e as pessoas da sua ilha tinham “a sabedoria do silêncio” (p. 336). Este romance é uma busca do AMOR: na relação homem/mulher ambos de corpo e alma inteiros e na fusão dos seres com o Universo. Essa busca é muito insistente da parte da personagem Augusto que, através da música e da literatura, ambiciona fama como superação da morte. Se a sua obra artística for suficientemente valiosa, Augusto tornar-se-á imortal.
(Maria Eduarda Rosa)
Boletim Cultural da Horta.
28 de Abril de 2005


Victor Rui Dores é Escritor, Professor, e Crítico Literário.
Como não sou crítico literário, apenas posso dizer que gostei muito.

O Podium Scriptae recomenda: "A Valsa do Silêncio", de Victor Rui Dores.

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

CÂNTICO DE AMOR, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR

Ainda sou capaz de um cântico de amor. Não sejas tão vaidoso… Sinto que os sessenta e sete anos esbarrondados por sobre este corpo nada pesam no reino poético. Tal como a infância, o espírito não envelhece nem nunca se cansa. Nem tão-pouco a alma. Não em verso. A poesia modelada nessa linha arquitectónica sempre te foi muito madrasta. O livrinho com que te estreaste dá conta dessa indigência poética! Em prosa, dizem que sim, que vou encontrando, por entre o cascalho das palavras, uma flor ou pepita de ouro, iluminando a semântica da frase escurentada de seus complementos e outros enfadonhos acessórios gramaticais. Só no fundo da cratera poderei ir buscar as ferramentas para entretecer as asas desse canto e acordá-las para o magma e para o voo. Ou inventá-las para outro êxtase ainda mais pando. Lá fora, não. Faz frio e há nuvens escuras de onde cai uma chuviscada tristeza. Posso pedir-te um pouco de sonho emprestado. Sei que mo concedes, sobretudo aquele pedaço que tem partido comigo para igual aventura.
Para dois sonhos companheiros de viagem, o paraíso ou o inferno ficam sempre mais perto, com a vantagem de ao primeiro nunca se aproar, regra segura da saúde do sonho – anima-o uma febre alta, tornando-o num ente traquinas dentro da gente. Ao inferno tens chegado vezes sem conta!

(Cristóvão de Aguiar)

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

INAUGURAÇÃO DE UMA EXPOSIÇÃO DE PINTURA, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR.

Seriam pouco mais de uma dúzia e meia de quadros a óleo, exce­lente­mente emoldurados, de oitenta contos para cima, sendo cento e quarenta o preço máximo, dois ou três dos quais foram vendi­dos a catedrá­ticos, que têm da arte pouco mais, ou nem tanto, do que a noção do bem feito, do bonitinho, do deco­ra­tivo. Pelo menos àqueles que lá estavam ser­vindo de holofotes à sala não ouvi, e estava bem atento e de orelhas afita­das, nenhum daqueles comentários perti­nentes e defini­tivos acerca daquela pintura nem de pin­tura em geral – ati­nham-se mais ou menos às exclama­ções nem mais profundas, nem mais superfi­ciais das que minha Avó even­tualmente proferiria diante de um quadro de uma abó­bora-menina pintada a preceito que talvez pela naturalidade com que estava repre­sentada lhe apete­cesse abrir, tirar as pevides e assá-las a seguir ─ era e sou per­dido por elas, e minha Avó sabia-o, por isso nunca se esquecia de as assar, no forno, à sexta-feira, temperadas com sal e calda de pimenta – até se me estão cres­cendo águas na boca. Seria este o seu maior e mais sábio elogio, porque consti­tui­ria a prova incontestável de que, diante dela, essa pintura mais não era do que uma abóbora de verdade, fugida do aboboral, sabe-se lá por que motivos, às tantas larapiada, e se fora refu­giar na tela para semente...

(Cristóvão de Aguiar)

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

UMA VISITA AO MAR, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR. The English version of this text is to be found below.

Fui ver o mar. Acabo de regressar com ele aprisionado no peito. Respirei-o bem fundo e com a competente convicção para o cativar em mim. Trouxe-o também impresso na retina – olhei-me ao espelho, para confirmar ─ vi-o rebentar em inchas de uma alvura de fraldas de noiva... Estava mesmo sozinho, furioso e de sobrecenho soturno. Gosto de o surpreender assim! O porta-contentores a sair do cais não me deixa mentir. À medida que se fazia ao alto mar, a proa a fincar-se naquele chão remexido, abraçavam-se as ondas por cima, numa balbúrdia de espuma. Nessa altura já eu estava no alto da Serra da Boa Viagem, um amplo e fundo horizonte defronte dos olhos. Tinha saudades da sua voz absoluta e do seu insofrimento.
Logo após o almoço, peguei dos meus dois velhos amigos, com quem ultimamente tenho passeado por aí, e partimos em direcção à Figueira da Foz. Seguimos pelo caminho velho, mais pachorrento e humanizado.
Desde que a via rápida tomou posse do cargo, foi-se pouco a pouco transformando numa estrada do lá vai um.
À moda antiga e com aqueles encantos que as auto-estradas não têm mais. Já lá não ia há muito tempo.
(Cristóvão de Aguiar)

terça-feira, 23 de outubro de 2007

A VISIT TO THE SEA, BY CRISTÓVÃO DE AGUIAR.

A visit to the sea

I have gone to pay a visit to the sea. I have just gotten back with it captured in my bosom. I deeply breathed it with the adequate conviction in order to captivate it inside myself. I also brought it impressed in my eyes ─ I have looked at myself in the mirror to make sure it did ─ I have seen it bursting in waves of a whiteness of angel’s trumpets… It was actually alone, infuriated and with a surly countenance. I enjoy overtaking it like this. The container sliding off the wharf does not let me lie. As the ship was making for the open sea ─ the prow piercing into that restless ground ─ the billows frisked over in a foam flurry. At that time I was already on top of Boa Viagem (Good Voyage) ridge of mountains with a large deep horizon in front of my eyes. I was longing for its absolute and restlessness voice.
Just after lunch, I had taken my two old chaps with whom I have ridden here and there and started for Figueira da Foz (a city by the sea). We took the old road, more easygoing and humanised.
Since the fast lane has taken up post, the old one turned little by little into a carless road, according to the old fashioned way, but with those wonders that the fast lanes no longer possess.
I have not gone there for a long time…
(Cristóvão de Aguiar)

JORNAL DE NEGÓCIOS, EDIÇÃO N.º 210 de 10-03-04


domingo, 21 de outubro de 2007

sábado, 20 de outubro de 2007

António Manuel Rodrigues, in Diário de Coimbra, 4 de Março de 2004.



Uma pequena entrevista torna-se um desafio imenso quando o interlocutor se chama Cristóvão de Aguiar. A sensação que fica é que se perguntou pouco ao homem que é Comendador da Ordem do Infante D. Henrique – Título atribuído pelo Presidente da República em 2001--, ou que foi distinguido com o Prémio Ricardo Malheiros da Academia das Ciências (com o primeiro volume da Raiz Comovida), ou ainda com o Grande Prémio da Literatura Biográfica da Associação Portuguesa de Escritores (primeiro volume dos diários Relação de Bordo), ou ainda com o prémio literário Miguel Torga/Cidade de Coimbra 2002, distinção que o sensibilizou profundamente. Pretende-se captar a “alma” de quem escreveu Passageiro em Trânsito – que o Autor define como sendo um ajuste de contas consigo próprio e com a ilha que o pariu -- e ganha-se a certeza de que as respostas escondem um mundo criativo, de vivências impossíveis de transmitir numa entrevista, ainda que imensa fosse.
Nascido nos Açores em 1940, mas radicado em Coimbra há 44 anos, onde se licenciou em Filologia Germânica, Cristóvão de Aguiar dá agora à Literatura Portuguesa uma Nova Relação de Bordo, último volume da trilogia de diários. Segue-se mais “trabalho e persistência”, sem se preocupar com prémios ou que há-de vir. O escritor, que amanhã, pelas 16h30, ouvirá Ana Paula Arnaut (Professora de Literatura da Faculdade de Letras), apresentar, na Casa Municipal da Cultura e no âmbito da Mostra Cultural da Universidade, a sua nova obra, tem sido assemelhado a grandes vultos da literatura, mas considera-se um “simples mortal”.
Simples sim, nota-se nesta entrevista, mortal também, naturalmente, mas, pela obra literária, indiscutivelmente invulgar.
(AMR)

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Bristol Rhode Island. O Senhor Mestre Artur, Pai de Cristóvão de Aguiar, num cemitério de Bristol R. I.


UM "ATÉ LOGO" COALHADO DE ETERNIDADE

Bristol Rhode Island, 26 de Janeiro de 1992.
De novo aqui me encontro, meu Pai, cada vez mais acolhido ao calor que a tua forja foi em mim demorando e estanciando. Nenhum frio de neve semelhante a este, que sopra de um quadrante de outro mundo, ou mesmo mais intenso, estaria apto a fazê-lo esmorecer e amuar em morno e tranquilo rescaldo. Disseste até logo e presto voltaste atrás, como quem se esquece da boina, e acrescentaste: “Se Deus quiser, Conceição”... Estarias porventura pressagiando fumo de tragédia ou cheiro dela erguendo-se do ventre da manhã de horas minúsculas, irrevogáveis, integralmente nuas e tuas, abastecidas daquela solidão que precede a planura da ausência? E Ele, meu Pai, não quis. Tu, que havia pouco, a Ele te encomendaras em íntimo e recolhido diálogo contigo, como o fazias todas as manhãs para aquecê-las e oleá-las de princípio! Não quis. Bem gostava eu agora de deslindar tão misteriosos desígnios. Aqui, a teus pés, no teu leito de terra, suavemente reclinado para o Sol-poente, coberto de um lençol de relva, ainda crestada destes frios desalmados da Nova Inglaterra. Não consigo. Sempre pediste a tua morte assim subitânea, um aniquilamento à tua altura... E ela foi-te concedida. E assim abalaste da vida que te magoou desde a madrugada dos anos até ao crepúsculo. Zarpaste sem incomodar ninguém. Sem tocares com tuas mãos sábias no fantasma sempre tão contigo de poderes um dia vir a ser despejado na lixeira humana de uma qualquer instituição eufeministicamente denominada lar de terceira idade... Não lhe tocaste. Mas constituiu a tua sombra nos últimos anos que viveste no sobressalto dessa suposição. Não consigo deslindar, Pai. São tão misteriosos os desígnios! E por que disseste até logo e ainda não regressaste desse poente para onde te sumiste, vou continuar esperando dentro em mim, aqui sentado nesta banqueta de pedra despolida que a vida me arrumou. Foste sempre um homem de palavra. Às vezes mais rija que o aço da ferramenta que temperavas. Outras, terna como criança embebida a fabricar seu próprio brinquedo. E tu construíste tanto, meu Pai. Desde a manhã dos tenros anos até ao alpardusco da existência! Homem de palavra. Não posso, nem razões me assistem para pôr em dúvida a tua derradeira frase "até logo". E vieste atrás e ajuntaste "se Deus quiser". Ainda conservo, por isso, o fio da lamparina aceso. Um pavio entrançado de muitos fios de esperança. a que nunca soube morrer. Sei de um saber que não se pode explicar, mas de fonte segura - a que jorra do coração-, sei que, onde quer que estejas, Pai, ou a vir do nascente ou enfronhado no ocaso, tenho a certeza que me vais ler, ou me estás já escutando enquanto, ajeito estas palavras numa bigorna, quem sabe se uma extensão da tua, todavia menos concreta, mas igualmente suada, que isto de querer ser serralheiro da palavra, como foste do ferro e do aço, não é ofício a que qualquer um se possa alcandorar, pelo menos com a perfeição que atingiste no teu. Empresta-me as tuas mãos, Pai, e tudo se tornará mais claro deste lado da vida em que me encontro. Faz hoje exactamente um ano. Saíste de casa. Até logo. E vieste atrás para emendar a secura da frase. Se Deus quiser. Não quis. Como o tempo corre sem freio, esse cavalo sem tino e de tiro puxando o arado que nos vai lavrando a leira dos sonhos com relhas de alguma ilusão, necessária. Diferente daquelas que forjaste para charruas verdadeiras de desventrar a terra, desvendando-lhe os segredos e a intimidade. Já não sentes o tempo, Pai! Despiste-te do casacão do tempo, que, por vezes, incomoda. Estás agora nu dentro de outras horas que não pesam e são leves como a eternidade. E aqui estou, meu Pai, ainda vestido do meu corpo e do tempo que o vai arruinando. No Verão passado, plantei-te flores exactamente por cima da tua cabeça. E elas medraram e floriram. Olho o céu e vejo garças. Não sei se as mesmas que te acompanharam há um ano à tua mansão ungida de silêncio e de paz. As garças não te esqueceram. Ias todos os dias alimentá-las ao Colt State Park. Conheciam-te já. Não são ingratas como certos filhos dos homens. Não te esqueceram. E acompanharam-te. Emitiram seus pios de pesar.
Trago-te este braçado de lágrimas para regar a lembrança que de ti guardo.
Até sempre, Pai!

Cristóvão de Aguiar

("O Serralheiro da Escrita", in Relação de Bordo II, Campo das Letras, 2000, pp. 188, 189 e 190, et in Emigração e Outros Temas Ilhéus, in fine. Óleo sobre tela, por Bárbara Borges)

Segundo o Prof. Doutor José Carlos Seabra Pereira, professor de Literatura da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, este é um dos melhores textos da Literatura Portuguesa sobre o Pai.

A eterna saudade do Seu neto José Manuel.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

THE TWO ROSES, BY CRISTÓVÃO DE AGUIAR.


THE TWO ROSES

I am going to bury the two roses. On account of their already very weak scarlet shade, they had, a long time ago, breathed their last. All this rhymes with homesickness. Not too bad. I miss Her through them: she touched them and arranged them in a flower-pot standing on the desk. By an absolutely inadvertence of hers, she forgot her eyes upon them. As she could have dropped an earring or a ring in a haunted corner... I have just made them cosy in a paper coffin that will carry them to their final flowerbed. First of all, I was careful enough to collect and capture her eyes that remained there strayed as a flock of myriad of lights at night sown on the mountain ridge of São Jorge’s island... Thus, I still get a different breath and a more fortified fire. I do hope that their shroud should be ecological, so that their corollas may rot in peace and their essences may rest and rise to the ethereal flowerbeds where they came from. Later on, they will return with the desire of flourishing again in other or the same stalks, in other beings that may come to be roses, daisies, violets, pansies or anthuriums... For example, the orchids of our reunion in a December still very young, or the chrysanthemums of each end of Sunday afternoon that agonizes first in my eyes before reclining on the horizon. And all the other corollas, folded or single, that She spelled to me, petal by petal, in the gardens that we sow with the fertilizer of affection in the inside of the days! But I, with this incurable habit of wanting to perpetuate everything, was determined to extend them the vigour as I do with things, people, animals and even me ─ I must be a mix of all this, plus the mishap I represent, free and naked, before the mirror of myself... How sweet should it be to a certain sense still not invented to relish the fruit of being eternal! But at least within me, and while life does not deny me the bread of my breath, I believe that I have achieved it. So they stayed, like many other corollas that have been and will some day be, and She herself, past, present and future, conjugated in the unique voice of a single verb, perhaps mixed, regular or irregular, restrictive or non-restrictive, no matter, made flesh and blood, nerves, verses and semen... She only inherited the vivid virtues, transitive or intransitive and some of those other verbs that in the shroud of grammar find its natural bed of a serene and irremissible death. And She, crowned with daisies, shall prevail upon all of them!

terça-feira, 16 de outubro de 2007

AS DUAS ROSAS, POR CRISTÓVÃO DE AGUIAR.


AS DUAS ROSAS

Vou dar sepultura a duas rosas. Há muito tinham exalado o último suspiro da sua já tão débil nacarada tonalidade. Até rima com saudade. Não está nada mal. Sinto saudades de Ela por intermédio delas, tocou-as e ajeitou-as no solitário sobre a secretária. Por um incorrigível descuido seu, deixou sobre elas o olhar esquecido. Como podia ter largado um brinco ou um anel num qualquer recanto encantado... Acabo de as aconchegar na urna de papel que as transportará ao seu derradeiro canteiro. Antes de tudo, tive o cuidado de recolher e amealhar o seu olhar que por lá andava tresmalhado como um rebanho de miríades de luzinhas semeado à noite no espinhaço de São Jorge... Assim, sempre fico com outro fôlego e um fogo mais fortificado. Oxalá seja ecológica a sua mortalha, para que suas corolas apodreçam em descanso e suas essências subam aos etéreos alegretes de onde provieram. Mais tarde, voltarão com desejo de reflorir, noutras mesmas hastes, em entes que venham a ser rosas ou margaridas, violetas ou amores-perfeitos, estrelícias ou antúrios... Por exemplo, as orquídeas do nosso reencontro num Dezembro não muito idoso ou as despedidas-de-verão de cada fim de tarde de domingo, que agoniza primeiro nos meus olhos antes de se reclinar no horizonte. E todas as outras corolas, dobradas ou singelas, que Ela me foi soletrando, pétala a pétala, nos jardins que fomos semeando com adubo e afecto no interior dos dias! Mas eu, com este incurável vício de querer eternizar tudo, teimava em prolongar-lhes o viço, aliás como faço com coisas, pessoas, animais e comigo mesmo – devo ser uma mistura de tudo isto, mais o tropeço que represento quando livre e desnudado diante do espelho que me sou... Tão doce devia saber a um certo sentido por inventar o fruto de ser eterno! Mas, pelo menos dentro de mim, e enquanto a vida me não recusar o pão de seu sopro, acredito que o tenha conseguido. Por isso elas permaneceram, como muitas outras corolas que já foram e hão-de um dia vir a ser, e Ela própria, passado, presente e futuro, conjugadas na voz de um único verbo, talvez misto, regular ou irregular, coactivo ou incoactivo, não importa, feito carne e sangue, nervos, versos e sémen. Apenas herdou as vivas virtudes transitivas e algumas intransitivas daqueles outros verbos que, na mortalha da gramática, encontram o seu leito natural de uma morte serena e irremissível. E Ela, coroada de frésias, prevalecerá sobre todas elas!

(Cristóvão de Aguiar)

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Comentário de ISABEL a Miguel Torga e ao meu "modesto Tributo".

Orfeu Rebelde

Orfeu rebelde, canto como sou:
Canto como um possesso
Que na casca do tempo, a canivete,
Gravasse a fúria de cada momento;
Canto, a ver se o meu canto compromete
A eternidade do meu sofrimento.

Outros, felizes, sejam os rouxinóis...
Eu ergo a voz assim, num desafio:
Que o céu e a terra, pedras conjugadas
Do moinho cruel que me tritura,
Saibam que há gritos como há nortadas,
Violências famintas de ternura.

Bicho instintivo que adivinha a morte
No corpo dum poeta que a recusa,
Canto como quem usa
Os versos em legítima defesa.
Canto, sem perguntar à Musa
Se o canto é de terror ou de beleza.

Miguel Torga

Talvez o poema de Miguel Torga que mais gosto, é uma poema visceral e dorido sem se alhear da beleza e da ternura.
Talvez porque também escrevo de forma visceral e terna talvez me identifique tanto com este poema, imagino-o a escrever rasgando-se lá dentro para o fazer e ao mesmo tempo alimentando-se da ternura que as palavras trazem a quem tanto as ama.

Gostei muito da tua homenagem, o teu poema é muito bonito e tocou-me. O fruto ultrapassa a vida, não sei se é imortal, não sei se existe alguma coisa imortal, mas sei que a essencia fica para além da vida.Isabel ( http://asminhaspalavras23.blogspot.com)

Muito obrigado pelo elogio.
Lapa

domingo, 14 de outubro de 2007

Tributo a Miguel Torga, por Lapa. Agora que está prestes a ser lançado o livro Miguel Torga "O Lavrador das Letras", de Cristóvão de Aguiar.


MODESTO TRIBUTO A TORGA

leia-se em verso ou bela prosa,
Trás-os-Montes e seu memorial
das suas "pétalas": perfume rosa
tudo narrado de forma magistral.

Coimbra, cidade buliçosa
dela ódio, amor colossal.
exigente, bela e formosa
também a cantaste sem igual.

lavrador de versos e prosas,
Foste, porém, poeta visceral.
e as colheitas tão dolorosas…

mas Teu arado esventrou Portugal!
muito obrigado, Miguel Torga
por tudo Teu fruto é imortal!

(by lapa, Nazaré, Agosto-2007 depois de fazer o livro sobre Miguel Torga na Obra de Cristóvão de Aguiar)

Este próximo livro de Cristóvão de Aguiar, Miguel Torga "o Lavrador das Letras", tal como no livro Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia, mostra-nos um grande homem, pelo lado de dentro.
A ética, o saber, as intrigas, os sentimentos, os amigos, a criação artística, tudo pela pena (tecla) de Cristóvão de Aguiar que empresta sempre um forte pendor de humanidade e qualidade literária às suas "Peças".
Enfim, uma lição de vida!

Recomendo-o vivamente.

sábado, 13 de outubro de 2007

NA ESQUINA DO VENTO, in Sonetos de Amor Ilhéu, de Cristóvão de Aguiar, Coimbra - 1992.



na esquina do vento


Minha casa plantaste na esquina do vento
onde as marés afinam suas melodias
desde então te respiro e ganho meu sustento
caiando de palavras o muro dos dias.

entre o meu e o teu corpo um intervalo lento
que a baixa-mar escolta bem de penedias.
redobra o meu querer-te quanto mais te invento
e só depois me vejo de órbitas vazias.

velha pecha esta minha de mergulhar
nos confins do teu nome para te procurar
e a mim também por rumos que eu já nem sabia.

à minha conta trouxe o mar dentro em mim
vazei-o no meu búzio no dia em que vim
- ouço o marulhar não lhe cheiro a maresia.

(Cristóvão de Aguiar, in Sonetos de Amor Ilhéu, Coimbra 1992)

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Um episódio respigado do livro Com Paulo Quintela À Mesa da Tertúlia, de Cristóvão de Aguiar







O Largo do Leão! Assim denominado por via do leão de bronze que fazia parte integrante do monu­mento a Luís de Camões, outrora no largo defronte da casa do poeta Eugé­nio de Cas­tro e agora rele­gado para um recanto ajardinado, no segui­mento da mata do Jar­dim Botânico, mesmo à ilharga da empena do antigo CADC, hoje Insti­tuto de Jus­tiça e Paz. O leão de bronze não possui testícu­los. A ausên­cia de tão impor­tante apên­dice anató­mico constituiu para mui­tas gera­ções de estu­dantes motivo de cha­cota e de mote de gozo aos caloiros. Quando no prin­cí­pio dos anos qua­renta o camar­telo ini­ciou a des­trui­ção da Alta, o monu­mento a Luís de Camões foi removido. O leão de bronze foi para o Pátio da Inqui­si­ção e anos depois para o átrio exte­rior da entrada da Associa­ção Acadé­mica, no Palá­cio dos Gri­los. No iní­cio da década de sessenta, após o novo edi­fí­cio da AAC ter sido inaugu­rado, o leão de bronze foi tras­ladado para um recanto do jar­dim onde permaneceu até à reabilita­ção do monu­mento a Luís de Camões no local onde hoje se encontra.

Embora o local escolhido peque pela sua extrema humildade se comparado com a grandiosidade balofa do monumento erguido, nos Arcos do Jardim, ao Papa João Paulo II, é de louvar a lembrança das autoridades, creio que municipais. Só que as suas congéneres académicas deveriam ter decerto uma palavra a dizer. E esta seria a de que o monumento a Luís de Camões poderia muito bem ter sido reerguido no antigo local e reconstituído como dantes. Faltam os dois versos dos Lusíadas esculpidos em bronze no pedestal da estátua, sem os quais não se compreende a castração do animal esculpido em bronze:

Melhor merecê-los sem os ter
Que possuí-los sem os merecer.


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Eis um exemplo paradigmático de um texto de "Literatura Lusa-Ateniense".

Esta tipificação é destinada à melhor compreensão por parte de todos os adeptos da, digamos assim, "Teoria da Segmentação Territorial da Literatura Portuguesa"... :)))

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QUINTELA E OUTRAS "HISTÓRIAS", CRÍTICA LITERÁRIA DE JOSÉ CARLOS DE VASCONCELOS, DIRECTOR DO JL, Ano XXVI / N.º 935.







[…] O primeiro deles é “Com Paulo Quintela à Mesa da Tertúlia" , de Cristóvão de Aguiar, que se tem distinguido na ficção e na diarística (ainda agora lhe foi atribuído, pela segunda vez, o Prémio Miguel Torga), que acresce ao de Ricardo Malheiros, da Academia das Ciências de Lisboa, e de uma nova edição, refundida e aumentada, um testemunho significativo, sentido e bem escrito, sobre o homem, o intelectual e o combatente.
Um testemunho de quem o acompanhou bastante, sobretudo na última fase da sua vida – e é desta fase que o livro revela mais aspectos ou episódios desconhecidos, ou só conhecidos dos seus mais próximos. Dele resulta um expressivo retrato de Quintela, da sua dimensão humana e cultural, inclusive do seu carácter e forma de ser (de uma frontalidade por vezes bastante “difícil” para quem não o conhecia bem), do seu corajoso apoio às lutas estudantis pela liberdade, da sua relação com grandes amigos como Vitorino Nemésio (até ao fim) ou Miguel Torga (esta a certa altura “rompida”), etc.
Além disso, e ultrapassando o que o título sugere, o livro traça também a história do mais relevante de todo o percurso de Paulo, neto de um almocreve e oitavo dos dez filhos de um pedreiro e de uma padeira de Bragança, que pelo seu trabalho, esforço e talento se fez o que foi, sem nunca renegar as origens, antes delas se orgulhando. Do que são paradigmas as magníficas intervenções que fez em vários momentos relevantes, como, por exemplo, ao receber as insígnias doutorais ou ao ser homenageado quando lhe foi atribuída a Medalha de Ouro do Instituto Goethe.[...]

JVC, in Jornal de Letras, Artes e Ideias, 2006, n.º 935, página 18.


Alguém ouviu falar deste livro?

Aposto que a edição nem saiu dos caixotes que estavam depositados na livraria situada em frente das Escadas Monumentais e da cantina da Associação Académica de Coimbra...
Se duvidam, perguntem aos vossos livreiros.

Lapa.

À CONVERSA COM CRISTÓVÃO DE AGUIAR, NA LIVRARIA ALMEDINA ESTÁDIO CIDADE DE COIMBRA, 09-10-07











Cristóvão de Aguiar esteve muito bem e a discussão que se seguiu também foi enriquecedora.

terça-feira, 9 de outubro de 2007

Crítica Literária de Ruben P. Ferreira a: "A Tabuada do Tempo", de Cristóvão de Aguiar, na Revista Os Meus Livros, N.º 56, de 06-Outubro-2007.

The Arithmetic Table of Time



DIARY


WRITER HUMANENESS





This metapoem (Miguel Torga’s Prize in 2006) on the daily life of a man of belles-letres leads the reader into the meanders that originate the writing itself and its themes. The modesty, humaneness, childhood, friends, travelling digressions, anxieties, depressions, fears, preferences, flatulencies of the body (of the soul), the absence of the sun, the humidity, affections, his children, in a mixture of very pleasant and joined chronologies in a daily report of one year, which is much comprehensive as well as recomforting.
If in some periods one understands that that year may be 1996, in others the years fly away mingled with numerous references to past epochs, up to the moment of the formation of the convictions and of the first poems, or to the more recent melancholy attacks, amidst lectures in the Faculty. It is a diagram of the days and nights which is kept up in an essentially nostalgic register, at times revealing solved anguishes as time goes by or never. Anguishes for ever. A Time marked by the Author’s internal chronology, by the exposure implemented in the incapacity of becoming autonomous, in the ability of creating a work of art as never before. A time of oblivion combined with the effort, at times abstract, of wording that it is already understood (hidden) in the understanding of himself, of other people and the world.

Ruben P. Ferreira (Trad.)

CLICAR NA IMAGEM PARA LER A CRÍTICA LITERÁRIA

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Obra de Cristóvão de Aguiar Censurada nas Livrarias dos Açores. Senhor Presidente Carlos César: Quid Iuris?










A livraria SOLMAR, de São Miguel, tem uma galeria de fotografias de autores açorianos onde figurava Cristóvão de Aguiar.
Digo figurava, porque a fotografia do CRISTÓVÃO de AGUIAR foi ostensivamente retirada...
Obrigado, livraria SOLMAR. De facto Cristóvão não pertence só aos escritores açorianos, pertence aos escritores Universais!

Desafortunadamente, parece que existe la censura, que hay letras que no se desean ver difundidas. Eso va contra el elemental derecho de expresión. Mi solidaridad con Cristòvao y mi deseo de que esa situación cambie.
(Isabel Romana)

Quanto a Cristóvão Aguiar, não vi nada sobre ele na minha recente visita aos Açores, de facto. Mas também para comprar um CD de José Medeiros foi complicado.
Talvez os Açores tenham que cuidar mais do seu património. Aliás, como todo o país, não é?
(SÃO)


A recente visita aos Açores (S. Miguel) revelou que o arquipélago não cuida dos seus escritores. Em nenhuma das livrarias que visitei em Ponta Delgada pude encontrar qualquer obra de CA. A justificação era de que estavam esgotados. Se assim for, retiro a minha conclusão inicial.
(Victor Alves).

R: Não, não estão esgotados..., antes pelo contrário!


sábado, 6 de outubro de 2007

PASSAGEIRO EM TRÂNSITO-1988 PASSAGEIROS EM TRÂNSITO - 2006






Não se compreende que as Publicações Dom Quixote publiquem um romance do escritor Agualusa com (quase) o mesmo título de um livro de Cristóvão.
Vejamos:
Passageiros em Trânsito, de Agualusa (2006);

Passageiro em Trânsito, de Cristóvão de Aguiar (1988 - 1994).

A diferença reside apenas no plural do primeiro. O romance de Cristóvão de Aguiar foi publicado em 1988. O de Agualusa em 2006.

O "PASSAGEIRO EM TRÂNSITO" é de Cristóvão de Aguiar.

HAJA RESPEITO!

Cyrano de Bergerac

Cyrano de Bergerac
Eugénio Macedo - 1995

TANTO MAR

A Cristóvão de Aguiar, junto
do qual este poema começou a nascer.

Atlântico até onde chega o olhar.
E o resto é lava
e flores.
Não há palavra
com tanto mar
como a palavra Açores.

Manuel Alegre
Pico 27.07.2006